F me envia uma fábula, via email, e esse seu generoso gesto me anima a ser indiscreto. E contar uma
piada. “ A Escola contra o Mundo” ou será “ O
Estudantado contra o Educador”? F comenta ou recorda de forma
ímpia o que se pode chamar de “Pedagogia do governador
Alckmin ”. Paradoxo, grita alguém desde o fundo do
anfiteatro, isso é um oximoro. Com todo respeito que devo
consagrar ao governador, ele é muito cabeção,
que testa! Imagino o Secretário da Educação
preparando a visita do governador a alguma cidade do interior, aonde passará a noite, fora do seu palácio, deva dormir em algum
hotel simples, despreparado para recebê-lo, deve, o secretário,
pedir para que se encham as paredes de cabeças empalhadas de
professores e alunos, para quando chegue o governador, o secretário
dirá: Tudo o que vês, apontado os ornamentos, saiu, Excelência,
de nossas cabeças.
3 de dez. de 2015
Anacársis era um Cínico.
Anacársis.
Gosto de Diógenes,
por punheteiro. Mas houveram outros bárbaros, como Anacársis.
Filosofo cita. Como Diógenes, franco, sincero e provavelmente
o precursor dos cínicos. Incerta feita, disse a Solon, não
foi a Plutarco: estou admirado com a Grécia, aqui os filósofos
falam e os tolos são quem decidem. Dizem que Anacársis
disse que as
Leis São
Semelhantes as Teias de Aranha, nas Quais os Animais Pequenos e
Fracos Ficam Presos, e os Grandes as Rompem e Escapam. .
Ernesto Cabeza de Vaca. II. Do Ataque a Nhanderequei.Cabeza de Vaca Chama Nhanderequei de NabiAbiChedi.
Ernesto Cabeza de Vaca.
Nem deus nem rei, nem
preguiça nem raposa. Cabeza cometeu essa mesma tarde a
ruminada diatribe contra Nhanderequei. Começou propalando aos
ventos que Nhanderequei era estéril e fora feito de fungos, o
culpou de os cocos seguirem a lei gravitacional newtoniana e mesmo
assim não racharem depois de sua queda livre até a
areia, depois chamou de Nhandiroba. Nhambiquara, Nhambu, Nhambi e de
Nabiabichedi. Então, por fim, atirou em seu penacho um grão
de areia, aonde estava de férias um virus de Zica. Aqui estão
as afrontas em versos,
Oh, Nhambiquara, o que
anda se arrastando pela terra
a quem todo mundo pisa
e a mandioca enterra
se queres que te
respeite como um deus
faça me o favor,
acabe com esse seu mal
humor
e não vista
este pretinho básico
e tenha seus quinze
minutos nesta vida vã,
bote neve neste céu
acabe com esse calor
do Leme a Piatã.
Cabeza de Vaca, olhava
seu anchietismo arenoso e se orgulhava da obra acabada e lembrava que
o por fazer é só com deus. Assim falava Cabeza de
Vaca.
Caia a noite sem fazer
barulho como a pena de Galileu em Pisa, Ernesto só queria
algo pra comer e dormir, mas seus planos fracassavam, aparecia um
macaco e lhe roubava a banana, e o calor aumentava como a pica nas
manhãs por urina e Cabeza de Vaca voltava a mergulhar.
Exatamente num desses mergulhos e voltando à areia fazendo
jacaré, pelado para provar que os mexilhões eram ou não
afrodisíacos, Cabeza viu surgir de entre as ondas a garota do
escafandro, ficou nervoso e derrubou um castelo de areia.
- Calor ainda muito
faz – disse a sereia. Ernesto não soube quê. Pareciam
uma acusação, mas para um meteorologista, egresso do
Instituto de Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de
Paraguay, falar do tempo de modo superficial era difícil,
como quem sabe que chove, sem saber porquê. Alem de que,
estava preocupado, e todos os seus esforços se consagravam a
rarefazer com as mãos a visão do membro atacado em
honras a Abraão. No entanto a sereia moça se
acalorava só de pensar em usar aquilo que ele escondia como
fio dental, não entendia o significado da palavra pudor.- - Mãos sem
nada bater as?
- É que estou
na barreira, e se bater na mão é pênalti, mentiu
Cabeza de Vaca, e seus olhos varavam o corpo dela, de tanto fingir
não ver sua silhueta. E apesar de todas estas precauções,
a coisa ameaçava escorregar entre os dedos. Houve um silêncio
de mais ou menos umas três horas, como se fosse feito por
deus. Cara a cara permaneceram sem se falarem palavra. Faltava
mesmo era um baralho, fazer uma canastra real para matar o tempo.
Por sorte a natureza não perde a hora e os raios de sol
irromperam no levante baiano. Assim, Ernesto tinha um novo tema para
a conversa. E como já aprendia o idioma assinalou:
- Amanhece que pouco
a viu pouco? E apontava para o levante sem mexer as mãos. A garota recuou
espevitada e desandou uns passos buscando profundidade. Da parte de
Cabeza de Vaca, sabemos que andava submergido num oceano de dúvidas,
cavilações e desconcerto, mas a julgar pela aparência,
estava com as bolas do jogo nas mãos.
2 de dez. de 2015
Ernesto Cabeza de Vaca.
Ernesto Cabeza de Vaca.
Nascido na paraguaia
Presidente Franco em meio a última era medieval brasileira,
no último dia do governo Geisel, 14 de maro de 1979, no seio
de uma família Caingangue, Ernesto Cabeza de Vaca ouvia desde
a infância o chamado a se destribalizar e se misturar com
outras tribos do continente, ainda que sua vocação de
meteorologista criasse inimizades desde pequeno com muitos
paraguaios da região. Caçula de sete irmãos,
Ernesto foi o único a abrir caminho para o Instituto de
Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de Paraguay a
base de machado e facão. Sua companheira de banco escolar,
Mercedez Sosa de Alpaca, imortalizou Ernesto ao descrevê-lo
como um “sutil gatuno”. Ernesto voltou para casa com o diploma de
Bacharel em Meteorologia e uma confiança cega no céu
que se abria a seus olhos, mas sua mãe, que sempre teve os pés
na terra, o aconselhou que pegasse o canudo e o desse um uso mais
produtivo. Com vinte anos completados na véspera, e sem mais
bens materiais que uma palheta para viola de doze cordas, nosso herói
se lança aos caminhos, na esperança de construir um
honrado porvir, mas muito antes foi obrigado a se abraçar à
vida bandida, para levar algo mais que vento à boca. Para se
justificar, evocava as palavras de sua mãe: “Vou apoiar
Ernesto sempre, ainda que em seu caminho delinqüa”. Menos
condescendente foi a policia do Mato Grosso, que a grosso modo o
capturou, e mais a grosso modo ainda o sentenciou a quatro anos de
assaltos forçados a uma cadeia de supermercados, sob pena de
morte. Uma vez restituído o céu de brigadeiro de sua
existência, Ernesto alçou velas e apontou proa e velas
ao vento para o nordeste. Ao mesmo tempo que mal se aclimatava ao
calor da Bahia, se dava conta que a partir de algum ponto de sua
viagem havia sido privado do outono, do inverno e da primavera. Mas
mais que o sol, o deslumbravam as meninas em flor que passeavam pela
praia, todas jovens e exuberantes, afinal, se não completaram
qualquer primavera, nem em abril ou outubro, meteorologisava. Uma
tarde de sol como qualquer outra, dormia seu anjo da guarda, e
Ernesto viu sair do mar, estridente como uma sereia, uma mulher
escultural com ar de Juliana Paes. Foi até aonde chegavam as
últimas espumas da onda quebrada e balbuciou aproximadamente
estas palavras ao ouvido da moça: “Desculpe, não faz
muito calor para escafandro?” no que ela respondia “faz mal não,
e prosseguia abaixo lá frio muito faz. Estivesse acima aqui
assim oxalá. Como não era poliglota, Ernesto entendeu
lhufas, mas logo em seguida, compreendeu que a moça, em versos
antigos queria dizer que menos lhe incomodava o frio da água
do mar que o calor ali da areia. Cabeza de Vaca anotou o suplicio da
moça e jurou não economizar esforços
meteorológicos para a aliviar daquele calvário, te
prometo, que antes do término dos doze meses desse verão,
Você vai conhecer o que é tiritar de frio numa noite de
inverno, mentalmente a espetava.
Naquela noite,
atordoado pelo calor da lua cheia e afetado por um inexplicável
tersol. Cabeza de Vaca não conseguia descolar as pálpebras
de um olho, enquanto sonhava que esquiava com aquela mulher por dunas
nevadas, ela vestia um anoraque, e a profusão de roupas o
exitavam, a ponto de ser atacado por um caranguejo, que com sua
pinça, por muito pouco não o circuncidava, pela glória
de Abraão, despertou aos berros “ um caranguejo rabínico”
“ um caranguejo rabínico”! Como já ia o sol alto,
começou a urdir os planos meteorológicos para fazer
tremer de frio o coração da sereia vieirense.
Porque o calor dissuade
o pensamento, Cabeza se passou todo o dia elucubrando saches para um
aromatizador de limão sicilianos, já que cravo e canela
eram o cheiro da Bahia. Ali pelo meio da tarde do dia seguinte lhe
ocorria a idéia, acreditou ter encontrado a mosca branca.
Ofenderia o Nhanderequei e este descarregaria sua fúria sobre
a Bahia na forma de tormentas de neve.
1 de dez. de 2015
O Diabo, Entediado, Balança o Rabo, pra Cima e pra Baixo Fazendo Anotações, sobre Nietzsche.
O
gato quando se sente bem com a presença humana, abana o rabo
lentamente, para um lado e para o outro; o cachorro é
opostamente rápido, é lá e cá, lá
e cá. Já o Diabo... ah! o Diabo, no seu tédio,
faz anotações sobre os animais, em particular as vacas,
em Nietzsche.
“...
para praticar deste modo a leitura, como arte, se necessita antes de
mais nada uma coisa que precisamente hoje em dia a mais esquecida...
uma coisa para a se há de ser quase vaca, e em todo caso, no
homem moderno: ruminar...”
F.
Nietzsche, A genealogia da moral.
Plebe
arriba, plebe abaixo! Que significam hoje ''os pobres'' e '' os
ricos''? Esqueci essa diferença , e por isso fugi para longe,
cada vez mais longe, até que cheguei perto destas vacas.
Cobiça,
lascívia, inveja, soberba, rancor amargo, orgulho plebeu: tudo
isso me foi atirado na cara. Não é verdade, já
que os pobres são bem-aventurados. O reino dos céus
está hoje entre as vacas.
“ Colocamos
nossa cadeira bem no meio – isso diz seu sorriso satisfeito – e
a igual distância dos gladiadores agonizantes e dos porcos
divertidos (...) Mas isso é... mediocridade, ainda que se
diga moderação” ( essa é do caralho, que é
um animal com o corpo preso a um bosta).
Assim falou
Zaratustra.
Ão e sua Arcana Sabedoria..
Se minha geração
foi um animal, foi o burro, e fui um burro empacador, assim que
soube o que é apanhar como burro empacador, apanhei mais que
um burro empacador. Recordo muito bem uma bordoada que levei no
lombo do Humberto T., que quase me deixou socrático como uma vaca, Humberto, em si um sujeito asnal, tinha o sobrenome de ilustre radialista
ribeirão-pretano chamado Wilson, que passou a vida, a zurrar, a dar
porretada a torto e a direito, nos políticos da cidade, sendo
um deles, não me lembro que tenha se auto-flagelado. Sendo
isso uma outra história, digo que todos sabem que tenho um
gato, se não sabem, que saibam agora, e se chama Ão.
Que domina imperativamente em minha afetividade felina. Custaria
muito viver com dois. Uma olhada gatuna carrega suficiente enigma
para mim. Com frequência Ão vem se sentar a meu lado,
sobre esta secretária, donde escrevo. As vezes, decide se
tombar diretamente sobre o teclado do computador e se irrita de
verdade se o aparto, com o quê, se o que tenho a dizer é
urgente, como tudo que que tenho a dizer é urgente, fico
invocado, como diziam os bonfinenses que foram burros de carga como
eu, dou uma bronca, da qual não saio sempre ileso. Mais de uma
vez, me perco em seus olhos, com a suspeita de que insinuam alguma
sabedoria arcana, que me é completamente indecifrável,
mas creio que tem a ver com o passar do tempo.
Suspeito que quem
escreveu o prólogo de um Sêneca, que suspeito não
ter lido, senão que houvesse ao menos uma vez decifrado a
mirada de Ão, mas vejam o que escreve quem escreve:
“Indubitavelmente, o descobrimento do tempo não pode ser
verificado mais que em um momento negativo dentro da própria
vida, no qual estávamos enchendo alguma coisa e a perdemos: o
tempo é a substância da nossa vida e por isso está
a ela subjugado, como fundo permanente de tudo o que vivemos;
descobrir esse fundo tem algo de queda, que só acontece em
estado de angustia, desengano e vazio. Descobrir o tempo é
descobrir o engano da vida “ .
Leio o texto em voz
alta para Ão, que se lambe parcimoniosamente, e deixando de
vez em quando que me atinja um olhar sesgo.
30 de nov. de 2015
A Importância de se chamar Ernesto.
Uma adaptação
livre de Oscar Wilde “ A Importância de se chamar Ernesto”.
Teatro.
Vou direto à
parte em que
Dona Iria Alves. - O
que é Você politicamente?
Cravinhos – Esquerda
Progressista.
Dona Iria Alves –
Está bem, digamos comunista. No fim dá na mesma.
Passemos a detalhes menos importantes. Seus pais, vivem?
Cravinhos – Perdi os
dois, Dona.
Dona Iria Alves. -
perder um, senhor, pode ser uma desgraça, mas os dois, me
parece falta de carinho. Quem era seu pai? Certamente, um homem bem
posicionado. Mas, nasceu na, como dizem os jornais radicais, em
berços de homens de sindicatos ou da companheirada?
Cravinhos. - A verdade
é que não sei. Perdi a meus pais, realmente, mas exato
seria dizer que meus pais me perderam... Até agora, não
sei quem sou... numa palavra: fui... sim, fui encontrado...
Dona Iria Alves. -
Encontrado?
Cravinhos. - O falecido
senhor Humberto Humbert, que era muito caridoso e de coração
bondoso, me encontrou e me deu o nome de Cravinhos, porque naquele
momento tinha no bolso uma passagem da Mogiana para Cravinhos.
Dona Iria Alves. - E
aonde esse senhor tão caridoso, que tinha uma passagem da
Mogiana para Cravinhos, te encontrou?
Cravinhos. - (sem se
livrar da pigarra) Numa mala!
Dona Iria Alves.- Numa
mala?
Cravinhos. - (ainda
grave) Sim, Dona Iria Alves. Numa mala de couro preta, bem grande,
com alça... enfim, uma mala normal e corrente.
Dona Iria Alves. - Em
que lugar encontrou ele essa mala normal e corrente?
Cravinhos. - Num guarda
volumes da estação Gironda. A deram equivocadamente
pela sua.
Dona Iria Alves. - Num
guarda volumes da estação Gironda?
Cravinhos. - Sim, na
linha de São Simão.
Dona Iria Alves. - A
linha é de menos, senhor Cravinhos. Te confesso que isso que
me diz, me desconcerta bastante. Nascer ou pelo menos, ser criado
numa mala com ou sem alças, demonstra um tal desprezo pelas
convenções da vida em família, que me faz pensar
nos piores excessos da Revolução francesa. Quanto ao
lugar em que foi encontrada a mala, é possível que o
guarda volumes de uma estação ferroviária sirva
para ocultar uma indiscrição social, e provavelmente,
não te serviu até agora, e de modo algum servirá
como base estável para viver na boa sociedade...
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