21 de fev. de 2017

O que é a estupidez?


Antes de mais nada, não sei o que é, e reclamo Eclesiastes: “Vãs vaidades. Tudo é vaidade. “.
Sem precisar ir mais longe, quando se fala de sabedoria se diz:
só sei que nada sei”,
que é um exercício de humildade, o mesmo faz-se necessário sobre a estupidez, que é um modo de não ser estúpido, deixando, é claro, a possibilidade de o ser. Afinal, nada mais estúpido se mostrar sábio, tanto se é quanto se não é, o mesmo vale para a estupidez.

Quando se deseja não há nada estupido, e se o desejo é cego, ainda menos. Mesmo se Você se submeter aos caprichos de uma vedete sem escrúpulos, nem assim. Quando se ama não há nada de estúpido, porque se está no âmbito donde não há inteligência, ingenuidade, maleficio, bondade, nem o econômico, nem o errado, o certo, o excesso, pois não pertence ao mundo do raciocínio.
Segundo Carlos M. Cipolla em “Allegro ma non troppo”, não podemos sequer suspeitar a infinidade de estúpidos que habitam o mundo, “stultorum infinitus est numerus “. Inclusivamente, se pode ser um deles, fato agravado pela concepção ontológica de Cipolla, que o estúpido o é por pura natureza, sem ter em conta índices do tipo social, cultural, climático: “ se se é estúpido se é para sempre, independentemente dos âmbitos sócio-culturais que se mova” . Segundo Cipolla, estamos forçosamente numa dessas categorias:
Incautos, Malvados, Inteligentes ou Estúpidos.
Define Cipolla: Estúpidos causam danos aos outros sem obter nenhum proveito, benefício, inclusivamente se prejudicam a si mesmos.






Euclides diz: antes de tudo o sertanejo é um forte





Euclides diz: antes de tudo o sertanejo é um forte, e depois descreve este sertanejo como se fosse a mistura de Hércules e Quasímodo. Mais tarde, Guimarães Rosa os define ou os esconde – não muito – sob o manto dos Catrumanos.
Quem penetrou tão fundo o âmago mais obscuro da nossa gens primitiva e rude, não pode reaparecer à tona, sem vir coberto da vasa dos abismos… é isso, os catrumanos são gente inesperada e primitiva. O bando liderado por Zé Bebelo havia perdido o rumo, o alvo da viagem. Para Riobaldo era o começo, a porta de entrada para algo sinistro.“A hora tinha de ser o começo de muita aflição, eu pressentia” .E de repente aqueles homens podiam ser montão, montoeira, aos milhares mís e centos milhentos, vinham se desentocando e formando, do brenhal, enchiam os caminhos todos, tomavam conta das cidades. [...] E pegavam as mulheres, e puxavam para as ruas, com pouco nem se tinha mais ruas, nem roupinhas de meninos, nem casas. Era preciso de mandar tocar depressa os sinos das igrejas, urgência implorando de Deus o socorro


O jornal O jacobino. Esteve por trás de muitos linchamentos





bicho sem focinheira


A transparência.

A transparência.

... sua voz era tão pura como suas palavras, disse: “Eu sou a Transparência, a única Virtude deste Tempo e do que virá. Rogo à Discrição, à Reserva, à Modéstia, ao Respeito, que se retirem amavelmente, porque seu tempo passou... Eu sou a Transparência, a nova Trindade: a Verdade a Inocência e a Beleza. Eu sou similar à imagem, sou a imagem; sou similar à luz, sou a luz, o sol, o desvelo do oculto, o desmonte dos mistérios, rompo as mentiras, retiro as máscaras.”
A Coragem se adiantou, e animados com seu exemplo, fez o mesmo a Justiça, a Caridade, a Solidariedade. Juntos se inclinaram ante a mais brilhante das Virtudes. A Transparência os atravessou com seu olhar fulminante e continuou com seu brilhante discurso.
Olhem-me e afigurem-se a mim. Quero que vossos corpos, corações, amores, patrimônios sejam maravilhosamente transparentes. Quero que aprendam a ser honestos, a não guardar nenhum segredo, manter a porta aberta, transparentes como o cristal, o gelo, as estrelas. Quero que aprendam a desconfiar de vossos sonhos, de vossos sonhos poéticos, artísticos, imaginários, partidários de tudo que conduza à mentira. Olhem-me! Eu sou Verdade, terrível e maravilhosa, que não tolera a mais mínima sombra. Sou a perfeita inocência que denuncia a todos os culpáveis. Eu sou a verdadeira Beleza, que retira todos os véus e que se confunde com a luz”.
Por fim, a Transparência levantou seu dedo, o dedo da verdade e os aproximou de seus olhos ardentes e finalizou:” Não se equivoquem, senhoras e senhores, sou a palavra mais bela dessa língua, a última Virtude deste tempo. A que enterra todas as demais.”
Jean-Denis Bredin. Discurso sobre a virtude. Na academia francesa em 4 de 12 de 1997.


Explode a casquinha da noz, já não quero me chatear com essas tolices

Explode a casquinha da noz, já não quero me chatear com essas tolices. Meu pedido é parar de falar deles, deixa-los no seu mundo xarope e espantoso, com seus sapatinhos bem postos a comer bosta, com seu falso ideal de mercado e mercadoria que não nos leva a nenhum lado, nem a final incerto. E continua o muar a viver nos atrasos de um suposto séc VII, que só nos dão por acaso garantias de mais gerras e heróis sem causas, e esse meteoro peregrino de merda que bem podia cair e não cai.

resignações

Resignações.

Numa entrevista Borges disse que o poema da traição é mui lindo. E recita uns versos (Wilcock):
Y se besaban enla boca, audaces!
Junto a mis libros, junto a mi retrato
celebrabab su erótico contrato,
tal vez desnudos, tal vez locuaces!

E logo observa: “un mal escritor no hubiera podido escribirlos, Huviese desechado contrato como término comercial; y erótico contrato lo hubiera asustado como cacofonia, que es apenas visual. Como escribiria el ultimo verso un tonto? Tal vez desnudos, y talvez vestidos. ( Ibarra diria: no puede poner vestidos, porque tiene que rimar com audaces. El genio no esta para pavadas y se resigna a escribir locuaces) Ibarra creia que todos los aciertos se debian a resignaciones”


Escrevia um conto, lentamente, com as dificuldades naturais do estilo. Sofria do excesso de influência daquele conto famoso, onde um apartamento, um circo e um coliseu

Escrevia um conto, lentamente, com as dificuldades naturais do estilo. Sofria do excesso de influência daquele conto famoso, onde um apartamento, um circo e um coliseu se incendeiam ao mesmo tempo, em seus dois mil anos de distância entre o recente e o remoto. Chegava um momento em que as personagens Laura e Donato não se moviam. Perderam o interesse por aquela briga. Olhava para eles, e de fato tinham mudado. Lembro de ter ido dormir e os deixar ali, sentados num sofá, numa sala com taças de vinho e garrafas partidas. Com gritos presos a esguichar como sangue pelas gargantas abertas. A espera que se matassem com cacos de vidro enterrados como lanças e o sangue derramado se misturando ao vinho que empapava o tapete. Quando acordei, ia alta a madrugada. Tudo estava arrumado. Os cacos de vidro no lixo. O tapete seco. E eles desfaleciam nus sobre o sofá. O pequeno cão lambia seus pés. Com grande esforço os colocava novamente em rota de colisão. Meu único leitor até então era Grouxo, o sobrinho maranhense, que se aproveitava de meus cochilos e siestas para atormentar

O Néscio só avisa do perigo, quando este já se consumou! Olha a faca! Amanhã não tem feira! Não tem mais confusão!

O Néscio só avisa do perigo, quando este já se consumou! Olha a faca! Amanhã não tem feira! Não tem mais confusão!