Há muito tempo um povo
esqueceu-se de como se pronuncia o nome de Deus. Na origem dos
tempos, não há provas, esse povo pronunciava seu nome, mas com o
passar dos tempos, deixou de fazê-lo. Dizem que era de difícil
pronuncia. De tal modo que, delas, havia muitas. Mas sempre houve
quem a soubesse fazer corretamente. Este, dizem, houve, por bem,
espalhar a norma qual não se podia errar a pronunciação do nome
divino. O povo que já não sabia corretamente, passou a não dizer
seu nome. Para não dizer em vão. Passou então a representá-lo por
YHVH e nem sempre, oralmente, o faziam integralmente, YHVH, mas ora
Yha, Yoh , Ye ...Ie-hovah, ou em composição Jah (substituiu-se em
português o Y por J) Jah é o Ser; Iao, iu-piter, com a mesma
significação; ha-iah, hebr., foi; ei, grego, es; ei-nai, ser; an-i,
hebr., e em conjugação th-i, Eu; e-go, ich, i, m-i, t-ibi, t-e e
todos os pronomes pessoais nos quais a vogal i, e, ei, oi, representa
a personalidade em geral, e as consoantes n, s ou t, servem para
indicar o número de pessoas. No mais se discute acerca dessas
analogias; eu não me oponho a isso, porque nessa profundidade, e
com minha abissal ignorância, a filologia é uma nuvem ou puro
mistério. O que importa é que a relação fonética dos nomes
parece traduzir uma relação de ideias, não de pessoa.
Eu sou Eu, disse deus a
Abraão, e trato contigo... E disse a Moisés: Eu sou o Ser. Falarás
aos filhos de Israel, e lhes dirá: O Ser me envia a vós. Estas duas
palavras o Ser e Eu, tem na sua língua original – a mais religiosa
que jamais falaram os homens – a mesma característica. Numa outra
ocasião YHVH, fazendo-se legislador por intermédio de Moisés,
atesta sua eternidade e jura pela sua essência, diz, em forma de
juramento: Eu: ou melhor redobrando energias: Eu, o Ser. Assim o Deus
do hebreus é o mais pessoal e o mais voluntarioso de todos os
deuses, e nada melhor que Ele para expressar a intuição da
humanidade.
Esse isolamento e a
falta de comunicação, manteve a alma humana absorvida no egoismo
animal, e a ausência de movimentos divinos, foi mudando pouco a
pouco a vida social que ficou rotineira e mecânica, eliminou a ideia
de vontade e de providência divina. Isso foi mortal.
Os chineses por sua
vez, conservaram em suas tradições a recordação de uma religião
que havia deixado de existir entre eles desde o século V ou VI da
nossa era. Coisa mais surpreendente ainda, é que esse povo –
singular –, ao perder, esquecer o culto primitivo, parece ter
compreendido que a dinvindade não é outra coisa que o eu coletivo
do genero humano; de tal sorte que desde a mais de dois mil anos,
China, nas suas crenças vulgares, já havia chegado às últimas
novidades do ocidente. No I-Ching se diz: O que o céu quer e
entende, não é mais o que o povo quer e entende. Ou ainda: O que o
povo julga digno de recompensa e de castigo, é o que o céu quer
castigar ou recompensar. Há uma comunicação íntima entre o céu e
o povo; que os governantes estejam atentos e sejam reservados.
Confucio disse o mesmo
de outro modo: Ganha o afeto do povo, e ganhará o império. Perde o
afeto do povo e perderás o império. Essa a razão geral.
Em Tao-te-King, que não
é mais que a critica da razão pura, ou seu esboço, Lao Tsé
identifica com o nome de Tao a razão universal e o ser infinito.
É estranho, mas a
religião morre pelo progresso e também, vide China, pela
imobilidade.
Sem prejulgar a
realidade ou não realidade de deus, admitamos, que deus seja outra
coisa que a razão universal ou o instinto coletivo, é preciso saber
o que é a razão universal. Porque a razão universal não está na
razão individual, melhor, só existe empiricamente, quer dizer, não
é possível deduzir, a priori, ou induzir ou sintetizar.
Noutras palavras, se
tivesse nascido em Java, falava javanês, ainda mais desconcertante é
o fato: se ainda houvesse nascido no Brasil, e desmamado levado a
Java a uma família javanesa, falaria javanês. Supondo que ao
contrário de ser levado a uma família humana, fosse levado a uma
família de hipopótamos – e sobrevivido – não falaria coisa
alguma, que não o hipopotamês.
Noutras palavras: Se
toda humanidade desaparecesse, e deixasse vivo alguns casais de bebês
e que estes sobrevivessem, e constituíssem sociedades, tardaria,
talvez, uns milhares de anos para se estabelecer a ideia de deus,
concordando que a tal sociedade repetiria os nossos passos, sem os
saber.