Ando a trabalhar com Carlos, peruano, um craque dos sabores. Aprendi com ele a fazer ceviche de tilápia. Carlos quando soube que outros dias fiz de trotamundo, perguntou-me, quê de mais raro havia comido, pois em seu país comem grilo grelhado, eu disse: salsicha para cachorro quente da sadia. Para ser econômico uso a tautologia: uns gostam dos olhos outros do humor viscoso e amarelado – remela - . A ignorância é uma riqueza, e a tautologia é uma das formas imitativas que esta se nos apresenta. A salsicha é um mito. Mito é tudo aquilo que não era natural e uma vez encampado pelo sistema em que vivemos, torna-se tão natural quanto ele e o olho-d'agua da Serra da Canastra, que é para onde muita gente vai, por “ódio” à Momo. Pronto. Juntei salsicha e carnaval sem nenhuns artifícios não naturais à coesão textual. A tautologia é usada quando quer se impedir a querela, por absoluta falta de alcance, da mesma forma que o mito. Assim não discutimos a salsicha, pela interposição do tal gosto, sendo próprio do outro, não nos cabe meter a colher. O mesmo se dá com mito. São mitos: Nero botando fogo em Roma, Hitler caçando Judeus, a camada de ozônio, a captura de carbono, a emissão de poluentes, a falta d´água no futuro, o fumante passivo, caminhar uma hora por dia, a salsicha alemã, o amor universal, a cordialidade brasileira, carnaval a festa popular, a feijoada, enfim tudo aquilo que em uma mesa bem cultivada cala profundamente, por questões quadradas, e unilateral ( coisa, objeto de existência impossível dentro da geometria tridimensional) por politicamente correto, este o golpe final do mito.
Gosto do carnaval.
Gosto de carnaval. Ainda que tenha me abstido nos últimos cinco.
Assim como da salsicha digo: não sei nem quero saber, digo do carnaval. Eu não sei o que é hoje o carnaval, talvez nos anos setenta e oitenta diria: circo. Mas ao dizer circo, crio um mito esquerdo, e os mitos esquerdos jamais se naturalizam. De outro modo, de circo e de ópera é feito o mundo, não cabendo chamar uma parcela de todos os dias circenses de dias de circo, por criar duplicidade.
Desde Alceu Valença ….Mas eu não quero viver cruzando os braços\Nem ser cristo na tela de um cinema\Nem ser pasto de feras numa arena\Nesse circo eu prefiro ser palhaço... é que sei dessa impossibilidade física.
Assim, sem discutir a salsicha que a cada dia é piorada, ainda que possa parecer impossibilidade inerente a extrema tristeza da coisa em si, pode-se estender ao carnaval o mesmo olhar crítico, não o faço, por ausente. Ausentando-me torno-o, ao menos para mim, coisa, coisa abstrata, naturalizo-o e deste modo “natural” mitifico-o. Ao passo que participante sou carne, carne de carnaval, salsicha.
No blog do Zé Gabriel ZéGabriel que expande esse universo, onde encontro incerto conforto, uma cama de punhais de prata que não deixará dormir o mexilhão.
Alceu valença . em Punhal de Prata disco Vivo
8 de mar. de 2011
4 de mar. de 2011
3 de mar. de 2011
Tal nata tal leite.
É uma teoria singela segundo a qual o leite é responsável pela nata e não a nata pelo leite. Quer dizer se há um leite para boa nata, esta tão-só pode ser boa. De leite ruim não obtemos nata que preste. Certo é que a vaquinha faz o leite a partir do capim que come. Daí que ruim o capim, ruim a vaca, o leite e a nata. Claro que se pode fazer analogias, mas convém que descansemos um pouco delas. É chegada a hora de cuidar da febre aftosa, pois todos queremos a nata, o queijo, a manteiga e o leite integral. Mas não há leite integral se parte foi para as outras coisas e coisas são dados\fatos concretos de uma realidade. Realidade! Qualquer realidade! A realidade é uma leitura parcial da abstração de um todo jamais conhecido, pois o todo não é feito de partes. Não das partições quais necessitamos para entendê-lo, podemos entender os pedaços, mas não o todo pelos pedaços, cujos somados não o integralizam. Inacessível é o todo. Tangível é a vaca. Bebível é o leite.
1 de mar. de 2011
Café e Cigarro.
...fugia da Itália, um fracasso amoroso e laboral. Na ferroviária milanesa havia enchido minha garrafa térmica de café e provido de cigarros. Trazia a mala cheia de roupas sujas, quando não amarrotadas, eu mesmo também, cabelos desgrenhados. O trem noturno cruzava a Suíça. Despertei quando o trem saiu do túnel, este podia ter seu início na noite anterior, mas seria só poesia, fui despertado primeiro pelo fiscal, um suíço, ora, sim com bigodes. Pediu-me o passaporte chamando-me: senhor. Olhava-me e conferia-me em minha foto, reiteradamente, quase vício cinematográfico, da década de 70. Constrangeu-me ao mirar minha equipagem. “ O senhor vai trabalhar na Alemanha, sim!” afirmou ironicamente esperando minha negativa e eu atento à paisagem colossal rente ao vidro da janela embaciada, a poli-la com punhos de pulôver. “ O senhor tem ideia melhor? Indaguei-lhe com a salvaguarda de não ter os lábios finos. Ele fechou o passaporte, mas já ia a rir, sem derisão. Isso levou-me a ascender o cigarro antes de tomar o café. Ele sentou-se diante de mim e lhe ofereci cigarro. Ele exclamou: Oh! Galoise sem filtro! Muito bom. Quer café ? Eu. Oh! Café! Ele. E conversamos; café nós, cigarros nós, mulatas ele, Rio ele, Pelé ele, canivete-suiço eu, caipirinha ele, café nós e cigarros nós, contas secretas eu, cigarro eu e cigarro ele, fumaça nós e montanha com neve a Suíça... esquecer de conferir a minha passagem ele, e na primeira estação depois da fronteira desceu. A porta se abriu e um senhor que não sabia se entrava e se livrava do impermeável ou faria isso antes, e ao mesmo tempo olhava para o signo gastado acima da porta e pensou ter visto “não fumadores”, quando era “fumadores”, e assim metade dentro do impermeável, metade dentro da cabine, um olho no logotipo, um olho na fumaça ziguezagueante do meu galoise disse-me: senhor não se pode fumar neste vagão. Levantei-me e logo que ele desobstruiu a porta e sem sair-me, todo, fixei-me no letreiro e disse-lhe: senhor, raucher. Das ist gut! Exclamou ele. Também sinto, então, fumemos. Disse eu e ele aceitou café e cigarro. E fomos e falamos e fumamos, café que se acabava, até que chegou a fiscal do tramo e pediu-nos o bilhete. O dele devolveu lho a mim disse que faltava que pagasse um complemento, que meu bilhete era de segunda classe e o trem de primeira, mas só cobraria o tramo alemão afinal o senhor pode ter pago à companhia suíça a parte suíça do suplemento, ou qualquer outra possibilidade e eu trabalho para a alemã.
28 de fev. de 2011
Tabaco.
Era uma manhã em meio uma nuvem de moscardos, quando seu avô paterno lhe ofereceu um cigarro de palha para afugentá-los. A troca de sorrisos. O frou-frou das folhas do berinjelal. O silêncio. O menino pensou na proibição reiterada. Mareara! O avô se tirou do lábio inferior um fiapo de tabaco antes de falar. - Não tenha medo - disse sossegadamente. Na segunda tragada o mareio decresceu em intensidade, e ai pode plasmar melhor o prazer; tecer o que encerraria as razões poéticas da quietude, do segredo e do sigilo do avô. Se sentia desenvolvido, o câmbio pelo rito e de ritos e dogmas como seus próprios e excepcionais pensamentos; um misterioso processo estelar. - A vacuidade aguarda certamente a todos que urdem mistificações – disse o avô. Ele pensava em desarmes, não exatamente em ameaças ou chibatadas que são coisas das hostes dos Santos Saudáveis. A sombra do chapéu, o sol em contra o impediam de ver no avô os olhos azuis, os via de memória. As lâminas de tabaco soltas na palma da mão, o lento esboroar dos mesmos dedos que ligam e as enrolam na palha, uma flama e a fumaça iluminava aquele rincão. A cara esquálida, debaixo do chapéu, do menino se agitou e escapou autêntico ou uma versão autêntica, se vestiu de noivo, compadre, véu, flores-de-laranjeira, de lideres desaparecidos, de traidores, nunca selvagemente, acercou-se do mar, da orla, pisou na areia molhada, viu seus pés, lentamente, afundarem na terra palpitante, viu o cadáver inchado de um cão-sem-dono cheio de vermes. O fez que vi. O juro. Mas não sei se aqui.
27 de fev. de 2011
Por que não deste um raio, brando, ao teu viver?
Aproveitando um bloqueio deixo um poema do baiano Pedro Kilkerry musicado por Augusto de Campos e Cid Campos em Poesia é risco.
Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme,
Eu cantaria a tua luz!
E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! Enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?
Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! ceguei da tua luz?
mendimultipliorganiperiodiplastipubliraparecipro
rustisagasimplitenaveloveravivaunivora
cidade
city
cité
augusto de campos
Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme,
Eu cantaria a tua luz!
E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! Enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?
Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! ceguei da tua luz?
CIDADE CITY CITÉ
atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubri
mendimultipliorganiperiodiplastipubliraparecipro
rustisagasimplitenaveloveravivaunivora
cidade
city
cité
augusto de campos
25 de fev. de 2011
Vontade política.
O mundo pode estar a desabar que Vicente Golfeto evoca o mallarmismo, mas podia ser a estupidez laplaciana para dizer: o movimento é binômio vetorial; sugerido pela sucumbência concorrente e livre no espaço euclidiano, entre objeto que fricciona-se com o meio que sofre a ação. Daí ser o movimento: o que resulta da reação do atrito que impede a ação atritiva que impulsiona. Já na Grécia dos homens pensantes montados em homens-cavalinhos, como o Prudêncio brascubano, sob as colunatas da Stoá praticavam austeridades inamovíveis. Zenão era econômico – todos somos economista, outros são palpiteiros - Ah! Zenão era tão econômico que deixou poucos seguidores. Seguidor é o mesmo que discípulo, que é o mesmo que sectário, é mosca na lesma lerda e por último é mimetização, que vem do grego mimetes – com carinho - já tiromante veio do grego turós queijo + mante, prever o futuro usando um queijo. É carnaval.
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