21 de jun. de 2016

O Estresse Só Faz Bem, ou Politeia.



Para mim, não é importante se estou de acordo ou não com outro, ou com um pensador, seja ele conservador, liberal, progressistas, marxista, etc. O importante, para mim, sublinho, é que o outro, o pensador outro, é que me estimule a pensar e a desenvolver argumentos, inclusive contra ele, e acimadamente contra mim. Não me dou ao luxo de ignorar nada da história, da minha história, da nossa história.
Enquanto povo, a nação, me parece, vai melhor se esta tensionada, diariamente um plebiscito contínuo, não esse de criar leis constitucionais, mas de se esfolar como um seixo no caudaloso estresse do embate. Um fluxo constante, intenso, de temas estressantes, ajudam a sincronizarmos nossas consciências, nos regenerando.
As redes sociais muito tem colaborado com isso. É um avanço tremendo sobre outros meios, como tv, jornais, aonde não ocorre o embate. Seja qual for o direcionamento dos meios de comunicação convencionais, eles emitem um sinal, e o receptor deste sinal quando muito abana as orelhas, ou rumina a mensagem, sem poder emitir uma resposta, não estressa a relação. Esse era o nosso quadro, nosso fotograma até outro dia, no entanto hoje, a tudo que se diz, haverá um receptor que se transforma em enunciador e truca sobre o argumento.
Assim, juntos formamos um corpo, um macro corpo nação, psico-político-ético-estético, ou comunidade, aonde as preocupações - mesmo que induzidas mediaticamente, que é um ótimo papel para os meios de comunicação - estressantes, vibrantes, criando uma espécie de neurose coletiva, uma alma coletiva neurotizada. E não se pode negar, pelo que temos visto nas redes sociais, que criamos força de coesão, partindo da sensibilidade coletiva ao agravo, à injuria, ao insulto, à injustiça....
A natureza, que deu aos indivíduos amor próprio, não negou este mesmo amor aos povos, à comunidade; e também a capacidade de celebrar, festejar a si mesmo.
Do estresse que temos vivido, talvez, iremos à festança, porque nos amamos como brasileiros, e temos muitos motivos para celebrar; assim como temos muitos motivos para nos estressarmos. Não é questão, acabar com a briga, é brigar até chegarmos à nossa praia. Pode parecer chovinismo, mas é mais interessante estar perto do chovinismo que perto do desinteresse pelo outro, seja ele qual for.
Por mais modernos que nos queiramos, por mais autônomos, por mais ousados, como sujeitos que cremos que somos, estamos sempre sujeitados à algo, cultura, hábitos, costumes, estética, ética, que nos precede, e como diz o ditado: bailamos conforme a música, ao mesmo tempo que criamos música.


Christopher Lee.

Ainda ontem morria Christopher Lee. Minha lembrança é de quando emprestava sua cara de pouca carne ao Drácula, e me fazia tremer no Cine São Roque. Dracula, o marcou e com fogo. Mas sua cara ossuda, queixo anguloso, cabelo para trás, têmpora funda, olhos a beira da ira, lábios finos, emprestou  a outros malvados do cine b que gostava e ainda gosto, Fu Manchu ou Cinema com "C" como A vida privada de Sherlock Holmes, O cão dos Baskervilles, sempre no lado fosco da alma humana e a gravando em bold negrito, até o fundo do poço, que é de onde se vê melhor o mundo. No entanto Lee dava a está alma um olhar nobre e firme, ao tempo que angustiante e desesperada. Emprestou essa cara de alma profunda a westerns que ainda me matam.
Eu o recordarei fazendo Drácula e alguns filmes aonde sua personagem nem falava e os roteiros também não eram grande coisa, muito parecidos com a vida, por sinal. O Drácula que desaparecia na casa escura e surgiam  aquelas mãos de dedos finos e infinitos como punhais, ensanguentados, sempre que a vítima de plantão abrisse um armário em um quarto gótico. Sempre surgirá uma cara dessas ao abrir armários, a me assustar.

20 de jun. de 2016

O Tempo, a Memória e o Amor.



Seu velho cheiro renovado,
anda próximo e se mistura
a tantos outros, se não, fica
mais sentido que  confessado.

Sol a entrar como riscas,
Olores de terra molhada.
A lenha estalando faíscas
das bondades eternizadas.

Velho manjar com cheiro
novo, manteiga a chiar na chapa,
lábio acariciado, beijinho
palavras esvaídas, gestos
ao vento, pensados e ditos,
a voltarem em remoinho.

 cidoGalvao

De volta ao passado

De Volta ao passado.
Este título me leva aos anos setenta. Ao cine São Roque, que já não existe. Não vi a trilogia De volta para o futuro, sei que é trilogia porque dei uma passada na Wikipédia. Enfim me levantei, quando as luzes acenderam, então fiquei vermelho, sei porque meu rosto ardia, rubor, vergonha pelo modernoso que me vestia, com um salto de 5 cm e uma calça boca de sino que fora ampliada num costureiro do primeiro andar do Diederichsen... foi suficiente. À memória, lhe agrada deixar um rastro de milho, caso se perca, por dúvida. As recordações se escondem em labirintos, aonde a volta ao passado é uma sequela da volta ao futuro. Uma má leitura da Wikipédia pode te dar razão. Mas o certo é que olhar para trás não é fazer um levantamento da ata notarial de uma vida. Fico com essa: “de pequeno, podia recordar qualquer coisa, sem me importar se houvesse acontecido ou não”, isso é tanto Mark Twain, quanto sou sósia do Ingo Hoffmann. Mas o retrovisor distorce. Mais que um espelho outro qualquer, e por isso é um caleidoscópio que joga com as sombras do que se foi. Escrevi o título pensando nos anos 70, não nos meus anos 70, mas nos 70 possíveis com este
 retrovisor, porque senão o passado retornaria ao futuro como um bumerangue vingativo, ou então como se os quatro cavaleiros do apocalipse aparecessem de surpresa a fungar no meu cangote. Não é verdade, pensei no título depois que o facebook – me oferecendo novas amizades – perguntou se eu conhecia uma determinada mulher...

18 de jun. de 2016

Mosca no copo de cerveja.



Uma mosca voava pelo bar do Guinô, guinorante. Não é uma coisa difícil de acontecer, já que há um galinheiro ali por perto. Nem sei se galinheiro atrai moscas, suponho que sim, isso para não botar defeito no asseio do bar dos outros. Enfim, havia uma mosca rondando. O Magnata, o mecânico do meu fusca, é um sujeito vivido, “atrapaiado” e levado da breca me disse: o que faria se a mosca caísse no seu copo de cerveja? Fiquei pensando. De pensar morreu o burro disse ele e foi logo dizendo:
Se fosse no copo de um italiano, ele armaria logo um barraco, um escândalo, um forfé. Concordei.
Se se tratasse de um alemão, este pediria outro copo, esterilizado, bitte! Concordei na hora.
Se fosse de um francês, meteria o dedo no copo, tiraria a mosca e beberia a cerveja. Bem sacado, disse.
Se fosse um chinês, comeria a mosca e jogaria a cerveja fora.
Caguei de rir.
Se se tratasse de um cubano. O cubano beberia a cerveja com a mosca e tudo, acreditando que estava recebendo uma mosca de favor de Fidel. Pensei o mesmo de um monte de gente. Mas caiu bem.
Então me perguntou, e se fosse um judeu? Te juro que supus, mas deixei para ele mesmo responder, então ele disse: o judeu venderia a cerveja ao francês, a mosca ao chinês, o copo ao italiano e pediria um chopp com o dinheiro da venda e desenvolveria um sistema para acabar com as moscas do bar do Guinô, para que isso não acontecesse mais. Caguei de rir.
Então perguntei: e se fosse um brasileiro? Ele riu e disse: um coxinha acusaria o governo do PT de emporcalhar tudo, e faria tanto alarde que sairia no jornal da eptv do meio dia, seria capa da veja com uma mosca lula zumbindo pra lá e pra cá, enquanto os petralhas tentariam explicar que a mosca já havia pousado em outros copos, e um outro tipo, mais experto, já teria chamado o garção e diria que não pagaria a conta por conta daquela mosca horrenda que caiu na cerveja. E dê-se por feliz por não entrar com uma ação de perdas e danos....


Xico ãÃo, os gatos veem fantasmas.



Primeiro pensei outro nome, Jabberwocky, em homenagem a um poema surreal de Lewis Carroll, que não entendo, mas desisti porque ninguém ia entender o nome, e muito menos a explicação, e tampouco Jaguadarte não teria o mesmo efeito, a menos que empostasse a voz como Augusto de Campos e recitasse:

Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.”
A solução saiu do Tamanduá Tão, tampouco fácil, e o gato se chamou então Xico ãÃo. Xico ãÃo, as vezes, me olha fixamente, como se mirasse para o nada. Imóvel. Outras vezes para um ponto escuro no corredor, aonde não há nada e ninguém. Dizem que os gatos podem ver fantasma... Toc, Toc, Toc. Alguém bate com os nós dos dedos à porta. Não tenho campainha. Há muitos moleques fazendo molecagem ao sair da escola aqui perto. Mas tenho olho mágico, e se trata de um casal jovem com uns óculos ridículos, uma pasta cada, e umas roupas, deixa pra lá. São de um tipo de IBGE, dizem e vão direto ao assunto: “ Viemos aqui porque o senhor é um fantasma” e continuam “ dos de verdade”, engulo seco e eles detonam “ vaporoso e que transpassa paredes”. Arregalo os olhos. E voltam à carga “Não sabia?”. Balancei a cabeçorra, “Não”. E eles “Fique sossegado, que o senhor não é o único”. “ Dê graças a deus por não ser um vampiro” disse a moça. “ Seria péssimo para o senhor e os vizinhos, já vimos cada caso... fazem cruz com os dedos sobre os lábios” disse ela e deixou escapar um risinho. Ri ri ri ri!! Volto a ficar nervoso e tentar engolir saliva, que não há. O rapaz me pergunta se tenho notado coisas diferentes ultimamente, coisas estranhas, fenômenos elétricos. Bem, eu disse, quando apago as luzes para dormir vejo umas luzinhas verdes, como se fossem caga-cebos. “Tá vendo!” exclama o jovem e logo apontando com uma caneta no formulário sobre a prancheta. “Resplendor residual de fótons” e explica “ Parte de seu ectoplasma fica preso à lampada e se libera ao apagá-la”. “Miau” intervem Xico ãÃo. É sua hora de comer. Mas se meu gato me vê! Não vêem que ele me vê e pede comida? “Os gatos podem ver e perceber entidades fantasmais” disse a mocinha empurrando os óculos com os nós dos dedos. “Nós o vemos devido às lentes especiais de nossos óculos, que captam a aura electromagnética.”

Pediram meus documentos, anotaram os números e pediram que assinasse no x. Assino e pergunto: Como devo me comportar daqui pra frente?. “Com naturalidade, seja, seja etéreo, passe pelas paredes e coisas assim, divirta-se.” Me deram a mão, e ela disse “ Ui, é como tocar uma nuvem!” e novamente escapou escapou o risinho. Ri ri ri!. Fecho a porta. “Miauuuu” reclama Xico ãÃo, sempre sendo exigente e pontual. Vou para a cozinha varando paredes. Sinto algum gosto de cimento e areia. Tinta látex. Dou comida ao gato. Passo pelo muro, entro pela cozinha do vizinho, que come arroz com salsicha e coentro. Ainda não tenho prática, claro que agora me sobrará de muito tempo.  

Mudança Climática. Clímax.

Mudança Climática.

Há duzentos anos não houve verão para os europeus. Um ano antes de 1816 o vulcão Tambora produzia a maior erupção na história da humanidade, na Indonésia. As nuvens de cinza e enxofre lançadas na atmosfera se espalharam pelo mundo e no hemisfério norte bloqueou a luz solar. Por toda a Europa se produziu geadas naquele junho. Na América do Norte o milho não granou pelas baixas temperaturas, provocando fome e morte. Nesse ano, Edgar Allan Poe viajou para a Inglaterra e ao chegar se depara a uma paisagem insólita: icebergs por toda a costa inglesa. Arthur Gordon Pym sofreu influência desta visão gélida.
Um dia, nesse verão que não houve, se reunirão o poeta Percey Shelley e sua esposa Mary Godwin, Lord Byron e seu médico, o doutor Polidori. O encontro se deu em Villa Diodati, mansão de Lord Byron na suíça. Inspirados por aquelas condições sinistras de mal tempo e chuva incessante surgiu a ideia de que cada um escrevesse um relato fantasmagórico. Polidori escreveu “O Vampiro” que inspiraria a Bram Stoker e seu “Drácula”, Byron compôs o poema Darkness, Escuridão. Mary Shelley contou a história de uma criatura tremenda, um tal Frankstein, cujo título era “O Moderno Prometeu”.

Se fizer mal tempo, amanhã, quem sabe crio um desses...