Metido
dentro de uma camiseta regata que há tempos deixou de ser branca,
encharcada de suor, e mais nada, Antônio Niterói, tenta diminuir o
calor que sente, voltando a dormir com os pés para os pés da cama,
afasta as pernas, abre os braços, que a barba cerrada, por fazer,
magoava. Decifra o vai e vem do ventilador pelas ondas de ar quente
que espalha, vindo de alguma combustão; lhe vem em meio aquele
torpor a publicidade logo à entrada da pensão familiar, que Sebá
mandou fazer: “bota ai moço, no cartaz” - ar climatizado - e
Antônio Niterói, sem mais poder, sorriu para a câmara imaginária
que se fechava em seus lábios, não farei desse pinico o meu elmo,
se desfez da toalha molhada que antes lhe cobria o tronco para se
refrescar, já quase seca, ainda pego um resfriado e como sou
azarado ela logo vira pneumonia. Espera que o cansaço ou o torpor
ou ambos o façam adormecer para que lhe ocorra em sonhos uma
saída.
De
tanto girar na cama, como um catavento, Antônio Niterói dorme
profundamente. Sonha. Gesticula mantem larga discussão, pessoas
próximas dele, pois parece haver entendimento, nos seus sinais.
Repete alguma vez a palavra sossego, guturalmente. As pupilas se
movem por debaixo das pálpebras. Por fim a calmaria. Um ronco, e
engole a última ostra, lambe-se os lábios. Sossego diz numa
ventriloquia. Assossegado, ele dorme profundamente.
Um raio
do sol nascente penetra através da colcha vermelha, que faz de
cortina da grande janela, que dá para a esquina da José Bonifácio
e Antônio Niterói desperta. De um salto vai para o banho. Pé
direito alto, janela imensa com plásticos substituindo vitrais,
dando ao pátio interno. Da ducha, faz seu o purgatório,
demora-se, amolece a barba, barbeia-se. Ainda se compraz por ter
esse quarto de banho tão amplo. Onde viveu, casado, sendo de
estatura mediana batia com as mãos no teto, no chuveiro, derrubava o
xampu da cestinha de inox instalada no canto do box, com a toalha ao
passá-la das costas para o peito. Compenetrado nessas delicias da
amplidão se vestiu e passou voando por Sebá,
- Nem café homem!
Nem café, nem papaia, cigarro. Salta degraus. Está na calçada, o
sol já sua, as motos, à venda, já invadiram o meio-fio. Antônio
Niterói está decidido, tem rumo, tem direção, mas antes de
alcançar a Saldanha Marinho, vacila, o sentido lhe escapa, para
onde? Olha para trás e
como quem procura dinheiro em bolsos vazios, vasculha a memória, vem
e não vem, então lhe ocorre, que o último sonho era a solução do
primeiro. Dobra-se e bota as mãos nos joelhos como um fundista
depois da fita.
Quando volta a
hospedaria, na cozinha à mesa com Sebá, lhe explica a anedota.
- Você virou detetive
até em sonho. Mas qual o problema do primeiro e a solução no
segundo sonho? Perguntou
Sebá. Antônio Niterói que tomava café e soltava argolinhas de
fumaça, que se confundiam com as partículas suspensas, que
refletiam os raios de sol, assim continuou, com um vago sorriso
somado, Sebá abria o A Cidade e lhe mostrava o caso do rapaz
desaparecido.