Um homem, parado com
seu carro diante do semáforo, em vermelho. Fica cego, subitamente.
Uma cegueira leitosa. Quem o ajuda e o leva para casa também cega.
Cegam todos pacientes do oftalmologista onde o levou sua mulher, o
cego do semáforo. Rapidamente a epidemia se alastra pelo país. As
autoridades, decretam que os afetados sejam isolados – como os
leprosos de antigamente – para que não se os veja e não olhem
ninguém, aparentemente a mirada do cego, cegava. À 'prisão' não
havia carcereiros, recebiam a comida que lhes era deixada à porta,
não podiam sair, sob pena de morte, que se evitasse o contagio. Tudo
dá lugar a cenas dantescas, aonde aparece o melhor e o pior da raça
humana. É o romance de José Saramago. Saramago parte da hipótese:
“Que aconteceria se...”. É um exercício imaginativo, o pânico,
as autoridades sanitárias, políticas, o desborde geral, a epidemia
afetando a todos, a Dilma ficando cega, que cega já estava Marina,
que tropeçava no cego caído Aécio. Bonner olhando para o céu
desferindo ao altíssimo uma pergunta no subjuntivo, com dez
vírgulas, dois pontos e vírgulas, era o último a seguir
perguntando, agora já fora do alcance da câmera, pois o câmera
também cegou. Todos zumbizando em busca de comida, mas só o cheiro
do putrefato pode auxiliar na busca, e é isso que comem.
Saramago deixa esta
frase enganchada: “O medo cega”, que sai da boca da moça de
óculos escuros. “Já éramos cegos ao perder a visão, o medo nos
manterá cegos”