O explorador de lugares
abandonados, força a porta do último pavilhão em
busca da Cultura, ao entrar no recinto, seu cabelo e suas roupas se
emaranham com as teias de aranha. Acende uma lanterna. Por toda parte
há um palmo de água estancada, aonde flutuam insetos e
pardais mortos. De uns canos rente ao telhado uma goteira insiste em
sua percussão. Auto falantes com sua eletricidade estática
fazem seu ruido. Então o explorador de lugares abandonados,
que forçou a entrada no pavilhão nacional da Cultura,
ouve passos, parecem vir de um corredor escuro. Os passos estão
mais perto, retumbam ritmicamente, desprendendo pó do teto. Das
sombras sai Macunaíma, ou parece Macunaíma, no seu
rosto um grande sorriso, como se fosse uma fatia de melancia sobre
uma caixa de pizza num lixo. Macunaíma tem dois metros de
altura, e do interior de seu disfarce mofado infestado de ácaros
e pulgas saem essas palavras: “Quer ver como me arranco a cabeça?”
E arranca. O explorador de lugares abandonados vê sangue por
toda parte, antes de desfalecer.
“Não me sinto
culpado de nada. Afinal, não era um líder responsável,
senão que um soldado que obedecia ordens”.
A frase resume a linha
de defesa que usou, durante quatro meses de seu juízo, o
oficial nazista Adolf Eichmann, responsável pela logística
do transporte e distribuição dos judeus europeus aos
campos de extermínio para a serem executados. Eichmann, no fim
da Segunda Guerra Mundial, fugiu para a Argentina com a sua família,
até ser sequestrado pelo serviço secreto de Israel no
ano de 1960. Foi trasladado a Israel, julgado, condenado a morte e
executado por crimes contra a Humanidade.
Em janeiro de 2016 vem
a luz uma carta escrita a mão por Eichmann, aonde ele pede
clemência e reitera que não passava de um soldado raso,
funcionário do baixo clero, que não merecia ser
castigado pelos crimes de seus superiores, que lhe davam ordens. Na
mesma ocasião, foi tornada pública um telegrama de sua
mulher, Vera Eichmann, que dizia: “ Mãe de quatro filhos,
peço que perdoem a vida de meu marido”. O telegrama não
obteve resposta, mas o presidente Tsevi, ao recebê-lo em 31 de
maio de 1962, antou em hebreu uma citação do Torá:
“ Mas Samuel disse: ' Tal como a sua espada deixou mulheres sem
seus filhos, assim a tua mãe se ficar sem filhos entre as
outas mulheres'”. Samuel 1,15:3;
São tão
inquietantes as afirmações do criminoso Eichmann como
as do antigo presidente de Israel Ytshaq ben Tsevi. Eichmann quer
fugir da responsabilidade no extermínio sistemático de
milhões de judeus dizendo que unicamente cumpriu ordens, como
se fosse uma peça inconsciente de um relógio, e não
um homem com critério moral e capacidade de decisão.
Eichmann é infame. Mas Yitshaq tampouco não é
modelo: mostra o rosto mais fosco daqueles que reclamando por justiça
e castigo para os culpados, nada mais fazem que vingança. Há
muita gente, pelo globo, que não passou jamais do antigo “
Olho por olho, dente por dente”. Assim vai a Palestina, e assim vai
o Mundo.
Quem não quer
viver mais? Mesmo que for para ficar jogando truco com milho. A
pessoa mais velha do mundo, alem de levar uma vida satisfatória
é uma mulher italiana, Emma Morano, com 116 anos,
oficialmente.
Quando se fala em
longevidade, a primeira coisa que vem à cabeça é
sobre a dieta. Aparentemente, Emma continua comendo três ovos
por dia, dois crus e um cozido. E soma: sem nojo. Ademais, um gole de
grappa de quando em quando. Disse que faz isso desde
jovenzinha, quando um médico a aconselhou para combater a
anemia. A anterior, mulher mais velha do mundo – os homens se dão
muito mal nesses rankings ocupava o posto uma americana, que
morreu com os também 116 anos, outra viciada em ovos, no seu
caso com bacon. Coisa que sempre ouço, é a comida
tipica dos norte americanos.
Em resumo, há
outras formas hipotéticas de encompridar a vida, mas as deixo
de lado, e a partir dessa noite decido que um elemento central dos
meus manjares será ocupado pelos ovos, ainda que muitos possam
reprovar com torções seguidas de um lado para outro de
pescoço. Claro, vou aproveitar da dúzia que comprei no
Zilinho Pippa. Caipiras, miúdos, não sei porquê,
mas de gemas amarelinhas. Penso que os primeiros a chamar o que não
é clara de gema, deve ser pelo amarelo ouro que apresentava.
As de granja, maiores, estão mais para anêmicas, que
para gemas.
Não vou nem
contar a meu médico, que faz uns 5 anos que não vejo, e
ele não me vê. A última vez ele nem sabia que
sardinha e atum e outros peixes dessa turma chamada de azul, eram
bacana para a saúde. Muita literatura médica e pouco
trabalho pessoal de campo, o entendo.
Só me falta
encontrar algo que se equivalha à grappa.
É a parte que mais apreciei na história da italiana
Emma. Pinga?
Tô me sentindo meio besta, não o sátiro que é meu desafio, mas nulo como um zero esquerda à esquerda, ou eu vou prá rua levantar bandeiras, atirar pedras, coquetéis, ou paro de pensar na coisa Golpe e seus desmandos. Palavras e argumentos já são insuficientes.
Porque se fosse possível, passaria para o outro lado. E passaria entrar nos postes dos amigos para defender as posições vencedoras desse momento. Mas isso não me serve de nada, nem me traz alívio, nem dinheiro. Talvez, perdesse amigos de longa data. Perderia o norte. Eu sei que a vida é pura desrazão e casualidade. A causalidade, cada um a concebe em causa própria, mas para que tanto sangue? Tanto sofrimento destinado à maioria, em nome da capitalização de poucos?
Jamais saberei a resposta. Quem sabe amanhã conseguirei tragar essa infâmia.
Me preparei a vida inteira para o embate, necessário, político. Aprendi as regras. O passo à frente, depois de dois passos atrás. A finta de corpo, a matada no peito, a espera que a solidão do goleiro o impelisse a escolher um canto. Mas a bola ficou quadrada.
A FIESP de Skaf, o sindicato Patronal por excelência, agrupa, além das pequenas as maiores empresas do Estado de São Paulo. Grandes empresas.com cotização na BOVESPA, desfrutam das maiores ajudas do Estado e da União, fabricantes de carro, elétricas, petroleiras etc. Skaf é um sujeito que não provoca debates. É ridículo, se consegue chamar atenção, é somente pela postura retrógrada, no mínimo, para o cargo que ocupa, se toda a entidade não fosse um Conselho de Coronéis, com seu pé e cabeça no século XIX. Outro dia um representante dessa Caterva, disse que uma hora de almoço é demais, bastariam 15 mim. No mínimo, deveriam estar a discutir a digitalização, coisa do XXI, nem que fosse por estar em voga. Porque também envolvem conceitos de trabalho fixo e seguro.
Mas não, para eles a modernidade é a precariedade, o desemprego de jovens bem formados, só por contemporaneisade à morte. E se ouvíssemos bem, há muitos conceitos do XIX que a FIESP persegue diuturnamente, como o direito de greve, a liberdade sindical, o direito da negociação coletiva, o direito dos jovens se organizarem contra os excessos que instituições como esta praticam.
Parecem aqueles empresários das manufaturas têxteis inglesas, ou gostariam de desfrutar daqueles privilégios do capitalismo selvagem, privilégios que perderam por isso mesmo, por selvagem.
Corria o ano de 1976,
mais precisamente não sei se 75. Trabalhava na Caprichosa
Modas da São Sebastião datilografando duplicatas. De
repente um alvoroço, um mundaréu de gente descia pela
Visconde rumo a General. Largamos, eu e o Melo, os afazeres, a ver o
quê. No edifício número 490, que tem um
estacionamento, la no topo, um homem caminhava se equilibrando,
ajudado pelos braços abertos. A massa, meu coração
palpitava, calada. Ele foi e voltou umas três vezes. Parava,
olhava para baixo. Fez sinais ao povaréu. Do espanto a
multidão passou ao escarnio e gritou uníssono: Pula.
Ele ameaçou. Mas não pulou. Entretanto escorregou.
Ainda assim, conseguiu se segurar na parede com as duas mãos,
e com os pés patinava pela parede e tentava voltar. Não
conseguia. Foi se cansando. Já não tentava mais.
Escapou. Berrou voando. E se esborrachou no teto de uma loja de
roupas. Quebrou as telhas. E foi colhido pela lage. Que afundou.
Trincou. Mas não o deixou passar. Por vários dias,
revia seu voo assustador. Nunca soube, ou não quis
saber dos propósitos daquele homem. No breve tempo que durou o
ato, os bochichos diziam se tratar de um louco, para mim, então,
todo suicídio era coisa de loucos. .
Faz quatro anos,
Dimitris Chistoulas, de setenta e sete anos, farmacêutico
aposentado, se disparou um tiro a cabeça no meio da praça
Syntagma de Atenas, diante do Parlamento, todo mundo entendeu suas
razões. Depois sua nota de suicídio era clara: “O
governo reduziu a nada, literalmente, a minha capacidade de
sobrevivência, que dependo da pensão, que durante mais
de trinta e cinco anos paguei sozinho, sem a ajuda do estado. E que
pela minha idade não tenho o poder de resistir ativamente
(...) não encontro outra solução que não
esta, para um final digno, antes que me encontre obrigado a procurar
comida no lixo” . Foi um suicídio público, usado como
protesto que não podemos menosprezar.
Um suicídio
sempre impressiona, porque a maioria das pessoas não concebem
que se possa considerar que a vida não seja uma prioridade.
Deve ser por isso que esta maioria, a fim de viver, está
disposta a viver de qualquer maneira. O suicídio em
privado,surpreende. Mas a sua condição faz que o
potencial crítico se dilua. No entanto, quando alguém se
suicida publicamente, à surpresa se soma o espanto, e mais que
se tirar a própria vida se acredita que queira dizer algo com
o gesto que é um grito.
Oceane, garota de 19 anos. "ao vivo"
Já é triste a morte, mais triste se se soma a banalização, e nos tornamos vouyers num mirante.