Não
sei se não sou machista e tampouco se sou. É muito
provável, apesar de todos os esforços, que seja, pois
não tenho, em absoluto, ideia do que é não
se-lo, completamente. Há muita coisa que queria ser, e muitas
deixar de ser. Muitas estão alem da simples vontade. Por
exemplo, queria ser ateu. Mas não é assim tão
fácil. Nasci e logo fui batizado. Fui batizado com o nome da
virgem. Com um segundo nome do padre milagreiro de Tambaú,
quem me batizou. Fui crismado. Fui coroinha. Lia a bíblia
antes de ir para a cama. Lia o novo testamento durante a celebração
da missa. Mesmo culturalmente, fui domesticado a visitar igrejas,
como representação cultural e de movimentos artísticos,
Gótico, Barroco etc. As vi ás pencas em Salvador, Rio,
Sampa, Barcelona e mundo afora. Algumas góticas, quais admirei
suas rosáceas; catedrais
com arcos rampantes sem contrafortes, arcos ogivais com intenções
verticalistas,
plantas planas na forma de cruz latina. Diz-se que é um agente
didascálico... estava nesse caso, orientado pela leitura do
Mistério das Catedrais de Fulcanelli.
Assim
por mais que saiba da solidão humana na responsabilidade –
isso é Nietzsche - não há como não
dizer: Graças a Deus! Que seja num ato falho, que sai do fundo
do oceânico inconsciente, porque não basta a vigilância,
não sou, muito, por não saber o que é ser
ateu. Penso, se ser ateu depende da negação de deus, é
uma negação, que o supõe. O mesmo se dá
com o racismo. É uma luta tremenda.
Não
basta ter amigos, namoradas, colegas e inimigos negros. É
necessário também que os veja como vejo qualquer outro
amigo, namorada, colega e inimigo branco. Simplesmente como o outro.
Mas não creio que os veja desta forma, como não vejo
um japonês, chinês. Ao fim e ao cabo, os vejo partindo
de como fui feito, moldado, daquela matéria que eu era, já
que não sou, simplesmente, o que quero ser, sou muito o que
fizeram de mim, nesse caminhar com dois passos adiante e logo um
atrás, ou ao contrário.
Da
mesma forma ocorre o meu machismo. Está no princípio,
no colo materno, no lar patriarcal, e se estende por toda a família,
até os primos mais longínquos, e permeia a sociedade.
Inescapável. Nunca fui uma ilha. Sempre cozinho, lavo e
passo, e até passava a roupa da ex quando era o caso, ela não
sabia, não tão bem como eu, mas isso não muda
nada, se disso me lembro como uma exceção, como um fato
não corriqueiro. Muitos dos meus mais próximos, botam a
culpa de minha separação, nesse meu pretenso não
machismo. Eles querem dizer com isso, que algum machismo seja
necessário, e nesse “eles” sujeito da frase anterior, há
muito de 'elas', então me pergunto por que não
coloquei o sujeito, 3ª do plural no feminino? Machismo?