21 de fev. de 2017

Escrevia um conto, lentamente, com as dificuldades naturais do estilo. Sofria do excesso de influência daquele conto famoso, onde um apartamento, um circo e um coliseu

Escrevia um conto, lentamente, com as dificuldades naturais do estilo. Sofria do excesso de influência daquele conto famoso, onde um apartamento, um circo e um coliseu se incendeiam ao mesmo tempo, em seus dois mil anos de distância entre o recente e o remoto. Chegava um momento em que as personagens Laura e Donato não se moviam. Perderam o interesse por aquela briga. Olhava para eles, e de fato tinham mudado. Lembro de ter ido dormir e os deixar ali, sentados num sofá, numa sala com taças de vinho e garrafas partidas. Com gritos presos a esguichar como sangue pelas gargantas abertas. A espera que se matassem com cacos de vidro enterrados como lanças e o sangue derramado se misturando ao vinho que empapava o tapete. Quando acordei, ia alta a madrugada. Tudo estava arrumado. Os cacos de vidro no lixo. O tapete seco. E eles desfaleciam nus sobre o sofá. O pequeno cão lambia seus pés. Com grande esforço os colocava novamente em rota de colisão. Meu único leitor até então era Grouxo, o sobrinho maranhense, que se aproveitava de meus cochilos e siestas para atormentar

O Néscio só avisa do perigo, quando este já se consumou! Olha a faca! Amanhã não tem feira! Não tem mais confusão!

O Néscio só avisa do perigo, quando este já se consumou! Olha a faca! Amanhã não tem feira! Não tem mais confusão!



A gente fala, espera, teme tanto a Morte Mas quando ela chegar, já teremos ido. Melhor esquece-la.

A gente fala, espera, teme  tanto a Morte
Mas quando ela chegar, já teremos ido.
Melhor esquece-la.

Só você a vê Mas gosto que esteja aí Agora Vê Cuidada Cicatriz

Só você a vê
Mas gosto que esteja aí
Agora

Cuidada
Cicatriz.

Não creio que te digo o quê te digo te querendo tanto.

Não creio que te digo o quê te digo te querendo tanto.

21 de out. de 2016

Bittencourt, os Pássaros e uma Mina de óculos azuis.


Ali está uma centena de pássaros, pardais e sanhaços, agitando as asas antes da chuva e olhando pela janela da casa 255 da minha rua, janela dos fundos, visão de um hectare de céu, bairro San Leandro, Distrito de Bonfim Paulista, Brasil. Doravante referido como Distrito. Pássaros de olhos incrivelmente pequenos, como aquela vez que o vizinho da frente veio falar comigo, e não levava os óculos. Uma cara imensa e olhinhos infantis de pardal. Pássaros de bicos tão pequenos e delicados como o de uma menininha que tenta tomar água do copo e não quer virar o copo e aperta os lábios que se comprimem num “v” como se desse um beijinho.
    De repente entrou Bittencourt( sobrenome escrito com maiúscula) de sexo masculino com RG e tal e coisa, maior de idade, que doravante chamaremos Macedo, ensaboa o sovaco, os braços e o dorso sem deixar de pensar numa mina de óculos, e se dá conta que gosta muito dela. Na realidade já se deu conta disso faz um tempinho, mas do que ele agora se dá conta é que este fato é chamativo porque o dia que a conheceu se recorda de que parecia tão, mas tão feia, realmente.
    O bando de pássaros que está a janela tem algo de formidável, porque me remete ao never more daquele corvo que quer entrar e permanecer na porta de tua cabeça para te torturar permanentemente a alma pelo resto de teus dias, mas pode ser o contrário, sua atitude admite que o santifiquemos, ave da família dos não sei o quê, que vem a te pegar sem piedade para levar-te até a imortalidade.
Bittencourt não se deu conta de os pássaros estavam voando ao lado da janela porque estava na ducha, inclusivamente do fato de ter tocado o telefone faz algum tempo e não escutou. Bittencourt está se enxaguando, se cheira as axilas para ver se está suficientemente limpo. Agora lava os pés e os tornozelos, Ah! E os joelhos. Segue pensando na moça de cabelos vermelhos e óculos de tartaruga que era feia, mas cuja recordação agora o excita e se lembra da camiseta que levava vestida hoje e que a marcava seus seios.
Os pássaros seguem na janela parados no vôo como um helicóptero ou como um beija flor ou como Dario. Sobem e descem somente fazendo variar a variante “z”. Batem asas assaz rápido, não param nunca. Não os entendo, pois a inação leva ao desastre, veja o meu país, se bem sei os pássaros parecem bobos, mas tem lucidez nisso, igual andar de bicicleta e rodar os pedais para trás quando se para e assim se mantem o equilíbrio, igual boiar dando uma braçada mole para não afundar.
Bittencourt fechou o registro, e assim acabou-se o feitiço das gotinhas que lhe caiam no rosto. Quando se desliga a ducha é que se percebe o barulho infernal que ela faz, um ruído, se se presta atenção, que dá calma necessária para se livrar das preocupações. Acabado esse feitiço, acontece outro bem diferente, que é o silêncio sacro de se secar com uma toalha felpuda e macia, primeiro a cara, o cabelo, a nuca e logo por toda a geografia seus interstícios, baias, insulas...


Agora percebo que o bando de pássaros também tem presente um bem-te-vi. Meu deus, agora parece que estão se agredindo e atacam vidro da janela com seu biquinhos. Acho que querem voar dentro da casa, mas penso nas coisas que fariam se os permitisse, um alvoroço de penas por toda parte, lençóis revolvidos livros caindo como dominó das estantes, e eu teria mais trabalho para descrever essa algazarra, ademais que não sei a mair parte das palavras que se referem a tipos de vôos, apesar de ter lido fernão capelo gaivota.
Bittencourt pisa os ladrilhos do banheiro, já saiu do box, mais ou menos seco, dá para saber pelos cabelos que se aglomeram, o espelho está cheio de neblina condensada. Bittencourt está atento a sua pele e a algo mais que as tetas da moça de óculos. Os atos de banhar-se e de secar-se são extremamente introspectivos e sair do banheiro é um processo de despertar e entrar novamente em contato com a realidade de que ninguém está só.

Por isso, Bittencourt agora escuta os bicos bicando os vidros da janela, mas não sabe o que é e que porra é essa? Pensou que chovia granizo, mas o tempo não está para isso, logo ficou com um pouco de medo, pode ser que alguem entrou e esta roubando a casa. Então se assoma à porta, ainda que o faça devagarinho, para não molhar toda a casa, e quando olha vê que é o bando de pássaro bicando o cristal, que caralho é isso! E se lembra de algumas histórias conhecidas de livros de filmes, não é comparável, porque isso é sério, e fica com medo que os pássaros quebrem o vidro.   

5 de out. de 2016

O Guarda Irlandês.

O Guarda Irlandês.

No palco, Camila deCelso andava de um lado para o outro, soltando fogos pelas ventas, há poucas horas da estréia, e para ela o retorno em grande estilo, e ainda não tinham a personagem figurante desnecessária do policial, cujo não era do seu agrado, se recorda dos últimos finais de semanas passados em Casa Branca, São Simão, Aguaí... sempre que olhava para o fundo do cenário, lá estava ele a incomodá-la, quando deveria ser um vaso sobre a mesa, era um barômetro sobre um piano. Ela se perguntava, que tipo de loucura a do diretor em exigir o policial, a resposta permanecia inacessível e o entendimento rarefeito, o melhor a fazer era relaxar, saiu pelas ruas tentando passar-se incógnita, na cidade que nascera disfarçada sob um lenço escuro e cabisbaixa, rumou para praça Sete, que há tempos fora o coração pulsante da noite ribeirãopretana. Antônio Niterói, como sói até hoje, ocupava a mesa do Dr. Sócrates, quando Sócrates bebia no Empório Brasília. Antônio Niterói e Camila um dia transaram, loucamente, e desde então não se viam. Cada um para um lado. Antônio Niterói, com seu lado apagado, em exposição, era o próprio disco de Odin em comparação a Camila, um ser para ser todo visível e de todos os lados iluminada. Meu deus! Quanto tempo! Pois é! Quanto tempo e ainda linda! Ah Nit! Estou um trapo, eu sou um Mila, você está bem, e você mais moça, desde aquele ob ridículo, nem lembrava mais seu merda, muita coisa passou e passei, casou, casei, descasou descasei! Me diga uma coisa Nit tá com pressa estou toma uma comigo não tenho tempo tenho que ir, ainda procuro um policial policial policial? Sim policial, policial figurante? Só policial, tipo boa praça, não precisa ser boa pinta, posso te ajudar conheço uns camaradas no corpo, para que quer? É para fazer o papel de policial, policial irlandês, daqueles hollywoodianos, sim, sabe aqueles que giram o cassetete nos filmes do Chaplin? Sim! E caminham para um lado e outro, sim! Para isso? Isso mesmo, pode ser gordinho? Pode! Pode! Pode? Pode! Beijo na ponta do nariz! Você continua gracioso! Para quando? Hoje à noite. Hoje? Hoje! Nit, seu merda, nem me lembrava mais do ob, cachorro! Abraçados choraram a rir. Tudo em seqüência Niterói procura no celular e acha Clemente. E ai Clemente? Que manda Niterror? Quer fazer uma ponta numa peça de teatro? Quê, eu? Você mesmo, Pit! Vá te fuder Niterror! Olha essa boca! Quê que eu levo, trabalhar com a Camila? Pitanga? Não! deCelso! É boa? Pneu, cê quer ou não quer? Quê que eu levo? Porra Clemente! Só pensa em dinheiro! Deixa de ser safado Niterror, cê quer ficar com toda a grana, não é? Espera ai Clemente. E ai Camila? Sai algum para o policial? Poxa Nit, e o amor a arte, aparecer no Teatro Pedro II, a meu lado e do Zé , dou uns ingressos para a família dele, tá bem? Cê ouviu Clemente? Reconheci a voz, é ela mesmo? Claro! Eu vou de graça! Manda um ingresso pra dona da pensão e tá certo! E o ensaio? E ai Camila, ensaio! Não tem ensaio, vai direto, ele nem precisa abrir a boca. Certo? Certo! Certo ouvi tudo, pensa que sou burro, porra! Né isso não Clemente! Eu sei o que é! Tudo combinado e Camila não quis ficar para uma cerveja. A Antônio Niterói restou-lhe um par de ingressos e um selinho. Merda! Merda. Nem ela nem ele tinham mais aquela pele triunfante de quando se conheceram, ela estudante de artes cênicas, ele era o mesmo, o que talvez houesse mudado é que sabia se barbear sem o cuidado de se olhar no espelho a sua já calejada face, pelos incontáveis prestobarbas, nunca mais se cortou. Sorriu; sorria sempre para uma câmera imaginária, na vigília ou no bar, donde fosse, fazendo uma tomada bem fechada no anacondo sorriso; por ainda não haver passado pelo que costumava dizer ser a eclusa dos sessenta, onde só cabem os que seguirão a envelhecer. Ficou mais a olhar para a cerveja que a bebê-la, e quando Maiara chegou, chegou também a desculpa para não seguir ali toda aquela noite, o Teatro, Maiara, pensava ele, recusaria? Não recusou.

A Peça.


Cabo Clemente, sim o soldado era Cabo, ligou para os seus superiores diretos, não convidou os subalternos, mas sim, alguns amigos da corporação, ligou ao Capitão da reserva, presidente da Aspomil; e aquilo que as vendas antecipadas anunciavam – fracasso - fracassou, o teatro lotou. Nunca se viu gala tão espartana no teatro D. Pedro II desde a plateia, balcões, galerias e frisas, tudo cheio.
Camila na solidão do camarim, branqueava sua pela já clara, será uma buliçosa cantora de ópera. Clemente pronto para brilhar, diante dos seus, na coxia andava muito falador, o contra-regra sussurrava entre dentes: menos Sr. Clemente menos, abria uma fenda entre as cortinas para lhe mostrar novamente o cenário e o lugar dele nele. Ali Sr. Clemente, apontando com o queixo, onde parece uma rua, com uns postes pintados com lâmpadas amarelas, como se postes de iluminação fossem, ali naquela risca, como se sarjeta fosse, de um lado para outro, sim? Sim, compreendo. Por que o senhor ainda não vestiu seu figurino, Sr. Clemente? Como assim, estou vestido! Não, não é esse o seu! Como não? Sr. Clemente, seu figurino é de um policial irlandês, todo em preto e botões prateados e um cassetete, não usamos mais cassetetes, mas não estamos no mundo real. Por fim, não houve quem fizesse o Cabo Clemente vestir-se de guarda irlandês, mas concordou em usar o cassetete, que ainda na coxia fez estalar na palma da mão. Não Sr. Clemente, não faça esse barulho todo, bata com suavidade. Quando Antônio Niterói foi finalmente localizado, para que interviesse junto ao Cabo Clemente, já soava o terceiro sinal. Seja pardelhas e Merda! Disse Camila. Merda! Ressoou. Antônio Niterói zelava por um sujeito impaciente logo após a frisa direita. O pano se abriu.
No primeiro e segundo atos, pouco aconteceu, senão que a ovação recebida por Cabo Clemente de todo a corporação presente, logo que apareceu em cena. Antônio Niterói escorregou na poltrona, escondendo-se atrás do balcão, vergonha pelos outros, Maiara quase a chorar, é tanta emoção! O terceiro ato começa com Leopoldo e Stephen bêbados numa mesa de bar, rodeados de moças alegres, que eles tateiam. Numa cama barulhenta, Camila em exígua roupa de dormir, era Moly sonolenta e ciosa do relógio, sem problemas em sentir o calor de Gibraltar, como se esperasse alguém, que não seu marido, sob o rochedo. Leopoldo e Stephen saem do prostíbulo cambaleantes, Mr. Boylan entrava na casa e subia as escadas e fazia sexo anal com ela, numa cama barulhenta. Leopoldo procurava a chave do portão de casa, encontrava tudo, até mesmo um sabonete embrulhado numa folha de jornal, menos a chave em qualquer dos bolsos, resolveu saltar o portão, como outras vezes fizera  quando trocara de calças e esquecera a chave, Stephen se equilibrava melhor com uma bengala. Leopoldo subiu ao portão. Cabo Clemente empunhou a arma e fez posição de tiro. A corporação que andava atenta aos movimentos de seu pupilo, deixou vazar junto com o sorriso um rumor de: esse é nosso menino! Cabo Clemente sentiu a energia vinda da plateia, das galerias, mãos na cabeça seu meliante! Leopoldo saltava o portão quando foi atingido por uma bala certeira. Cabo Clemente olhou para o Comandante no balcão nobre, que tudo aprovava com um gesto romano. O amante, a amada, o bêbado Stephen, o contra regras, os maquinistas, a copeira acudiram ao morto, que Stephen havia anunciado: José M. Anibal está morto de verdade! A plateia não entendia, era impossível saber quando findou a ficção que fez-se real. Cabo Clemente era o assassino. Duplo assassinato: J. Maurício Aníbal e Leopoldo estavam mortos.


O Juízo.


Em juízo, Antônio Niterói se manteve abstraído na fase protocolar, agora se ajeita na cadeira para ouvir o promotor, sabemos que Cabo Clemente, guarda irlandês, não estava deslocado dentro da peça, conquanto guarda irlandês também não o fosse, é no caso, o guarda irlandês um elemento que traz realidade, do mundo para o mundo da ficção, aportando realismo, disse-me o autor da peça A Casa Caiu, fundamentado no original onde, em todos os passos de Leopoldo, a guarda irlandesa se fez presente, como um vaso sobre o piano, na festa onde ninguém sabe sequer ler uma partitura. Protesto meritíssimo, adiante, um barômetro sobre o piano! Não nobre colega, não existe esse deslocamento, pretendido, na Dublin ficcionada havia, protesto, adiante, não se trata da imitação da Dublin real, mantido, não disse imitada, meritíssimo, a Dublin da obra é ficção, não uma existência paralela, ou imitação duplicadora, prossiga, na Dublin ficcional havia por todas as ruas donde passou Leopoldo a guarda irlandesa, duma Irlanda fictícia e em toda obra a guarda irlandesa ficcional, numa Dublin idem não comete nem um assassinato, assim não há a menor possibilidade, que a personagem reclame uma interpretação, a si favorável, por hora desvirtuada, posto que a personagem, ainda, que teoricamente possa trazer embarcada um leitor implícito, ainda que, levemos em consideração o que determina vossa Excelência, se tratar de um triplo homicídio, implícita a morte do autor, ainda que, uma vez aceite, ocorre a destempo da peça, concluo pedindo aos senhores jurados a condenação do Cabo Clemente por homicídio culposo do Sr J. Maurício e Aníbal, conquanto o assassinato de Mr Leopoldo, que a critica especializada e o tempo venham a julgar.
A defesa pede que a testemunha Antônio Niterói seja ouvida novamente. Profissão Sr Antônio Niterói? Corretor. O Sr Antônio Niterói vive de porcentagens que cobra aos amigos que vendem imóveis pela MRV, pelo empréstimo de sua carteira do CRECI, protesto meritíssimo, prossiga. A defesa depois de desqualificar a testemunha, induz sem prova a se pensar que a trupe nada mais era que uma banda organizada de traficantes da famosa DMSO – dimetilsulfóxido – que atua como um marcador e borrador de sinapses, que poderia como o SOMA, levar o usuário a agir como títere. Antônio Niterói diz, conheço Camila desde os anos setenta, não posso negar que fumamos uns baseados na praça Redonda, olhando o por do Sol, sobre a Vila Virgínia, mas na tarde do crime, ela nada mais fazia que caminhar para espairecer, e me alegava na oportunidade não compreender de modo algum a pertinácia do guarda irlandês, mas cria que não passava de uma alegoria do adaptador do livro para o teatro, uma mimese da galinha imobilizada pela risca de giz em Kasper Hauser, sem sentido e desproporcional, o que é um desproposito? Toda e qualquer ação do Cabo Clemente, não vem ao caso, que um Sr que aluga a identidade profissional, diga que toda a ação policial é um desproposito. Mais alguma pergunta? Dispensado. O nobre colega quer negar inclusive a existência do mundo real, discutindo literatura, alegando que o crime tenha ocorrido dentro de uma obra de ficção, como se se tratasse de uma embaixada da arte na mundanidade, pois bem, e alegando que a mente do Cabo Clemente, como de toda corporação, desvia de sua função preventiva, agindo como se de fato fosse juiz. Vangloriando a guarda irlandesa. Esse homem agiu seguindo como qualquer leitor atento, seu faro de caçador, sua intuição em nome da sociedade. Peço sua absolvição em nome do dever de personagem realista, imitar o real, e de interprete de uma única moral. Os jurados se recluem.

O veredito.

Todos eles, sim eles, são frequentes nesse ambiente, nessa função, entediados, menos um que entra cheio de frescor e romantismo. Seu filme predileto é justamente, Doze Homens e Uma Sentença. Pergunta aos outros se já viram o filme. Um pigarreia. Olha para a janela fechada e desenlaça a gravata, retira o paletó, arregaça as mangas e dá por terminado o trabalho. Culpado. Outro diz, até agora não entendi o tal do barômetro, é um treco de medir pressão, sim, mas por que sobre um piano, do mesmo modo que um Cabo no palco, a gente podia estar no Pingüim, a seis reais o chopp! Não dou conta, e você novato? Eu! Para o Pingüim? Não o homicídio! O teatro está na praça, a praça na cidade, a cidade no país, o país no mundo e o mundo é o mundo mundial e o teatro está no mundo, e o mundo é um teatro; aquele imita este? É, este mundo com aquele dentro; e se se mata, se mata neste mundo, que é este, esse teatro no mundo é aquele num mundo teatral. Contudo penso que deveria ser julgado no teatro, nesse que imita o mundo real que também é um teatro, você quer dizer, numa peça de teatro, não numa, mas na mesma peça de teatro, foi nela que se cometeu o crime. Como assim? Igual no futebol. Certo, o futebol tem a sua corte. É isso! O que você quer dizer com isso ? Culpado! Culpado? É! Pensava que ia querer reverter o onze a um. Não, nunca, se não entendo, sequer, por que não pintaram o guarda no cenário, porque iam economizar cachê. Você leu a manchete do A Cidade? Policial figurante de policial, mata ator de personagem dono da casa que pulava o portão da própria casa, no teatro Pedro II. Vamos acabar com isso! Que a realidade só estraga a ilusão! Bem dito! To contigo! Só se for para já! Culpado.
Enquanto isso no bar Verde da José Bonifácio, Antônio Niterói se aborrece com a pouca idade de Naiara e acaba fazendo um poema como se já fosse velho.
lâmina                antes,                   lisa
fria,                   já não                      desliza,
tensa                 pela pele                   gruda
esqui                na grama, como
esticar               a bochecha,             flácida.
                       Com os dedos.                   astucia
                      Não se desespere.
Não cabe                agora um              talho,
que envergonha,
                         mas o pacto com o                 corpo
                         pode ser desfeito,                   esquecido
que ele começou a des
                                  faz 
                                      er 
                                        -se...