Esses homens! Todos puxavam o mundo para si,
para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as
coisas dum seu modo.
J.G.Rosa. Grande Sertões, Veredas.
Numa palavra a cultura de massa – em si uma figura de linguagem – é o fenômeno distributivo do produto da alienação da autotutela. A ausência da autonomia necessária fez surgirem novos poderes tutelares. O Estado, a moral, a religião, a lei, o direito, o modismo, a televisão, as técnicas psicológicas, as técnicas medicinais, o que deve ser lido e comido e bebido, a informação desvairada que não forma saber, etc. De passagem: a tutela do confessionário da idade média – quando Descartes, por antecipação de cento e cinquenta anos, fez rolar a cabeça de Luiz XVI - foi ao longo destes séculos substituída por infinidade de categorias já citadas, sem prejuízo de outras contidas no querido etc.
Parece gracioso tal processo distributivo, esse passar da tutela absoluta do estado religioso a um espalhamento de poderes tutelares, mas é triste. Triste por se tratar de mera distribuição de misérias. Não há seara – a exceção não deve prejudicar a regra - neste mundo que exercite a distribuição de riquezas. Riquezas concretas como dignidade, matéria, conhecimento e cultura. Pelo contrário o que se vê indica uma expropriação lenta e incessante de setores da sociedade – a citar a classe média – até então tidos como cláusulas pétreas dos países sociais democratas. É irrelevante dizer aqui do antagonismo visível entre classe operária ascendente e classe média descendente, exceto a acusação intestinal e bilateral de preconceito. No centro de tudo está a indignidade, não a indignação, já que a indignação se dá pelo autoconhecimento do indigno que se encontra o indivíduo. Antecipando, pode-se inferir que, ao indivíduo que não se assoma à indignidade que vige sua vida, não se lhe pode pedir a consciência que o outro é tão-só diferente, sendo o mesmo, por se tratar de intangibilidade hermenêutica. A absoluta falta de ferramentas.
Deus como tutor único tinha todas as respostas do nascimento à morte e depois desta. Mas a cabeça de Deus era a cabeça de Luiz XVI rolando ao cesto, e de seu corpo estrebuchando se pôde sentir o respingos dos estilhaços da autoridade até o dia de hoje. Sem, contudo bentos estilhaços deificar cada homem e mulher. Não houve desde logo uma divisão equânime como se supunha. Mesmo na França de 1789 o operário e a mulher não foram considerados cidadão e cidadã. Olhando para o vazio constitucional discriminatório, discriminou e então Napoleão falou: não importam os direitos importam os interesses dos homens. Seria gracioso se cada homem fosse autônomo, soberano; e Napoleão como outros propunha justamente o oposto, não uma moral positiva e universal, mas a mesma de sempre o que vale para mim, só vale quando vale exatamente para mim.
Assim as proposições são sempre obscuras, para que dentro desse obscurantismo alguém se lhe fará de guia.
para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as
coisas dum seu modo.
J.G.Rosa. Grande Sertões, Veredas.
Numa palavra a cultura de massa – em si uma figura de linguagem – é o fenômeno distributivo do produto da alienação da autotutela. A ausência da autonomia necessária fez surgirem novos poderes tutelares. O Estado, a moral, a religião, a lei, o direito, o modismo, a televisão, as técnicas psicológicas, as técnicas medicinais, o que deve ser lido e comido e bebido, a informação desvairada que não forma saber, etc. De passagem: a tutela do confessionário da idade média – quando Descartes, por antecipação de cento e cinquenta anos, fez rolar a cabeça de Luiz XVI - foi ao longo destes séculos substituída por infinidade de categorias já citadas, sem prejuízo de outras contidas no querido etc.
Parece gracioso tal processo distributivo, esse passar da tutela absoluta do estado religioso a um espalhamento de poderes tutelares, mas é triste. Triste por se tratar de mera distribuição de misérias. Não há seara – a exceção não deve prejudicar a regra - neste mundo que exercite a distribuição de riquezas. Riquezas concretas como dignidade, matéria, conhecimento e cultura. Pelo contrário o que se vê indica uma expropriação lenta e incessante de setores da sociedade – a citar a classe média – até então tidos como cláusulas pétreas dos países sociais democratas. É irrelevante dizer aqui do antagonismo visível entre classe operária ascendente e classe média descendente, exceto a acusação intestinal e bilateral de preconceito. No centro de tudo está a indignidade, não a indignação, já que a indignação se dá pelo autoconhecimento do indigno que se encontra o indivíduo. Antecipando, pode-se inferir que, ao indivíduo que não se assoma à indignidade que vige sua vida, não se lhe pode pedir a consciência que o outro é tão-só diferente, sendo o mesmo, por se tratar de intangibilidade hermenêutica. A absoluta falta de ferramentas.
Deus como tutor único tinha todas as respostas do nascimento à morte e depois desta. Mas a cabeça de Deus era a cabeça de Luiz XVI rolando ao cesto, e de seu corpo estrebuchando se pôde sentir o respingos dos estilhaços da autoridade até o dia de hoje. Sem, contudo bentos estilhaços deificar cada homem e mulher. Não houve desde logo uma divisão equânime como se supunha. Mesmo na França de 1789 o operário e a mulher não foram considerados cidadão e cidadã. Olhando para o vazio constitucional discriminatório, discriminou e então Napoleão falou: não importam os direitos importam os interesses dos homens. Seria gracioso se cada homem fosse autônomo, soberano; e Napoleão como outros propunha justamente o oposto, não uma moral positiva e universal, mas a mesma de sempre o que vale para mim, só vale quando vale exatamente para mim.
Assim as proposições são sempre obscuras, para que dentro desse obscurantismo alguém se lhe fará de guia.