Me
identifico com Leopold Bloom, Bloom é um homem sem atributos. Um
vendedor de anúncios de jornal. Um chifrudo da marca pasmada, manso.
Da sua mulher de muitos atributos carnais,
prefere as nádegas. Mas
ela é mais que isso, antes que me censurem, ela é uma soprano de
quinta categoria. Leopold, ou Poldinho para os íntimos, também
gosta de miúdos de animais, gosta é para os fracos, se lambuza com
um rim fresco de cordeiro no café da manhã, pelo cheiro da urina
que exala, diz de si para sua gata. Miau! Sua carnuda, branca e
libidinosa mulher, diante do café da manhã que lhe serve Poldeto,
ela rola na cama, deixando efluir todos os olores de uma noite que se
finda. Bloom florido, percorre suas coxas até sentir uma umidade não
sua. Vai a casinha com um jornal velho, e antes de usá-lo se
entretém lendo notícias velhas. Sai, como um saco de despistes.
Finge escolher uns legumes, para enfiar a mão entre as cochas da
quitandeira, que por certo se banhará amanhã, que é sábado e
lavará roupas nas pedras da margem do rio. Ele próprio antecipou
seu banho semanal para ir ao velório do amigo, Digno!
18 de ago. de 2014
17 de ago. de 2014
Correndo com Haruki.
Vamos
correr com Haruki!
Antes
dizíamos correr, agora, que se botou de moda, é running. Há quem
assegure que cada vez há mais gente correndo, porque é uma prática
esportiva que não exige despesas, e há ao contrário, quem se põe
na moda, porque permite luzir um amplo leque de símbolos de status
de
corredor como deus manda: roupa especializada, quedis, penduricalhos
eletrônicos, software, câmeras fotográficas, fones de ouvido,
bebidas tonificantes e geis... O que é inegável é que ninguém sai
atualmente para correr com uma camiseta qualquer, ou com um boné da
empresa, nem com um quedis barato, Calma, quedis em Bonfim, mas tênis
por toda parte.
Deste
modo o melhor é correr pelos canaviais, quando muito uma capivara
cruzará teu caminho, ela com a mesma roupa de sempre e
igual a você. Porque nas
rotas atuais, ou te olham pelo brilho, ou pela opacidade da velha
camiseta surrada.
Se
é um runners ou se está pensando em começar, é recomendável
“ferventemente” que leia Do que eu falo quando falo de corrida,
de Haruki Murakami, um livro aonde se explica o processo que o levou
a correr, e como esta atividade o influenciou na sua maneira de
trabalhar e viver.
De
todas as reflexões de Murakami com o leitor, fico com aquelas que
fazem referência ao passar do tempo, à constatação que em cada
maratona que se participa, se faz uma marca pior, mas que continuará
a correr, ainda que lhe digam que está na hora de parar.
Runners
ou corredor ou não, me parece que a última conclusão de Murakami é
digníssima, magnífica. É uma divisa. E dependendo pode dar sentido
a toda uma vida: “Um dos privilégios que temos, os que evitam
morrer jovens, é o de nos fazer velhos. Nos espera a honra do
declínio físico. O único que podemos fazer é o aceitar e nisso
aprender a conviver”
.
P.S.
Murakami correu só o percurso de Atenas a Maratona. Costuma ouvir
Lovin Spoonful
16 de ago. de 2014
O gato Ão!
Aulas
do gato Ão.
.
Caminante,
no hay camino
se
hace camino al andar...
.
São
estes os versos mais
conhecidos de Antonio
Machado, poeta andaluz.
Trazem uma verdade geral. O caminho não existe, senão que se faz, e
se faz pela ação do caminhante.
Entretanto,
é notória a necessidade
de se saber para aonde ir. Ainda
que isso dê
no famigerado fim.
Os
fins tão questionados, a ponto de a bondade se tornar maldade, se o
fim for ser um
homem bom, e não praticar o bem sem ver a que! Se entrei no reino da
utopia, rodo a maçaneta e retorno ao mundo real, o mundo maravilhoso
de Alice. Alice perguntava ao gato de Cheshire: “Para aonde posso
ir desde aqui?”.
O gato lhe respondia: “Isso
depende, depende para onde quer ir!”. Alice retornava: “Ah, isso
tanto faz!”. E o gato repõe: “Bom, se é assim, dá na mesma,
tome qualquer caminho!”.
Quando
digo que aprendo com o Ão, você ri, mas se não se tem objetivo ou
destino, dá na mesma a direção que se empregue, não se vai a
lugar algum de todas as formas. Tem muito a ver com política e é
metáfora de fácil entender. E é um poema para não esquecer se é
um poema inteiro, então nada como terminar com ele:
Caminante,
son tus huellas
el
camino y nada más;
Caminante,
no hay camino,
se
hace camino al andar.
Al
andar se hace el camino,
y
al volver la vista atrás
se
ve la senda que nunca
se
ha de volver a pisar.
Caminante
no hay camino
sino
estelas en la mar.
E
sem querer ensinar mas mostrando o fim deste tecido saliento estes
versos:
y
al volver la vista atrás\
se
ve la senda que nunca\
se
ha de volver a pisar.
15 de ago. de 2014
Infâmia.
Infâmia.
.
Pierre Laval foi
primeiro-ministro francês, nos anos 40-42, do famoso regime
colaboracionista de Vichy, foi condenado à morte em 1945. Símbolo
da infâmia, permitiu que milhares de pessoas que residiam na França
fossem deportadas e exterminadas. Laval que fora socialista, a
começos do séc XX, aos poucos foi se convertendo ao
conservadorismo, e nos anos trinta do mesmo século já respondia
chamada na extrema direita, foi então se fez nazista. No seu
julgamento, argumentou que havia permitido deportar as crianças, por
razões humanitárias, não quis separar os pais dos filhos. E porque
também havia espaço suficiente nos vagões dos trens, normalmente
usados para animais. Então, bastava parecer, tão só parecer
diferente, cor, religião, língua, crença origem, ideias,
comportamento, doenças... este século tinha tudo para pôr fim à
barbárie, e nos entendermos. Mas não é assim. Assistimos conflitos
em que os generais são executivos nos escritórios e as vítimas
cidadãos, que de um dia para o outro se vêm expulsos do que
pensavam ser o paraíso. Tratados pior que animais, são espetáculo
por uns dias nas TVs do mundo.
Em qualquer conflito
sempre há os que pensam que têm mais razão que os outros. Pobre
ilusão, a razão o tem aquele que provoca o enfrentamento para
viver dessa miséria.
14 de ago. de 2014
Políticos.
Políticos.
.
Se fizessem uma
pesquisa sobre os problemas do país, com certeza os cidadãos
considerariam os políticos como um dos seus três problemas mais
importantes. Todos transmitem a impressão de que os políticos de
hoje são piores que os de antes, e que a corrupção e encher
linguiça são os esportes que mais praticam, e que não praticavam.
Grave erro. Não
penso que o passado era melhor, penso que o gênero humano se move
sempre por valores e conceitos relacionados com o poder, o dinheiro,
o sexo e a religião, não necessariamente nesta ordem. Talvez nos
momentos difíceis da história, os homens, alguns com autoridade,
tirem a cabeça acima da manada e nos mostrem o caminho. Mas quando
impera a mediocridade, os políticos não são mais que o reflexo
mais visível, e uma medida, da sociedade.
Não me parece justo
lhes atribuir todos os males, ainda que bastantes façam de tudo para
ganhar este prêmio. Se salta aos olhos que preferimos antes ficar
olhando, criticando, ruminando como os outros trabalham, e não nos
comprometermos em projetos coletivos, creio que falta cuidados na
desqualificação.
Dizer que estão
sempre no olho do furacão, e muitos não são modelo de nada, é
chover no molhado. Mark Twain, e note que já chovia, então, dizia:
“Leitor, suponha que você fosse um idiota e suponha que fosse um
membro do Congresso Nacional; mas, se estou me repetindo...” .
Parodiando a Disraeli, que diferenciava desgraça e calamidade com a
sentença: “ Seria uma desgraça que Sarney caísse no rio
Piracicaba, mas seria uma calamidade que alguém o resgatasse”.
No mais, se o país
sobreviveu a Jânio Quadros e depois dele a toda uma trupe domadora
de cavalos, a Sir Ney, Collor... Sossegados, sobreviveremos.
13 de ago. de 2014
Tenho muita sorte dentro do azar!
Um dia abri a caixa
do correio e lá estava ela, a carta. Diria que a li de trás para
frente e de frente para trás infinitas vezes. Estava bem escrita –
não esperava menos dela – e era muito interessante. Mas não
entendia nada. Falava de tudo e nada. Tentei ler entre as linhas
alguma mensagem, que fosse única e para mim, onde explicasse por
qual razão, entre todos os habitantes da terra, me tinha escolhido
como destinatário. Não soube encontrar. Na minha livre
interpretação, aquela carta dizia: “ Meu! Foi só uma trepada!”.
No entanto, não
sabia que aquela seria a primeira de muitas, muitas cartas. Tantas
que geraram uma necessidade nova, abrir religiosamente a caixa de
correio. Verdadeiros tesouros literários, mas “O que queriam me
dizer?” me perguntava.
Insistia em procurar algum indício, pequeno que fosse, sem sorte.
Conclui que havia se encontrado com o seu perfeito leitor, e de
passagem me compensava da usa desaparição.
Não
respondi nenhuma carta. Mas no dia que ela fazia 30 anos, lhe enviei
um buquê de rosas. Então ela me telefonou e saímos.
Na
primeira carta depois deste encontro, me disse que negaria tudo,
inclusive negaria que houvesse me explicado os seus segredos, me
beijado ou acariciado. Por fim diria que havia sido um sonho. Mas eu
estava ali, e recordo de tudo, perfeitamente, e até uma frase dela
que sempre quero encaixar em alguma conversa, “ tenho muita sorte
dentro do azar”...
12 de ago. de 2014
Alienografada!
.
Enceto este texto sem ter ideia a tratar. Melhor talvez não escrever, se não tenho nada interessante a dizer, mas quem decide o que é relevante ou não? No mais seria estranho ficar cheio de dedos com o conteúdo, é como se tivesse escrito algo relevante antes! Sigo escrevendo sem pensar muito, quem sabe um alienígena me oriente, ou me aliene, ou me dê a data para o último fim do mundo! Com certeza deve haver algo que gostaria de fazer se soubesse do fim do mundo, da morte! Certo é que não haveria como repercutir, e este tem sido o gozo geral, o compartilhamento! Quando era pequeno queria saber sobre a morte, me diziam que era como não sentir nada. Meu avô, dizia que era o mesmo de antes de nascer, recuerdate? Um brilho de ateísmo saia do seu olhar, miudamente azul!
Ele me perguntava, ''por que os Testemunhas de Jeová não se esforçam em convencer ninguém?”, “no lo sé abuelo, usted dirá!”. “Porque eles sabem que poucos serão os escolhidos, e já há Jeovás de sobra, para a escolha de Deus, assim que se converterem mais alguns, suas chances de serem escolhidos, em muito diminui!”. E chorava a rir. Que não se enfadem com minha descrença. Os ânimos estão já muito exaltados. E lembre-se, pode ser orientação alienígena!
Assinar:
Postagens (Atom)