Ondas Gravitacionais.
Havia marcado para hoje
à tarde, uma bebelança com uns amigos virtuais, no novo
Mercadão. Nem tenho tanta pena assim, já os explico.
Como ando num resguardo de cirurgia, pós, não ia lá
beber mais que uma caneca, mas que diabos esperar de amigos virtuais.
Isso mesmo, o bom da coisa é que se deve esperar tão
pouco deles que nada acaba em frustração. Todos
enviaram uatizapes. Como a sorte pequena chama a grande, acabei por
topar com um amigo das antigas. Como eu já vinha apressado,
pude manter o contexto na breve conversação que
mantivemos. O sinal, vai abrir... Ao cabo dessa brevidade havíamos
concordado em duas coisas. Uma é que já não
temos tempo para o tédio. Parece que ambos combatemos ao tédio
neuroticamente. Eu não usaria esse termo, me referindo a mim
eu me, mas como ele quis remarcar, pra efeito de ata, assinei
embaixo. A outra é que não podemos nos afastar de
nossas mulheres, como ele já me metia nessas considerações,
e não me sobrava tempo para explicar que minha rotação
e translação se davam mais a certa inércia que
à gravidade conjugal, por que, acho que ele, quando se
afasta de sua mulher, algo mais de um determinado raio crítico,
perde referência, vaga errático... Que estando ali com
ela, que comprava bacalhau, aproveitaria-me para tomar um chopp... Eu
disse o que se segue, nesses casos me sinto como um trabalhador, que
ao chegar ao trabalho, seu chefe diz que hoje, excepcionalmente, não
haverá trabalho, folga, e saio por ai zanzando como cometas
que com certeza existem e nunca repetem sua órbita, sinto não
ser hoje esse dia, assim que até mais ver, porque hoje ainda
tenho que restaurar a ordem cósmica. Que ao menos tenha
percebido a redundância.