10 de dez. de 2015

Tudo aconteceu tão rápido, que vou contar do mesmo modo


Tudo aconteceu tão rápido, que vou contar do mesmo modo


Quando ofereceram a Luiz Fernando o cargo de gerente da agência de Belém do Pará, aceitou sem pestanejar, estava em Sobral, no Ceará, com seu calor de mascar. Em poucas semanas conheceu Neide, foi amor a primeira vista, se casaram no mesmo mês. Neide era indígena por parte de mãe, que era uma feiticeira. Isso soube numa tarde em que se refugiou do aguaceiro recorrente num bar que simpaticamente imitava uma Oca com sua decoração feita de objetos indígenas. Pediu uma caipirinha de cupuaçu, antes uma pura curtida em sexo de boto, que desceu queimando. La fora o aguaceiro. Um velho se sentou a seu lado ao balcão. Luiz Fernando lhe ofereceu uma dose de pinga. O velho respondeu: cada um com seu cada um. O velho conhecia a família de Neide. Contou a Luiz que a mãe dela era uma bruxa conhecida por toda a redondeza. Luiz não se surpreendeu ao recordar aquela velha de pele cinza tisnada em partes e com verrugas no queixo e nariz. “Ande com cuidado, rapaz” advertiu o velho com um sorriso que parecia um corte de melancia, vai que tua Iara também seja. “Sabem o que fazem quando suspeitam que seu marido é infiel?, enterram sua cueca no jardim, e nunca mais vai sair de casa.” Luiz soltou uma gargalhada que parecia uma taquara rachando. Acabou sua caipirinha. No fundo estava inquieto com aquela conversa. Como se tivesse deixado o gaz aberto sem fogo no queimador, e aquele velho cheirava mercaptana.
Uma noite de lua cheia, estavam jantando, de repente, Neide lhe deu uma olhada, a queima roupa, suas pestanas se moviam como serpentes, então cravou: “Se um dia souber que me enganou, escondo sua cueca e nunca mais sairá de casa.” Luiz se enregelou ao ver como distorcia os lábios de modos a formar uma lemniscata.
Tudo aconteceu muito depressa, assim que farei o mesmo. Pouco depois, em 7 de setembro, houve a festa na empresa. Luiz estava bebaço, e foi com sua secretária a um sala deserta do seu escritório e lá foi infiel a sua esposa sobre uma fotocopiadora. Luiz voltou para casa sigiloso, como um ladrão de antigamente, esgueirando pelos muros, paredes,se assustando com a própria sombra, e tombou vestido ao lado de Neide, que parecia dormir profundamente. No meio da noite, Luiz se despertou, inquieto. Longe latia um cachorro e no silêncio da noite, aquele latido parecia um sino tinindo depois das badaladas, entrando nos ouvidos. Olhou para o lado, ninguém. “Se foi”, pensou confuso. Quando comprovou que Neide não estava em casa, supos que fora andando, pois não sabia dirigir. Deve ter ido para a Rodoviária, a alcanço de carro. Tentou sair de casa e não conseguiu. Tudo aconteceu tão de pressa que contarei do mesmo jeito. Cada vez que abria a porta não encontrava o jardim, senão que a sala de visitas que é de onde tentava sair. Tentou mais uma vez, abriu a porta, tudo estava escuro, foi apalpando a parede procurando o interruptor. Sem sucesso. Mas encontrou a televisão. Voltou para a sala, de onde acabava de sair e estava de costas para a porta da rua. Então correu para o guarda-roupa. Abriu uma gaveta. Faltava uma cueca. Compungido, Luiz suspirou: Justo a Boxer! .


lemniscata: o infinito, mais ou menos isso. uma cobra se engolindo pelo rabo, formando um oito na horizontal.

9 de dez. de 2015

Parede Meia.

Parede Meia.

“Puta que pariu, de novo, não!” - gritou Renato Anfrade, o gourmet, enquanto se servia uma dose de Armagnac (que sua sobrinha trouxe de Paris) com a segurança de quem houvera bebido Armagnac toda a vida, ou  como dizem os franceses 'avant la lettre', quer dizer, antes mesmo de sua existência, dele Armagnac. “É o Tide  e Odila... sempre cochichando, sussurrando, gemendo... até os ouço fazendo amor apaixonadamente toda a noite, com que energia, meu deus?” Renato se serviu outra dose e murmurou?

- Por que esta parede não está entre eles?

Conchas do Mar.

Conchas do Mar.


Da última vez que fui a praia trouxe uma concha enorme. Boto-a ao ouvido  sempre que estou com saudade da música das ondas sobre os recifes de corais, dos coqueiros bailando sob o sol, o ar quente, o sol, vou andando em direção das ondas, as ondas já me batem na cintura, um barco de pescadores, faz proa na minha direção. Estão todos armados? São piratas e me sequestram querem saber aonde escondi o tesouro, eu lhes aponto rumo norte. Parati.

O Povo Unido, Jamais será...

Um grupo de manifestantes percorre as redondezas do grande museu. Entram em formação de leque, mas não se demoram a formar um bolo compacto.
Depressa grita o líder. Os manifestantes agora estão em rigorosa fila indiana, alguns olham para as pessoas paradas nas calçadas, e gritam “Alienados”. Não ofendam os transeuntes, temos que chamá-los para o nosso lado. Agora gritam aos policiais.  Agora o grupo avança atropeladamente, como se estivessem sob o efeito de doses de Veronal ou barbiturato de dietilo. Uma massa em roupas coloridas, camisetas em cores biliosas, tantas as cores concordantes que há ali no meio. Um cachorro late furioso.
Vamos! Vamos! Não se percam em bobagens, grita o líder apressando a todos.
Um dos manifestantes explode:
'NOS TRATAM COMO REBANHO!'
nesse momento, já cai o sol e um garoto da calçada faz seu raio laser percorrer sua camisa biliosa.


8 de dez. de 2015

Beber o Morto.


Beber o Morto.

O atento gourmet Renato Anfrade, também sabe reconhecer uma língua estrangeira, aprendeu a imitar sueco com o cozinheiro sueco do Muppet, capta o ruído de folhas e galhos cortados, um golpe seco de picareta golpeando a terra e vozes. Renato reconhece o idioma. São caipiras, sem dúvida. Da janela vê a dois homens escavando em frente sua casa. Um é Tide, o sr. Aristide Spatafiori o outro Totonho, Antonio Menesguto. Sai ao jardim, ainda em seu roupão azul, e os saúda. “Dia!” E os homens agitam os ombros como se despertassem de um sonho, estão contentes ao ouvir o tratamento correto, mesmo de um gourmet. Renato prossegue em caipira “ Qui co cês tão cavucano? Uma piscina?”. Os cavucadores sorriem, procuram uma resposta. “Num se aperrei não, sô, é uma surpresa”, disse Tide separando com a enxada um terrão. “Ô, bitelo” e dá uma piscadela cúmplice ao gourmet Anfrade e este pensa: “São simpáticos”. Renato entra em casa. Faz um calor desgraçado, o sol inclemente. Renato se compadece, o suor e a terra se misturaram e estão enlameados. Abre a geladeira e comprova que tem umas cervejas geladas.
Uma hora mais tarde, Renato supõe que os caipiras terminaram o trabalho, já não ouve a picareta. Sai a janela e vê que a pá e a picareta estão deitadas e eles alçam os braços para trás para os desentumecer, enquanto contemplam o buraco. Renato vem até a porta e os convida a tomar umas cervejas. Aceitam encantados, quando entram o cheiro a suor e terra removida se tornam sólidos. Tide e Renato já se conhecem de outra jornada, aquele apresenta Totonho. Conversam animadamente, com as garrafas na mão, Totonho saca uma garrafinha de pinga da mochila, oferece aos parceiros, Renato declina, então Totonho a toma a moda caipira, sem botar o beiço na boca da garrafa e a passa a Tide. Agora Renato está de costas para Tide, que lhe toma a medida com uma trena. “Intão vamu gente!” disse Tide, apressando o gole de cachaça.
Saem ao jardim e se dirigem ao buraco. Totonho olha com curiosidade quase infantil para o gourmet.
“ Di verdadi que o sinhô não sabia qui tava morto?”
Renato medita um momento e sorri com suavidade. “ Na minha idade já se começa a se esquecer de algumas coisas”.... responde com um pouco de ironia, e se acomoda no buraco.
Tide enche a pá e faz um movimento pendular, um balanço, e de cima faz a terra cair: plaft! Totonho e Tide terminam de dar sepultura ao gourmet. Se despedem à moda caipira, tomam um trago de cachaça a sua saúde, e derramam um gole sobre a tumba e fazem uma breve pregaria. Foi assim e nesta ordem.



Ernesto Cabeza de Vaca. III. O Primata.

A moça teve o desplante de sumir e plantar Ernesto numa tremenda depressão. A tarde mal começava, ou começava justo com o rumiar seus obscuros pensamentos misturados com saliva, coisa que se tornou alucinógena..Cabeza de Vaca se dá conta que não está numa depressão, como pensou, e sim entre duas ondas. Já havia mergulhado duas vezes sem êxito na busca à sereia, uma vez regressado do mergulho, mais saliva fazia a mastigação do fracasso. À suas costas, na crista de uma onda, o macaco o escutava escorrer e discorrer ignorâncias sobre seu amor pela moça, meia banana descascada com as cascas caídas, um psicanalista. “ Por que empenhei minha palavra?” era o lamento de Cabeza, em voz alta. A palavra – como parecia saber o primata, a julgar pelo sorriso de deleite que se desenhou em seu rosto – era toda a possessão material que restava a Ernesto, depois de haver vendido a palheta da viola de doze cordas. “ Como farei para conjurar o frio neste trópico e que a sereia me queira? - Porra meo, este é um problema seu, deixe... acreditou ouvir Ernesto uma voz clara e paulistana vinda... adonde? Ajeitou a postura, procurou o dono da voz lacânica.de frase inumana. No entanto, ali, de humanos, capazes de tanta crueldade, só havia um.. Eu? O animal, observava o gif do Travolta desde cima com um sorriso, consciente, e a Ernesto pareceu, mesmo, feliz, de ser ele, o macaco, quem se sentia menos macaco.  

4 de dez. de 2015

Aécio e a Oposição.

Aécio e a Oposição.
Franqueou a fila o lugar tenente Carlos Sampaio, um sujeito rejeitado por Campinas e que teve que sair comprando votos em outras freguesias. Apoiados por todos os grande meios de comunicação. Contemple-se  as raras e fantásticas exceções. Cunha o esteio. Sua maestria? A chantagem.  Deram voz a Bolsonaro. A Malafaia.  Um liquidificador, que propunha o suco da libertação das garras Bolivarianas, o sono dos puros, o canapé para os meritórios, santos, impolutos e Justiceiros. Queimaram autóctones. Violaram jovens. Linchavam negros, por marginais, tudo narrado ao vivo por uma nigromante, num espetáculo de fazer medo a Goebbels. Até o craque Neto, a ignorância esculpida em carrara bandeirante, bradou. Um prato colosso dos colossos, uma vitela dentro de uma vaca, que carregava um porco, recheado com um cordeiro, que por sua vez levava dentro o próprio filho ofertado de Abraão, na grelha dos médias. Cartunistas sem imaginação e traço, polemistas a gritarem: vai pra Cuba!
E tanto gritaram que a violência que o tal Estado locomotiva pratica, não encontra paralelo em sequer um Estado do mundo atual, que não seja o Islâmico e a Venezuela.
E eles se calam. Não se tornaram uns bostas, pelas bostas petistas, já eram bostas antes, perfumadas, bostas em frascos de Channel 5!
Houve um tempo que se temiam os lobos em pele de cordeiro, mas o fedor é pior do que as garras e os dentes do lobo, espalha!