Não vai longe no
tempo, que aquilo que saia nos meios de comunicação tinha
presunção de verdadeiro, veracidade. Ninguém os ousava botar em
dúvida. “Tá no jornal”, “saiu na TV”, “ouvi no rádio”,
diziam os repetidores da notícia, e todo mundo, com babas
escorrendo, diziam amém. Os meios de comunicação tinham prestígio
entre a população sedenta de notícias, conhecimentos e
informações. Falo de modo genérico, mas podia nomeá-los um a um,
cabiam nos dedos de uma mão. Entretanto desde que a revolução
chegou às tecnologias da comunicação, qualquer pessoa pode ser um
jornalista em potencial e qualquer grupinho de malcriados se crê com
autoridade suficiente para gerar a sua própria realidade, e fazê-la
correr pela rede sem parada e nem freio. As instituições sempre
viveram de um 'tanto' de protocolo, e de algum modo, me parece, que
sem a banalização e proliferação descontrolada dos meios, não é
possível entender a descrença e o desprestigio na política em
geral. Claro que a política, ela sozinha, tem feito o bastante e
com sobras para a sua ruína, e falta de prestígio, mas ninguém se
oporá se digo que houve uma explosão comunicacional, que o Grande
Império é comunicacional, e os ventos da explosão comunicacional
têm contribuído para pôr a deriva este navio fantasma que ainda
faz política.
Agora, veja bem,
qualquer bobagem hoje produzida pode se transformar num trending
topic e em poucas horas atravessar o mundo, sem que ninguém se
importe se o que difunde é falso ou verdadeiro, muito poucos perdem
tempo para contrastá-lo.
Ao mesmo tempo, que
não se pode fazer nada, é o signo dos tempos que vivemos. Assim,
chegamos ao ponto em que todas as instituições democráticas são
postas em dúvida e chamadas a se reinventarem, me parece razoável,
neste momento, se colocar sobre a mesa esse debate: a função social
dos meios e como a cumprem.
Há tempos, a
comunicação social, era chamada de quarto poder, era legítimo.
Neste momento, entretanto, é um poder que ultrapassa os demais e os
domina, e pela sua universalidade e onipresença, os sequestram. Me
parece claro que no país, o executivo, legislativo e judiciário
estão sequestrados pelo império comunicacional, do qual tomamos
parte. Hoje, a comunicação social, esse monstro inominado, como já
disse, mas não é demais repetir: do qual todos fazemos parte, que
tudo transformou em espetáculo e nos faz andar de quatro e nos faz
sonhar vanidades, deve com urgência ser levado a debate, o debate da
sua refundação, tão urgente como a regeneração democrática, com
reformas políticas fundamentais.