12 de nov. de 2009

O mini valhacouto da otariedade.





Dois fatos me fizeram recordar o campus da USP da Fazenda Monte Alegre, nos idos do final dos setentas e começo dos oitentas. Um deles foi a micro saia, o outro encontrar na contracapa do Jornal A Cidade um velho conhecido: Júlio Chiavenato. Assim mesmo, paroxítona terminada em ditongo crescente. Vergando o tempo e fazendo-o dobrar sobre o hoje eu flanava pela Universidade e ele de quando em vez aparecia por lá. Ele fazia palestra, naquele tempo sequer se pensava em conferências. Júlio palestrava. Geopolítica, Golbery, Figueiredo, Usina de Itaipu e uma ponte tão rente ao rio que impediria os argentinos de subirem o rio para comercializar com os paraguaios. Tudo caía bem, acho que éramos bolivarianos, marxistas, maoístas e líamos William Reich à luz de velas junto com as meninas (nós éramos meninos) que não usavam minissaia, se mais não, algumas da enfermagem. Aquelas quê usavam saias mais longas, longas horas se expunham em pelo (tanto que havia de pelos) ao sol à beira do lago, onde a cada final de ciclo básico da Medicina um que outro se afogava, não sem antes se afogarem no chope cedido pela Antártica. Outros, contudo afogavam outras coisas e mágoas. A sensualidade sempre fez mais minha cabeça que o erotismo. Há casos que poderíamos usar a palavra pornochanchada. Assim o trash estaria para o suspense, saltando o terror, como pornochanchada em relação ao erótico e este ao sensual. Mas eu vi A Gata Devassa, com a avó Gimenez. Os homens diante do erótico assoviam fiu-fiu, principalmente os pedreiros. Vivemos num pais erotizado, à beira da pornochanchadização. A crônica do Júlio (e que se me permita tal intimidade do em vez de de) é erótica senão que pornográfica. O texto é uma loira de boas medidas e cabelos tingidos, celhas negras, salto Luiz XV e vestidinho tubinho de malha cor-de-rosa subindo e descendo escadarias da Uniban (a malha não a obedece e sob e sob, ela a abaixa – isso se repete e se repete - diante de pedreiros nas partes baixas das escadarias a apedrejar dores. Começa pelo titulo. Otariedades. O Brasil é rico e o brasileiro é otário. Estado. O bando. Depois vem “valhacouto”. Valhacouto é uma espécie de vestido. Maracutaias. Corrupção. Senado. Currais eleitorais. Grotões. Redutos. Níveis. Otários. Sanguessugas. Ignorância. Povo. Votando. Aproveitadores. No sul. Classe média. Sabe das coisas. Não reage. Morrer nas filas dos postos de saúde. Ela como ele fez tudo certinho, tingiu os cabelos, fez as sobrancelhas, pintou os olhos e espichou os cílios, batom e blush, boas medidas, pouco valhacouto e a gente não gostou.

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