Poeta
e Ladrão, nobre deputado.
Ao
que me consta, ele advertiu numa entrevista: “...não creio
que alguém possa viver de escrever poesias. Empresa romântica
e quixotesca”. Mas ele vivia bem. O delegado Menezes o deteve no
Hotel Asturias no Rio de Janeiro no verão de 1989. No momento
que se aprontava para assistir à entrega do prêmio
Machado de Assis de poesia, do qual dizia ao delegado ser jurado. Era o seu habitat. Concurso ao qual havia apresentado seu
último livro: “Tanajuras, o vértice”. Levava
consigo a arma incriminadora, a esferográfica. Não é
que escrevesse tão mal que merecesse ir preso. Tinha uma certa
fama, de fato. Ainda o encontramos na Amazon e no sitio Domínio
Público do governo federal. Jaboti, Jaboticaba, fora
publicado em 1985. O problema é que quando não fazia
versos falsificava cheques. Ninguém suspeitaria desse
maranhense de formas divertidas; Jusmari Negromonte poeta e
romancista ganhador do premio Ribeirão das Letras de
Literatura entre outros galardões e Sarnem, o Deputado, fossem a mesma pessoa que alimentava uma capivara, uma folha corrida
delitiva mais extensa que seu corpus poético. Qualquer
cronista da época citava uns versos de seu poema “ Pardeus,
que Máscara!” , que rapidamente adquiriam um novo sentido.
“
Rasgue
o seu disfarce,/
rasgue
e pronto,/
o
carnaval já terminou/
o
carnaval se foi tonto” .
Dele
foi retirada a máscara, e para ele a festa estava acabada; no
entanto, não sofria pelos milhões de cruzados
estafados, porque logo ao sair da prisão em 1996 foi preso
novamente, depois de mais um golpe do colarinho branco, esse sim, deixou uns bancos cariocas com um buraco de milhão de dólares,
toda uma fortuna. Se fizermos caso da crônica que assinava
Julinho Chiavenato no A Cidade, o delegado que levava o caso,
mostrou-se admirado. “Me deu muito trabalho, quer dizer, novamente
me deu muito trabalho, senhor Sarnem. Cada vez o faz melhor e é
difícil pegá-lo”. Continua Julinho, O poeta
agradeceu o elogio “ Isso quer dizer que nós dois temos sido
bons profissionais” .
Moral
da história, Sarnem roubava porque havia, ele próprio, que editar seus livros de poemas, e acima de tudo queria ser poeta, sem ter que se
importar com o preço.