A
transparência.
...
sua voz era tão pura como suas palavras, disse: “Eu sou a
Transparência, a única Virtude deste Tempo e do que
virá. Rogo à Discrição, à Reserva,
à Modéstia, ao Respeito, que se retirem amavelmente,
porque seu tempo passou... Eu sou a Transparência, a nova
Trindade: a Verdade a Inocência e a Beleza. Eu sou similar à
imagem, sou a imagem; sou similar à luz, sou a luz, o sol, o
desvelo do oculto, o desmonte dos mistérios, rompo as
mentiras, retiro as máscaras.”
A
Coragem se adiantou, e animados com seu exemplo, fez o mesmo a
Justiça, a Caridade, a Solidariedade. Juntos se inclinaram
ante a mais brilhante das Virtudes. A Transparência os
atravessou com seu olhar fulminante e continuou com seu brilhante
discurso.
“Olhem-me
e afigurem-se a mim. Quero que vossos corpos, corações,
amores, patrimônios sejam maravilhosamente transparentes. Quero
que aprendam a ser honestos, a não guardar nenhum segredo,
manter a porta aberta, transparentes como o cristal, o gelo, as
estrelas. Quero que aprendam a desconfiar de vossos sonhos, de vossos
sonhos poéticos, artísticos, imaginários,
partidários de tudo que conduza à mentira. Olhem-me! Eu
sou Verdade, terrível e maravilhosa, que não tolera a
mais mínima sombra. Sou a perfeita inocência que
denuncia a todos os culpáveis. Eu sou a verdadeira Beleza, que
retira todos os véus e que se confunde com a luz”.
Por
fim, a Transparência levantou seu dedo, o dedo da verdade e os
aproximou de seus olhos ardentes e finalizou:” Não se
equivoquem, senhoras e senhores, sou a palavra mais bela dessa
língua, a última Virtude deste tempo. A que enterra
todas as demais.”
Jean-Denis Bredin.
Discurso sobre a virtude. Na academia francesa em 4 de 12 de 1997.