15 de jul. de 2015

Sanfirmines. Pamplona. Toro Curioso!

Sanfirmines. Pamplona.

A primeira vez que fui a Pamplona foi no inverno de 88. Me lembro de um pub de nome Submarino. Uma entrada por uma face de um quarteirão e a saída pela outra, um túnel sob as casas,  que no passado o povo usava para esconder do Generalíssimo, durante a Guerra Civil, mantimentos como trigo, arroz e alfafa para a animalada.
Outra, quando passei por lá um Sanfirmines, não corri de touro, só vi com espanto aquela loucura. Não sou fanático contra o maltrato a animais, tampouco deverasmente favorável, curti, sem culpa.
Este ano, no quinto Encierro, um touro, Curioso, não quis sair correndo às cegas com a manada. Ficou solitário no curral. Não é coisa que aconteça a cada Encierro ou Sanfirmines, foi a primeira e inusitada vez, ao menos como deixam constância os jornais locais.  
Curioso saiu à rua, olhou a gentarada que esperava o rebanho, então decidiu que ele não participaria daquele espetáculo. Deu uns passos, girou sobre si mesmo, como quem quer ver o rabo, então retornou amparado pelo silêncio à tranquilidade do curral, aonde passara a noite com os seus. Pode ser que Curioso intuíra o sacrifício ao fim daquele percurso, ou que não simplesmente não estava disposto a participar daquela orgia, de vinho e sangue, e as vezes de sexo, em algum lugar entre o curral e a praça de touradas.
Vindico sua valentia, por não querer correr ensandecido sem saber para aonde. Seria fácil seguir o rebanho, de olhos fechados, e se deixar levar pelo barulho ensurdecedor da massa.
Vindico Curioso, que não corre atrás da bandeira, que o levaria a seu destino incerto, pelas consignas fáceis seguidas pela turba.

14 de jul. de 2015

À propos, Grécia.

À propos, Grécia.
Para Vicente Golfeto.

A crise grega me ensina coisas tão importantes, como que a ideologia e a economia são o único casamento realmente indissolúvel. Por mais que se tente tratá-los como mundos diferentes.
Quando os credores europeus exigem que a Grécia pague suas dívidas, sabedores de que não as podem pagar, não estão a exigir que se deposite uns bilhões numa data e  conta determinadas, estão exigindo reformas. Não umas reformas quaisquer, senão as que,  ideologicamente , crêem os credores as há de fazer.
Politicamente, Grécia não tem, absolutamente, outra opção, que seguir o que dita a "toika". Quer dizer, não tem qualquer margem política e ideológica para ser soberana na articulação de políticas econômicas, que venham gerar os euros para que efetive os pagamentos da dívida. Quando acusam o governo TsIpras e seu partido de irresponsáveis, por prometerem aquilo que não podem, querem dizer que, quando se é sócio do clube ( do Euro), sua democracia tem uns limites.
Sobretudo, insisto, se tem dívida com o FMI.
Curiosamente, antes de TsIpras, a Grécia, cumpria religiosamente sem dar um pio ao que dizia a tróica, não teria aparantemente nenhum problema,mas sua população se arruinava miseravelmente, e seus grandes capitais migravam tranquilamente para a Suíça et congêneres.
A crise helênica pode ensinar a quem possa não saber, ou ter esquecido, que a União Européia é acima de tudo uma união monetária. Uma soma impossível de países ricos e pobres, de sábios e de asnos de presépio, e que a moeda é a regra de ouro dessa união,que reina acima de tudo. Ainda mais, a União Européia não é uma união financeira e muito menos política. Portanto, se um país empobrecido, à propos, Grécia, tem a ilusão de votar qualquer opção política que entenda, e que a moeda possa ser usada de outra forma, diferente da  de quem comanda as brasas da churrasqueira, estará se movendo na esfera da ilusão, do mais puro sonho,
Todos sabemos que a Grécia não pode cumprir com seus deveres creditícios, que são enormes, nem direcionar o país se não tem crédito. Nem TsIpras, nem qualquer outro que venha a sair de eleições democráticas. A não ser que haja uma mudança de paradigma, que se adeque à burocracia européia, ou a troica a afunda ou ainda a deixa morrer, languidamente.   

12 de jul. de 2015

Volta atrás.

Volta atrás.

Fazia parte dum partido político, aonde estava em trânsito, qual não tinha muitas afinidades, fora, a princípio, uma decisão precipitada pelo Romanée Conti.
Agora, me via escrevendo ao presidente da formação, que não pagaria minhas cotas, e dava alguma explicação sobre minha dissidência. A secretaria,pelo inbox, me pergunta se não havia volta atrás. Pensei que podia ter dito: caminho de volta, ou marcha ré, mas isso de marcha ré não caia bem na boca de uma dirigente duma formação confessional.
Outro dia andava bolerando pelo YouTube, havia começado com o Bolero de Ravel, por uma reminiscência amorosa, alguém que "adorava" "transar" com esse fundo musical. De repente, me deparo com Lá media vuelta, um bolerão rancheiro mexicano, e eis que as coisas se parecem. O amante, um galinha, sem compromisso, diz a amada, que se não está contente com o romance que saia pelo mundo a conhecer gente,e que se encontra um outro que a compreende melhor, e que se a ama, então bom proveito ( tire pa lante), sem problemas, porque darei meia volta e irei como o sol quando morra a tarde. 

11 de jul. de 2015

Organizadas.

Organizadas.

A política como o futebol tem suas torcidas organizadas, seu mundo. Alguns mais visíveis que outros. Uns exercem pressões sutis. Outros forjam acordos de corredores, atrás do pano... e aos atores se recomendam responsabilidade, enquanto, ainda outros discutem a gritos e caixa alta, desacreditando atores que não cumprem as premissas de polemistas de alambrado. Uma dessas torcidas é formada por empresários, gentes e agentes da velha  ordem, castas aecioserristas, normalmente são favoráveis a que o estado ( que seja mínimo, para os outros) das coisas,  sistema  vigentes,  permaneçam como está, ou que se recue uma década, conquanto se efetue uma derrocada do governo, sem alternativas claras,   mas que nada mude, ou pelo menos que não se produza uma subversão. Outro grupo sequer a derrubada do governo, um tanto por ódio aos conspiradores, e uma pequena progressão, ambos se entrincheiararam nas redes sociais. Desde  o Facebook e do  Twitter se separam em bons e malvados. Nada de novo, senão que, a tecnologia. Qualquer fato se transforma em munição para uma batalha, aonde se subtraí importância do fato em si. Cada Moro, JB, Jô, Boechats, são festejados como Robespierres. 

9 de jul. de 2015

Lógica do Condomínio.

Bonfim era um lugar tranquilo, uma pista simples nos unia a Ribeirão. Em busca de tranquilidade muita gente se mudou pra cá. E verão como a coisa ficou intranquila. Andamos na rua, nunca nas calçadas, desde que o único carro era o Ford bigode do Armênio. Outro dia ouvi um sujeito de dentro de um carro gritou para o Nininho " vai andar na calçada!". Emputecido o segui, ele entrou no Santa Ângela - condomínio -. Cessei por aí, meu interesse era só "científico".  Um do condomínio Turmalina gritou ao Seu Salvador, " tira essa merda do caminho!". Tem o causo do rapaz de moto... Enfim, concluo que quem busca a tranquilidade, traz o estresse! Andavam a morrer pela, então pista dupla, estrada. Por sorte, deles, botaram dois radares, e os acidentes comuns naquele trecho acabaram. No entanto, começam a trombar com postes lá perto da UNIP. 

8 de jul. de 2015

Plenilúnio!

São os país responsáveis do que  fazem os filhos? E os filhos hão de pagar pelo que fizeram os país? E os irmãos, uns responsáveis pelos outros? Quem já se sentiu concernido pelo que faz um familiar, e  até mesmo um amigo?  Temos tendência uma empatia que vai além do se dar conta do que se passa ou faz ou sente o outro. Em realidade, há o afeto. Sofremos e nos alegramos com o que alegra ou entristece o outro. E não há necessidade familiar! Creio que estamos longe da resposta de Caim "Não sei aonde está Abel, por acaso sou o guardião de meu irmão?"
Quinta passada, a lua estava grávida sobre Bonfim ( quem sabe se Bonfim é o mundo?), projectava uma luz leitosa sobre as casas e a matinha que daqui diviso, e pela janela, sobre a capa deste livro que insisto em não acabar  de ler, "O passo de uma geração à seguinte, não e um passeio plácido entre   condomínios e seus paisagismos domesticados, é um movimento sísmico que afeta, decide e define a vida de pessoas, um rascunho que bota em prova o universo e faz tremer os fundamentos da humanidade, e é assim mil vezes e  uma". Entre o dever e o êxtase, a tensão e a lealdade e a traição que conduz à liberdade, temos o estribo da responsabilidade com  as gerações que nos sucedem.
A propósito, este céu cinzento impede a luz leitosa da lua. 

7 de jul. de 2015

Calor é Dionísio, frio Apolo.


O calor nos põe na mesma geografia dos sentidos, onde nos subjulga e nos transforma em seres que experimentam sensações extremas, entre  estupefação e  abatimento. Quando, então, faz muito calor, nossa identidade se revela, todo aquele lixo estancado sua, entre suores e bocejos em busca de ar denso, sempre acabamos por fazer o que tenha um mínimo de sentido. É muito comum no cinema, aquele calor asfixiante, camisetas coladas ao corpo pelo suor, como se fossem a prisão de almas torturadas. Na roça é perfeita essa relação, essa entrega do homem à terra e a terra ao homem, esse diálogo mudo de lava. O frio não, o frio solidifica os sentidos que de tão duras e afiadas suas aresta machucam.
Adoro me abandonar ao calor do clima, dos corpos, do álcool,na boca de um vulcão, dos espaços pequenos, das conchas, cavernas minguadas, até perder a linha e então sair por outras atmosferas, realidades que transcendam o corpo e o tempo, como se estivesse num duelo de olhos,  num western de Sérgio Leone.
Gosto desse friozinho, apolíneo, mas me dou sempre conta de que prefiro a caldeira do inferno, que sempre borbulha, por motivos óbvios, incendeia os meus pecados, e aqueles que me julgam que permaneçam no seu mundo de porcelana, ar condicionado ou lareiras sem madeira  esperando que me consuma.