10 de set. de 2014

Vale-tudo.

Vale-tudo.

Valor, é o que vale, e o que vale tem valor. Curiosamente, se dizemos: vale-tudo, não é porque tudo tem valor, ou que haja abundância de valor, é justamente o seu contrário. No âmbito pessoal é um troço melindroso, é quando nos pomos sérios, e haja valor próprio, porque os valores são bens prezáveis e como tal hão de ser limitados e aceitáveis comumente, é um princípio da regra do jogo.
Outro complicador dos valores é a temporalidade. A ação do tempo. E com isso os valores supõem tradição, postura... pose em palavra mais chula. Ao longo do tempo, pessoas de determinada comunidade ou hábitos culturais, confeccionam uma escala daquilo que os parece valioso. Neste sentido, o valioso que deveria ser levado em conta para se ter uma sociedade humana que funcionasse, é que não suponha surpresas súbitas, rupturas traumáticas com a moral e a ética.
Entretanto o tempo, senhor implacável, tem ritmo acelerado, e as novas gerações junto com as velhas, que querem se modernizar, provocam questionamentos, criam novos valores ou contravalores frente aos que pareciam imutáveis.
Não sei dizer quais são os meus valores ou os valores da sociedade mais próxima de mim. Há uma mistura de concretude com abstração, multiplicados por variáveis circunstanciais, e vejo filósofos honrados jogando o balde no fundo do poço e só sair água barrenta. Família, povo, trabalho, vida e seus subgrupos e grupos dos subgrupos tudo dentro do chapéu que o prestidigitador remexe, para sair uma pomba branca, ou o que ele quiser, e que sabemos que não é, mas aplaudimos. Estamos mais interessados na refutação da pomba, que no truque, e divagamos enfáticos.


Roma traditoribus non premiat!



Roma traditoribus non premiae\t (apócrifa).

Roma não premia a traidores.

Para quem caminha para algum lugar, a meteorologia é muito importante. Principalmente nesta época de mudança de estação. Guarda-chuva e galocha, pois vale o dito, prevenir... Porque tem sido assim, dia sim outro também, anúncios de chuva. Tempestades que surgem – é um país onde tudo é commoditizado, todos se tornaram meteorologistas, até o editor – em céu de brigadeiro e como na doce dança junina,
O balão tá subindo
Tá caindo a garoa
O céu é tão lindo
E a noite é tão boa
Olha a chuva! É mentira!
Olha a cobra! É mentira!
É certo, que se trata de mudança sazonal do clima, abrupta e violenta, as nuvens crescem com rapidez e sem cúmulos e transparentes geram tempestades que a tudo destroem, e por vezes a própria anunciação. Relâmpagos e trovões, o pão nosso de cada dia.
Só falta vindicar desobediência civil, se bem que há os que sempre dizem ir para Disney, lá sou amigo do Uncle Scrooge. Oh! Passargada.



9 de set. de 2014

Racismo!

Racismo.

Até bandido juramentado chora ao ver as algemas. No entanto, para uma boa discussão, deveríamos assumir ao menos para conosco mesmos, o sentimento guardado a respeito, que se manifesta nas listas de discussões, com a cabeça no travesseiro, com o vidro do carro fechado, no banheiro. Enfim lugares seguros à vigilância que se estendeu sobre toda a gente. Porque de ser, todos somos racistas, e quando digo todos, incluo os negros e descendentes, é uma herança, triste, mas herdada. Assim como se tem um lote como herança, pode-se ter uma dívida. Neste caso é uma dívida, e não queremos nosso nome na lista do SERASA, mas não é fácil quitar esta dívida.

Não retiro culpa de ninguém, mesmo sendo racista, faço o possível e o impossível para que o que sinto não interfira nas minhas relações, para que não se manifeste nem em campo de futebol, ainda que achincalhe o árbitro e sua bondosa mãe, penso que é feio, mas ainda é permitido. Mas isto de não deixar que os porões, as grutas escuras de minha alma saiam pela minha boca, pouco significado prático tem. Creio mesmo é na prática. Prática ao escolher entre um candidato ou outro com as mesmas habilidades. Gerar condições que possibilitem estas mesmas habilidades a todos. Creio mesmo é na inclusão social, seja de negros, mestiços e brancos pobres, que os há aos montes. Só o pequeno-aburguesamento de todos nos fará iguais em ''boa'' e ''perfumada'' aparência, com a possibilidade dos mesmos perfumes, cosméticos, grifes, cremes, educação formal etc. Não creio em ''geração de consciência'', é uma bobagem como outro auto-ajudismo qualquer, rende ''lindas'' linhas bregas, piegas e mais nada. Se nem respeitar pedestres no trânsito respeitamos, e quanto dinheiro já se gastou com campanhas de conscientização, uma grandeza. Quantos velhos país e mães abandonados existem? O mesmo se dá com campanhas como ''Vá ao Teatro''! Sem dinheiro? Sem roupa, sapato, perfume de ir ao Teatro? Tanto é que costume também é traje, moda, basta ler os créditos no final dos filmes, mas quem pode ir ao cinema? E quem consegue ler tão rapidamente? Portanto e para tudo: Equipamentos. E enquanto isso: Penalidades.

8 de set. de 2014

Ici, n'y a pas d'Élite.


Ici, n'y a pas d'Élite.

Elite no país, já faz tempo, que só existe a tropa e de mentirinha, cinema anemic. A pá de cal foi jogada, pela Alemanha, no nosso futebol, que era um dos estertores de nosso elitismo. A bossa-nova é um cadáver insepulto. O samba chegou ao paroxismo do samba de raiz. Nossa arquitetura de único pilar centenário, foi-se.
No cinema segue a cruz nos ombros de um pagador de promessa, câmeras na mão para filmar '' Ceci n'est pa une pipe '' Magritte por Michel de Foucault, sem roteiro, pois rola na hora.
Nosso negócio é o de tirar do chão, botar num navio e exportar, terra sólida ou líquida, sem transformação, commoditie.
Na literatura, temos como vermes num cachorro morto, que sugar as últimas proteínas mumificadas e remastigadas de Machado de Assis, o demais, carboidrato, engorda!
Somos embusteiros, e faz tempo, Camões imitou Homero e nós o velho do Restelo.
Talvez Chico Mendes fosse vanguarda, elite ambiental, mas os retrógrados acabaram com essa dúvida a tiros, retrógrados sim, mas elite não! Não temos e nunca tivemos elite, nem na popa como queria Roberto Campos.


A granada anunciada!



     O teatro Pedro II de Ribeirão, certo dia, amanheceu cercado de viaturas policiais, e toda sua fachada destroçada, seus bisotês estilhaçados, suas escadas, vítimas de vandalismo. Os fotógrafos, jornalistas, os curiosos, se perguntavam: Como? Quem? Os flashes disparavam como metralhadora. " Isso vai dar JN " disse o câmera. " É um ataque à cultura ", " querem acabar com a cultura "  gritaram em meio a multidão. 
     Os peritos policiais, amealhavam provas, enquanto transeuntes faziam o mesmo com outros propósitos, um souvenir. Um casqueira que dormira no banco da praça, dizia ter visto o vândalo, “Ele ameça fazer isso faz tempo'', Como ele era? Pergunta o investigador. ''Alto, forte, camiseta polo de pano grosso, calças dobradas na barra, botina”. E as cores? Lembra?  '' Estava escuro, mas calça e camiseta eram de uma cor só, escuras”. Como ele fez todo esse estrago? ''Ora com a granada, uai!”. E depois? '' Deu um salto, parecia voar, e saiu correndo ''. “ É, não dá para levar a sério, o sujeito é usuário de crack! ” Concordavam os investigadores. De repente um senhor que toda manhã dá milho aos pombos gritou: “ O constitucionalista sumiu! “ Num falei, disse o casqueira."

7 de set. de 2014

Alho-poró!

Por um maracanã de motivos, penso que deveríamos encontrar nos bairros todo tipo de mercadorias. Um desses motivos é o de não ter que tirar o carro da garagem e sair passeando num domingo pela manhã pelas ruas como seu quintal estendido, conversar com os conhecidos da vida inteira, e outros motivos que não estão na minha cesta básica de motivos, e que no entanto r ainda que não os defenda, os gosto. Como a poluição, o meio ambiente, a geração de empregos perto de casa – que é sempre maior nos pequenos mercados, que nos hiper-super da vida – os congestionamentos etc. Pena, não é o que acontece. Hoje fui às quitandas e mercados bonfinenses e não encontrei alho-poró. No entanto, não fiquei triste, porque encontrei uma forma de discriminar,-  no sentido de elencar -  e vindicar a ignorância. Os quitandeiros, em geral, são singelos, mas como em toda parte, os há de ignorantes. A ignorância singela é aquela que só não sabe. A senhora tem alho-poró? Desculpe-me senhor, mas não sei o que é isso! Mas há outros tipos de ignorância. A senhora tem alho-poró? A gente não trabalha com isso! Ou, a senhora tem alho-poró? O povo daqui é ignorante, nem sabe o que é isso! Ou, a senhora tem alho-poró? Não tem gosto nenhum, não serve para nada, melhor você usar cebolinha, dá mais sabor! Ou esta que não esperava, a senhora tem alho-poró? Esta fez aquela cara de carioca a olhar para um paulista com marcas de manga de camisa no braço branco. Tem certeza que é hortifruti? Tenho! Mas penso que foi noutro planeta que vi! Pode ser, porque eu trabalho no ramo a vinte anos e nunca ouvi falar! Nem creme de leite fresco? Por quê? Existe diferença? E cogumelos frescos? Só no pasto, vai fazer chá?
O maluco é que é possível encontrar chips para fazer drones, e não consigo um quiche de alho-poró como deus manda, sem haver de conduzir por 12 quilômetros de ida!

Insone, esperando a mordida meiga do dragão adormecido.



Chega um momento da noite, que o mercúrio parece estar pregado por pés e mãos no capilar do termômetro, 29 nove graus, as duas da madrugada. Um gato miava entusiasta, e era tudo, nem os motoqueiros faziam suas costumeiras estridências.
Peguei a ler um livro – o de sempre, lido e relido, posso parar e pegar em qualquer página que sei de onde e aonde vai – e comecei a me sentir irmão anônimo de uma multidão de insones, e os imaginava pelo mundo, despertos, mas silenciosos, só isso os fazia merecedores de agradecimentos, numa cultura consagrada a fazer barulho – manhã, tarde e noite – com uma contumácia digna das melhores causas, como as há, para o roubar terras aos indígenas, juntar figurinhas da copa, tirar o medonho do corpo... notei que me invadia uma onda de amor universal e indiscriminado.
Sei que são momentos de debilidade, os advirto, e tenho sorte, que não são as horas dos que batem à porta vendendo algo ou cooptando fiéis para alguma seita, porque temo que se me pegassem com a guarda baixa, me deixasse conduzir por um sentimentalismo solitário e inofensivo.
Por sorte chegou uma bufada do nordeste, está certo que a nove quilômetros por hora diz o google, tão fraco e silencioso, que como eu, inspirava meiguice, ternura, e me fez dormir.

Neste momento, em que escrevo, se me lembro bem, as condições são idênticas, parece-me, e fico a me perguntar pelos avós, que resolveram se encravar bem nos beiços do dragão , a esperar por suas mordidas quentes e meigas, que os levaria ao céu, um a um