2 de fev. de 2016

Rir, Educação Para o Futuro ou Toda Cinderela Tem Sua Meia-noite.

Rir, Educação Para o Futuro.

Toda Cinderela tem sua meia-noite.

Vivemos um momento histórico singular, mui singular, o mais especial de todos – como todos - nunca antes ficou tão pouco claro o que é uma boa Educação, e nunca antes lhe foi outorgado tanta importância como credencial social, ou teve tanta importância para se ter o máximo êxito na vida.
A boa Educação é aquela que propõe limites severos à molecada, para com isso botar-lhes limites severos à exagerada volta do pêndulo pedagógico da permissividade em plena época da intolerância às frustrações pelas satisfações imediatas, a dos gadgets tecnológicos vertiginosos?
É uma boa Educação a complementação da educação formal os esportes, idiomas, música, artes marciais, visitas turísticas aos altruísmos junto ao tecido social mais vulnerável da nossa sociedade, ou tudo não passa de exigências excessivas? Afinal, uma simples inversão, o filho que é quem busca um herói, acaba por ser superman em construção daquilo que não somos? “Viva e deixe viver”, ainda vale?
Afinal, sabemos muito pouco sobre o futuro, mas sabemos que não sabemos como será a maioria das profissões do futuro, assim, como preparar a molecada para ser algo, que no dia em que serão e farão, talvez para tanto, fará melhor um robô?
Indo pouco mais adiante, como os valores mudam, então, como lhes inculcar valores, se já vi a castidade, a virgindade ser um grande valor, depois passou a ser digna de vergonha quem o fosse, para então a “ménage à trois” ser uma vergonha, e logo vergonha era não ter nunca praticado. O que era luxuria passou a ser sinônimo de sanidade, de uma sexualidade livre que ajuda a queimar calorias, e neste momento a gula é a nova obscenidade.
Quem diria que a liberdade de pensamento começasse em algum momento a tangenciar o Fascismo? Quem diria que o laicismo não se adaptou ao multiculturalismo que abraça como ideal?
Quando era menino, os paradigmas, quaisquer – mesmo no futebol os times eram eternos, todos sabíamos escalar o nosso time, e de quebra o adversário – tardavam em mudar, estavam sempre no horizonte.

Portanto, que a Educação permita o riso, porque o riso está cheio de consciência, aguda consciência, e elevada lucidez.  

29 de jan. de 2016

Rebobinar.

Rebobinar.


Botar a mochila no barranco, descalçar a bota, desfazer o caminho, sem olhar para frente, desler livros, apagar blog e relatos óbvios, descomentar comentários, despronunciar desfirmar posições, desamar, desapaixonar, desodiar, desvisitar cidades, mares, praias, montanhas, desver alguns quadros esculturas exposições, desconhecer certas pessoas, desassistir filmes, reuniões, desvotar, desfiliar,  desparticipar de cerimônias inúteis, desvoltar, recolher bitucas de cigarro, apagar a luz, sentar, em silêncio.     

Pontual.

Ele tinha esta clareza, aos encontros marcados, aos lugares que têm hora para começar, se vai ou não. Era o seu lema, sua ética. A frase não tem, como direi, brilho para luzir por ai, mas o identificava com tremenda precisão. Era um homem pontual, de raspão com a obsessão. A remota possibilidade de se atrasar lhe provocava desassossego, em flerte com a angústia. Especialmente na hora de viajar. Tanto fazia a distância. Vivia a três passos do ponto de ônibus, mas saia de casa uma hora antes, em qualquer caso. Óbvio, era sempre o primeiro. Isso lhe permitia o  excêntrico capricho: sentar no primeiro banco, corredor,  ao lado do motorista. Era a sua debilidade. Cada vez que o companheiro de poltrona descia e outro subia, cedia a passagem para a janela, era um preço que estava disposto a pagar, para usufruir da panorâmica, da paisagem, que o lugar oferecia. Na volta, a coisa se complicava. Custa crer, mas esse desejo, mania, era compartilhada com muitos companheiros geracionais. Alguma discussão em tom mais elevado foi vista na estação rodoviária, entre os aspirantes a copiloto do circular. Parece que o pessoal do primeiro e segundo quarto do séc XX tinha a personalidade mais definida. Basta se fixar nas velhas fotografias escolares. Rostos rudes. Não se comparam em nada com as fotos de funcionários felizes da M. Narizes importantes. Olhares para uma escadaria que baixa a um mundo inóspito, de quase miséria. Vida dura, ainda que se houvesse sido menino mimado em casa de boa família.

Baseado no fato de que Salvador Dali exigiu embarcar 48 h antes do navio zarpar para Nova York, na sua primeira ida aos EUA, por ter medo de perder a hora. 

28 de jan. de 2016

A Vida.

A vida.

Para viver há que se abraçar a vida em toda sua esgarçada e fragmentada liquidez, no que tem de boa e má, amar a Dilma e o  câncer, FHC e a Zikai, Aécio e Zé Dirceu. O humor não existe como ornamento escapista, é a hilariante ferida suicida que faz da merluza bacalhau ou sereia, sábio ignorante, Bolsonaro em diamante, o relaxamento que permite mijar na mão do amante. 

27 de jan. de 2016

não carrego a carteira vazia mas transparente

não carrego
a carteira
vazia
mas transparente

Quando ela pensou hoje se atreveria abraçá-lo todo ele era mar

Quando ela pensou
hoje se atreveria
abraçá-lo
todo ele era mar

Entrevista com Mula sem Cabeça, presidenta do Sindicato dos Fantasmas Esquecidos.

Entrevista com Mula sem Cabeça.

Me conte, como tudo começou?
Era amante de padres em pequenas vilas, os padres frequentemente tinham seu muar, para todo o uso, mas de vez em quando saiam comigo (olhar perdido).
Então, nem sempre foi uma mula?
Era uma moça comum e trigueira, até que o pároco levantou a saia, a minha e a dele ( risos), e nos tornamos amantes.
Você levava uma vida normal.
Sim, só que estava proibida de ir à missa. ( emburrada)
Por quê?
Porque algo poderia acontecer e não se sabia o quê.
E você ficou curiosa e a acabou por ir?
Um pouco foi curiosidade, outro tanto foi a paixão. Me apaixonei pelo padre.
Me conte que aconteceu.
Tudo corria fluentemente, o Padre me olhava com medo e cautela, até que quando ele levanta a hóstia, ela desaparece.
A Hóstia desaparece?
Sim! (olhos arregalados)
E desde então Você se transformou na Mula sem Cabeça?
Não foi imediatamente, pois o padre andou a pensar um pouco, não queria me perder, e como ele tinha lá seu muar, por bem eu seria mais uma no meio delas, e o povo não desconfiaria.
Quer dizer que seu encantamento a transforma numa mula normal e corrente?
Sim.
E quando é que você perde a cabeça?
Justamente no ato amoroso. (gargalhada) Como castigo, não esperado, saio a galopar, assombrando e soltando fogo pelo buraco da cabeça. As vezes relincho e as vezes soluço. ( piscando o olho como um gif)
E não há como acabar com o encantamento?
Agora não mais, porque o padre teria que me amaldiçoar sete vezes antes de celebrar a missa, como ele já morreu, já não é possível. ( olhos lacrimejam).
 Por isso que andas triste?
Não, não é por isso não, ( decidida) na verdade ando triste porque ninguém me vê como antigamente.
E por quê?
Foi uma mudança lenta, (professoral) mas tudo começou quando iluminaram as ruas, as casas. Com o passar dos anos tudo está cada vez mais iluminado. E há tanto ruido, barulho de carros, toda gente vai com fones de ouvido, ouve-se música no volume máximo, que por mais que me esforce já não consigo ser vista. Além do que, há muito zumbi andando por ai que espantam mais que eu, tanto quando alguem me vê, vem até mim e se nos fotografa.
Daí que nasceu a ideia do Sindicato?
Sim, fizemos umas reuniões, com os companheiros, ( o próprio Lula) o Fantasma que Arrasta Corrente, Mãe D'água, Mãe da Lua, e muitos outros, somente o Saci Pereré não quis tomar parte.
Por quê?
Ele anda assustando uma cidade perto do vale do Paraíba, (Pelego, não disse mas pensou) e assim vai fumando seu cachimbo.
E qual vai ser a sua luta no Sindicato?
Vamos lutar (Ciro Gomes) contra outros monstros modernos que tomaram nosso lugar.
Você pode me dizer quais são?

A maioria ( cara de coxinha) começa por “I”, IPVA, IPTU, e alguns animais que já têm seu serviço e invadiram nosso espaço, como o Leão do imposto de renda, o Dragão da Inflação,...