É
frustrante não poder estereotipar, não poder criar uma
metáfora do desfile de ontem, já que foi a marcha dos
estereótipos,das metáforas convertidas em carne e osso,
como se a avenida se enchesse de Brás Cubas, Odete Roitman,
Maria de Fátima, Leôncio, Paulo Honório,
Hermógenes, Bentinho. Qual a graça de dizer: Olha, o
Leôncio! Onde? Ali, e é de verdade! Ou alguém
sem ter tomado um porre de vinho doce chatô do papa, pode
acreditar no visto e não sarar a dor de cabeça.
Uma
trupe de Trumps!
A
proto-elite em desfile pelo paulistódromo, a estourar champã,
arrastando babás, exibindo toda a arrogância de
boutique, prepotência mesquinha de canais a cabo, cabeças
feitas em academia com acabamento de haute coiffure do jardim nova
conceição, com apoio da TV que todos vêem, da CBF, Federação Paulista, Carioca de Futebol,
da TV á cabo, dos jornalões e jornalecos, do Metro, da
Policia, da justiça, do ladrão de merenda, da OAécio
construtora de aeroporto, do bolsonaro, do feliciano. Incomodando
mendigos.
- Orra
meo! cê viu o mendigo da CUT!
- Che voglio dire! Bisonho. Não
sei como não encontraram um Prudêncio. Quer dizer,
sei... só havia brancos, tirante babás, acorrentadas ao seu
papel. Metáforas em carne e osso, materializadas.
Se houvesse um
louco para dizer: "seus olhos são dois oceanos", morria toda
gente afogada. Era Brás Cubas sendo Brás Cubas, ao
vivo e em verde amarelo. Denotativo. Realmente, um desfile de
milhões de Brás Cubas, pior, Brás Cubas sabia que estava morto, não tentou reencarnar.