13 de mar. de 2016

Como rebelde, só me resta, por fim, a auto destruição.

Como rebelde, só me resta, por fim, a auto destruição.

No entanto, antes disso, preciso trabalhar para que não se restaure a ordem anterior. A ordem que querem está, por demais, ligada à servidão, ainda que não saibam que a mão que afaga é a mesma mão que apedreja. Da festa para a qual chamam a todos, para alardeá-la, só sentirá o tilintar dos serviços, e o aroma do café, no fim dela. Então, é aí que você entra em cena.
Como rebelde, não sou sedentário. E não aceito a verdade pelo  limite de minhas forças frente ao monstro turbinado. Ele quer provar que o monstro sou eu, sendo ele o paradigma da monstruosidade. A ordem que querem restaurar é a que quero sepultar, no entanto, muito provavelmente, ele será o meu coveiro, mas, jamais o meu pastor.
É hora de lutar. Não farão a verdade pelo meu cansaço, eu não me canso, não me canso para que o meu cansaço não justifique, não transforme a farsa em verdade. E  nem à força me faz aceitar seu conceito de vida, e de mundo. 

12 de mar. de 2016

Purismo.

Purismo. 

Nada mais tranquilizador para um determinado tipo de brasileiro que comprovar, ou ouvir dizer que seus inimigos políticos roubam. É, mais uma vez, o poder que não admite debate.
Cunho esta palavrona: Puritismo. Subst. Masc. Sing., a convicção de que – quase – todos os problemas do Brasil atual são produto da corrupção, em geral, e da corrupção dos políticos em particular. Ou mais encumpridado: Puritismo é um produto velho, uma lacra. Diante de certa prepotência do lulismo, certo jornalismo – à valentona - se dedicou a procurar os pontos frágeis na corrupção, que vinha desde a destruição e venda/privatização do Estado, para ocultar dos seus leitores e não narrar as mudanças estruturais, decisivas que aquele processo vem produzindo no Brasil.
A corrupção é a conduta  mais  fácil de julgar, e qualquer um pode condenar sem pensar muito, e mais precisamente, sem pensar.
Isso é velho. Lembro dos militares, eles começaram a mudar as estruturas sociais do país, destruindo as organizações sociais, produzindo divida externa, quais devemos até hoje, mas os julgam pela morte de Herzog e muitos outros. Terrível matar jovens, jornalistas... Mas diante do estrago que fizeram ao país, foi um mal menor. As torturas, os assassinatos, inclusive, frente ao que fizeram, um mal menor: um espantoso, limitado mal menor, diante do efeito do estrago geral que se estende no tempo, que ainda perdura. Mas é muito mais fácil se lembrar e entrar em acordo com o horror das torturas e roubos que no estrago estrutural do país – porque entre outras coisas, os que se beneficiaram com aquilo são, ainda, os donos de quase tudo até esses dias que correm.

 O mesmo aconteceu, mas sem a brutalidade e horror, mas com a mesma eficácia, com a venda/entrega do Estado nos anos FHC.
A fúria Honestista já mostrou sua cara na eleição de Collor, o caçador de Marajás. O grande problema é que Collor foi um monstro que se rebelou contra seu criador. Quem votou naquela eleição, deveria – como mínimo – estabelecer este paralelo, ligar os pontos, afinal o que mais se ensinou na escola daqueles tempos foi ligar com pontos coisas parecidas, ou semelhantes.

Sigamos. Muitas campanhas políticas se baseiam nesse Puritismo, muitos políticos aproveitam seu enraizamento popular para centrar seus esforços, seus discursos na denuncia da corrupção e deixar de lado definições políticas, sociais e econômicas. O Puritismo é a tristeza mais insistente da democracia brasileira: a ideia de que qualquer análise deve se fundar na pergunta criminal: quem rouba? Quem não rouba?. Como se não pudéssemos ir alem disso. E creio que não podemos. Infelizmente.
É terrível que os políticos eleitos para gerir o estado o roubem, nos roubem. Estamos todos de acordo com isso. Esse é, precisamente, o poder do discurso contra a corrupção: é muito difícil não estar de acordo. É, sem vontade alguma de desmerecer ninguém, um lugar comum, aonde todos podemos nos encontrar. Ninguém defende a corrupção e os corruptos. Não digo: está bem que afanem minha gaita. Talvez diga: esse filho da puta que está denunciando é um perverso que passa creme de chantilly na sua cadela. Há quem diga que o partido precisa de dinheiro para construir o poder, dizem, para fazer política, sem parar para pensar – eba pensar – que ao dizer, dizem bastante sobre a ideia do que é fazer politica.
A corrupção existe e é daninha. Mas também existe e faz tanto mal quanto, essa tendência generalizadora de atribuir à corrupção todos os problemas. A corrupção se transformou em algo útil, ela acaba com qualquer debate.

Se as empresas estatais foram vendidas a preço de banana a outras estatais estrangeiras – Telefonica, por exemplo, Telecom Portugal, por exemplo - não foi porque havia uma dívida de bilhões que obrigou o Brasil a fazer o que queriam os credores, mas porque um punhado de ministros de FHC gostavam de apartamentos em Paris.
Se há tantos pobres -e se lhes cuida tão mal e porcamente – a causa é menos da redistribuição de renda e o abandono das obrigações do Estado que no desvio de certos fundos. E assim sucessivamente. A discussão política é o tema que o show da corrupção sabe evitar.

A Honestidade é o grau zero da atuação política, é óbvio que deve-se exigir a qualquer político – como a qualquer empresário, faxineira, engenheiro, jornalista, caçador de sapo, domador de cachorro – que seja honesto.

É óbvio que a maioria dos políticos brasileiros não são, ou não parecem honestos, é óbvio que é necessário conseguir que sejam. Mais isso, em política, não serve para nada, que um político seja honesto não define, em absoluto, sua linha de atuação. Porra! O fato de Tiririca ser honesto nos dá a dimensão do abandono político em que nos meteríamos se todos fosse iguais a ele.

A honestidade deveria ser o mínimo denominador comum MDC, a partir do qual pergunta-se: Que fazer com as terras indígenas? Como resolver a questão energética? O que pensa do aborto?
Não argumento que a corrupção não seja um problema grave. Mas, também é grave quando todo debate político a ela se redunda. O debate sobre o poder. Sobre o poder da mídia. Sobre o super acumulo de riquezas. Sobre o acumulo de pobreza. Sobre a questão ambiental. Sobre a Amazônia. Sobre os rios. Tudo está fora do debate, em nome da corrupção.
A honestidade pode não ser de direita ou de esquerda, mas os honestos com certeza são.

Podemos ser honestos de esquerda e muito honestamente de direita, é a partir disso que devemos buscar a diferença. Quem administra honestamente a favor dos que têm menos – dedicando honestamente o dinheiro público aos hospitais, ás escolas... - será mais de esquerda, ou quem administre honestamente a favor dos que mais têm – dedicando honestamente o dinheiro público na melhoria das autopistas, ao redor dos shoppings centers, os bairros nobres... este será mais à direita. Baixando imposto ao pão, esquerda. Diminuindo impostos sobre o lucro. Direita. Tudo muito honestamente feito. Acatar as proibições eclesiásticas será honestamente de direita. Quem facilite o uso de anticoncepcional honestamente de esquerda. Quem invista na educação dos jovens para retirá-los da rua, será honestamente de esquerda. Quem enche a rua de policiais e de armas será honestamente de direita. Em suma, a honestidade junto com a vontade, a capacidade e a eficácia, quando existirem, atuarão obrigatoriamente com um programa de esquerda ou de direita.

É isso que o Puritismo evita discutir. A ideologia que certa direita sempre insiste em postular que não há ideologias, e que o que importa é a eficiência e a honestidade. Essa frase ´poderia muito bem ter saído da boca da doutora Dilma. Tamanho o disparate. Esses direitas pensam que a política é um capricho, uma vaidade.
Uns dizem que a corrupção mata. Sem dúvida que mata e é terrível. Mas o que mais mata é a falta de hospitais, a desnutrição, a falta de educação para a saúde, a violência, e a vida de merda que levam uma grande parte da população, e isso é mais um problema de participação política que de corrupção.

Há quem diga que se os políticos não roubassem, muitas coisas seriam melhores, saúde, educação, por exemplo.
Pode ser que melhorassem, marginalmente. Mas o que define a saúde ou a educação brasileiras não é a participação em 10%, 20% ou até 30% no dinheiro de quem delas se ocupam. O que as define é que - graças á ditadura militar e seus continuadores pseudo-democráticos – os brasileiros que podiam correram para os planos de saúde e educação particular, e os pobres ficaram com essa educação e essa saúde publicas que os políticos corroem – . E dessa forma, a esquerda anda muito de direita. Ou ainda, a esquerda é absolutamente de direita. Esse é o problema.

Se todos os políticos fossem honestos, ainda deveríamos decidir se queremos ou não uma educação de primeira, de segunda, de terceira. O mesmo valendo para a saúde. O mesmo valendo para a segurança pública. O mesmo para o trabalho. Ainda haveríamos de decidir se queremos que um rico tenha muitíssimas outras possibilidades de sobreviver a um infarto que um pobre. Ou não.
Deveríamos decidir se saber matemática é um direito de jovens cujos pais ganham menos de dois ou três salários mínimos. Ou não.
Todas essas decisões deixaram a mesa de negociação política, pela corrupção.
Muitos políticos e muitos cidadãos evitam essa discussão e falam da corrupção, que é mais fácil e não quer dizer absolutamente nada. Quem é louco de ser a favor do câncer?

Tal Puritismo é a forma de não pensar em certas coisas, um modo safado de calar a boca. Quando não há ideologia, a ideia da decência e da ética parece um refúgio possível. É curioso, não houve no Brasil contemporâneo um governante mais decente, mais refratário a acumular riqueza pessoal, que um senhor que viveu até há pouco num apartamento em San Conrado e que o seguem a chamar-lhe de volta, apesar de tudo: General João Figueiredo.
Não digo, para que fique mais claro o que penso, que não devemos nos ocupar de descobrir todos os roubos e corrupções que se possa. Pelo contrário – aplaudo e agradeço a quem o faça. Mas digo, também, que se não pensarmos a política para além disso, e se a pensarmos em termos de honestos e desonestos, se a pensarmos com um assunto de polícia, corremos o risco de voltar a eleger a um Fernando Collor de Mello.




11 de mar. de 2016

Foi por amar...

Dormira pouco. O dia seguinte se casaria a uma hora absurda, haveria outras noivas e mais importantes. Com um vestido de passeio, que aproveitaria em outros proveitos. Ao fim da cerimonia convidaria uns quantos para o churrasco no quintal de casa. Quinze para a uma da tarde findava a festa. Sabia que uma moça como ela não podia aspirar a mais. Inda mais que os trinta estavam ali a dobrar a esquina. “Não sonho acordada”, se repetia. Se bem, que quase, quase. Aqueles dois palmos de véu, negro, lhe davam uma penumbra acolhedora. Nem queria pensar, mas o brilho do sacrário á sua frente iluminava um futuro impossível. Se este pequeno armário não estivesse pintado com uma fina camada de ouro, ela seria uma noiva de branco. O canto dos lábios num  fremir leve e brincalhão. Com vestido de noiva e tudo.
Festa de buffet no salão social do Bonfinense. Tudo e tudo e mais um. Tudo tão absurdo que reprimiu a vontade de rir. Talvez chorar. Tempos atrás, noivara com o filho do dono da venda. O mais velho. Fazia a inveja de todas as amigas. Não era nem um Marlon Brando, mas ela tampouco Sophia Loren. Aquele rapaz, “pouca coisa mais velho”, dizia, era a porta de saída da miséria. Desembrulhou com suavidade o papel que protegia seu parco enxoval. Ela mesma o havia bordado, quando mais jovem, quando ainda não sabia com quem compartilharia aqueles lençóis. Alguém batia à porta. Eram dois rapazes, os irmãos mais moços de seu prometido. Não aceitaram café. Nem a pinguinha que seu pai ofereceu. Tinham mais o que fazer. Disseram a ela que seu irmão mais velho não estava capacitado para o casamento. Soltaram a bomba H e se despediram, educadamente da cunhada, que jamais seria. É de se supor que os irmãos foram mais explícitos com o seu pai, que os acompanhou da soleira á porteira. Devolver o anel era feio? Mas não podia ficar com ele. Não queria. O derreteu. Ali o tinha, à sua frente, enquanto casava com um outro, a recordar-lhe que esteve a ponto de tocar com os dedos uma vida melhor, e disse: sim. Tampouco tinha outras opções. A recordo velha. Enlutada da cabeça aos pés. Silenciosa, discreta. Indo à igreja com um balde de plástico cheio de flores. Umas rosas abertas que não combinavam com aquela cara triste e pálida. Fico a perguntar a quem as oferecia.   

10 de mar. de 2016

O Estado, Vargas e Grande Sertão Veredas.Pra quê? Deixa : bobo com bobo – um dia, algum estala e aprende: esperta. Só que, às vezes, por mais auxiliar, deus espalha, no meio, um pingado de pimenta... gsv


Pra quê? Deixa : bobo com bobo – um dia, algum estala e aprende: esperta. Só que, às vezes, por mais auxiliar, deus espalha, no meio, um pingado de pimenta... gsv












Se um dia houver um Estado ótimo, quer dizer no limite de sua eficácia e eficiência, seria péssima noticia para os seus concidadãos, concernente à liberdade. O brado é, por um lado: Menos Estado, por outro: Estado Eficaz e Eficiente.
As perguntas que proponho e tento responder são estas: Liberdade (menos estado) é ruim para quem? Bom (estado eficiente e eficaz) para quem?

Desde a proclamação da República Federativa do Brasil, jamais tivemos um estado de fato. Pode-se dizer que a primeira tentativa se deu com Getúlio Vargas em e partindo de 1930. O Golpe de Vargas sendo possível justo pela fraqueza do Estado Central. A fragilidade do Estado está solidificada nas Campanhas de Canudos, na existência de Lampião e seus congeneres, em Pe Cícero tomando o governo do Ceará, e o tamanho do caixa da “União” que não assomava aos 5% do PIB e por fim a guerra do Paraguay, no qual sendo necessária a união com Uruguai e Argentina e o endividamento descomunal com Inglaterra. Não havia Estado.
A existência, eficiência e eficácia estavam presentes no período do Brasil colônia. Período no qual conseguiu guerrear e manter seu território, manter sob a égide de sua força descomunal o regime escravocrata. Não que as forças da ordem fossem braços do Estado, mas sim dos Senhores de então, que agiam em nome próprio e do Estado. Quando os escravagistas colaboram e participam das ordens vindas de Portugal para que se extinguisse todo e qualquer Quilombo, tratava-se na verdade de um desejo partilhado com os dos Senhores de Engenho, Barões do Café etc, sendo assim uma autorização à carnificina e não uma ordem. Isso é prova inconteste de quem era o Estado, a quem ele servia, e esses o servindo numa mão dupla.
No XIX o Brasil era federativo. Isso nos diz que havia certa autonomia nos estados federados. Que também tinha muito pouco poder. Os Coronéis eram coronéis de verdade, tinham seus pequenos exércitos, que eram os seus agregados, aos quais se somavam os Jagunços, para um entrevero e outro. Adrede cito aqui GSV de JGRosa na fala do tio de Riobaldo.“Ah, a vida vera é outra, do cidadão do sertão. Política! Tudo política, e potentes chefias. A pena, que aqui já é terra avinda concorde, roncice de paz, e sou homem particular. Mas, adiante, por aí arriba, ainda fazendeiro graúdo se reina mandador – todos donos de agregados valentes, turmas de cabras do trabuco e na carabina escopetada! “ Os Jagunços zanzavam entre uma luta e outra em busca do ódio alheio para vingá-lo pelo outro. Formavam junto com grupos de Coronéis pequenas regiões que se protegiam de forma quase autónomas, um exemplo é a Sedição de Juazeiro, o poder era inclusive para se usar contra do próprio Estado central.
O Rio de Janeiro vivia, como capital desse proto Estado, com os 4% de impostos, o que não dava para ter uma força, e exercer seu poder de polícia, sobre todo o território. Não vem ao caso, neste momento, mas isso explica um pouco a vida carioca, até os dias de hoje. Voltando. Cada lei, praticamente, exige uma polícia. E o Estado vive de impostos, seja menos de 5% do PIB. A fraqueza fica explicita na guerra de Canudos. Traçando um paralelo, no Brasil Colônia, um dos tantos Bartolomeus que houveram no período, instado pelos proprietários e a Metrópole, com seus homens arrasaram com 20.000 vidas na região quilombola compreendida geograficamente toda a região da Serra da Canastra indo até Formiga em Minas Gerais, de Desemboque a Cristais, passando por Piumhi, Formiga até Campo Belo. Dada a imensa geografia, a organização e população neste episódio sangrento, notamos a força do Estado no Brasil colônia e a fragilidade do Brasil independente em Canudos.
A diferença está em que, no Brasil independente, a partir de determinado momento, as ordens da Capital, já não era do completo desejo dos proprietários, era uma tentativa positivista de “modernizar” o país. GSV “Aquela turma de cabras, tivesse sorte, podia impor caráter ao Governo ” E o Estado não tendo poder de implantar a Lei – seja o Estado – dado a força dos proprietários particulares. Se quisermos, podemos chamar esses proprietários de empresários, e suas propriedades de empresas. Isso fica claro na questão Escravocrata, e na questão da imigração europeia. O Estado, via Rio de Janeiro, queria distribuir terras aos imigrantes, o que não se deu devido a força dos proprietários de terra, com as exceções do sul. De tal modo que os imigrantes brancos, seguiram vivendo como escravos, nas mesmas senzalas e nos mesmos trabalhos que os negros. A ponto de países como Itália e Alemanha, proibirem seu povo de imigrar para o Brasil.
Há um episódio, narrado por um intelectual francês, ocorrido depois da Semana de Arte Moderna, aonde tal intelectual, saindo do salão da casa grande, onde se cantava, tocavam obras da vanguarda européia, se recitava poesia de vanguarda, e tomavam licores também europeus – diz ele que estavam presentes Mario de Andrade, Oswald de Andrade etc. - indo fumar na grande varanda, viu como vinham, à tardinha, os colonos da lavoura para seus casebres, acompanhados por grande número de capatazes, por se acaso, seja, o país ainda era escravocrata.


9 de mar. de 2016

Humildemente, NÓS! Talvez, no dia que começarmos a fazer história melhor do que lendas e mitologia. No dia que começarmos a usar o humilde pronome “nós”, na hora de contabilizar as culpas, então teremos diante de nós e nosso país algum porvir.

Humildemente, NÓS!

Talvez, no dia que começarmos a fazer história melhor do que  lendas e mitologia. No dia que começarmos a usar o humilde  pronome “nós”, na hora de contabilizar as culpas, então teremos diante de nós e nosso país algum porvir. 

Ateísmo, Machismo e Racismo Meus.

Não sei se não sou machista e tampouco se sou. É muito provável, apesar de todos os esforços, que seja, pois não tenho, em absoluto, ideia do que é não se-lo, completamente. Há muita coisa que queria ser, e muitas deixar de ser. Muitas estão alem da simples vontade. Por exemplo, queria ser ateu. Mas não é assim tão fácil. Nasci e logo fui batizado. Fui batizado com o nome da virgem. Com um segundo nome do padre milagreiro de Tambaú, quem me batizou. Fui crismado. Fui coroinha. Lia a bíblia antes de ir para a cama. Lia o novo testamento durante a celebração da missa. Mesmo culturalmente, fui domesticado a visitar igrejas, como representação cultural e de movimentos artísticos, Gótico, Barroco etc. As vi ás pencas em Salvador, Rio, Sampa, Barcelona e mundo afora. Algumas góticas, quais admirei suas rosáceas; catedrais com arcos rampantes sem contrafortes, arcos ogivais com intenções verticalistas, plantas planas na forma de cruz latina. Diz-se que é um agente didascálico... estava nesse caso, orientado pela leitura do Mistério das Catedrais de Fulcanelli.
Assim por mais que saiba da solidão humana na responsabilidade – isso é Nietzsche - não há como não dizer: Graças a Deus! Que seja num ato falho, que sai do fundo do oceânico inconsciente, porque não basta a vigilância, não sou, muito, por não saber o que é ser ateu. Penso, se ser ateu depende da negação de deus, é uma negação, que o supõe. O mesmo se dá com o racismo. É uma luta tremenda.
Não basta ter amigos, namoradas, colegas e inimigos negros. É necessário também que os veja como vejo qualquer outro amigo, namorada, colega e inimigo branco. Simplesmente como o outro. Mas não creio que os veja desta forma, como não vejo um japonês, chinês. Ao fim e ao cabo, os vejo partindo de como fui feito, moldado, daquela matéria que eu era, já que não sou, simplesmente, o que quero ser, sou muito o que fizeram de mim, nesse caminhar com dois passos adiante e logo um atrás, ou ao contrário.

Da mesma forma ocorre o meu machismo. Está no princípio, no colo materno, no lar patriarcal, e se estende por toda a família, até os primos mais longínquos, e permeia a sociedade. Inescapável. Nunca fui uma ilha. Sempre cozinho, lavo e passo, e até passava a roupa da ex quando era o caso, ela não sabia, não tão bem como eu, mas isso não muda nada, se disso me lembro como uma exceção, como um fato não corriqueiro. Muitos dos meus mais próximos, botam a culpa de minha separação, nesse meu pretenso não machismo. Eles querem dizer com isso, que algum machismo seja necessário, e nesse “eles” sujeito da frase anterior, há muito de 'elas', então me pergunto por que não coloquei o sujeito, 3ª do plural no feminino? Machismo?

26 de fev. de 2016

Amigo.

Amigo.

Amigo, para mim, verdadeiro amigo, amigo do peito, não é aquele das horas difíceis, que faz intercâmbio de ajudas, que me ouve os meus desgostos. Isso para mim é escambo, mercantilismo…. Amigo é aquele que gosto de contar a melhor piada, o meu melhor pensamento. Que gosto de conversar até fechar o bar, e sair procurando outro bar que nos aceite para mais uma história, e quando vemos o dia clareou… e dizemos em uníssono: será que a padoca abriu?