20 de abr. de 2015

Vamos abortar.

Vamos abortar.


O modelo do Estado brasileiro, surgido da Constituinte de 88 está sangrando desde lá. Nenhuma das instituições criadas ou reformadas, esteve fora de suspeita, aos olhos dos cidadãos, sequer ele, desde seu advento. O desprestigio da política, acompanhado dos escândalos pessoais de membros destacados de todas, todas as instituições, desde a presidência aos mais mequetrefes prefeito e vereador da longínquas comarcas como a de Manga, na divisa da Bahia-Minas, passando pelos cargos de confiança e servidores com cargos de responsabilidade, parecem não ter fim. Não é de mim pensar a política pela ótica da corrupção, no entanto, me tomo de espanto quando me dou conta, que mesmo os meios de comunicação social - a Mídia - não por ter ideologia, porque isso é obvio, mas por se corromper e corromper o meio, sonegar informações, ou inflar outras, a tal ponto que boto em dúvida todo o passado histórico por ela narrado, e posso dizer sem medo que mesmo o impedimento de Collor de Melo foi sua indústria e atroz. A justiça que haveria de ser um porto seguro para esclarecer demandas, dúvidas, é questionada, se por nada, pela lentidão, meios escassos de investigação pouco eficazes, se mantendo herdeira de um passado pouco edificante, quando agia fora do processo legal contra os que discrepavam ou não se submetiam às diretrizes do poder estabelecido, sua ponta de lança, a PM, hoplitas modernos que matam antes e perguntam depois, e cospem sobre o cadáver para dizer: meu nome é Pecos!  Ao menos os Hoplitas se auto defendiam, enquanto a PM é paga pelo estado, e pelo que vemos, quem paga tributos é justamente o menos defendido por ela.

Sem se bastar, a coisa saiu da esfera do poder público indo mar adentro do mundo privado, corporativo, com suas simulações de CARFs, remessas de dinheiros não declarados, HSBC, Zelotes e por fim à sonegação pura e simples em escala Global…
A cena cômica é a de um senador da república, com seu dedo em riste apontado a seu nobre colega qual fulmina com um: Ladrão! Este mesmo acusador carrega nas tintas contra outro que o difama, e é nomeadamente também inexoravelmente partícipe de negócios milionários...
Nasceu em 1988, e não funciona.

9 de abr. de 2015

A Magrela.



    Na realidade, a primeira máquina que tive relações foi uma bicicleta. Alguém da família me a presenteou, era costume. Dei um nome à bicicleta, desde o primeiro momento, a magrela, por antonomásia e o nome persistiu. Assim aprendi a andar de bicicleta, mas não creio que tenha depositado nisso grande entusiasmo. Cheguei, as duras penas, a um ciclista pequeno. Não soube fazer qualquer filigrana nas rodas e manoplas, coisa quer era, lá por 1972, um sintoma de inteligência. No mais, a magrela tinha seus muitos inconvenientes. Não que tivesse partido a cabeça, ou gastado o nariz no asfalto, ou invadido o bar do Cipó, coisa que era, então, bastante comum. Não, andando de bicicleta jamais estiquei mais o braço que a manga, mas tudo somado me pareceu desagradável. A corrente sempre saia do pinhão ou da coroa, e se fosse numa subida, dava com os genitais no selim, depois com toda aquela dor, ainda havia de lambrecar a mão de graxa para voltar a corrente ao seu lugar, logo o pneu furava, lá longe, bem depois da Canta Galo, e com uma frequência escandalosa. E o freio? O freio, ou freava em demasia ou de menos e tocava tentar fazer a curva da casa do Belarmino a trocentos por hora, quando conseguia, porque se não, entortava tudo, raios, aro e a cara. Se não bastasse, descobri uma coisa que matou minhas ilusões: subir subidas em bicicleta era muito cansativo, além de não ser mais rápido que se fosse a pé. E como em Bonfim para se ir a qualquer lugar, se há de subir sempre uma subida, pareceu-me que a bicicleta não fazia nada por mim. Foi assim que a deixei.

29 de mar. de 2015

Corrupção criativa, Fotografia.

Corrupção criativa.
fotografia de Qin Yuhai. Ebb and Flow.

Estamos carecas de saber da corrupção que endêmica e institucionalizada permeia nossa sociedade. Construtora que cria projeto, paga propina a legislador e executivo para construir. Assim de fácil.
Qin Yuhai, chinês de seus 50 anos, filiado ao partido comunista chinês, e converteu-se numa das principais personagens políticas da província de Henan. À sua vocação politica unia o interesse pela criatividade, por meio da fotografia, até o ponto que algumas fotos suas estão nos paineis do metrô de Pequim, pessoa de destaque na Associação de Fotógrafos da China. Suas exposições, em especial, uma em Londres, tinham, ou têm?, crescente valorização. Quem quiser pode ir ao Google e completar a pesquisa.
O caso é que este ano, Qin Yuhai foi exonerado por uma comissão que luta contra a corrupção. A acusação genérica era a que Qin dedicava um tempo excessivo à sua arte, a fotografia, e pouca atenção às suas funções oficiais. Pombas! Podiam dar uns croques nele e o reconduzir ao cargo, mas não, o assunto era mais complexo, Yuhai aceitava subornos, como dizer? Fotográficos. Quer dizer, concedia privilégios em troca de materiais e outros detalhes relacionados. Por exemplo, uma empresa que conseguiu um contrato para promover o turismo na montanha Yuntai, o presenteou com 25 máquinas fotográficas no valor de 179.000 dólares, depois a mesma empresa lhe comprou um álbum com fotos suas por 270.000 dólares. Uma outra empresa gastou 1.000.000 de dólares promovendo a sua obra na China e no estrangeiro… e por ai vai.
O caso é que por aqui sempre apareceria um advogado, e, com certeza, chamaria a isso de mecenato. E esse mecenato, pouco forçado, é claro, contribuiu para que a obra de Qin, um artista genial.

Ebb and Flow, em Londres. Aqui entrevistas e fotos de Qin Yuhai.

Penteando Macaco

Penteando macaco.


O Estado, a Iniciativa privada e as Universidades contam com organismos que realizam pesquisas, estudos de opinião, com custos estratosféricos, para nos comunicar quais são as nossas preocupações. Será que é necessário? Sei perfeitamente o que e o quê de minhas preocupações. Asseguram, estes custosos estudos e pesquisas, que nos preocupa e muito a corrupção, e também a educação, a caristia, o dollar, o pib… Devem servir, creio, para nos explicar. Isso, nos explicam. Isso, mesmo, nos explicam a nós mesmos o quê de nós. Nosso comportamento contraditório e suas razões ocultas, i.e., as razões ocultas do nosso comportamento contraditório nas eleições, por exemplo. Mas me pergunto, sempre consternado, qual a utilidade deles, os estudos, as pesquisas. Principalmente se sabendo que a maioria dos cidadãos dão, a estas pesquisas, respostas falsas, com a solenidade de uma continência militar. Senhor! Sim Senhor! Enquanto os calcanhares batem. Se pergunto a um corrupto se lhe preocupa a corrupção, ele responderá que sim. Qual das duas razões devem se encaixar nas suas preocupações? Que não o descubram ou uma segunda, que os corruptos são os outros. Se pergunto a um casal, se lhes preocupa a educação, sim, sim, sim, sem educação um país .. e blá, blá e blague. E a maioria absoluta e em primeiro turno vota num partido que está a vinte anos à frente do Estado, com fortes indícios de corrupção, de péssimo sistema educacional. 

20 de mar. de 2015

Duplamente Ateu

Duplamente Ateu.

Sou individualista, arre, se sou. Mas não me basta o meu umbigo. Ou faremos um planejamento global para os 8 bilhões de pessoas de 2020, que incluem poucos ou muitos vizinhos, nossos bairros, cidades ou vamos logo lamber sabão. Moisés recebeu no monte Sinai dez mandamentos. No entanto, faz uns anos, por volta de 1995, surgiram outros, a substituí-los. Não sou quem os pensava, mas não os categorizei. Quem fez isso foi Ricardo Petrella, em O Bem Comum…
São seis. Um, a Mundialização: Há que se adaptar à globalização de capitais, mercados e empresas. Não sei escrever como na Bíblia, aquele troço de Haverás…. Dois: A Inovação. Há que se inovar, com a finalidade de reduzir despesas. Três: A Liberalização. Abertura de todos os mercados. Quarto: Desregulamentação: dará o poder ao mercado, dando lugar a um Estado Notário. Quinto: A Privatização eliminará qualquer forma de propriedade pública e de serviços públicos. Sexto: A Competitividade: há de ser o mais forte se quer sobreviver à competição mundial.
Fica-me a dúvida: mandamentos ou maldições? Vendo o escracho da coisa, meu otimismo frente a isso minguou. Nada para desesperos. Se no velho mundo dos 10 mandamentos, era agnóstico, agora sou ateu de vez, e beligerante ante este novo reino da economia de mercado, aonde acontece o quê acontece. Não quero alvitrar um futuro mais moderno, mais tecnológico, para quê?


7 de mar. de 2015

dA Hipocrisia, dO Farisaísmo, dO Fingimento

Uma das ameaças mais elaboradas e repetidas pelo Estado Islâmico diz textualmente: “Tomaremos Roma, quebraremos suas cruzes e escravizaremos suas mulheres com a permissão de Alá”. Não deve passar batido que conquistar Roma, dito pelo autodenominado califa Abu Bakr-al-Baghdadi, queira dizer a vitória final contra os infiéis, e tal como vão as coisas da guerra contra o EI, não me estranharia porcaria nenhuma, que a profecia se faça realidade ao longo deste século. Os analistas deste fenômeno nos avisam que os jihadistas não estão interessados em petróleo ou diamantes, senão as almas dos homens.
É fenomenal e seus detratores tentam resolver os problemas à base de silogismos éticos e axiomas sociopolíticos. Enquanto milhares de jovens pelo mundo se alistaram aos exércitos do EI para lutar na Síria e no Iraque e praticar as selvagerias horrorosas que temos visto. Fico com umas perguntas: O quê estes recrutas receberam do Estado Democrático de Direito e de Bem Estar Social? O quê aprenderam no nosso sistema escolar? O quê assimilaram dos direitos e liberdades? Quem lhes facilitou ou impediu a integração? Por que não encontraram no mundo ocidental os modelos de convivência, onde foram criados e educados? Nenhum tipo de ideal, de fé, de horizonte, de possibilidade de levar a termo algum projeto de vida? Que modelo pode ser a nossa sociedade, se recheada de corrupção, de dupla moral, incapazes de frear o abismo aberrante que se agiganta entre os ricos e os pobres, incapazes que somos de pôr fim a essa tortura , a essa violação, a essa ignomínia contra os mais fracos? Querem exemplos?

A Hipocrisia, o farisaísmo, o fingimento são termos inventados, praticamente, no nosso mundo ocidental, aonde mais se pratica, e mais tradição se criou, e mais adeptos teve e tem. Tanto que mais ou menos se tornaram virtudes., e na maioria dos casos, estratégia, um mal menor, para evitar o mal maior. Os jihadistas não se inspiram unicamente nas suras do Alcorão, pois há um catálogo em papel couché e com imagens de exemplos na nossa história, remota e recente. Façam as contas. 

6 de mar. de 2015

Senha



Não sei quem não está, mas sempre estou precisando de dinheiro. Fui onde o dinheiro está. No banco. Aliás, na Caixa, no novo Shopping, que é onde minha conta estava. Não está mais. Na minha frente uma grávida. Há uma mocinha que faz uma triagem: Que deseja fazer? Não ouvi o resto, ela tomou da senha e passou pela porta giratória. Fui logo atrás. Senha C 567. Nos separamos. Sim “sem marcação” . Nestes tempos, notei que a Caixa tem todos os tons de Grey. Do azul ao branco, olho meu RG, já descolorido ele também, pelo passar do tempo. A fila foi trocada pela dança das cadeiras. A moça grávida foi para as cadeiras da esquerda, estou nas cadeiras da direita. Ninguém marcou hora. Tanto faz. Tudo conflui no mesmo tíquete, uma letra e um número. Há muitas cadeiras, mas não estranhe não encontrar vaga. Não dá para ler, ou curtir um facebook, não se pode distrair-se. A tela de TV vai passando os números. Não é uma sequência simples, numérica, diria que é alfanumérica, o que não permite calcular o tempo de espera em função da distância da cifra luminosa e a do teu papel. Aqui o 51 pode vir antes do 11, segundo a letra que tem à frente. E todos pendentes daquela tela triste. Hipnotizados. Há um casal com um carrinho de bebê. Sempre há carrinhos de bebê. Uma moça que dá de mamar ao rebento, aproveitando o tempo morto. Um garotinho corre pelo salão, fazendo vento, cansado daquele silêncio tenso e insano. O bebê do carrinho de bebê dorme placidamente. A mãe chora. Discretamente, mas chora. Usa um lenço, que uma vez vi usar minha psicanalista, um triângulo às costas, que serve de dique colorido para frear as lágrimas furtivas. Penso em dar-lhe meu lenço, mas temo que não gostaria que haver sido descoberta. Chega o seu número e sua letra é um tipo de céu, do jogo de amarelinha, e se vão para um outro número. Desaparecem do meu campo de visão, espero que tenham outras cadeiras. Torço. Melhor. Fez me muito mal vê-la naquele estado de desesperança. Um cumprimento inesperado, um artista plástico da cidade, premiado, publicado. Sem perder de vista a tela da TV, falamos e rimos, sobretudo rimos. Passamos um tempo no século XIX. Não descartamos escrever a respeito. Chega a minha vez, vai lá diz ele, nisto a moça grávida, Renata, interpõe-se! Diz que foi num lugar que lhe disseram lá não era, e que era aqui e que não precisaria enfrentar outra fila. Sra.? Renata! Pode ir antes de mim! Recebi minha senha de volta, voltamos a papear. Logo ela também se foi. O amigo me disse: Espere no café, vamos tomar um café! Sim ? Não, meu caro, creio que há um excesso de fluorescentes, e sempre que saio destes lugares irreais, o mundo me parece mais amável e luminoso. Tecnicamente é um banco dentro de um shopping. Mas para mim é uma granja.