O
Lixo.
Efetivamente o que mais
produzimos é lixo. Literal e abstratamente na maioria das vezes. Ai
se te pego... Obladi Oblada... Os Romanos inventaram a captação do
esgoto. Os Ingleses a cloaca com assento. Tudo isso e infinidade de
fatores culturais – quase tudo é descartável do envolucro ao
conteúdo – nos faz ter vistas e narizes grossas para tão
laborioso produto malcheiroso. Este ao não mais fazer parte de nós,
queremos que outrem dele se ocupe. Alienação pura e simples, que
os urubus não dão conta. Os urubus são 'termômetro' de nossa
higiene social. Sua quantidade no céu de nossa cidade, diz algo de
nossa carniça. A palavra reciclável – se tornou um mal
entendido – criou outro tipo de urubu, o humanurubu, se me permitem
o neologismo também lixo. As cooperativas – ajuntamento de lixo –
pelas quais passei pela frente, são locais que não podem feder
pior. As pessoas que ali trabalham e os que ali depositam o fruto de
sua catada diária, muito pouco se diferenciam daquilo, em aparência,
antes que me digam, digo eu: elas tem vida, sonhos como todos.
Um que outro fotógrafo
ainda é laureado por fotos de crianças macilentas – em geral
negras – dividindo espaço com ratos e urubus. Para mim esse tipo
de fotografia e seu fazedor estão quase no topo da piramide da
urubuzada, vive do lixo. Outro urubu, em nossa cidade é o caminhão
do lixo e seus lixeiros que conseguem o grau máximo de degradação,
não é possível ser mais feio, fedido e asqueroso, recolhendo –
se é que se pode usar essa palavra – sacos colocados nas calçadas,
rasgados pelos vira-latas, os catadores de latas, os buscadores de
restos de alimentos e a simples e desleixada maneira pela qual
tratamos o saco de lixo que ali depositamos – ou manda-se ao
serviçal que deposite, vide grandes edifícios – desamarrando,
cheio de mais, lixos líquidos, líquidos estes com dias curtindo nas
casas e horas ao sol, junto com toda a organicidade da coisa, já é
chorume, que a prensa do caminhão faz verter pelos seus buracos e
vai deixando pelas ruas a marca, talvez como no conto de fadas para
não perder o caminho de volta. Por fim os políticos que não vêm
nisso ineficiência administrativa e a empresa que sob a cegueira da
administração acabam por se coroarem o próprio urubu rei, sem
contudo saberem “pegar uma térmica”, e seus voos são curtos,
nem por isso produzem menor degradação. Tudo isso contando que o
'serviço' do lixo se cumpra no dia a dia, pois há as falhas do
sistema, os erros, os abusos então o que parece insuportável tem
seu viés de 'piorança'. Nunca pensei em usar a palavra
generalizada tão seguramente, mas há todavia a exceção que por
pior engloba o geral, porque há rincões na zona norte, oeste e
leste que beiram o desespero.
Há ainda o lixo
publicitário, as placas retiradas e por trás delas, pasmem
deterioração são problemas para segurança dos que vão pelas
calçadas, os beirais estão podres, as luzinhas de natal
descartáveis; as armações de ferro para o 'embelezamento' dos
natais, tortas, tristes, feias, horrorosas, lixo; o lixo sonoro –
no centro, mas não só, é comum ouvir em cada loja um palhaço
triste, uma música lixo clamando pelos transeuntes, motos e carros
sonorizados pelas ruas apelam – os latões de lixo no centro é
mais lixo, os enfeites de natal feitos de garrafas descartáveis são
um lixo, assim como toda ideia de gerico de reaproveitamento nesse
respeito. Essas coisas devem ser abolidas, e não se inventar
aproveitamentos lixos com o lixo, quando muito alguma obra de arte
quimérica, que acaba sempre se transformando em um problema de
'arquivo' cedo ou tarde, as calçadas com piso vitrificado, casas
comerciais pintadas em vermelho coca, amarelo skol. por toda parte
lixo.