Faça como
Demócrito, não morra em véspera de Carnaval.
Demócrito, o
filósofo risonho, estava à beira da morte, carcomido,
corroído pela velhice. Sua irmã não
parava de chorar. Dorido desenlace iminente, mas a dor doía
mais por inoportuna, porque naqueles dias se dava o festival das
Tesmofórias, festas em que as mulheres festejavam Ceres e sua
filha Prosérpina, rituais secretos, maçã do
amor, auto falante soando Odair José e tudo mais.
Demócrito,
entendia sua dor, afinal era risonho e não carrancudo. A
propósito, ria.
O que fez Demócrito?
Tentaria adiar sua morte.
Como?
Pediu a sua querida irmã, que lhe trouxesse
até a cabeceira de seu leito, alguns pães, acabados de
sair do forno, e ali ao lado do travesseiro os depositasse, junto a
sua cabeça.
O que aconteceria?
O aroma era tão
inebriante que poderia entreter a dona Morte, ainda que ela
estivesse ali a rondar a cama.
O que de fato aconteceu?
Isso mesmo
que ele planejara, durante três dias que duravam as festas,
pelo olor dos pães, ele ansiou sua vida tanto que não
morreu.
Mas, enfim, Demócrito morreu?
Sim, no quarto dia,
finalmente, soltou as amarras e morreu em paz. Assim não
estragou as festas de sua irmã.