6 de jun. de 2016

Abû Bakr Muhammmad inb Zakarya Al-Râzî.

O persa Abû Bakr Muhammmad inb Zakarya Al-Râzî, pode dizer Zacarias, ou Rasis,  (morto em 930, se bem que na wiki ele morreu em 925, ), que não era exatamente amado pelo Islã, começa assim seu Medicina espiritual: “ Deus, louvado seja o seu nome, nos deu a razão para obter com ela, tanto do presente como do futuro, os melhores benefícios que possamos conseguir; é o melhor dom que Deus nos deu (...) Devemos aos apoiar nela para tudo e julgar com ela todas as coisas. Devemos atuar segundo o que ela nos manda fazer” . Mais tarde ele sustenta: “às vezes é preciso beber algo para dissipar as penas”.
Ergo minha taça num brinde a Zacarias.  

4 de jun. de 2016

Não faço liquidação dos meus sonhos.

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Há duas tragédias na vida. Um é a não realização de um sonho, um desejo. A outra é a realização.
Isso contradiz nosso velho ditado, “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”. Que em resumo diz que mais vale ter que desejar. Ainda que essa contradição seja mais aparente que no contexto que a senti mais vezes, isto é, quando falamos de quilos a mais que se acumula  na barriga e na bunda. Quem procura consolo dos excessos que pratica diz que vale mais ser gordo que desejar ser magrela.
Em qualquer caso o que vale mais ter ou desejar? Na literatura há muita narrativa, e muita tragédia, sobre o tema. Em muitas se faz evidente que o desejado é mais prazeroso que o possuído.(Primo Basílio te recorda algo?). A pessoa amada, botemos o dedo nessa ferida, é sempre melhor antes do casamento, sobretudo antes da convivência, antes de decidir quem descerá o lixo, quem troca a fralda, quem limpa o banheiro, quem estende a roupa da máquina… Se poderia dizer , de alguma maneira, a realidade destrói o sonho.
Pra acabar com o pequi, digo que todos os noivados, namoros que acabam num altar de uma igreja, num cartório ou numa juntada de trapos, acabam bem. A reviravolta começa na Lua de mel, o primeiro a acabar, o Mel. 

3 de jun. de 2016

Me cai como uma luva. Nora, Joyce, Lacan, Kant, Eu, Matilde, Neruda, a Ex e Heineken em vez de Heidegger.

Me cai como uma luva. Nora, Joyce, Lacan, Kant, Eu e Heineken em vez de Heidegger.


Certa vez, minha mulher, digo ex, me flagrou olhando para uma moça que tirava cravos de seu namorado. Eu estava enfiado naquilo, perdido mesmo. Aquilo me fazia lembrar o poema de Neruda, aonde ele que tantas, no poema, mulheres tivera, não pode carregar nos braços, Matilde, quando ela desfalecia. Pois nunca ninguém me espremera cravos. Foi ai que ela me disse algo. Dei de ombros. Ela teve sorte, e eu tinha sorte, pois naquele momento ela ainda espremia meu berne peludo. Ela me caia como uma luva do avesso.
Tem uma coisa essa história das luvas do avesso. Você vira ela do avesso e a veste na mão trocada. Isso tá em Kant, mas quem lê Kant? Afinal para que serve essa história da luva? Bem, pode ser que alguém virado do avesso me caia como uma luva. Não inventei nada disso, estava lendo Lacan quando essa história da luva apareceu. Ele, Lacan, está interessado em saber se James Joyce é louco. Ou até que ponto ele não é louco. Lacan desconfia que Joyce pensa que é Cristo, o Redentor. Não é por nada, posto que um de suas personagens mais conhecida, Stephen Heroe, Dedalus é o próprio Deus. E se confundem com Joyce. Mas Lacan tem suas dúvidas. Numa confusão dos diabos ele tenta me explicar o real e o verdadeiro. Para mim, num determinado momento, me parecia que o real fossa a linha e o verdadeiro o novelo, mas logo passou a ser justo o contrário. Como prosseguir? Não sei. Digo que fiquei abestalhado. Li dois parágrafos mais, e foi como se estivesse lendo Hegel em alemão, língua que não domino. Foi daí que tirei que deveria lutar com o que tinha de conhecimento, seja, a ignorância. Então viajei na maionese. Depois voltei. E ele, Lacan, vasculhava as cartas amorosas que Joyce escreveu para Nora, sua mulher. Eu já li algumas dessas cartas. A maioria é pornográfica. Algumas são eróticas. Ele ficava puto da vida cada vez que Nora engravidava. Porque não dava para fornicar. Nora é quem é, a luva virada do avesso, do direito ela não tinha nada a ver com Joyce.

Ontem, por ocasião de um café na Única.


Ontem à tarde Cidão e eu fizemos uma boa caminhada por Ribeirão, que acabou na Única, uma velha casa de café de coador, o mais antigo da cidade, mas que nem na velhice aprendeu de fato a fazer um bom café. Falávamos, mais ele que eu, sobre os bares que ele gosta, quando entraram dois jovens advogados, soube depois, antes me pareciam corretores de habeas corpus. Se acotovelaram ao nosso lado e começaram a discutir sobre Olavo de Carvalho sem jamais chegarem a um acordo. Para um era um gênio, para outro mero provocador. Para minha surpresa se dirigiram a mim, para que fizesse de juiz. Que Você pensa de Olavo de Carvalho? Depois de identificar quem pensava que Olavo era um mero provocador, lhe perguntei se seu amigo era gente boa. “Uma pessoa magnifica” me respondeu. “A melhor que conheço”, somou com firmeza. Nisso está a chave de tudo. Eu disse. As boas pessoas muito frequentemente são péssimos leitores. E todos saímos a cagar de rir.  

O governo interino Temer, sua máscara mortuária.


O governo interino Temer, sua máscara mortuária.

Não existe esfera na vida brasileira algo que possa ser considerado respeitável, pelo grupo que tomou de assalto o Planalto Central. Sua base, o PMDB, tem como característica, hoje naturalizada em qualquer meio de comunicação e mesmo dentro do judiciário, o fisiologismo. E em todos os rincões da vida nacional. Do mais singelo município à qualquer grande capital, o procedimento é o mesmo. São caciques que recebem heranças políticas, por vezes do próprio familiar, como é o caso de Baleia Rossi, e nesse caso se soma o espolio político de Orestes Quércia, posto que o espólio financeiro os filhos e familiares por ele se engalfinham; uma montanha de dinheiro que faz o Lava-jato ser uma querela de mendigos.
Não têm e nunca tiveram claro qualquer projeto de país, e por conseguinte de governo. Seu último representante republicano se aposentou. Não são nacionalistas. Não são liberais. Não são defensores de nada. Por vezes estão em defesa não da industria nacional, mas do industrial nacional, simbolicamente um pato e Skaf que agradecem a servilidade, e na maioria das vezes, não defendem a economia nacional nem por razões meramente nacionais.
A questão do orçamento deixa claro, que continuaremos servis junto da elite financeira, rentista, já que os cortes são direcionados às áreas sociais, um verdadeiro banquete reformista cujos pratos são: tempo de aposentadoria, corte de direitos trabalhistas, investimentos em moradia, a saúde, na área cultural e na boca do porco a maçã o retrocesso na visão comportamental. Os editoriais agradecem, ainda que os interinos cobrem, desses pratos servidos em bandejas cravadas de pedras preciosas, sua parte de leão.
A esquerda, que restou, está desmobilizada, dividida e desorganizada. Foi desmobilizada ao longo dos governos Lula e Dilma. Com influência direta de Lula. Os sindicatos se acostumaram a ser governo. Cobraram seu quinhão. Tanto cobraram que muitos passaram diretamente para a outra banda, como é notório em Paulinho da Força, mas não é só ele, talvez seja o exemplo mais verde-abacate cintilante numa praia de vermelhos, mas todo sindicalismo se perdeu, nesse labirinto. A elite industrial, euforicamente, ergue a taça em louvor aos sindicatos, e nessa efusão de alegria, gotas de vinho respingam no sempiterno presidente. Deste modo, longe da massa, sem vasos intercomunicantes, posto que os velhos núcleos sumiram por algum portal intergaláctico. A desmontagem desses elos entre o partido e sua base começou há algum tempo, por ocasião de escolhas de candidatos majoritários, e foram tomando ares não democráticos, que levaram ao seu desaparecimento completo. Isso explica a rarefação dos movimentos de apoio à presidenta deposta. Exceção feita ao exercito de Stédile e Boulos. Quem tenta, visando ganhos futuros, animar a massa é Ciro Gomes, um baterista que bate em todos os bumbos e não desafina.
Assim, a massa não sai a rua nem pelo fato de Dilma haver sido deposta por um golpe, com requintes de senhores de escravo, no melhor estilo Leôncio, eternizado por Rubens de Falco, ao mesmo tempo bananeiro, grampos ilegais, denuncias sem prova, penteados de Carmem Miranda, família recatada, e as caras duras e a incontinência de Generais de pijama, juízes deuses que proíbem beijos em praça pública, uma TV à venezuelana que desta se envergonhava, analistas políticos que se vendem pelo próprio emprego e uma camiseta polo com o logo da empresa, dão a tonalidade paçoca da miséria cognitiva do momento em que vivemos.
O Republicanismo cuspido pelo furibundo capataz Gilmar Mendes era só uma bandeira que já não tem mastro, este só serviu para a medrosa classe média nele se amarrar com medo do canto da sereia comunista, e que no lugar de tapar os ouvidos, tapou os olhos e não o viu, mas agora começa a sentir seu cheiro velho de enxofre.




2 de jun. de 2016

nenhum

É certo, que o governo Dilma dizia, de boca própria, tudo que existe deve perecer. Não houve surpresa, só um descuido, de duzentos milhões de pessoas, entregues sem resistência a três sujeitos, Cunha, Temer, Gilmar e a grande Mídia.. E nisso tudo foi de embrulho e de roldão: A Constituição, os partidos de esquerda, os cristãos, os verdes, os heróis de monte Castelo, os políticos de renome, os intelectuais de prestígio, o código civil, o código penal, seus códigos processuais; tudo num exercício de mágicos atabalhoados, que ao esconderem a carta na cartola deixam escapar a lebre. E assim nos encontramos, nenhum setor porca e parcamente progressista, tem representação nessa interinidade. Nenhum.     

Voltamos para antes do ponto de partida.

Temer não supera Castelo Branco, e já vejo este espectro caminhar entre nós. E nós teremos que trabalhar para pagar as dívidas da família Marinho e Civita e Frias e Saads.... Definitivamente não sabemos viver em democracia, nossa classe dominante tem medo a qualquer baile com som mais alto, logo vê nisso uma bagunça. Só conseguem dormir tranquilos enquanto a massa dorme faminta, sofrida e auto inculpada.
A caricatura do assalto a Canudos sempre vem à tona. Qualquer maltrapilho os mete medo. Assim o MST os faz recordar de Conselheiro.

Não vamos a lugar algum enquanto não nos livrarmos dessa superstição de ilustração. Não somos ilustrados. Somos escravagistas, só sabemos comandar sob chibata. Aqui a liberdade é antidemocrática, e cada negro diplomado é visto como Zumbi possível fundador de novos quilombos., cada mendigo com a boca de fel, como o Velho do Restelo, uma nova Canudos, que portanto, deve ser arrasada. É frequente o uso da frase, ninguém tem memória. Diria que ninguém tem memória letrada, mas todos sabem desde o inconsciente o que é a classe dominante no país. E quem tem memória letrada sabe que o conteúdo desta frase vai alem dela. Senão o que se vê não é a derrubada de uma Presidenta eleita, mas como o trapaceiro derruba as concessões tiradas da classe dominante durante o último século. O estado voltando a uma forma mais antiga, do domínio desavergonhado das forças policiais. Voltamos para antes do ponto de partida.


achtzehnte Brumaire.