14 de jan. de 2015

Conto de Carinho

Faz muito tempo, na encruzilhada de um verde vale, ao sopé de uma montanha, havia uma vila feliz. Todas as pessoas eram felizes. As crianças e os jovens nas escolas. Os adultos no trabalho. Os idosos com seus entes queridos. Os animais de estimação eram estimados. Entretanto, não sabiam que eram vigiados, desde o cimo da montanha, por uma megera. Uma bruxa má. Ela descia à vila  disfarçada. Queria saber o porquê de tanta felicidade. Se esgueirava pelos quintais. Ia se perguntando: Por quê? Foi então que viu, todos se faziam carinho. Astuta, percebeu que havia inclusive um modo de fazer carinho. A avó com sua mão quente massageava os ombros de seu neto, percorrendo lentamente de omoplata a omoplata, escorregava um tiquinho abaixo pela coluna, subia até a nuca. Se esgueirava e via no banco da praça as pessoas se acariciando. Ela queria dominar a vila, mas não via possibilidade para suas maldades, porque ali não havia pessoas carentes. Um estranho procurava outro estranho e se acarinhavam. Desabotoavam a camisa, e deixavam os ombros nus. O outro com a mão quente, começava a massagear. Logo um jovem, que passava, oferecia carícias a uma jovem, a mulher dizia ao marido, da sua labuta, e ele dizia da sua labuta e se acariciavam com suas mãos quentes, e assim iam vivendo, felizes.
A bruxa voltou ao topo do monte, e pôs-se a traçar um plano para acabar com aquela felicidade. No outro dia voltou à vila e fez correr a notícia de que as carícias poderiam acabar, se eles continuassem a fazê-la com as mãos. Ela dizia que gastava e com o tempo já não funcionaria. Todos ficaram com medo. Muitos exitavam em acariciar. E começaram a poupar carícias. Guardavam para algum momento especial. Para pessoas especiais. E a vila foi entristecendo. Eles queriam se acariciar uns aos outros, mas tinham medo que acabasse. Houve, no entanto, os que perderam o medo e pouco a pouco voltavam aos carinhos. Quando a bruxa voltou, viu que já não eram tão felizes, mas viu também que a tristeza ainda não era suficiente. Conversou com as pessoas, e ouviu deles que sentiam falta de acariciar. Subiu a montanha ruminando planos. No dia seguinte desceu à vila e foi ao mercado expor a solução para aquele problema, era um carinho de silicone, muito parecido com a palma da mão, e que se as pessoas se acariciassem com aquele carinho de silicone, não haveria problema de o carinho acabar, todos correram as suas casas e voltaram com o dinheiro para comprar o carinho de silicone, e felizes se puseram a acariciar com ele. Logo eles perceberam que o carinho de silicone não funcionava como antes, com o carinho feito com as mãos. Mas não poderiam fazer carinho com as mãos porque acabaria. Sempre atenta, um dia, a bruxa desceu a montanha com uma solução ao carinho de silicone, era o carinho de plástico. Era mais frio que o carinho de silicone, mas era mais liso, dizia ela, escorregava mais, e não precisava lavar tantas vezes, para retirar óleos... todos compraram o carinho de plástico, e cada dia mais se acariciavam, lavavam-no e guardavam sobre alguma estante. Cada dia estavam mais tristes. Então logo aparecia carinhos de plástico de variadas formas e cores. Se animavam bastante e voltavam a comprar carinhos, andavam pelas ruas e exibir seus carinhos de plástico multiformes e multicoloridos. Davam nome aos carinhos e iam se entristecendo. Logo se cansavam das cores e das formas dos carinhos de plástico... atenta desde seu posto elevado da montanha, a bruxa via seu intento funcionando bem, astuta se dava conta da necessidade de inovação do seu produto, misturava suas mandingas, desenhava sobre cinza seus projetos, e com duas palavras mágicas tinha um novo carinho para o mercado, o carinho de inox. Brilhante. Sem um risco miúdo que fosse. Era tanto polido que se podia nele se mirar. O mercado entrou em alvoroço. Nem com todo seu poder de produção dava conta á demanda. Houve quem furtasse o carinho de inox a outro. Os carinhos de plástico e de silicone emporcalhavam as ruas e as praças. Quando todos haviam adquirido o carinho de inox, ela descansou. Todos se olhavam no carinho de inox, se acariciavam, levavam um trapo para poli-lo, e o dependuravam no pescoço. As pequenas indústria da vila, inventavam capinhas para o carinho de inox, polidores. As pessoas seguiam o manual de uso, e cada vez menos, passavam o carinho de inox nos ombros uma das outras, para não gastar, porque custava muito dinheiro ter um carinho de inox. Era frio. Mas quase já não se lembravam da mão acariciadora. E as relações cada vez mais perturbadas. A tristeza logo se instalava. As crianças choravam. Os idosos abandonados. Os namorados ensimesmados. A tristeza, o desamor, o ódio, tomavam conta da vila. A bruxa desde o cimo da montanha, ria em derrisão. No outro dia quando a viram descer a montanha com muitas caixas sobre o ombro, todos a foram esperar no mercado, faziam fila. Muitos reclamavam do carinho de inox. Eu tenho a solução disse ela. E todos aguardavam com ansiedade, ela falou que já não funcionava mais o carinho que passa pelos ombros, agora os apresento um carinho definitivo que todos vão amar... e então diante dos olhos arregalados de toda a gente da vila ela exibiu um prego cintilante, com a ponta mais aguda que uma agulha, e disse espetem nas costas uns dos outros e todos avançaram sobre o novo carinho, o carinho prego.



Não me lembro quem me contou esse conto, nem era assim, era parecido com isso. Foi na época da Filô. Década de 80.

12 de jan. de 2015

Cinismo!



Ontem postei esta  charge ao lado, primeira página do Charlie Hebdo. 


Dizia no cabeçalho, que era “Ótema”. “De banheiro de rodoviária”.




 Foi só o que disse. Alguém tomou o mau gosto - que enunciei - como defesa de Jijadistas. Não era, absolutamente, a minha intenção, minha crítica era tão só estética, se tanto, mais não era, que um sarro aos mortos desenhistas.

Sou definitivamente contra a pena de morte. E o acontecido foi uma execução penal. Cujo crime foi o de fazer críticas a um sistema pela via satírica.











A charge que postei tem sabor a banheiro de rodoviária, ou qualquer banheiro público, onde se escreve, desenha e se deixa o número do telefone dizendo que tem o pinto grande. Entretanto o cinismo e o mau gosto ou não, não está exatamente na charge, o mau gosto e o cinismo estão na vida real, a charge só os condensa.


Se alguém faz mal aos árabes não é o humor, é a realidade. Esta é passível de discussão. Mas demora um ano para se fazer bem feita.

11 de jan. de 2015

Não Existe Álibi.


Não existe amor verdadeiro, religião verdadeira, humano verdadeiro, humor verdadeiro... existe amor, religião e humor real. Tudo obra de humanos reais. Os europeus em geral e os franceses em particular menosprezam o que não é Europa, e no confronto, o que não é o seu país, o seu umbigo. Diferença conosco não europeus? Eles tiveram muito poder, continuam a cagar regras civilizatórias. Nós... já se vê. O comportamento do sátiro reflete esta civilização. Os Jihadistas estão a matar muito dos seus vizinhos, religiosamente. Quem armou essa gente foi o ocidente (civilização); armou para que usassem essas armas entre si, de modo que o ocidente tem culpa do desequilíbrio, escasso, no oriente; seja qual for o mote, petróleo, geopolítica, o escambau. Os árabes migram como muitos povos pelo mundo, como já faz tempo. Uma das maiores cidades portuguesa em número de habitantes, seria Paris, da mesma forma que há mais árabes na França que uruguaios no Uruguai. De tal forma que nem país verdadeiro existe. Existe a França real, com portugueses, árabes, russos e todos são menosprezados, ademais como menosprezam, em Paris, qualquer sujeito francês de outras províncias, e em nenhum outro lugar o provinciano é levado tão em sério, um nada. Se o provinciano francês é assim tratado, imagine os imigrantes. É uma característica francesa, europeia. O problema é que isso não se restringe intramuros, desde sempre querem exportar, de qualquer modo, sua civilização. Nós, sul-americanos não damos muita bola, particularmente os brasileiros que de bom grado, inclusivamente os queremos imitar, noutros tempos inclusive a língua que todos queriam aprender era o francês. Os norte-americanos vão a seu modo, ficaram tão poderosos que se lixam pela Europa (civilização), e fazem o mesmo, ainda que europeus e norte-americanos difiram enormemente entre si. Entretanto, os árabes têm uma história poderosa, a civilização árabe foi muito poderosa, talvez tenham sido o berço da civilização grega. Grandes guerreiros. Grandes matemáticos. Grandes arquitetos. Alhambra em Espanha é uma amostra grandiosa, do que fizeram na península, um dos seus últimos feitos, foi permanecer oito séculos na península ibérica, tanto é o nosso português tem uma infinidade de palavras com origem no árabe, Cervantes do cavaleiro da triste figura, viveu muito tempo entre os árabes. Têm orgulho para ser ferido. Somo que a religião os perverteu.
O mundo nunca viveu em paz. Assim que devemos sempre pensar, que estamos sempre em guerra, grosso modo, de vizinho contra vizinho, assim, a guerra entre países jamais terminou. Os chamados períodos de paz, são exatamente o de preparação para a guerra. Os Estados Unidos da América fazem hoje o que fazia Atenas a Cidade Estado, antes da guerra do Peloponeso, administrar diferenças, criar diferenças, inculcar agressões. As ligas, como a de Delos, são repetidas hoje como Otan, Nafta, Mercosul e por ai vai. Atenas era tão poderosa capitaneando a liga de Delos frente aos Persas, como é o mundo ocidental, capitaneado pelos EUA frente aos árabes herdeiros da Pérsia.

Culpar a religião pelos ataques terroristas é o mesmo que culpar Zeus pela guerra de Troia, afinal foi nas bodas que ele arranjou que Paris levou Helena. 

10 de jan. de 2015

Religiões.



Deus é nada mais nada menos que o reflexo especular dos humanos que nele creem e ou o inventam. Analisando, ainda que superficialmente, é fácil reconhecer as religiões da antiguidade. A um observador rarefeito de preconceitos, é evidente que os antigos, adorando seus deuses, se adoravam a si mesmos. Vejam Zeus, deus dos raios e trovões, luxurioso e vingativo. Afrodite, pra se ter uma ideia é dai que vem afrodisíaco, era a deusa da cópula, se concebia uma ninfômana que se deitava com todos. Ares, deus da guerra, o seu mundo se resumia a guerra e a violência.
Dionísio, sempre dado a carraspana. Desta mínima mostra podemos deduzir, sem dificuldades, que os gregos amavam o sexo, a farra, a cachaçada e adoravam um quebra-quebra. E nisso não eram em nada diferentes de outros povos da antiguidade, nem de nós mesmos, talvez a diferença é que os deuses se manifestavam de modo transparente, nada parecido aos do momento.
Coisa curiosa, isso das religiões, e o que direi vale para todas. Com independência da sua verdade, isso é, da existência ou não de Deus, as religiões têm uma grande utilidade social. Desconheço alguma que não proíba o assassinato, que não proscreva o roubo e não obste a mentira, e que não recomende moderação quanto ao sexo, comer e a avareza. Neste aspecto, a moral das religiões não faz outra coisa senão reforçar, com a força da fé dos crentes, aquilo que os costumes e as leis recomendam, e vetam aquilo que as leis proíbem. Assim mesmo, as religiões, ou se preferir determinadas interpretações históricas, favoreceram ações literalmente contrárias aos seus princípios declarados. Em seu nome proíbem outras maneiras de culto, perseguiram discrepantes, executaram seus críticos e burladores. Simplificando, podia dizer que em nome do amor, da salvação e da felicidade eterna se provocado muita dor.

A religião, em si, tem culpa? Estou tentado a dizer que se lhe atribuímos determinados benefícios, temos que lhe imputar malefícios. No entanto, não esqueço, que são os humanos que as inventam. Não é a fé em si, senão o fanatismo – e fanatismo em geral é criminoso – que tem a culpa.   

9 de jan. de 2015

A Maestria Humana é a Morte.


Pensava, por esta triste ocasião, no animal mais perigoso. Seguramente que apontaríamos a cobra. No entanto, o animal que porta o veneno mais “venenoso” e mortífero é uma rã toda colorida, minúscula. Ela não pica, não morde e tampouco utiliza seu potente veneno para atacar, senão para proteger-se, já que a secreção que cobre a sua pele é para convencer aos possíveis caçadores a inconveniência disso. Lá pelas bandas das touradas o touro mata umas 3 pessoas por ano; na Índia o estimado elefante mata umas 600. Este ano soube de leões atacarem umas duas pessoas. O Dragão de Komodo é perigoso, mas o desgraçado está em extinção. Já o pesado e tranquilo hipopótamo outras 500. O fiel amigo do homem mata incríveis 20.000 amigos por ano, pelo mundo. O tubarão branco, o polvo com anéis azuis, o crocodilo, a tarântula, No entanto, ainda não são e não estão no top dos assassinos mundiais. Você acerta se pensar que o menos humano dos animais é justamente o homo sapiens que mata nada mais nada menos que 500.000 outros humanos por ano no planeta Terra. 


PS. sem faltar à verdade o maior assassino ainda é o mosquito, com uma cifra anual na ordem do milhão de pessoas, com a dengue, malária e por ai vai. 

7 de jan. de 2015

Câncer Sorte ou Azar, Mas Quem Joga os Dados?




Já havia, praticamente, listado os itens de bons propósitos para este ano que começa. Quando li em algum lugar, com certa estupefação o que virá.. Anos a fio de má conduta, sempre a quebrar as promessas de comportamento exemplar, de fumar com peso na consciência tantos cigarros a mais e de comer furtivamente troncos de salame, na cozinha, escondido, para acabar por descobrir que o desenvolvimento do mal, depende da casualidade e da sorte ou azar, mais que de qualquer outra coisa.
Segundo o informe da Universidade John Hopkins, dos EUA, 65% dos canceres são determinados por fatores ao e de azar. Quer dizer, dois terços dos casos estudados, as mutações cancerígenas têm por origem exclusiva a má sorte, melhor, o azar e não fatores como fumar, beber, sedentarismo ou herança genética. Já suspeitava que certas pautas eram por demais rígidas e que o fator azar sempre jogava um papel na vida de cada um. Mas 65% não é qualquer coisa e sempre será um fator a ter em conta, antes de tomar determinadas decisões.
Digo, do estudo, não se pode ignorar, e nem ser displicente, como mais um de tantos outros que se publicam pelo mundo afora, em busca de notoriedade.
No entanto, se o que diz é certo, não será hora de viver sem inculcar-se, sem normas e autocensura?
A moral e os hábitos de conduta herdados, não são de todo saudáveis, é necessário dominar a besta que todos temos dentro, mas dito isso faria bem de revisar aquela moral e pensamentos modernos que geram novos hábitos e práticas vitais como se fossem dogmas incontestáveis e passaporte para a imortalidade.
Claro que fumar não é um hábito bom e beber muito, tampouco.
Eu, e imagino que muitos de vocês também, passei bom tempo e bons tempos com os amigos fumando e bebendo,  o que não está escrito. Em contrapartida, se é que me entendem, fazendo esporte, correndo, não passei tão bem.
As pessoas, em geral, valorizam as mudanças dramáticas inesperadas, em situações sem aparente saída a propor, proposta pela providência como este estudo.
Suponho que é uma necessidade humana ter tudo sob controle, como que se seguindo uma determinada pauta, bula, tudo irá bem. Mas ao final, sempre acaba sendo determinante ter aquele tiquinho de sorte ou não ter azar.





a ciência está aqui:


O Tempo Do Tempo



A medida do tempo na mecânica clássica distingue o passado, o futuro e o que não é nem passado e nem futuro. Na relativista, a duração do processo depende do sistema de referência que utiliza o observador e o seu estado de movimento, que, mais ou menos, na literatura e na retórica se tem por perspectiva. A mecânica quântica o embaralhamento temporal é ainda maior, porque ai a as barreiras são fulminadas.
Para o meu propósito, interessa é a percepção do tempo, quer dizer, a concepção subjetiva do passar do tempo. Os sentimentos, as emoções, condicionam imensamente a duração do período e do processo. Tudo dependente da formação recebida, da cultura que se criou e se modelou.
Quando estou contente, como hoje, e me divirto enormemente, o tempo passa voando. Quando estou entendiado, coisa rara, mais lento é o passar do tempo, isso advém da minha experiência com o tempo do tempo. Sentido comum, quanto mais velho, mais rapidamente tudo passa, porque não faz falta nenhum esforço cognitivo diante daquilo que já se tornou um conhecido, um amigo ou inimigo, de tanto repeteco.
Enfim, um mundo interessante que explica como se conformam os sentidos das coisas. Produzem efeito sobre mim as repetições da história. Quando jovem tudo é novo, melhor, para o conhecimento e os sentidos.

Agora, imagine um jovem ter que esperar a próxima reencarnação para ter as mesmas oportunidades! Quanto tempo é isso para ele?



PS. as definições quanto a mecânica clássica, relativista e quântica têm as arestas e o conteúdo corroídos pelo tempo que passaram expostas em mim.