3 de jan. de 2016

versinho

Uma folha que passo,
chega o 16.
Quanta inquietude
Os bons propósitos..
eia, diminua essa lista.

Isso pesa muito,
todos esses dias.
tantas horas.
E como.não fez  nada?
Um dia a mais!

Longa sentença
esse 2016
um e um dia.

Agora vá

que 

o tempo voa



Cotas. Capitação.

Cotas.
Num bar em Guapé, falo com Tomé, tomando mé, nos entendemos. Antes do Feijão com Quiabo. Frango com quiabo… De Paula,  nos inspeciona,confunde Alforria com Euforria. Rimos sem derrisão. Tomé me diz que ali foi um dia um Quilombo, Guapé está a uns passos de Crustais, o primeiro Quilombo do Ambrósio, faziam uma Confederação, cada qual com sua especificidade, um produzia alimentos, outro vigiava… Eram negros que atingidos pela lei da Capitação ( cotas de impostos individuais )  - altíssimos - exclusivos para pretos forros, que compraram sua liberdade com diamantes. O imposto tinha o propósito de impedir que o negro prosperasse, como acontecia. Fugiam para os Quilombos, eram livres. Aí vinha o Bartolomeu, sempre o Bartolomeu, fosse qual fosse o sobrenome, sempre foi sinônimo de sangue, seja de índios,  negros ou pobres… um desses Bartolomeus encabeçou uma carnificina, de Desemboque a Campo Belo. Milhares de Quilombolas, 20mil? Ou mais. Esta página está arrancada do nosso livro de história. Então, Capitação, Cota de imposto para impedir o Negro de participar da livre concorrência, na busca por pedras preciosas.
Vamos almoçar? Feijão com Quiabo, antes, uma de alambique, depois? Igualmente. Uai! 

30 de dez. de 2015

Educação. 2015 aprendi que:

Educação.
2015 aprendi que:
a Educação/Escola se converte pouco a pouco num ramo da psicopatologia.
Que se pede à Escola que cure feridas reais e potenciais, da alma.
Que há 40 anos os Pais se preocupavam em dar carinho aos filhos, comida na mesa... A igreja dava uma assistência emocional e o Professor da Instrução.
Hoje a Família vive uma situação curiosa, a Mãe foi trabalhar e o Pai não volta, nunca voltou (convém que se espere?) e a Igreja sumiu, não prove.
A Escola vai assumindo pouco a pouco mais responsabilidades, e como é de se esperar, não dá conta de todas, e tais tarefas são abandonadas, umas mais outras menos. Definitivamente, abandonou a Instrução.


28 de dez. de 2015

Diz que pizza!




Romeu está diante da tv vendo com interesse mórbido o programa de William Waack, enquanto Julieta estica os braços e abre a boca, num misto de fome e sono, diz: “Acho que vou.. mas estou com fome”. Nisso o programa é interrompido por aqueles microfones que giram em torno, acho que de um planeta. Aparece Leila Sterenberg lendo um comunicado. “Atenção!” “Atenção!” Boletim especial. A cidade está em alerta laranja. As autoridades – José Serra e Geraldo Alckmin aparecem ao fundo – e continua Leila: “estamos sob um ataque de Zumbis. Procurem se abastecer de água e alimentos. Não saiam de casa. Repito: não saiam de suas casas”. Romeu e Julieta correm para a geladeira. A paisagem é desoladora, um iogurte grego aberto com prováveis fungos verdes, meio tomate murcho, um ovo com uma rachadura colado naquele seu compartimento, duas azeitonas que devem ter caído da embalagem, já enrugadas.
“Era a tua vez de ter ido ao supermercado”, disse Julieta, “não que não, era a tua” protesta Romeu.
Silêncio... A situação é crítica. Um o gato, dentro do estômago de Julieta, ronrona. A geladeira, um gato gigante, também ronrona. Romeu mira o imã. Disk Pizza Irá Já. 3972 2323. Peço uma pizza? Propõe Romeu. Em vinte minutos tocam a campainha. Romeu abre a porta. À sua frente aguarda um motoboy. Pela viseira levantada do capacete, Romeu, vê dois olhos líquidos que não piscam. O queixo gosmento dependurado suportado pela correia do capacete. Não vê seu braço esquerdo, o direito leva a bolsa térmica de onde sai uma caixa exalando orégano e catupiry. Fumegante. “ A quizzra...” murmura. Suas cordas vocais estão em decomposição e reverberam uma pigarra viscosa. O motoboy foi mordido, está infectado, mas a pizza está intacta. Bom serviço. Romeu dá dez reais de gorjeta. Isso será tema de controvérsias durante o jantar:

“Romeu, Você acha mesmo que foi uma boa ideia dar gorjeta a um zumbi?” com a boca cheia de catupiry, milho verde e frango desfiado. “Aonde ele a gastará?”  

Cinismo e Impotência.




Acredito que do pessimismo não brota nada transformador. Não sou de acreditar em profetas nervosos ou líderes providenciais. Acho que coincido com aquele verso de Caetano Veloso, “quem foi ateu e viu milagres como eu..” . E também porque desconfio das lideranças míticas, que em todo caso as escolas de negócios de certo modo conseguiram popularizar. Tudo junto, tenho cá comigo, mais que isso, estou convencido que ao 'progressismo' lhe restam uns quatro dias, e olha que mal acabava de nascer nessa terra do mais puro sentimento mazombo. Diria à boa gente que não convém perder tempo e tentar outras providências.

Politicamente, nossas decisões pessoais e o impacto que elas têm na dimensão grupal, estão ameaçadas pela impotência e o cinismo. O primeiro advém da constatação que quase nada do que fazemos modifica substancialmente a dimensão coletiva ( já que não escapamos do mundo) que vivemos. E como nada acontece como queremos ( a política nos decepciona, as ilusões não coalham e o esforço não traz resultados...) corremos o risco de buscar compensação, indexados pelo cinismo, o máximo de beneficio pessoal. Já vivi em outros países, e a coisa vai mais ou menos pelo mesmo caminho, com mais ou menos intensidade, nos encontramos ciclicamente cercados por essas duas ameaças. Talvez, tal fato tenha a ver com a nossa história, termos desaproveitado oportunidades. A pergunta é: que faremos? Penso que devemos reflexionar sobre o quê estamos fazendo, cada um de nós... O risco que corremos é acabar nos regendo pela desconfiança doentia na coletividade e esquecermos que o quê realmente conta é o esforço cotidiano e a coerência das nossas ações. A outra alternativa é perder tempo e ilusões discutindo seraficamente sobre quem é mais puro e como será o futuro, quando já estivermos mortos.

27 de dez. de 2015

Museu da Língua Portuguesa.

Museu da Língua Portuguesa.

Dizem que havia um poema de cem oitavas no Museu da Língua Portuguesa, chamado Ecos de Nhanderuvuçu ou Tupã, ou Prometeu. Exemplar único, não digitalizado. Alfredo Bosi cria que obra de Santa Rita Durão do final do séc XVIII. Não é a melhor obra da literatura brasileira. Mas de grande interesse, pois apresentava um Prometeu queixoso, tão melancólico que poderia dizer sem aresta: rousseauniano. Roubou o fogo dos deuses e o entregou aos homens. Assim, paga sua filantropia amarrado  à pedra da Gávea, e a cada manhã vêm os urubus comer seu fígado, que à noite se restaura, junto com sua melancolia, o fogo trouxe conforto aos homens, mas nada de bondade.

Este é o lamento de Tupã, que copiei da obra de A. Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira, Cultrix, 2005.

Ah! Quanto mais feliz minha sorte fora
se com alma plebeia em vil estado
Entre riscos e palmeiras conduzira
por um tempo minha inocência e gado. 

Festa Sem Fim.

De que vale um bela alma, se não sabe se expressar em palavras, se os flocos de neve se fundem antes de pousar numa árvore.  Haikai de  Hoshino Takashi, quer dizer tudo inclusive que as belas palavras nada querem dizer, ou ainda belas palavras escondendo um vazio interior, que a neve  permanece estática por um instante, que mais sei eu, divago, me distraio um pouco, no meio de uma festa que não quer acabar e por fim morre antes do fim...