5 de dez. de 2014

Dervixe Político.


Não sei se vale a pena fazer tanta força para escapar das garras da igreja e depois do comunismo, simplesmente para ficar a merce de uma auto visão monstruosa da própria vida, sem felicidade e nem serenidade em lugar algum. Mas no fundo o que acontece é uma ruminação sobre o plano inferior dos fatos, de temperamento e moral católicos e de cunho sexual. O batismo dá mesmo esta inclinação para acreditar no mal. Sem dúvida, a miúde, as manifestações libertárias estão impregnadas de catolicismo, de temperamento católico, acho que já disse antes, que a liberdade dentro do catolicismo é a perseguição, e esse é o nosso problema pátrio, além de pessoal. Em toda e qualquer putaria há possibilidades de engendrar alguma poesia e pausas, para escapar da tensão desse muito riso rarefeito de impressão feliz. O que digo não tem importância. 

Cada qual tem seu plano. E sem dúvida, meu amigo, pessoas muito mais competentes que eu, que lhe falem em um tom bastante diferente do meu. Minha única desculpa para dizer o que penso é que é isso que eu penso, e que tenho tão pouco prazer em dizê-lo, que talvez seja essa a principal razão de eu não dizer. Não tenho humor para falsificações deliberadamente grotescas. O que me dizem é que deveria me abandonar ao balanço deste movimento nonsense. Muitos o aprovam e você também. Escrevo com grande tensão, a mesma que sinto quando tenho que rebater cada maldita coisa que se sabe sobre cada pessoa que aparece ou qualquer coisa que brota, com aspectos tão verdadeiros e tanto talento, que as vezes também os tomo como certos, mas minha paciência se esgota. De qualquer modo, recuso-me a ser levado no torvelinho dessa dança insana por um dervixe político.    

A Mulher e o Mar.

A mulher e o mar.
Sempre olho pelo retrovisor e vejo essa mulher, sempre num papel secundário, quase figuração. Assim que esse texto é uma mudança de spin, aonde explico a história de uma mulher valente, com caráter, triste, porque nada é mais triste que a gestão da miséria. “Que tem pra comer mãe?” Suas crianças voltando para casa e ela batendo roupa, com as mãos se dissolvendo de tanto ficar mexendo na água. Um suspiro, um espirro da alma: “Pão com miolo e ovo frito!” Em algumas versões acrescentava “a moda da casa!” . Toda a impotência condensada num renego curto e sonoro. Que mais queriam que tivesse pão, ovo, nem que fosse pão-duro, e leite em pó que a igreja andava distribuindo. Havia enviuvado prematuramente e tudo mudara. Ainda mais. Não por causa da ditadura, porque esta não lhe afetava em nada. Havia decidido manter intacto um velho sonho de juventude, para sobreviver. Um anseio de liberdade que nem a ditadura nem a fome não podiam borrar. Ela queria ver o mar. Desde sempre. Desde que era uma jovem que havia se cansado de rio, porque a cada dia lá estava para carregar uns quantos baldes de água. Um na cabeça e outros a cada mão. Uma cena de dura cotidianidade que se repetia. O caminho de volta era sempre mais longo, mas cantavam e se explicavam alguma confidência. As vezes suas amigas riam de sua teimosia, mas ela não renunciava àquele azul infinito. Doía que a vida fosse tão ingrata, que não lhe concedesse o desejo de abraçar com o olhar aquela imensidão. Os anos passam, e já não era tão jovem. Tivera três filhos. Perdido o marido. Havia sofrido muito. Mas manteve-se fiel àquela rebeldia com gosto de sal. Era a sua pequena vingança contra quem lhe havia escrito um destino tão penoso e desagradecido. Um dia, um dos rapazes, teve que fazer as malas porque o trabalho o levava longe daquele lugar esquecido. Uma mudança de roteiro inesperada. Com a desculpa de ir ver o filho, por fim, veria o mar. “Cheguei a pensar que morreria sem te ver”, ouviram-na dizer. E o viu. Não sei que impressão lhe causou o mar, porque não retornou. Morreu, subitamente, numa vila de pescadores que não havia ouvido falar o nome antes. Uma vitória pírrica sobre a época miserável que lhe coube viver.     

3 de dez. de 2014

Facebuquecídio.

Virtualicidio.



Com incerta frequência dou uma passada de olhos pelo perfil do prof. Olavo de Carvalho. Devo salientar, entretanto, que se trata de atividade recente, de dois anos para cá. Há grupos de estudos e uma pauta, qual Olavo vai adequando aos acontecimentos. Noto que seu séquito cresce, se enfurece e se sente pronto para um confronto com os comunistas, gaysistas etc. Ele aconselha, diz que a luta é árdua, mas que os “adversários” começam a borrar as calças. Se soubesse o que é inteligência, diria que ele talvez o fosse, mas só o será ao conseguir o seu intento, que me parece um leque de insaciabilidades, muitos. Trava uma batalha particular contra acadêmicos uspianos e consortes, por algum motivo que não alcanço, e não me interesso alcançar, e faz uso de sua massa de seguidores para alvejar os “comunistas” ,onde houver, e os vê e os sinaliza por toda parte, e tudo mais que se possa, por livre associação (deles) parecer-se a socialidades. A esquerda é burra e Mario Ferreira dos Santos um gênio, do qual se põe abaixo por um pelo de nariz. Seus deuses são os libertários, como Mises, Von Mises et colegas, se dizem cristãos, e se sentem como aqueles do velho coliseu romano, e cada petista um Cæser virando o polegar. Conselho seu recente, na verdade é um apanhado de frases já feitas antes por ele, e o resultado é esta foto, que retirei direta de uma postagem dele. Algumas pessoas conhecidas têm levado a cabo seus conselhos. É o enfrentamento, pedido por Olavo de Carvalho, que se tem visto, crescente e feroz, por estas bandas virtuais do cotidiano. Por estas e outras que decidi cometer um Virtualicidio. Tenho alguns amigos que por simplorismo mental, e preguiça, acabam por dar força a esse tipo de grupamento. Porque não criam a própria sede de seus pensamentos e interesses, mas simplesmente comungam, por via transversa, com isso. Começarei com a cabeça de alguns amigos virtuais, desde já, seus discípulos, os outros continuaram sub judice. rs

diz Olavo: 




 "Mais importante do que tirar a Dilma da presidência é expulsar os comunistas da sua escola, da sua igreja, da sua sociedade de bairro, do seu clube. Isso não depende de grandes mobilizações, depende só da coragem e iniciativa de cada um. Isso não é nem política: é dever pessoal. Denuncie cada filho da puta, atire na cara dele, em público, todo o mal que ele representa e personifica. Recuse-lhe amizade, tolerância ou respeito, mesmo em pensamento. Esses canalhas vivem da generosidade das suas vítimas.

2 de dez. de 2014

Il lupo perde il pelo ma non il vizio

Rien ne se crée, rien ne se per.... Il lupo perde il pelo ma non il vizio


Há uma coincidência entre o presente e o passado. Levando isso ao paroxismo, não há datas, então nem presente nem passado, que o tempo – a linguagem sendo expressão do tempo – é uma série de coincidências gerais de toda a humanidade. Palavras movem-se em palavras, pessoas em pessoas, acontecimentos em acontecimentos – mais incidentes que acontecimentos – ambíguos como um trocadilho, ou um sonho. Caminhamos na escuridão, mas em estradas nossas velhas conhecidas, familiares. Il lupo perde il pelo ma non il vizio, dizem os italianos, e os tigres não podem mudar suas manchas.  

Nada se cria, nada se perde...

Nada se cria, nada se perde.

Deixando a sinédoque e a metonímia de lado, pois só me querem constranger, concluo ou presumo que não tenho qualquer poder sobrenatural, tampouco sei ou presumo os métodos e as motivações

do universo. Sinto que a realidade é um paradigma, mais precisamente uma ilustração de uma regra, provavelmente, não verificável. É só uma percepção, que nada tem de grandiosa, como a ordem ou o amor, é bem mais humilde, trata-se da coincidência. Dentro dessa regra presumida, percebida, não importa o quanto queira manipulá-la, porque ela pode assumir somente poucas e certas, ou incertas formas. Todos e o mundo nos deslocamos num movimento contínuo e ao mesmo tempo limitado nas suas possibilidades. Isso só me consola, porque sei que cada traição é apenas uma de uma série infinita. Toda atrocidade tem sua antecedente também horrível. “Rien ne se crée, rien ne se perd” . Assim simultaneidades inesperadas são as regras. Coincidência de pensamentos meus com os de outros. E eu e os outros, que podem ser virtuais, ficcionais, reais e míticos, peregrinamos nesse processo universal.  

27 de nov. de 2014

História da Omissão

História da Omissão
A gente 'fomos' omissos, durante tantos anos, cidadãos omissos. Nossa desdemocracia é anterior, muito antes da ditadura, mas a ditadura aprimorou-nos ainda mais na omissão. Os pobres, por isso mesmo, na luta pela simples sobrevivência, numa relação de trabalho 'semi' escravagista, não tinham e não faziam qualquer ideia a respeito de liberdade de expressão, sequer saberiam se expressar. Outros tantos se agarraram à ideia de um comunismo imediato, para tolerar ou apoiar ditadores. E tudo que vinha do mundo político se engolia, como verbalizou ainda recentemente Zagallo, a propósito dele mesmo, 'vocês vão ter que me engolir', e engolimos, da mesma forma engoliu-se outros no âmbito do ludopédio nacional. Outro disse: 'Prefiro cheiro de cavalo...' . Era assim: na biblioteca do Otoniel, uma bibliotecária com mais penduricalhos que uma árvore de natal, me proibia escolher o que queria ler, por exemplo, dom quixote, por nada, por determinação dela própria. No mesmo colegial, pensamos exigir cortinas contra o inclemente sol, saímos em passeata pelo pátio, a mim, me torceram o braço, um servente... voltamos à sala de aula... e o professor Décio Setti que hoje admiro, considerou exercícios resolvidos e explicados, na nossa ausência... caíram na prova. Fazer greve se tornara coisa de vagabundos. E é nessa condição de intocáveis que muitos políticos se mantêm. E há, inclusivamente, alguns, que a massa hedionda, considera natural, por direitos adquiridos, dessa idade média brasileira. Se você quiser saber como era, basta ir a um conjunto habitacional – COHAB – e verá que em cada esquina, se não morreu, mora uma família que foi cabo eleitoral de algum ex-prefeito, porque em geral as esquinas tinham terrenos maiores, porque as esquinas são bons pontos comerciais, etc... Se um simples sorteio de moradias para miseráveis, (muitos não eram, na verdade conseguiam sua segunda propriedade, ou mais) era vilipendiado, pode-se imaginar o demais. História da omissão.    

25 de nov. de 2014

Dia da Casinha, do retrete.

Dia da casinha. Retrete.


Outro dia – 19 novembro – foi dia da casinha, retrete, trono etc. Não creio querer divagar a respeito, mas sei que há muita pedagogia nas intenções da ONU, e muita hermenêutica para ser dixavada a respeito. No mais os tais 'dias internacionais' têm mesmo esta serventia: um mote para iniciar uma conversa qualquer, séria, bem-humorada, de escarnio etc. Tenho outro motivo, um trono, talvez o mais interessante no qual fiz o que mais sei fazer. Foi nos Pirineus. Mais precisamente em Esterri d'Àneu, numa Fonda (pousada), numa de muitas idas à montanha para colher cogumelos. O catalão é micólogo e eu embarquei no gosto, é mesmo que ir pescar por estas bandas, sou meio Zelig, me adapto tão facilmente quanto me desadapto. Pois, a tal Fonda guardava uma relíquia; um banheiro onde existiam as louças normais e correntes, além de uma, que para alcançá-la havia que se subir uma escada de pedras, uns 6 degraus, para se sentar no trono, um verdadeiro trono, pois desde uma fenda na parede, se divisava todo o vale que se perdia de vista, num horizonte de montanhas com picos brancos de geleiras eternas, ao lado havia a pertinente frase esculpida numa tabuleta: “se domina, con el ojo ciego, buena parte del mundo.”
 A merda para aquele povo é coisa séria, tanto que um de seus maiores expoentes das artes culinárias, um desafeto de Ferran Adriá, Santi Santamaria, dizia que a comida é boa se a merda for boa, tudo isso na TV. E a conversa andava por este prisma, quando Augusti, dono da Fonda, me contava que Ava Gardner, o animal mais belo do cinema, contou no seu livro para levantar grana para sua velhice, que na Espanha nem as privadas funcionavam a contento, e acrescia o sujeito, se ela que esteve por muitos retretes do país, tivesse houvesse ali se sentado, não teria escrito aquilo.