21 de jun. de 2012

O Artista e o Poder.



A atividade artística é igual a todas as outras, com os mesmos raros momentos de verdadeira genialidade. Não se pode, entretanto, esquecer da possibilidade da obra – e junto dela seu autor saltarem ao plano superior da nossa mediocridade – trazer impresso o caráter político-econômico do seu tempo. É notória a impossibilidade de se apartar a produção – do que quer que seja – do sistema político-econômico subjacente. Isso diz do registro no tempo, do nosso modo de vida, do modo de produção da vida no nosso tempo.
Os romanos têm uma frase sensível: "são como culo e camicia". Onde 'camicia' é camisa mesmo, mas aquela camisa de corpo longo, metida dentro da calça, que no fundo servia como cueca. Chutando alto, a arte foi, antes, necessidade do poder para distração, deste, e logo da plebe. Permaneceram, intimamente, ligados até o famoso Fraternité, égalité et Liberté, gerador do romantismo. Ser romântico é agir romanceadamente, com mais esperança que possibilidades reais. O capitalismo incipiente não tardou em dar-se conta de sua autorreprodução nos pensamentos, atos e abstrações. Quando os filósofos do capitalismo, economistas, economistas políticos e entre eles, Karl Marx; cravaram a equação que equaliza de um lado valor em dinheiro e do outro qualquer objeto, ser ou sentimento real ou abstrato, um que outro se enojaram, mas logo se percebeu não se tratar de cinismo dos pensadores, sim da mais risonha realidade.
Fica assentado então a matriz da esquizofrenia, o duplo e o terceiro. Intento, Gesto e a resultante. A resultante, o terceiro independem da intenção. O gesto é a parte prática do que se quis por tais e quais intenções, como dito antes não fazem a menor diferença, senão que romanceada.
Vira e mexe aparece uma campanha de popularização de alguma atividade artística impopular ou não popular, como preferir. Teatro, por exemplo. É notório que o poder está no populacho, quantitativamente.
Há uma expectativa, ou falsa esperança, ou desconhecimento, quanto à geração de consciência. Jean Paul Sartre se cansou de escrever; e cansou a todo aquele que leu seus calhamaçudos livros; que a consciência está atirada, jogada, misturada ao mundo. O mundo é o mundo das atividades sensíveis dos humanos, da sociedade civil; tais atividades não passam da mais pura concorrência entre as partes; assim o fazer humano é vencer, e nada mais que derrotar o outro. Como ser solidário a outrem na derrota que lhe impõe?
A Arte é atividade humano sensível, como tal padece da mesma esquizofrenia; às vezes agravada e os agravantes vêm do caráter selvagem\competitivo particular do indivíduo ser mais ou menos acentuado; mas na normalidade tão dessintonizado como aquele que reclama paz produzindo escopetas. 

Um comentário:

Gazetta Revolucionária disse...

Muito bom, meu companheiro Cidão!!!