5 de mai. de 2011

Os homossexuais vencem aos porteiros da Lei.

Italo Calvino diz: “Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas
culturas que atravessaram”. Ou seja Dickens está em mim e sequer o tive às mãos. Lembro-me da enormidade que era ter a mão Vor dem Gesetz:

Vor dem Gesetz steht ein Türhüter. Zu diesem Türhüter kommt ein Mann vom Lande und bittet um Eintritt in das Gesetz. Aber der Türhüter sagt, daß er ihm jetzt den Eintritt nicht gewähren könne. Der Mann überlegt und fragt dann, ob er also später werde eintreten dürfen.
«Es ist möglich», sagt der Türhüter, «jetzt aber nicht.»
«Wenn es dich so lockt versuche es doch, trotz meines Verbotes hineinzugehn. Merke aber: Ich bin mächtig. Und ich bin nur der unterste Türhüter. Von Saal zu Saal stehn aber Türhüter, einer mächtiger als der andere. Schon den Anblick des dritten kam nicht einmal ich mehr ertragen.»
A palavra kafkiano ocupava em mim a prateleira das, aterradoras. Meu alemão de rua, de baustellen, de turco de quase nada servia, senão que a confirmar ignorâncias. Como foi difícil aceitar, acatar que antes da Lei está o porteiro. Que um homem da terra, do interior, pede que seja admitido às leis. O porteiro diz que agora não concede entradas. O Homem rumia e pergunta se poderia entrar mais tarde.
“ é possível” diz o porteiro, “ mas agora não”
Acaso insista, apesar de meu veto à sua entrada, ouça com atenção: Sou poderoso. E apenas o menos poderoso. À cada sala haverá um porteiro mais poderoso que o outro, tanto que do terceiro sequer suporto avistá-lo.
Eu também fiquei como o Homem da terra interior parado no primeiro porteiro. Posto que sabia sem ler Vom dem Gesetz, que havia de acatar que o mundo era kafkiano, principalmente para aquele que não ignora o porteiro e para este que está ali justamente para o que, antes de mais nada, o respeita, quando há de torná-lo invisível.
Mas há em Wenn es dich so lockt ( se você permanece tentando), versuche es doch( mas ainda experimente, procura, tenta), trotz meines (apesar de minha) Verbotes ( veto, proibição) hineinzugehen. (entrar, vir para dentro) é a linguagem mínima e essencial de um guarda-porta e o caipira.





3 de mai. de 2011

Osama. Obama. Oh! lama!

Não existo como Eu. Pois este teclado e esta tela e todas as outras estão sempre a exigir o meu olhar, o meu palpite, meu sim e meu não. Palpito sobre coisas, aparentemente, alheias a mim. Osama. Que coisa é Osama Bin Laden? Poderia ser um velho barbudo dando milho aos pombos na praça de San Marco ? E o pombo a trazer a morte e a mensagem dela a destempo! Que coisa é o aparelho de guerra norte-americano? Um menino que ganhou um guarda-chuva, mas nunca chove! Na verdade; não me comovem ou me interessam! Ainda que por suas criações de fatalidades venha a ser vitimado. São grandiloquências infinitas e e por isso não cabem, compreendidas, no meu saco de despistes. Não concebo, nem por que minha namorada me deixou, ela que odiava sushi, agora não come outra coisa.
Como narrativa, é uma morte que, por fora de hora, estropia o romance. Como se depois de baixar o pano há um desenlace, e em lugar de catarse gere o sarcasmo,  primo da descrença,  uma esperança masculina travestida em saia e meias três-quartos, escocesas,   a depilar-se os sovacos nalgum cabeleireiro de shopping center.    

Barça! Barça!

Dos que moram em Barcelona, nem todos são culés - culé vem de cola e cola é rabo e culo é cu. Assim culés: os últimos, não são todos os que vivem em Barcelona, mas paradoxalmente, todos vivem o Barça, contras e favoráveis. Os contras em geral são merengues, doce de clara de ovos que enfeita os bolos, em geral brancos, como o Madrid. Mas o catalão é por força; culé, do contrário alega questões políticas, quer dizer e não diz, mas dizem que o Barça está ligado ao separatismo, e quem não é separatista, não é culé. Ser catalão e não ser culé exige folego e retórica; um verdadeiro labirinto só para  dizer que não é culé  e é e que não é merengue e é, ou de esconder que é perico, e perico é periquito e é o que se diz do torcedor do Espanyol, em geral anti-separatistas, eram os proprietários do Sarriá, palco da derrota do Brasil de Tele Santana, Sócrates, Zico, Eder, Junior etc para a Itália de Rossi – Rossi que foi o bastante -, o Barça de hoje é um arremedo daquele Brasil 82, apesar de apresentar em alguns pontos mais qualidade. Basicamente a aplicação tática. E o fulminante ataque à primeira e segunda bola, quando o oponente mantem a posse de pola para a terceira, esta chegará sempre como um tijolo, oblonga e quicando irresponsavelmente já no meio de campo; exigindo assim muita técnica para o domínio e execução de passe, sem espaço e sem tempo; geralmente de um jogador com poucas habilidades – centro-avantes e similares; no caso de hoje Higuain, Aldebaior, outros intrusos etc, assim a defesa culé trabalha aparentemente aberta à base de antecipações e de bolas sobradas e vadias.
No mais o Messi – livre do tango - não cai, Dani Alves – longe da globo - já não faz tantas caras e bocas e todos de modo geral cospem o mínimo possível. É a eficácia do politicamente correto, da solidariedade e da fraternidade. Tirante Lionel Messi – que tem o centro-de-massa abaixo da pélvis, isso quer dizer que ele é mais pesado da cintura para baixo, por tanto aumenta a dificuldade em derrubá-lo; além do caráter, é claro! - , toda a espetacularidade possível é a do passe fácil; dadas a condições: muita movimentação, todos se oferecendo sabedores que outros se oferecerão, mesmo nos recantos mais espinhosos do campo de jogo. Enquanto o adversário, praticamente tem que se inventar a cada minuto, o Barça entra em campo com sessenta por cento da posse de bola e o que fazer com ela – mirem que não pensam grandes coisas, os outros trinta ou quarenta porcento o contrincante com a bola desgovernada nos pés, se dedica a esperar uma indicação divina, mas deus por vezes mostra que está de saco cheio dos merengues. Hoje é um bom dia para comer uma parrillada de frutos do mar em algum bar\restaurante de La Barceloneta e fechar a noite no Luz de Gas e sentir um pouco do catalanismo e sua verve polida.   

29 de abr. de 2011

O PAPEL DA OPOSIÇÃO. FHC se debate com o nigromante tautológico. Parte II.


Ser tautológico é encurtar a guia do cachorro, pois com mais corda o animal começa a criar problemas. Assim o tautológico corta tudo que cresce ao seu redor. Mas a tautologia é mais perigosa que isso; é ruptura entre a inteligencia (capacidade de discernir, entender, plasmar, discutir abrangentemente, etc) e seu objeto ( coisa, argumento, tese, etc), é a ameaça de impor um estado de coisas, onde não existe o pensamento. Ex. Lula é analfabeto.
O povão diz: oposição e governo – políticos - são farinhas do mesmo saco! E essa é a tautologia que o PSDB ajudou brilhantemente – diga-se de passagem – a construir. E não nego, que vem sendo construída ao longo de toda a nossa história recente e remota, com este breve intervalo de desconstrução que começou com a edificação do PT e prosseguiu nos governos Lula e permanecerá no atual e futuro governo Dilma.
Contra este costume tautológico, neste exato momento, FHC convoca suas hostes e como verificação de que seu intelecto anda falto, seus aliados desertam. Somos um povo tautológico. E se nos ocupamos com algo além das extremidades do nosso cachorro é para dizer: Europa é Europa. É! Mas ele é artista! É isso ou aquilo! Você pensa demais! Mais amor menos razão! Por isso, e muito por isso, que na criação, nucleação do PT, encontrávamos imensa dificuldade para rebater estas verdades tão absolutas, tão curtas e rasas, que nos exigiam verdadeiros exercícios retóricos ( não inteligíveis mor das vezes, como se andássemos a mostrar o real por um espelho concavo) , uma simples frase criada, ensaiada, alastrada e repetida por trezentos espartanos que assim bradavam: Um metalúrgico analfabeto com um dedo a menos!
Pensar desta maneira dispensa ter ideias e ter ideias é difícil, e por consequência essa a facilidade faz com que essa preguiça se agigante e se transforme em moralidade vestida a rigor.
Gritam: Petralhas, malandros! Não por assim pensarem, pois qualquer pensamento mínimo e por mínimo que possa ser, não caberá numa palavra. Mas isso não é invenção dessa gente tautologizada e bronzeada, isso é o supra sumo do pensamento de apóstolos, gurus e um que outro anacoreta peessedebista, pensado e ensaiado e expresso pela máquina publicitaria do PSDB, em letras garrafais, em suas cartilhas semanais e diárias, tudo dito com a coluna e o nariz empinado, como se fossem os inventores da lógica e não dos silogismos mas do próprio Aristóteles.
FHC consegue ver que Lula dissolveu esta instituição minimalista que impedia o povão de ver além do focinho do cachorro. E isso se transformou, não só num problema de conteúdo ideológico para a oposição, mais que isso, que não há conteúdo ideológico, há uma tatuagem que aponta para o outro, querendo dizer que estava nu, mas o outro esta despido e é diferente.
E agora é impossível apagar a tatuagem feita sem medir consequências. A pele e a figura tatuada são a mesma coisa e o filó ( programa de partido) não ocultam seu mundo onírico. E a mente brilhante que tudo e tanto fez para criar o tribunal, as leis, o juízo e a sentença; agora quer fazer crer, e dissolver “ontologicamente” tal sistema. Assim termino minha análise da primeira parte do tal manifesto (cinco parágrafos).

28 de abr. de 2011

Manifesto de FHC. O Papel da Oposição. Parte I

“O Papel da Oposição”; manifesto de FHC; começa por um vicio crasso já na premissa, na descrição desfocada da realidade no seu primeiro parágrafo. É notória a dupla jornada de trabalho que nos cabe enquanto trabalhadores; necessárias a desnudar a vicariedade dessa gente. Trabalhar pesado e ainda ler-lhes a realdade. Mas a tais hábitos inveterados não se necessita de instrumentos tão poderosos como a hermenêutica materialista dialética para pô-los à vista de qualquer interessado – desde que este não queira torcer ( por ingênuo ou intencionalmente, médias, analistas políticos de fachada que pensam tão ociosamente quanto os porteiros de edifícios e ai eu não sei quem ofendo, penso que aos porteiros, duas vezes; posto que tal trabalho em si é degradante, etc), enfim ficou longo o parêntesis, volto a torcer a ferragem da estrutura e derrubar o edifício. O que mobiliza o povão são: as condições objetivas que nada mais são que a relação trabalho e capital. Ora vamos, as conquistas democráticas – década de 80, culminando com a CF 1988 - foram as migalhas oferecidas pela ditadura, em substituição ao banquete almejado pelos sindicatos do ABC liderados por Lula – note-se que o festim só não ocorre por clara traição do MDB de FHC e Ulisses -. A prova disso é a risível, para não dizer triste candidatura de Ulisses Guimarães que caiu na lábia do sociólogo; cuja; o “povão” desqualificou com o cortante 3%. Candidatura esta fruto da leitura e análise política equivocada e desnecessária de FHC e cuja ociosidade vige no atual manifesto. O que mostra que FHC não aprendeu nem com ele mesmo, que há tempos disse: esqueçam o que escrevi. Tanto esqueceu que redunda. Não apreende da própria eleição, conquista vinda no bojo do fato econômico – que se pode, tanto atribuir a FHC quanto ao FMI, Capital Estrangeiro Desejoso de Novos Mercados com Regras Menos Voláteis, indistintamente, tudo é o mesmo, sinônimos, mas sempre um fato\ato\concreto\no-mundo-real – que foi a criação do Real. Já o rearranjo partidário citado por ele não nasce assim de suas pregações, mas sim do terremoto: greves metalúrgicas do ABC; e o consequente tsunami; a criação do PT. E a necessidade da união no mínimo vergonhosa das elites (FHC, Militares, Média, Banca etc) para impedir a que seria clara vitória de Luiz Inácio.

O livro infinito.

Diante do visto\vivido pela vida afora, à leitura de um texto qualquer se interpõe, digamos assim, o DNA-sociocultural ,adquirido pelo leitor no seu trajeto de vida, somado a circunstância contemporânea da leitura. De uma maneira, seja, de um velho modo: não há uma segunda leitura de um mesmo livro; haverá outra leitura de outro livro; o mesmo livro. Se o livro muda, posto que as palavras não estão mumificadas, e mesmo as múmias cambiam - em geral deterioram -, digo que será uma leitura outra.   Assim sendo o próprio autor\escritor lerá um livro diferente daquele por ele escrito, ainda quente recém saído do forno da razão sensível. Partindo do acima dito; pergunto, poderia inferir? Infiro; é impossível ensinar “uma”leitura de um livro (não sendo este um objeto estático) que não seja uma visão\entendimento\aprisionamento efêmera de algo cambiante\cinético (algo que por si só é impossível, pois o livro não cabe no intervalo de um piscar de olhos, como a pintura ou a escultura, e mesmo estas ainda que não alterem o significante com o passar dos anos, se não levarmos em conta o envelhecimento, nos oferecerão variedades de leituras, segundo as visitemos ), ainda somada à possibilidade de: partindo de um trecho lido de um texto, tal leitura alterar o futuro discernimento do “o ainda não lido”.   O que nos levaria a eterna leitura\outra-leitura - nunca releitura - do mesmo livro, criando com isso o livro infinito, o que não deixa de ser os livros todos que existem, todos e o mesmo. Assim me parece e me interessa como futuro “educador” é que se leia, inclusive, teorias da literatura. Pergunto: é possível ensinar a ler, algo além dos significados “estáticos” dos significantes?

26 de abr. de 2011

Todo o poeta, um pedaço de rua.

A rua com nome de poeta de repente, desaparece. Olho no mapa e lá está ela, reta, contínua e finita, mas vai além. É sempre assim e o que tenho de rua não me basta, necessito justamente o pedaço de rua que falta. Pergunto; não sei! me diz o dono da loja de autopeças, com sua cara ovoide, como se lhe houvesse acusado de roubar o troço de rua com nome de poeta modernista. Tenho notado que triamos mal, ou ao escolher um interlocutor, preterimos justamente aquele que estaria interessado em nos dar a informação. Ou ainda, o preterido ao se sentir assim, prescindido aguça olho, orelhas e fareja e quer por todos os meios se meter onde não foi chamado. O homem que não mora no bairro, que antes mesmo de ser molestado, disse-me para fugir da insulação: pode ser que ela continue ali atrás. Não agradeci, já que a satisfação foi só dele. Fui à paralela daquela que lhe era perpendicular. Lá encontrei uma senhora, que me disse que nasceu em São Paulo e moro aqui quando ainda não tinha asfalto mas olha moço que eu nunca dei a volta no quarteirão por que vou daqui para a igreja para o trabalho que eu trabalho no supermercado mas Ricardo do que mesmo. Ronaldo disse eu. Pergunte àquele senhor... muito agradecido. Subi a Manoel Bandeira e desci a Artur Ramos então encontrei meu pedaço de poeta, de rua, onde todo o bairro tem nome de poetas e narradores em cada quadrante, uma verdadeira biblioteca, uma aula de literatura brasileira, faltava-me uma estante do Carvalho.