12 de abr. de 2016

Á inocência não convém a Política.

A inocência não convém, em Política.
Num país longínquo derrubaram a presidenta da presidência. Não era improvável que sucedera, mas não queríamos crer, porque esse país tão longínquo, como qualquer outro país longínquo, está à porta de casa.
A história, longe de se comportar dialeticamente, se move a golpes e espasmos, e se faz notar novamente. A história, ainda que não nos goste acreditar, é, sobretudo, isso: O de repente.
Os rins da história são propensos às cólicas; é comum ao se expulsar a pedra, que se salpique de sangue. Esses sujeitos que expulsaram a presidenta, não os encontraremos nos ônibus que costumamos ir, mas são nossos vizinhos, perseguem o poder com bombas atômicas. Mas, nós aprendemos a pensar em outras coisas. Não que não damos a menor bola, porque, certamente, Dilma não seja uma pedra no rim, mas talvez nos tranquilize um pouco o bom aspecto desse nosso vizinho, que não viaja com a gente de ônibus.
Faz tempo que renunciamos a fazer política, exatamente desde que nos fizeram acreditar nas mãos limpas. Os grandes países têm interesses ideológicos para serem defendidos fora de suas casas; a países como o nosso só permitem ter interesses comerciais.
De fato, o país dessa presidenta deposta a golpes nos rins, é um país assim, que deveria se manter somente com seus interesses comerciais; e para defender interesses comerciais basta ter as mãos impolutas e assistir aos coquetéis que vai gente com muita grana ( a grana sempre cheira bem, ainda que proceda de bolsos tenebrosos).

Ouvirei esta noticia no domingo, voltando de algum passeio, talvez já a noitinha, porque à noite não se vê o que está alem do nariz, talvez me encante, nesta noite, contemplar o próprio nariz. 

Radialistocracia.

Da Democracia sempre se disse: é uma bosta mas é boa. Nunca encontrei, nem razoável, as condições de nossa democracia. Um exemplo besta: Um cara que fica diariamente usando de um microfone de rádio "falando mal do político de plantão", por fim se lança candidato, sem partido, sem programa (mínimo sequer) de governo, resulta que é conhecido demais, e recebe os votos, em troca daquele seu " descer o pau " no prefeito. Temos exemplos gritantes em Ribeirão Preto e Campinas, de radialistas eleitos, sem ter a mínima noção de "Urbanidade", e o pior, ao fim e ao cabo, nem tapar os buracos das ruas, essa coisa singela, conseguem

Impeachment é um estupro, mas foi ela quem provocou, dizem que.

Um disparate. Quase dois anos impedida de  governar, um estupro, mas foi ela que provocou, dizem que. Impedida de nomear ministro, numa clara interferência do Judiciário, aonde não lhe convém, na Política. Alguém pagará os pratos quebrados, trincados e sujos desta festa insana. Há dois anos, muito mais, concentrados em buscar um culpado pelo próprio fracasso empreendedor. De vaza em vaza vão amealhando milho para compor a foto final.
Para essa foto, que a Nobre imprensa redundará, muitos se ajoelharão ecumenicamente. E Hosana das alturas bendirá cada centavo a menos do teu soldo. Mamem!

10 de abr. de 2016

Deiscência.

Deiscência.
A deiscência é a ironia do limite. Aquele momento, em que um acontecimento se veste de domingo, de ver deus, é a primavera.
É coisa botânica. É a maturação natural de uma planta que liberta seu pólen, semente. Abertura espontânea para aquilo que estava trancado.
A deiscência é a alegria do que amadurece, para transbordar.
Eckhardt (1260-1327) dizia:” a natureza é um todo deiscente, aonde o imanente é o transcendente, e ao se escutar o fundo rumor germinal da terra se depreende a equivalência da Sexta da Paixão com a Ressurreição.” Foi declarado herético.
Neste momento deiscente digo que está com meus propósitos, está como sou. Amadurece algo em mim fechado, e que se cair ao solo, bendirei a árvore humana que me produziu, porque sempre escapo do que quer me prender.
Como em Êxodo (3,14): Serei o que serei. 

8 de abr. de 2016

Muitos Gemidos para um Rato ser Parido. .

Escrevia Horácio há 2000 anos : “parturiente montes, nascetur ridículus mus” ( as montanhas parem um rato ridículo). Fazia referência a outra fábula, escrita 7 séculos antes dele, por Esopo, (livre tradução)
Com vários gestos horrorosos,/
os montes ao parir deram sinais./
Consentiram os homens temerosos

ver nascer os abortos mais fatais./
Depois que com uivos espantosos/
infundiram pavor aos mortais,/
estes montes que ao mundo estremeceram/
um rato foi o que pariram”
Como se o tempo não passasse, a fábula, que fala do fato de que aqueles que mais ostentam, são os que menos fazem, volta a massacrar, com muita atualidade.
Pequeno recuo no tempo.. No portal do g1.globo.com de 27/10/2014, uma pequena manchete “Dilma nega divisão do país....” junto ao resultado das eleições.
Já em 27 de outubro de 2014 começava a se parir este rato, que vinha sendo engendrado há tempos, mas ali começa o grande barulho, o grande ruído, a manutenção das mentiras que já vinham sendo espalhadas, desde os campanários, nos últimos anos, sem pudor, doravante, sem pudor; se obviava a gestão de um nefasto golpe, impedindo o governo de governar.
Tenho claro cá comigo, que os níveis de corrupção generalizada e institucionalizada me são incompreensíveis para uma república democrática. Os políticos formaram bandos delitivos. Todos juntos, com seus roubos sistemáticos, uns uivam que são os outros, apoiados por instituições públicas e privadas, como se nada tivessem, ou têm feito. Mas que no meio desse barulho, o que está em jogo é o Estado de Bem Estar Social, que nunca tínhamos tangenciado, e como meteoro anunciado, passaremos ao largo do nosso planeta distributivo e social imaginário.

Com suas vozes portentosas, com seu alto-falante global de campanário de igreja matriz, anunciam os crimes alheios, primeiro escondendo os próprios, mas escondendo acima de tudo o retrocesso, sem juízo, dos direitos das classes trabalhadoras. Na fábula, tanto barulho dá em vento, mas aqui, o que se vê são perdas inestimáveis. A começar pela própria democracia.

7 de abr. de 2016

Espelho no teto.

Dito, digo, Benedito manejava teoria estética que contrariava a ideia
dos estoicos. Para os estoicos a beleza era impactante por sua simetria. Seu discípulo, Manezinho Pernambuco, conta que Ditão, depois de provar com muitos sabichões, mais bichões que sábios, ficou fascinado com Antônio Saco, um homem que levava a vida levando sacas de café, na estação da Gironda e aprendeu com ele a amar, como busca eclética, a tal ponto, que abandonou Stoa para acompanhar Cido III, o Grande, na sua viagem á Pérsia, que tinha como finalidade, se familiarizar com os vedras. Não consegue, porque Cido III foi morto, e ele teve que se virar. O que acabou, por fim, por vingar, foi sua ideia da arte como espelho; o que pode perfeitamente servir de metáfora para traçar um paralelo com o re-design de nossas fantasias sexuais com espelho no teto.


O Sorriso dos Lábios de Cabra.

Renan teme chegar atrasado ao trabalho, faz cara de náufrago míope logo que vê terra firme, seu ônibus parado no ponto, B/J 315, famoso Lapa. Sai correndo até o ponto, quando de repente lhe corta o caminho, a miserável Berta, que empurra seu carrinho de supermercado lotado de latinhas e garrafas pets vazias. Renan bate a canela contra o metal, rasga a calça, e o sangue mancha de vermelho sua calça azul. A porta do B/J 315 se fecham com seu barulhinho de

despressurização e o ônibus se vai, deixando na sarjeta Renan, o furioso.
- Maldita Berta! Sua bruxa fedorenta, me fodi por tua culpa – grita Renan. A mulher do carrinho de supermercado o olha ameaçadoramente, com olhos carregados de exóticos segredos. Mostra o pai-de-todos da sua mão direita, com os demais encolhidos. E murmura algo incompreensível, dá uma escarrada, limpa na manga da blusa, e se vai empurrando seu carrinho. Renan se esquece dela imediatamente e fica ali no ponto, esperando o próximo B/J 315. À suas costas há um imponente anúncio de protetor solar, a colossal figura feminina se ajusta no biquíni com assombrosa despreocupação.
O tempo passou devagar. Por fim, com passo de tartaruga, um ônibus se anuncia longinquo. B/J 315. Parece ser. Sim, é um B/J315, segue sendo até uns metros antes dali; mas o B/J315 se converte em B/J351 ao se aproximar. O motorista ri ao passar e os que vão às janelas o olham comiserados. Nenhum olhar tem mais despeito que os lançados pelos que estão em ônibus, que não é o que o sujeito que está no ponto espera. - Juro pordeus que era B/J315 – juro, o motorista mudou, de última hora! Exclama Renan.
Outros números, outras combinações de números e letras, outros dizeres passam diante de seu nariz, fugindo dele, como se houvessem todos combinados numa pegadinha. Os nomes duvidosos, alguns sem letreiros, apagados, e logo mudam... sim, sim, sim é o Lapa, grita Renan e alça a mão. E quando passa é “puta que pariu”. E até a o próprio ônibus dá uma gargalhada. Então ouve uma voz suave às suas costas. “Lenan, tenho a lesposta”. Renan se vira, bem ali ao lado tem uma pastelaria e na porta um homem vestido de guerreiro de Xian do Imperador Qin, por motivos provavelmente publicitários, mas a armadura não é de terracota, sim de plástico. O falso guerreiro, olha disfarçadamente para o interior da pastelaria e diz a Renan em tom confidencial: “Agora que o dono não me olha, falarei normal. Essa mulher que empurra esse carrinho com latinhas é uma bruxa, indígena, e te jogou uma praga, eu já vi ela fazer isso outras vezes. Por isso os ônibus parecem mudar o letreiro, mudar o número. Pura magia, urbana. Não mata, mas fode, enche o saco.” e acrescentou, no fundo da pastelaria o chinês vende amuletos contra essas magias”. - Ah! Vá pro caralho, você também! Eu não acredito nessas merdas! Responde Renan meio transtornado... Acho que vou de Metrô, pensou... Ainda sentindo sua perna latejar pela ferida, Renan desce as escadas da estação Catedral da linha-1 verde. Quando chega, desconcertado, está na Estação Pinguim/D.Pedro linha 2 lápis-lazúli. Então bate o desespero, Ribeirão não tem Metrô nenhum.... o trem despressuriza, e Renan vê o sorriso dos lábios de cabra da condutora...