28 de jan. de 2016

A Vida.

A vida.

Para viver há que se abraçar a vida em toda sua esgarçada e fragmentada liquidez, no que tem de boa e má, amar a Dilma e o  câncer, FHC e a Zikai, Aécio e Zé Dirceu. O humor não existe como ornamento escapista, é a hilariante ferida suicida que faz da merluza bacalhau ou sereia, sábio ignorante, Bolsonaro em diamante, o relaxamento que permite mijar na mão do amante. 

27 de jan. de 2016

não carrego a carteira vazia mas transparente

não carrego
a carteira
vazia
mas transparente

Quando ela pensou hoje se atreveria abraçá-lo todo ele era mar

Quando ela pensou
hoje se atreveria
abraçá-lo
todo ele era mar

Entrevista com Mula sem Cabeça, presidenta do Sindicato dos Fantasmas Esquecidos.

Entrevista com Mula sem Cabeça.

Me conte, como tudo começou?
Era amante de padres em pequenas vilas, os padres frequentemente tinham seu muar, para todo o uso, mas de vez em quando saiam comigo (olhar perdido).
Então, nem sempre foi uma mula?
Era uma moça comum e trigueira, até que o pároco levantou a saia, a minha e a dele ( risos), e nos tornamos amantes.
Você levava uma vida normal.
Sim, só que estava proibida de ir à missa. ( emburrada)
Por quê?
Porque algo poderia acontecer e não se sabia o quê.
E você ficou curiosa e a acabou por ir?
Um pouco foi curiosidade, outro tanto foi a paixão. Me apaixonei pelo padre.
Me conte que aconteceu.
Tudo corria fluentemente, o Padre me olhava com medo e cautela, até que quando ele levanta a hóstia, ela desaparece.
A Hóstia desaparece?
Sim! (olhos arregalados)
E desde então Você se transformou na Mula sem Cabeça?
Não foi imediatamente, pois o padre andou a pensar um pouco, não queria me perder, e como ele tinha lá seu muar, por bem eu seria mais uma no meio delas, e o povo não desconfiaria.
Quer dizer que seu encantamento a transforma numa mula normal e corrente?
Sim.
E quando é que você perde a cabeça?
Justamente no ato amoroso. (gargalhada) Como castigo, não esperado, saio a galopar, assombrando e soltando fogo pelo buraco da cabeça. As vezes relincho e as vezes soluço. ( piscando o olho como um gif)
E não há como acabar com o encantamento?
Agora não mais, porque o padre teria que me amaldiçoar sete vezes antes de celebrar a missa, como ele já morreu, já não é possível. ( olhos lacrimejam).
 Por isso que andas triste?
Não, não é por isso não, ( decidida) na verdade ando triste porque ninguém me vê como antigamente.
E por quê?
Foi uma mudança lenta, (professoral) mas tudo começou quando iluminaram as ruas, as casas. Com o passar dos anos tudo está cada vez mais iluminado. E há tanto ruido, barulho de carros, toda gente vai com fones de ouvido, ouve-se música no volume máximo, que por mais que me esforce já não consigo ser vista. Além do que, há muito zumbi andando por ai que espantam mais que eu, tanto quando alguem me vê, vem até mim e se nos fotografa.
Daí que nasceu a ideia do Sindicato?
Sim, fizemos umas reuniões, com os companheiros, ( o próprio Lula) o Fantasma que Arrasta Corrente, Mãe D'água, Mãe da Lua, e muitos outros, somente o Saci Pereré não quis tomar parte.
Por quê?
Ele anda assustando uma cidade perto do vale do Paraíba, (Pelego, não disse mas pensou) e assim vai fumando seu cachimbo.
E qual vai ser a sua luta no Sindicato?
Vamos lutar (Ciro Gomes) contra outros monstros modernos que tomaram nosso lugar.
Você pode me dizer quais são?

A maioria ( cara de coxinha) começa por “I”, IPVA, IPTU, e alguns animais que já têm seu serviço e invadiram nosso espaço, como o Leão do imposto de renda, o Dragão da Inflação,...    

Universal e Eu, ou a Alma Está a Se Reduzir?

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Em algum lugar de Marx, que não posso precisar no mundo não haveria fronteiras, e eu pensei que a ideia era boa e era jovem sem limites  e Bonfim  pequeno, levei meu espirito para passear. Tudo para que a alma crescesse. Como bom bonfinense e por conseguinte brasileiro, carregava comigo o embornal de desconcertos diante das leis, descobri que o mundo tinha mais cercas que os sítios na Estradinha do Cantagalo, cheia de mourões e arames farpados, estas a gente varava por uma manga, já aquelas....

As fronteiras, europeias, eram cruéis, mas descobri que as fronteiras são mais rígidas para uns que para outros. Um amigo, melhor contar isto antes: No trem que ia de Milão a Munique e cruzaria a Suíça havia um batalhão de policiais. Com o comboio ainda na estação veio a verificação dos bilhetes. Logo a trupe dos passaportes, pois esse amigo, um recém formado jornalista, com sua cabeleira negra, seus olhos negros e a tez mourisca, se tornou o preferido deles. Na primeira visita, tomaram meu passaporte, mas olhavam para ele, assim que ao me devolver o passaporte, o policial quase o deixou cair ao colo de um terceiro, estendia o braço alhures mentre se fixava em Ulisses -  não pela viagem, mas por não esquecer jamais sua descendência mineira alojada na rua Marechal Deodoro em Ribeirão -  quanto ao seu passaporte, este foi vasculhado por todas as patentes que no trem estavam lotadas.
 Em algum lugar entre tuneis e sopés de montanhas com picos nevados estava a fronteira suíça e lá o trem parou para a troca da guarda, entravam os suíços, saiam os italianos. E a história se repetiu com com agravantes, uma era a língua, outro, cada guarda dizia olhando nos olhos de nosso Odisseu: Visum Erforderlich. Ân! Trucava o mineiro. Sie benötigen ein Visum für Deutschland. E se iam, mas logo vinha outro, alem do sotaque, e da cor dos uniformes, nada diferente do que havia se passado em La Junquera, na fronteira de Espanha com  França. E assim foi até Munique. Ele voltou para sua Itaca. Eu fui ficando, até que um dia dei umas marretadas no muro de Berlin, com emoções confundidas, e o mundo universalizou, o mercantilismo, as mercadorias, tal como previra o touro mouro, mas para os homens as fronteiras permaneceram e permanecerão em continuo encurtamento dos raios de seus círculos, a ponto de cada um estar completamente cercado para o outro. Tanto que as vezes chego a me sentir como um mourão de canto de cerca, grosso e arrodeado de arame farpado e a alma pequenina, enquanto a vaca vem em mim coçar seu berne. 

Cleptocracia

Cleptocracia!

Regime fundado, e destinado, na espoliação permanente das Administração Pública, para o enriquecimento Pessoal e para garantir a perpetuação no poder de quem supostamente a praticá. 

26 de jan. de 2016

O Homem que enfiou o dedo no cu.




É a história de um encontro de estudantes de história, que por caminhos que só mesmo Borges poderia explicar chegou a mim e me deu vontade de contá-la. Os futuros historiadores estavam acampados no campus da Universidade de Aracaju, para o Encontro Nacional de Estudantes de História, ENEH.. Havia gente de todo lugar do país, uns vendiam pingas misturadas, e outros que pagavam pinga misturada com maria. Eu tenho 'cabeça de negro' gritava um, Eu Paraty, respondia lá nas barracas da UFRJ... a manguaça era geral para  gêneros e graus. Era o preparamento para assistir um forrobodó no centro de Aracaju, numa praça a céu aberto. Um paulista levava seus olhos verdes para ver o cobre das meninas de Salvador, a zabumba ditava o ritmo, não se perca de mim, não se perca de mim, não desapareça... Muitas palmas e aquilo introduzia um xote, vem cá morena se achegue pra cá... e a dança acompanhava os sotaques dos dançadores, mas a mão estava sempre no começo da espinhela... de repente... se abre um clarão no meio do público, um sujeito com a autoctoneidade a flor da pele bailava, com seus colares de ouro, seu relógio de pulso, de correia mais larga que o pulso, rodopiava passos perfeitos para historiadores do futuro, que o aplaudiam, a roda cresceu, ele tirou a camisa, todos esqueceram da cantora, da zabumba, o homem de bigodes tirou a camisa, dançou, rodou sobre seu eixo, sobre seu centro de massa deu mortais, mais aplausos, a cantora chamava a atenção dos únicos dois policiais, "ele atrapalha o show",  dois rapagões recém ingressados no corpo, pouco podiam fazer, o homem bailando se despiu completamente, e bailou, a morena cobre não se aperreou, aplaudiu, ele bailava, todos bailavam à volta dele, ele abre as pernas, bota a cabeça entre as pernas, como quem quisesse olhar o cu, e então enfia o dedo no cu. A multidão delirou. Gritos de todos os lados, os que estavam na segunda fila se arvoravam para ver o dedo no cu. Os moços da policia, vêm e o levam, sob protesto do povo da história. De uma gente que passa a vida a ler sobre revoluções, não demorou o grito: “ão, ão, ão, abaixo a repressão”. Os policiais estavam atônitos. Parecia que a massa lentamente se movimentava para libertar o homem com seu dedo no cu. Nessas horas é que aparecem os lideres, e ele veio, saindo do meio da multidão, foi lentamente se aproximando dos policiais, e um deles num ato reflexo desferiu uma coronhada na testa do líder, o sangue esguichou, empapando a camisa, enchendo de espanto o policia; a massa se enfurece, parte para cima dos policiais, que metem o homem com seu dedo no cu, dentro da viatura, um vai conduzir, ou outro apontar a arma. Nisso chegavam mais e mais viaturas, fazendo curvas, cavalo de pau; a tropa de choque, um rapaz cai, o brucutu o imobiliza, mete o revólver na cara do jovem, dispara, o tiro seco, mas é no chão que entra o projétil... “Puta que pariu, essa policia é a vergonha do Brasil”, a curitibana pensa estar vendo uns quinhentos policiais, que formavam uma fileira e os encantoava para dentro de galpão vazio, todo mundo apanhou, nem se for uma na canela, levou uma borrachada.. vieram ônibus que levaram a todos de volta às suas tendas... e passaram lá toda a noite a fumar e beber e contar cada um o que viu, o homem que enfiou o dedo no cu.