A atividade artística
é igual a todas as outras, com os mesmos raros momentos de
verdadeira genialidade. Não se pode, entretanto, esquecer da
possibilidade da obra – e junto dela seu autor saltarem ao plano
superior da nossa mediocridade – trazer impresso o caráter
político-econômico do seu tempo. É notória a impossibilidade de
se apartar a produção – do que quer que seja – do sistema
político-econômico subjacente. Isso diz do registro no tempo, do
nosso modo de vida, do modo de produção da vida no nosso tempo.
Os romanos têm uma
frase sensível: "são como culo e camicia". Onde 'camicia' é camisa
mesmo, mas aquela camisa de corpo longo, metida dentro da calça, que
no fundo servia como cueca. Chutando alto, a arte foi, antes,
necessidade do poder para distração, deste, e logo da plebe.
Permaneceram, intimamente, ligados até o famoso Fraternité, égalité
et Liberté, gerador do romantismo. Ser romântico é agir
romanceadamente, com mais esperança que possibilidades reais. O
capitalismo incipiente não tardou em dar-se conta de sua
autorreprodução nos pensamentos, atos e abstrações. Quando os
filósofos do capitalismo, economistas, economistas políticos e
entre eles, Karl Marx; cravaram a equação que equaliza de um lado
valor em dinheiro e do outro qualquer objeto, ser ou sentimento real
ou abstrato, um que outro se enojaram, mas logo se percebeu não se
tratar de cinismo dos pensadores, sim da mais risonha realidade.
Fica assentado então a
matriz da esquizofrenia, o duplo e o terceiro. Intento, Gesto e a
resultante. A resultante, o terceiro independem da intenção. O
gesto é a parte prática do que se quis por tais e quais intenções,
como dito antes não fazem a menor diferença, senão que romanceada.
Vira e mexe aparece uma
campanha de popularização de alguma atividade artística impopular
ou não popular, como preferir. Teatro, por exemplo. É notório que
o poder está no populacho, quantitativamente.
Há uma expectativa, ou
falsa esperança, ou desconhecimento, quanto à geração de
consciência. Jean Paul Sartre se cansou de escrever; e cansou a todo
aquele que leu seus calhamaçudos livros; que a consciência está
atirada, jogada, misturada ao mundo. O mundo é o mundo das
atividades sensíveis dos humanos, da sociedade civil; tais
atividades não passam da mais pura concorrência entre as partes;
assim o fazer humano é vencer, e nada mais que derrotar o outro.
Como ser solidário a outrem na derrota que lhe impõe?
A
Arte é atividade humano sensível, como tal padece da mesma
esquizofrenia; às vezes agravada e os agravantes vêm do caráter
selvagem\competitivo particular do indivíduo ser mais ou menos
acentuado; mas na normalidade tão dessintonizado como aquele que
reclama paz produzindo escopetas.
Um comentário:
Muito bom, meu companheiro Cidão!!!
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