16 de abr. de 2011

Genra ou noro!

Não sei! diz a Bia. E vemos a linguagem, mais precisamente o substantivo, falto. Incapaz de dizer do ser do qual se fala. Bia busca ajuda nos possessivos. Minha genro! Fazendo cara de basset! Retoma o humor e redunda: Meu nora. A conversação ganha liberdades, levezas e Bia arrisca um neologismo: Genra. Nem a língua está preparada para o que vem e já se divisa. É necessário criar vocábulos. Eu proponho eu, tu, ele, ela, ola, ule, nós, vós, aulhes. Meu, teu, minha, tua, mia, teia, monha, tue. Seu, sua, sue, sal, outros, outras, eutres, autres. Sr. Sra. Sro. Sri. O verbo ser no presente do indicativo ficaria, eu sou, tu és, ele é, ela é, ola ó, ule i, somos, sois, são, aulhes sum. Eu falava com ola enquanto sal amige nos mirava desconfiadi, ule i vaidosi e pensi que todues falamos delhe. Nonada. É perigoso viver.

O tempo perdido.

Faz muito tempo que me deito tarde. Foi uma luta, nem sei se vã, contra a perda de tempo. Não sei se você percebe como estão armadas estas palavras. Vejo-as portando escudos, lanças e máscaras, em nome justamente, e paradoxo dos paradoxos, para algo inefável, e que para tanto devo tirar-lhes o espartilho, as armas. A vaidade é o maior endireitador de colunas que conheço. Chega a levantar o queixo, empinar o nariz. Mas um pequeno inseto que de tanto insistir conseguiu escalar a tela do meu computador, por vezes escorregou ao princípio dela, enquanto eu lia a “A arte de ter razão” de Schopenhauer, chegou à barra de ferramentas e estacionou. Deteve-se sobre o ícone de ajuda do BrOffice, assemelhado à boia do distintivo do Corinthians, tornou a deslizar tela baixo, e quando tornava ao topo, vacilava entre um e outro botão. Perambulava pela barra e lá longe do ajuda, sobre o pincel desanimou-se e deixou-se cair até a barra de rolamento. Quando eu menos esperava, pois prestes que estava, a ponto mesmo de entender o quê da razão pura, lá estava ele às voltas com o ajuda, enamorado, creio e eu cúmulo da maldade, como um deus menino, mudei para o Google. Aqui chego, ao umbral da ausência, coisa acabada e ela convida-me a cruzá-lo, indica com seu olhar, sua calma, uma cama e uma alma simples como se, travesseiro e lençol feitos de algodão quase azuis de tão brancos. Deito-me e seus carinhos me fazem pronunciar um sim.

14 de abr. de 2011

Ode a uma puta: Vivian.

Acabara de sair dum deserto sexual, como todo deserto no meu havia seus oásis, certo é que ou lavava o pó ou bebia uma conchada de mão d´água, para ambos não dava. Sedento, busquei-as. Envolvia olhares, posturas, interesses e desinteresses, premeditação e seus agravantes, gerar superioridade de armas tudo ao mesmo tempo e toda a sorte de eventos de uma narrativa e antes de tudo devia confiar no autor da trama, no enredo, no personagem e por fim no desfecho e um pouco antes ter o sangue frio mais alemão do mundo. Mas o uso do cachimbo entorta a boca. Entre ligar e não ligar, não liguei. Fui dar uma volta na praça do Pará. Não restou dúvidas. Era ela, a mulata magra. Vivian. Custava uma pizza de tomate seco, com alcachofras e presunto cru. E foram todos os dias de um longo outono. No começo não me beijava. Mas eu tanto fiz. Lhe inculcava que era esta a própria razão da boca, fechar em uma união circular, embaixo e encima. E que nada tinha a ver em estar apaixonado por ela, coisa que não estava, dizia. Cheguei a ler-lhe um trecho, que suponha, de Platão. Ai ela falou que eu não tinha coragem de sair com ela para ir pela noite como se fosse seu namorado e eu lhe disse que sim que topava e no dia seguinte fui buscá-la ela tinha colocado um par de lentes de contatos azuis que eram para combinar com os meus que ela tanto gostava de olhar mas que era a única coisa bonita que eu tinha eu lhe disse que tinha mais coisas bonitas que ela só podia ver pelo espelho ela demorou a entender mas quando entendeu me deu um beijo na boca dentro da padaria Romana nesse momento as coisas já saiam por uma pizza de mussarela.

12 de abr. de 2011

Racismo e discriminação.

Tornou-se moda indignar-se com o politicamente correto. Hipocrisia bradam. Macaqueamos os americanos dizem outros. Ora vamos, os americanos brancos botavam os negros a caminhar na outra calçada, sentar no fundo dos ônibus. tiveram a KKK. Nunca esconderam o que pensavam e impingiam aos seus concidadãos negros. Racistas assumidos sim, hipócritas não creio. Mas criaram cotas. Cotas inclusive no cinema, aonde há médicos negros, loucos negros, putas negras, madames negras, chefões negros, patrões negros, diretores de escolas negros, policiais negros, corretores de valores negros, diretores de cinema negros etc. Isso em Hollywood. Cotas. Por aqui, quando o caboclo não tem os colhões de assumir-se racista, ataca o uso do politicamente correto. É notório, ululante que mudar o nome das coisas não as muda. Digladiar-se com a imposição civilizatória do eufemismo é esconder-se por detrás da gramática, e ao invés de discutir abertamente os inconvenientes de que padece a nossa sociedade e tentar resolvê-los, ataca-se e goza-se da troca dos termos malsonantes pelas expressões figuradas.


É nesse foro, o do racismo e outras discriminações negativas onde há a realidade mais espantosa, a dos pseudos-livre-pensadores que andam a deixar suas pegadas na areia e as ondas de algum esquecimento já não têm dado conta de borrá-las, e o eco de seus berros cifrados é colossal, diante de uma atitude mínima do estado como: o bolsa família, cotas etc. Não é no manual de redação que o mundo muda, mas também nele.

Meu caro Hamilton.

Carissímo Hamilton, disse Schopenhauer: Vaga-lumes e religião só brilham nas trevas; acrescento: racismo e preconceito exigem certa ausência de luz. Há povos no mundo que ainda usam os dedos para levar à boca o naco de carne. Ora vamos, os talheres são fatos politicamente corretos. Atos civilizatórios. O lenço para limpar o ranho. As vagas nos ônibus, nos concursos, nos estacionamentos indexadas, linkadas à melhor idade, portadores de necessidades especiais etc. As proibições implícitas e explicitas ao incesto, pedofilia, froterismo, necrofilia etc idem. Osmar Prado no papel de Barão de Araruna, se deliciou e deliciou a muitos, fazendo-de-conta que fazia-de-conta. Eu sou preconceituoso e racista. Por isso sempre que posso mamo de alguma teta cerebral o leite civilizatório: João Cabral de Melo Neto é um úbere e tanto, educação pela pedra.

7 de abr. de 2011

Uma negra que o demônio acordou.

Mallarmè


La Négresse

Une négresse par le démon secouée
Veut goûter une enfant triste de fruits nouveaux
Et criminels aussi sous leur robe trouvée,
Cette goinfre s’apprête à de rusés travaux ;

À son ventre compare heureuse deux tétines
Et, si haut que la main ne le saura saisir,
Elle darde le choc obscur de ses bottines
Ainsi que quelque langue inhabile au plaisir.

Contre la nudité peureuse de gazelle
Qui tremble, sur le dos tel un fol éléphant
Renversée elle attend et s’admire avec zèle,
En riant de ses dents naïves à l’enfant ;

Et, dans ses jambes où la victime se couche,
Levant une peau noire ouverte sous le crin,
Avance le palais de cette étrange bouche
Pâle et rose comme un coquillage marin

6 de abr. de 2011

Bolsonaro. O mártir do arco-íris em preto e branco.

Bolsonaro abriu as portas midiáticas para uma grande discussão. Racismo e preconceito. Uma oportunidade rara para a ampliação e aprofundamento de assuntos tão importantes como pendentes em nossa agenda de compromissos democráticos. Mas é certo que tudo foi atirado pela janela. Resumir-se-á a um pedido de cassação e outro de indenização por danos morais. Bolsonaro não disse mais do que a maioria dos pais deste país dizem diariamente na frente da TV, no intervalo do trabalho, na mesa de butiquim, sinuca, baralho e principalmente diante dos interessados. Estas questões têm suas urgências, mas se há liderança envolvida, é cobra de cem cabeças. Sem prejuízo às punições cabíveis, Jair Bolsonaro fala por muitos, deveria ser instado ao debate, sua opinião é importante, tem representatividade em todos os setores da sociedade. As comunidades envolvidas carecem deste debate. Não é por ser um parlamentar que o cara deixa de ser tacanho como nós. Muitos(muitíssimos) dos interessados escondem o fato a próprios pai e mãe, e estes são votos “do contra” (contra a própria prole) quando pedidos a manifestarem-se, publicamente. É tudo muito estranho, parece brincadeira de esconde-esconde e é só o Jair que não sabe brincar.