28 de set. de 2014

Há fumaça, mas nem sinais do fato.


Li, vi e ouvi o que tinham para dizer, os candidatos, faço constância, todos. Não me ocorre nada de original, ou essencial, a respeito. Dizer que a dialética, praticada, está na média do país, creio ser mais excesso de pedantismo, de minha parte, e não vem ao caso. Elucubrar, mais, se a corrupção faz parte da política, ou se é em si política, moral e ética social – desde sempre me parecem indistinguíveis o par ética e moral – não vejo sentido, entretanto. A corrupção é integral, pessoal, ainda que afete só por instante a pessoa. A gradação, não tem importância. Falar das diferenças entre os anjos e os demônios, é tema sem futuro: a Bíblia o faz com abundância. E nisso o livro sagrado é taxativo, rígido e não permite intercâmbio de essências, fenômeno fundamental em política. E ainda em plano bíblico, falar da perda de inocência - é custoso fazê-lo inocentemente - desconheço adultos inocentes. Falar de tragédia? Isso é coisa para Nietzsche. Decepção? Tristeza?
Política é isso: mais retórica que fatos, mais fumaça que fogo. Mas não posso viver sem!

27 de set. de 2014

como fazer versos

Como fazer versos.

Vou botando uma palavra atrás da outra,
a linha é frágil,
a palavra é pesada,
a linha arrebenta
a palavra cai para a outra linha.
Volto a pô-las em sequência.
Se as palavras fossem bem escolhidas,
cadenciadas, com ritmo preciso
com melodia
escreveria poemas.
Então, e tão somente, então, ia falar de agronomia.
Que a as raízes afundam na terra
de dia e de noite sem melancolia.
Que tal Lua, e não Marte, ajuda a colheita, e
há estrelas vermelhas boas para a vagem
e o dourado do sol,
os buracos negros, já não existem mais,
é a grande nova,
o feijão cresceu até Perseus,
e não nos aproximamos,
nos afastamos,
porque então vamos sambar de sapatos pretos,
vestidos apertados e vermelhos
com cheiro de guarda-roupa
Ela se atrasou, porque escolhia,
mas quem chegou na hora certa, não teve que esperar,
o par que não precisou escolher
Assim se acaba essa litania.

Antes, bem antes,

Antes, bem antes.

Essa dor –
antes da pressa
da hora
antes de Freud,
antes de Poe, dos dinossauros,
antes das caravelas no mar
inquiridor sem cronista.
antes das estrelas paradas no firmamento do desassossego,
antes,
antes dos sábios, prisões e coliseus e toda sorte de artifícios,
quando tudo era uma pele, de tripa, muito fina,
e o sol negro sem borda,
antes do choro da criança -

já estava aqui.

26 de set. de 2014

Bollywood. A pergunta do milhão!

A pergunta do milhão!


Quando um coletivo tem que decidir sobre uma questão, sempre haverá diversas opções. Se não estão presentes tais questões, não faz falta decidir, já que haveria uma unanimidade e esta ou a aclamação substituem o debate e o voto. Entre pessoas civilizadas não há de haver confrontação.
No que temos que decidir se confrontam interesses diversos, com consequências diretas sobre os sentimentos, as crenças, e especialmente o bem-estar dos que ganhem ou percam.
Sempre que reflexiono, sobre o fato: de entre milhões de pessoas, 51 % votem uma coisa e 49 % votem outra.
Se fosse para viver em um condomínio com todas as comodidades para os ganhadores e tábula rasa e preconceitos para o resto dos evidentes perdedores, a votação acabaria em desastre. Um instante depois de conhecer o resultado, uma batalha campal decidiria qual das duas partes seria perdedora. Por certo, ambas as partes perderiam.
Por isso é que se fala em projetos de governo, corrupção... para não dizer a verdade, esta, sim, conflituosa.


Você votaria para que tua condição material voltasse atrás?

O sal evita que o mar se apodreça.

O sal evita que o mar se apodreça.
A serpente é a maestra dos vivos.
Desde Eva, 
seguimos seu rastro.

SE o mundo, produto de artifícios, 
é porque
as conclusões são pactadas,
pois a força da rocha, não pensa.

O corpo é o habitat da linguagem,
então,
jogo os dados, abro o livro
e alço os braços,
 para golpear,
com as mãos.

Ninguém dança convencido.
não para traçar signos
 com as mãos,  
ao alto,  com a dança,

A cor  é a do caos.
Letras e signos.
Pele de porco.
Areia sobre espelho.
Sulcar a terra com as unhas.
Cortar a sombra que já me sobe pelo joelho...







25 de set. de 2014

Laura.


Não tenho certeza, mas penso que disse alguma vez que faz dois ou três anos que me relaciono com diversas mulheres ao mesmo tempo, coisa que nem a elas ou a mim criam conflitos, mais provavelmente, ao contrário.
A Laura, ela o sabe, é uma das minhas preferidas. Bem, não é bem assim, Laura, cada uma tem o seu atrativo, e sou um galinha. Outro dia, creio que os mostrei uma, recordam? Não sei se fiz bem, ainda me sinto inseguro. Falo aos leitores, não com você, Laura, que bem sei, que não se importa. Me enrolo todo com as primeiras e as terceiras pessoas.
Laura tem um sorriso charmoso e é graciosa. E seu olhar? Já disse. Sim já disse, mas de vez em quando me dá uma olhada de rabo de olho... acho que já os havia dito, e depois, com a voz cada vez mais suave, mais baixa, que me esforço para ouvir, e até quase encosto a orelha a sua boca, me diz: o amor não tem idade.
Frequentemente, quando nos despedimos e lhe faço um carinho, uma carícia ao rosto, me olha com seu sorriso que já disse acima, charmoso irresistível, a cabeça meio virada, olho no olho, para perguntar: e a amanha?

Bem que queria, Laura, não sei se faço bem contar estas coisas aqui, onde toda a gente pode ler, mas você já não estarás, que diferença faz, que saibam, já que amanhã não nos veremos...

24 de set. de 2014

Rainha de Copas.


Isso de não querer deixar o cargo livre, vem de longe. Suponha-se Herodes, e se dê conta que o novo rei dos judeus nasceu. Alguma coisa haverá de fazer, se quer conservar o trono, assim que tira da cartola um plano drástico, mas efetivo: degolar todos os meninos com menos de dois anos. Sim, concordo que os danos colaterais sejam excessivos, mas tudo para conservar o cargo. Pouco contava Herodes com que José tivesse um sonho, 2014 anos antes dos nossos, e se refugiaria no Egito com Maria e seu filho ameaçado. Os historiadores não encontram indícios de veracidade neste relato de São Mateus. Mas vale a pena dizer que o evangelista tampouco inventou muito, porque Herodes era bastante partidário de acabar com os seus rivais políticos seguindo o lema da rainha de copas no País das Maravilhas: “que lhe cortem a cabeça!” Esta se impunha, assim, a quem se interpunha no seu caminho, inclusivamente, seus filhos...