9 de mar. de 2016

Ateísmo, Machismo e Racismo Meus.

Não sei se não sou machista e tampouco se sou. É muito provável, apesar de todos os esforços, que seja, pois não tenho, em absoluto, ideia do que é não se-lo, completamente. Há muita coisa que queria ser, e muitas deixar de ser. Muitas estão alem da simples vontade. Por exemplo, queria ser ateu. Mas não é assim tão fácil. Nasci e logo fui batizado. Fui batizado com o nome da virgem. Com um segundo nome do padre milagreiro de Tambaú, quem me batizou. Fui crismado. Fui coroinha. Lia a bíblia antes de ir para a cama. Lia o novo testamento durante a celebração da missa. Mesmo culturalmente, fui domesticado a visitar igrejas, como representação cultural e de movimentos artísticos, Gótico, Barroco etc. As vi ás pencas em Salvador, Rio, Sampa, Barcelona e mundo afora. Algumas góticas, quais admirei suas rosáceas; catedrais com arcos rampantes sem contrafortes, arcos ogivais com intenções verticalistas, plantas planas na forma de cruz latina. Diz-se que é um agente didascálico... estava nesse caso, orientado pela leitura do Mistério das Catedrais de Fulcanelli.
Assim por mais que saiba da solidão humana na responsabilidade – isso é Nietzsche - não há como não dizer: Graças a Deus! Que seja num ato falho, que sai do fundo do oceânico inconsciente, porque não basta a vigilância, não sou, muito, por não saber o que é ser ateu. Penso, se ser ateu depende da negação de deus, é uma negação, que o supõe. O mesmo se dá com o racismo. É uma luta tremenda.
Não basta ter amigos, namoradas, colegas e inimigos negros. É necessário também que os veja como vejo qualquer outro amigo, namorada, colega e inimigo branco. Simplesmente como o outro. Mas não creio que os veja desta forma, como não vejo um japonês, chinês. Ao fim e ao cabo, os vejo partindo de como fui feito, moldado, daquela matéria que eu era, já que não sou, simplesmente, o que quero ser, sou muito o que fizeram de mim, nesse caminhar com dois passos adiante e logo um atrás, ou ao contrário.

Da mesma forma ocorre o meu machismo. Está no princípio, no colo materno, no lar patriarcal, e se estende por toda a família, até os primos mais longínquos, e permeia a sociedade. Inescapável. Nunca fui uma ilha. Sempre cozinho, lavo e passo, e até passava a roupa da ex quando era o caso, ela não sabia, não tão bem como eu, mas isso não muda nada, se disso me lembro como uma exceção, como um fato não corriqueiro. Muitos dos meus mais próximos, botam a culpa de minha separação, nesse meu pretenso não machismo. Eles querem dizer com isso, que algum machismo seja necessário, e nesse “eles” sujeito da frase anterior, há muito de 'elas', então me pergunto por que não coloquei o sujeito, 3ª do plural no feminino? Machismo?

26 de fev. de 2016

Amigo.

Amigo.

Amigo, para mim, verdadeiro amigo, amigo do peito, não é aquele das horas difíceis, que faz intercâmbio de ajudas, que me ouve os meus desgostos. Isso para mim é escambo, mercantilismo…. Amigo é aquele que gosto de contar a melhor piada, o meu melhor pensamento. Que gosto de conversar até fechar o bar, e sair procurando outro bar que nos aceite para mais uma história, e quando vemos o dia clareou… e dizemos em uníssono: será que a padoca abriu?

Ovo de Páscoa, o Ouro de Tolo do Pascácio.

Ovo de Páscoa, o Ouro de Tolo do Pascácio.



O preço que se paga por um ovo de chocolate, nem sempre de chocolate, sempre mais açúcar, sempre mais gorduras, sempre mais leites, dá a dimensão da nossa capacidade de influência no chamado mercado. Nenhuma, positivamente. Total, negativamente. Aqui, a famosa lei da escassez, seja, nada do que se produz é para todos. Se todos quiserem não haverá para toda gente. E nessa luta pelo equilíbrio do produzido versus sua procura, se faz o preço. O mercado, em outros países, é composto pela oferta e a procura. Mas não somos outros países. E o mercado aqui é o que se vê. Sobram ovos de Pascoa, todos os anos, tanto que se pode comprá-los por ''buon mercato'' como dizem os italianos, lá por “Corpus Christi”, com o risco de ranço, se fosse de chocolate. No entanto, chegamos ao super ou hiper, e o firmamento de ovos está lá. Toda gente a olhar para aquele céu. Umberto Eco faria grande proveito, no mercado da escrita, do semiótico dessa imagem, mas eu ainda busco eco e não economizo, dei tá dado. Pois o preço também, em equivalência a sua exposição ao alto, assim é praticado, nas nuvens. E nós, o consumidor? Compramos. Pagamos. O que pedirem? O que pedirem! No cartão, em 10x etc. Somos pascácios.

Atropelou-a Sobre a Faixa.

+ ou - 10h da manhã. 26/2/16

Estavam de mão dadas, esperaram o verde da Florêncio de Abreu. Veio o Verde. Ele mais apressado largou primeiro, ela veio puxada pela mão. Vamos, bem! O Honda Civic silencioso na Olavo Bilac. Viraria à esquerda. O verde veio para o Honda Civic prata. O Honda saiu como se fosse besta. Sendo máquina. Como máquina, pensa como besta. Como besta atropelou-a sobre a faixa. Parou como máquina. De dentro do Honda Civic prata saiu um senhor de cabelos prateados, incivilmente, ....”Mas estava verde para mim!”, No entanto, estava verde para eles.

Ilustres Senhores Engenheiros da Transerp. Está cada dia mais evidente, nossa incapacidade de governar os Hondas civicamente e outros possantes. Já que não temos no Palácio Rio Branco, nada, nem ninguém com visão para os problemas urbanos, digo: O Semáforo com Três Tempos é para isso. Um tempo para o pedestre. Porque é completamente sem juízo e sem equivalência, um ser de carne e ossos, disputar a travessia de uma rua com um Civic incívico. Porque não dá para confiar na consciência. Aliás foi por isso que os Norte-americanos o inventaram, para deixar claro, a cota de cada um. Agora, essa cota é com os Senhores. Civilmente.  

O Processo.

O Processo.


Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada.” GSV.


De repente, estamos a ler os jornais como se tivéssemos à mão: um Processo. Ouvindo, bovinamente, os telejornais, como se instruísse a Promotoria. E julgamos. Nada mais gostoso que ser juiz. Nos tiram dessa posição, quadrupede, nos vestem a toga. Batemos o martelo. Uma vez ao dia, mínimo. Há outros, os que nos arvoramos em ampliar o processo para outros dias, outros homens e outros mesmos crimes.

24 de fev. de 2016

O Pêndulo de Casmurro.

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O pêndulo vive de oscilar. Quem conhece a ciência do pêndulo, é capaz de botar o nariz no ponto, o mais próximo de um ponto final de um dos seus balanços. Desta forma, verá o objeto se aproximar, crescer e parar por um instante, e por um não se sabe bem o quê, começar um lento recuar, recuar desenfreadamente passando pelos pontos mais baixos, e arrastando consigo toda a força que a gravidade tem. Casmurro era o sujeito carioca. Uma classe. Elegante. Resolvido financeiramente. Adulado desde a infância. Quando narra sua história, nos quer como cúmplice, como voto nesse julgamento. Vai plantando pistas a seu favor. Sua família é a típica família fluminense – e o Brasil era pouco mais que a capital – com seus agregados. Ser um indivíduo mulher era um impossibilidade. Para ser, ela haveria de tramar seu futuro, e esse futuro teria como trajeto, quase  obrigatório,  um casamento, ou a adoção por alguma baronesa. Essa era Capitu. A tramar sua existência, manobrar, um futuro...  Para o negro nem essa possibilidade existia. Quando fui chamado pela primeira vez a esse julgamento, a primeira leitura, ficou estampada a razão de Casmurro. Porque estava em mim introjetada, naturalizada aquela ideologia, e as ações históricas foram tantas, e no dia-a-dia, incessantemente, nem dá ou daria ou dará para perceber que de ideologia se trata. É a famosa frase: A vida como ela é. Não há nada mais ideológico que esta frase. Como se estivéssemos emparedados dentro dessa indumentária social. Não há escape. Ou se adapte ou será engolido. Aonde, adaptar-se é ceder densidade de pessoa. É boiar, como um nada... Seja, não há escolha. 
  No entanto, o pêndulo oscila. Noutra leitura, tenho outras notícias. Vejo as pistas deixadas por Bentinho, num julgamento em que ele é parte, não só parte, mas parte interessada. Interessado em manter seu status quo. Aonde tudo que sair da sua boca deve ser conjurado como verdade. E não é. Não é, primeiro de tudo, porque nada é sempre verdade. Ainda que esta autoridade – para anunciar, enunciar a verdade –  advenha da classe social, que tem, desde tempos imemoriais,  o poder de dizer a verdade, e se manteve até os nossos dias. Se houve um hiato temporal, aonde este poder pudesse estar em jogo, ele acabou.  Duas pessoas batendo panela em Higienópolis, valem por milhares de brasileiros.  Quem diz isso? O narrador nacional, o Casmurro nacional, seja, os meios de comunicação social. É neste momento pendular que nos encontramos. A verdade ganhando a enormidade do absoluto. Volta-se a ler a narrativa sob a ausência dos símbolos - sob força do significante -  que a naturalidade exige. A vida como ela é, é aquilo que diz que é o narrador.
 Olho para o pêndulo, e ele lá evem. Veloz. Furibundo. Azarando tudo. Talvez dê tempo de tirar a cara da reta.  

22 de fev. de 2016

olho por olho. cara de palhaço, nariz de palhaço e asas de ignorância



olho por olho. dente por dente. tempo de medos neste mundo de mecas. o caminho de saída? é abaixo: não te perca, nos dizem os sábios sabichões. salte e deixe-se levar pela gravidade. pela decadência. pelo sofisma disfarçado de petulância, nariz de palhaço e asas de ignorância. e baixe e baixe e baixe e aquilo que antes se dizia suficiência se tornou excelência. e baixe e baixe e seguimos baixando e a cota da mediocridade começa a ser difícil de recuperar. a normalidade de antes, agora é uma recordação borrosa, a genialidade, nem tão só uma utopia. tempos de soco. de lobo. de sangue por sangue. de quebrar mimos. de insuficiência premiada. de ovações e reverências ao nada.
tempo de gritar. de fechar os olhos para não chorar. de chorar morfina para não sofrer. bem, de sofrer, sofrer, não sofremos. mas viciamos em lágrimas. e isso nos faz cair ainda mais. Fazendo carpados. caímos, caímos, caímos.
caímos até que, desde a nossa miserável e estática perfeição, pensamos que o mundo é que sobe.
essa é nossa grande sorte.

e que permaneça.