6 de jan. de 2010

LA TRAVIATA

Ontem fazia um calor de pelar tomates, de frigir ovos no paralelepípedo. Olhávamos para o termômetro do Itaú – estava mais fresquinho – por vezes o do Bradesco – estava mais acalorado – um “dava” ( são as únicas coisas que os bancos dão) a hora e a temperatura. Um mostrava 34ºC o outro 29ºC – às dez da noite - sentia a boca do forno a soma de ambos. Mad World.
 Derretia-me o toucinho que tenho ocupando o lugar da massa cinzenta. Seguimos fazendo pizza. Pizza é o resultado da transformação termodinâmica do trigo e seus recheios. Temperatura constante - mais ou menos controlada (300ºC), pressão constante e a conseqüente variação do volume. Segunda lei: tudo caminhando para o caos. A pizza crua é algo organizado, o calor faz um rearranjo mais ou menos caótico e nisso corrige imperfeições. Doura a massa, derrete a mussarela, assa a calabresa, sapeca o tomate, mistura os aromas e faz a partir deles um novo. Pizza é culinária. Meu amigo Oswaldo di Lorenzo dizia que: tudo pode ir sobre a massa, e pizza é lanche. Sim tudo, ouro, caviar, percebes, angulas... já vi pizza de estrogonofe, de picanha. Está bem, diria,  só que a soma dos produtos não engrandece a nenhum deles. Ao passo que algo tão singelo, qual mussarela e rodelas de tomate, tiquinho de alho frito e folhinhas de manjericão fazem algo maior que a simples somatória de quaisquer ingredientes nas  suas singelas existências.
 Nada impede, entretanto,  que se façam os descalabros e nada se diga de passagem, isto é assim. Penso sempre nos ingredientes. Não penso nunca no bom gosto, ou no mau gosto,  senso ou na falta dele, penso nos ingredientes. Imagino a picanha, que sonhou a vida inteira enfrentar as grades de uma grelha, ir ao forno repousando sobre uma grossa camada de mussarela! Pobre! Não, Pizza é coisa para elementos com caráter, como anchovas, alcachofras, berinjelas, calabresas, cebolas....

5 de jan. de 2010

Domingo é dia.

Domingo eu marquei com o Cido Galvão uma pelada, uma bába, como dizem os baianos de boa cepa, o que são todos ou nenhum. O que importa é que o Cido não chegou na hora, - quem chega à hora marcada? – chegou à hora da cerveja no Brutu’s. Na verdade o Brutu’s fica do outro lado da rua, isso é bom, pois não vemos a cara de enfado do Bruto. Vemos isso sim o Zé, uma espécie de garção, que trás a cerveja e a Velho Pompolo, afinal é por isso que vimos. O Zé nos aprecia muito e o apreço não tem preço. De repente aparece alguém com uma linguicinha, depois outro com umas finas fatias de carne-seca de próprio punho e gosto. Falamos da pelada e das ainda vestidas e das investidas que o Serginho levou de um sujeito dunguiano que o deixou com o tornozelo inchado. O Cidão dança com o copo de Velho Pompolo e oferece para o Liça, o Liça dizque: - depois que sai não pus uma gota na boca. Verdade ou mentira? Se uma ou outra nós não o saberemos jamais. Então: ver da de. O Baiano veio receber o cinqüentão que faltava receber da leitoa. O Cidão pagou e ambos dançaram outra Velho Pompolo.

é esse mesmo.

bruta sombra e breja fresca.

2 de jan. de 2010

mancada


Hoje fui com o Pedro dar uma caminhada pelos caminhos que há em Bonfim, iamos com nossos pesos naturais e alguns ganhados nos últimos dias, aos poucos a natureza foi nos aliviando tal fardo.






isso é uma jaqueira e seus frutos.


foi só ve-las para nos fazer recordar do visgo que faziamos para "pegar" passarinho.
ai vai Luis Melodia.


Eram milhões de passarinhos

Era um dia encantador

Há quem salve o meu corpo n'àgua

Há quem salve o salvador

O passarinho meu vizinho

Onde é que eu vou cantar

Nesta cidade que me encontro, help

De help mesmo não tem nada

Chô ... chô passarinho viu

Chô ... chô passarinho vai voltar!

Da mata o passarinho lança

De santo campo quanto for

Na terra encerra o berro de um homem

O ferro fere o passarinho

14 de nov. de 2009

Busão


Tomei o circular para Ribeirão. Ele abarrotado. Quando chegou ao Shopping muita gente desceu, então encontrei um banco livre, sentei. Ele voltou à sua lotação anterior. Uma morena gordinha ou dissima logo ancorou sua pança no meu ombro. Fingia uma preocupação com fios da CPFL que enfavelam a Presidente Vargas a rede de alta tensão, desembelezando-a exposta a inclemência dos temporais. Às vezes na falta de um anticiclone, o vento derruba tudo. Nem a minha neura abstraia aquela barriga. Desencostei-me do espaldar do banco. Tentei fugir. Me vinha às ventas um aroma adocicado. Ela mantinha seu umbigo na minha orelha. Sentia uma gota de suor baixar da axila oposta. Aroma vaporoso. Um calor tanto, todo que pensei; Dizer: Você não acha que faz muito calor, moça, (diria moça suavemente) para irmos coladinhos! Um aroma sanguíneo, frutado. Em vez disso; disse-lhe ofegado: puxa que calor, e passei minha mão pelos cabelos da minha nuca e ela veio molhada. Ela disse-me sorrindo, quase cúmplice: quer que abra mais a janela. Respondi por que não! Então ela avançou à janela desaforadamente feliz. Tocava seu fígado com o nariz, suas tripas penduradas no meu ombro e o meu braço sentia seus outros calores. Fonte de todo aroma. Foi quando me lembrei do Charles, sim o Charles Bucowisk tentando voltar ao útero.

fala ai Charles.

...Levantei-me e fui até o fodido banheiro. Odiava olhar-me naquele espelho, mas o fiz. Vi depressão, vi derrota. Umas bolsas escuras abaixo dos meus olhos. Olhinhos covardes, olhos de um roedor caçado por um gato também fodido. Tinha a carne macia, parecia que não lhe agradava ser parte de mim...

Ouvi, calei e na calada desci na parada seguinte, fumei um cigarro. Aproveitei e tomei um sorvete de cupuaçu.

13 de nov. de 2009

Preguiça domingueira.

Simplesmente passei o dia vendo e ouvindo coisas tais como.



clique e veja e ouça-
elomar

clicque e veja e ouça itamar
clique e vejaa e ouça ednardo

que mais fazer,

Poética.

Voltei para casa e o último trem, não voltou ou não partiu. No lugar da estação ferroviária, um jardim um imenso jardim sem nenhuma reminiscência. Fico com a estação que é de minha lembrança. Não se pode partir de um jardim. Não se retorna a um jardim. Minha estação. Digo minha, mas ela é universal. O logos de partir e chegar. E retornar. Já vejo o trem serpenteando pelos subires e desceres levando minha estação. Quando a vi pela primeira vez, senti essa coisa. Essa separação. Esse retorno. Esse Manuel Bandeira. Essa nossa união. Ir e volver sempre a mesma estação. Hoje já nem preciso de sua arquitetura rústica de grandes tijolos avermelhados, senti-a, sinto-a e sinto o sentimento sentido. Minha estação aos poucos quer se transformar em sintaxe. Em poesia. A estação dos sentimentos universais inapeláveis.

clique Aqui.
e Davi Arrigucci te proporcionará uns minutos de transbordamento poético.


Davi Arrigucci Jr. disse também:


"A poesia de Bandeira (..) tem início no momento em que sua vida, mal saída da adolescência, se quebra pela manifestação da tuberculose, doença então fatal. O rapaz que só fazia I versos por divertimento ou brincadeira, de repente, diante do ócio obrigatório, do sentimento de vazio e tédio, começa a fazê-los por necessidade, por fatalidade, em resposta à circunstância terrível e inevitável". Se quiser ler mais faça clique
aqui

12 de nov. de 2009

O mini valhacouto da otariedade.





Dois fatos me fizeram recordar o campus da USP da Fazenda Monte Alegre, nos idos do final dos setentas e começo dos oitentas. Um deles foi a micro saia, o outro encontrar na contracapa do Jornal A Cidade um velho conhecido: Júlio Chiavenato. Assim mesmo, paroxítona terminada em ditongo crescente. Vergando o tempo e fazendo-o dobrar sobre o hoje eu flanava pela Universidade e ele de quando em vez aparecia por lá. Ele fazia palestra, naquele tempo sequer se pensava em conferências. Júlio palestrava. Geopolítica, Golbery, Figueiredo, Usina de Itaipu e uma ponte tão rente ao rio que impediria os argentinos de subirem o rio para comercializar com os paraguaios. Tudo caía bem, acho que éramos bolivarianos, marxistas, maoístas e líamos William Reich à luz de velas junto com as meninas (nós éramos meninos) que não usavam minissaia, se mais não, algumas da enfermagem. Aquelas quê usavam saias mais longas, longas horas se expunham em pelo (tanto que havia de pelos) ao sol à beira do lago, onde a cada final de ciclo básico da Medicina um que outro se afogava, não sem antes se afogarem no chope cedido pela Antártica. Outros, contudo afogavam outras coisas e mágoas. A sensualidade sempre fez mais minha cabeça que o erotismo. Há casos que poderíamos usar a palavra pornochanchada. Assim o trash estaria para o suspense, saltando o terror, como pornochanchada em relação ao erótico e este ao sensual. Mas eu vi A Gata Devassa, com a avó Gimenez. Os homens diante do erótico assoviam fiu-fiu, principalmente os pedreiros. Vivemos num pais erotizado, à beira da pornochanchadização. A crônica do Júlio (e que se me permita tal intimidade do em vez de de) é erótica senão que pornográfica. O texto é uma loira de boas medidas e cabelos tingidos, celhas negras, salto Luiz XV e vestidinho tubinho de malha cor-de-rosa subindo e descendo escadarias da Uniban (a malha não a obedece e sob e sob, ela a abaixa – isso se repete e se repete - diante de pedreiros nas partes baixas das escadarias a apedrejar dores. Começa pelo titulo. Otariedades. O Brasil é rico e o brasileiro é otário. Estado. O bando. Depois vem “valhacouto”. Valhacouto é uma espécie de vestido. Maracutaias. Corrupção. Senado. Currais eleitorais. Grotões. Redutos. Níveis. Otários. Sanguessugas. Ignorância. Povo. Votando. Aproveitadores. No sul. Classe média. Sabe das coisas. Não reage. Morrer nas filas dos postos de saúde. Ela como ele fez tudo certinho, tingiu os cabelos, fez as sobrancelhas, pintou os olhos e espichou os cílios, batom e blush, boas medidas, pouco valhacouto e a gente não gostou.