31 de ago. de 2014

Promessas de campanha.

Promessas de campanha.

Não dou bola às promessas de campanha. Não destas tacanhas, tipo: “Vou acabar com as filas do SUS”, “Vou manter e aumentar o Bolsa...” etc. No entanto, entendo o candidato fazê-la, porque são as coisas tangíveis de parte do eleitorado. Parte que cada vez cresce mais, quase a beirar o todo. Outro dia a Marina falava de atendimento do SUS, sim, quando você é recebido na entrada do recinto hospitalar. Gestão de pessoal, treinamento, produtividade... Para mim interessa, se o governo vai continuar bancando o défice previdenciário, e como vai gestionar as crescentes demandas da população, e se é viável tal défice, se manterá o regime de aposentadoria como está, quais as intenções relativas a isso, como pretende incluir massivamente no sistema universitário, se continuará tentando distribuir renda, se tem projetos de inovação tecnológica para o parque industrial, se repassará integralmente à educação o já votado, se tem uma política de segurança pública, como se posicionará diante dos crescentes pés de vento mundiais, como se posiciona diante do aborto, como problema de saúde, que posição tem e defende frente ao armamento ou desarmamento, quanto a maioridade penal, quanto à reforma política, sempre necessária, como se posiciona frente a necessidade de reforma fiscal e tributária.

Porque como estamos, os candidatos a prefeito e vereador prometem o que cabe aos governadores e presidentes da república, e estes a cuidar da fila do posto de saúde!

"... sobre a cegueira"

Um homem, parado com seu carro diante do semáforo, em vermelho. Fica cego, subitamente. Uma cegueira leitosa. Quem o ajuda e o leva para casa também cega. Cegam todos pacientes do oftalmologista onde o levou sua mulher, o cego do semáforo. Rapidamente a epidemia se alastra pelo país. As autoridades, decretam que os afetados sejam isolados – como os leprosos de antigamente – para que não se os veja e não olhem ninguém, aparentemente a mirada do cego, cegava. À 'prisão' não havia carcereiros, recebiam a comida que lhes era deixada à porta, não podiam sair, sob pena de morte, que se evitasse o contagio. Tudo dá lugar a cenas dantescas, aonde aparece o melhor e o pior da raça humana. É o romance de José Saramago. Saramago parte da hipótese: “Que aconteceria se...”. É um exercício imaginativo, o pânico, as autoridades sanitárias, políticas, o desborde geral, a epidemia afetando a todos, a Dilma ficando cega, que cega já estava Marina, que tropeçava no cego caído Aécio. Bonner olhando para o céu desferindo ao altíssimo uma pergunta no subjuntivo, com dez vírgulas, dois pontos e vírgulas, era o último a seguir perguntando, agora já fora do alcance da câmera, pois o câmera também cegou. Todos zumbizando em busca de comida, mas só o cheiro do putrefato pode auxiliar na busca, e é isso que comem.
Saramago deixa esta frase enganchada: “O medo cega”, que sai da boca da moça de óculos escuros. “Já éramos cegos ao perder a visão, o medo nos manterá cegos”

29 de ago. de 2014

Almas Penadas.

Almas penadas.

Há algum tempo, dois amigos depois de beberem algumas doses, resolveram se divertir no cemitério de Bonfim. Os moradores do conjunto habitacional inaugurado fazia pouco, ao lado do cemitério, guardavam ainda muito receio e respeito pelos mortos. Se assustavam com o fogo fátuo. Bêbados os dois, se cobriam com lençóis brancos e corriam entre os jazigos. Muitos se assustavam, mas o Cabo, que não tinha medo de assombrações os fez dormir no chilindró um dia e uma noite. Não sei bem porquê, mas esta recordação me trouxe outra, a de Ângela e Dalvino. Ela alta e forte, filha de italianos. Puro caráter e quadril. Dos seus dedos delicados saíam autênticas filigranas de crochê, como correspondia às senhoras, no entanto contam os que a conheciam da juventude, que sabia usar o punho fechado com maestria. Dalvino, era pequeno e calado. Um homem tranquilo que trabalhava no Departamento de Estradas e Rodagens, e seu setor alcançava Pirassununga, então uma distância, que o fazia partir na segunda-feira e voltar na sexta-feira com o por do sol. Era um mundo sem carros e poucos ônibus interurbanos. Ela se consumia. Não confessaria por nada daquele mundo, mas temia perder aqueles olhos azuis e sorriso triste. Se havia criado numa personagem que não se dava bem com as atividades próprias do seu gênero, encontros, chás, cafés, bolinho de chuva, mas era uma sentimental.
Numa sexta-feira já não se aguentava. Necessitava saber se Dalvino a amava com a mesma exasperação. Então fez. Não descuidou de nenhum detalhe. A mortalha negra, o rosário entre as mãos, as mãos entrelaçadas, um círio aceso em cada canto do quarto, uma coroa de flores aos pés da cama. Quando ele chega, o silêncio espesso reinava. Era arrepender-se ou levar o jogo até o seu limite e consequências. Era mulher de opinião. Levou adiante. Não moveu um músculo, nem os olhos sob as pálpebras. Estava morta, para todos os efeitos. Depois de uns segundos de perplexidade, Dalvino desata num choro desconsolado de criança. Se houvesse se dado conta de que àquela cena faltavam os extras, inevitáveis. Mas não tinha cabeça para tanto. A casa de um defunto sempre está animada. Mas não podia pensar. Saiu correndo, pela sala, alpendre, escadas, portão, rua e lá pedia ajuda. Ela gritava morta de surpresa, do leito de morte: “Volta, que só queria saber se me amava”. Não lembro o que aconteceu depois, hoje os encontrei, continuam a ser um estranho casal.


28 de ago. de 2014

Esquerda,Direita, Volver.

Esquerda, Direita, volver!
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A direita sempre foi mais fadada a gestionar a escassez. Porque seus políticos estão sempre mais dispostos a pagar o preço da impopularidade e jogam o peso das crises sobre os mais fracos e pobres, sem piscar os olhos. E sempre contam com a indulgência do quarto poder.
O socialismo, do bem estar social, se debate em pura contradição, ser fiel aos princípios ou buscar novas metas de esquerda num mundo muito diferente daquele que possibilitou o momento atual. Se optar pela moderação, é possível que a curto prazo, que a esquerda real se lance no precipício. Se optar em atuar mais à direita, a direita moderada e pragmática o superará, sempre, pois como disse acima, esta é a sua seara.
A outra via, se assumir o poder, e temo que o fará, pode nos meter numa noite escura, nas trevas.
Por agora, me gostaria ouvir como se cria mais empregos, mais bem pagos e mais sólidos, tudo e ao mesmo tempo, eliminando os problemas da nossa economia. Para mim não me vale de nada curar a economia, a custa do trabalho e do trabalhador. Tudo levando em conta que a nossa economia esteja se sentindo zonza!

Este é o problema da liberdade, antes era só seguir a cartilha do primeiro mundo via FMI. Hoje o mundo anda mais zonzo que nós e seus alopatas andam sem remédios milagrosos, pois que senão tomavam na veia!.       

27 de ago. de 2014

Bonner x Marina.

Willian Bonner fez de novo, desta com a Marina. Com seus pontos de ibope e rating, e milhões de pessoas o assistindo e outro tando agora comentando, seu telejornal se transformou num fenômeno político. E acabará por ser um símbolo deste ano triste. O avião da Marina, o aeroporto de Aécio, a Pasadena da Dilma, todos mortos e no chão.
O que nenhum partido consegue, conseguem os jornalistas, que com sua atuação, os apoios ao governo baixam, sem que a oposição tenha movido um dedo para esta queda. Tão só o jornalismo.
Curioso o efeito que produz, nem o jornalismo consegue fazer, porque não admite, debate, político. Nada mais tranquilizador a um politico que ser acusado de corrupto. É como alguém do outro lado da rua gritar em minha direção: Ô branquelo! Todo mundo olha, se aqui todos somos brancos!
Para condenar a corrupção não é preciso demasiado pensar, talvez sequer pensar fosse preciso.

Diante do quadro, prefiro pensar que a honestidade não é de esquerda ou direita, mas os honestos sim, podem ser de esquerda ou direita, e é ai que está a importante diferença. E é desta diferença de proposição para os rumos do país, e que deveria estar presente na discussão política, que o Willian Bonner foge.

Mimesi

        Falar de sustentabilidade no Brasil, se mero falar, tudo bem, mas se mais que isso é insustentável.

         Neste país Zelig, mimético e camaleônico, se encontra a única pessoa do zoo politico mundial, que se lança candidata a defender tal tese. 
        
   Num país, onde a fome mitigada, a inclusão étnica, a recente universalização da saúde, da educação, a incipiente melhor distribuição de renda ainda encontram seus detratores e faz eco pelos meios de comunicação social. 

      Onde a ocupação por milhares de algumas poucas terras vadias, é reprimida a bala, e a grilagem de muita terra, por poucos, é legalizada, não sem uso das mesmas munições.

      Não há projeto, que aponte para onde se quer chegar como país. Por uns, se vai a golpes de podão, abrindo caminho pela selva, desorientadamente, criando labirintos, ou ainda quem pense em desenhar o melhor traçado entre um ponto e outro, mas não põe a mão na massa.
          Os pontos a serem discutidos são muitos.
    A educação, por exemplo, que é consenso nacional no seu carecer de melhorias, mas que, no entanto, ninguém diz ou se pergunta: Educar\formar para quê? Para onde? Esta pergunta não esgota o assunto, me esgota!

26 de ago. de 2014

Bofa. Bank of American, ou UsAmericano!

USAmericanos!

O imaginário político da esquerda, ao menos da que conheço, sempre demonizou os EUA, com um entusiasmo ensandecido, indizível, por vezes.
Folgo, (acho lindo usar este verbo) que o acima dito, tenha convivido com a sedução gerada no cinema e televisão pelo american way of life, uma contradição menor, justificada pelo poderoso encanto do soft power ianque.
Estava em Berlim dá caída do muro, e vi com meus próprios olhos, que Berlim ocidental era a expressão mais verdadeira do paraíso socialista, com o genuíno nome de Bem-estar Social, com seu sistema nacional de saúde, aposentadoria, educação pública... Já Berlim oriental....
Veio a crise de 2008, mas agora nos EUA, os bancos subitamente aceitaram pagar uns 45 bilhões de doláres de penalização para compensar suas más práticas hipotecárias ao governo, e também aos clientes. Agora leio que o Bank of America aceitou pagar 16,6 bilhões de dolares (globo.com), e segundo The Wall Street Journal, é a maior multa paga por uma empresa nos EUA. Em julho o Citigroup aceitou pagar outros 7 bilhões em litígio similar.
Destes, uns 8 bilhões iram diretamente para o bolso das pessoas afetadas.

Pessoalmente, penso que só me sobra ler estas coisas com os olhos lotados e lacrimejantes da mais insana inveja. Que o deus da nova e da velha esquerda me perdoem!