2 de set. de 2015

É senso comum que a televisão me deixou burro pelo resto da vida.

É senso  comum que a televisão me deixou burro pelo resto da vida.

Há quem "ache" que exista uma conspiração televisiva nacional, pra nos embrutecer. Para nos fazer tontos, imbecis. Ingênuos!  O que existe é uma conspiração  do povo para manter as televisões idiotas.
Se a a mediocridade atendesse  a um plano anterior, estudado, pré-concebido, por mentes perversas , partidárias da imbecilidade universal,  me daria por contente, aí menos teria contra quem me sublevar, ou ao menos sonhar com uma programação melhor. No entanto, os programadores  estão a correr atrás do que queremos,  assim, somos eu e você que programamos a TV ,  quando dedicamos minutos de ouro e mudando a audiência de lá prá acolá. Sem salvação!

Povo x Leis.

Só os ingênuos acreditam que as leis tem morada nos códigos, por ex Constituição Federal, ou as leis estão nos costumes e comportamentos,  no Povo, ou é letra morta, ou coisa pior, má-fé político-juridica. A Lei deve converter uma massa, uma multidão em Povo. Deve ser finalista e não eficiente. Qual a finalidade? Transformar uma manada num Povo. Qual? Povo. Aonde não existe  um Povo, pode existir uma Constituição? 

1 de set. de 2015

Complexo de Telêmaco vs o de Édipo.

Complexo de Telêmaco vs o de Édipo.
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Telêmaco é filho de Ulisses e Penélope. Ulisses anda pelo mundo em aventuras. Dorme com todas as mulheres que encontra pelo caminho. Penélope o espera. Cuida de tudo. Além de bordar. Telêmaco é inseguro. Tem medo do escuro e do que está sob a cama. Não tem a referência do pai provedor. Que dorme com sua mãe. Que dê aquela olhada de: Basta! Nem do herói. Telêmaco quer que seu pai volte para casa. Durma com sua mãe. Proteja Penélope, ela, a casa... Diga dos limites. Como amolar uma faca. Na escola, Telêmaco não tem como dizer: meu pai ... ...isso. Seu pai não está!. Não sabe o tamanho do pinto do pai, não sabe quanto ainda crescerá o seu. 
Se Édipo queria dormir com a mãe, no lugar do pai, Telêmaco quer que o pai durma com a mãe, em seu lugar. Que lhe diga que meninos não choram. Sim que Sim, o carro sempre será seu nos fins de semana. Que deixe  os chinelos, pelo caminho, antes da.cueca. que deixe o prato no sofá, que diga: amor! Faz um cafezinho!  Por isso era, para Édipo, preciso matar, alguém que era o horizonte, para poder ver o horizonte. Porque crescer, era crescer contra o pai.
Telêmaco quer que sua mãe trabalhe menos.
Enfim em lugar de relações horizontais, Telêmaco quer relações verticais. Para dormir tranquilo e saber que está tudo sob controle. 
Telêmaco quer um horizonte.

Desde uma leitura, breve, de Massimo Recalcati. Complesso de Telemaco. 

29 de ago. de 2015

Lenin na Bolívia.

Corria a plenos pulmões a segunda guerra mundial, e Grigulevich, Iosif Romualdovich Grigulevich, agente soviético que participara do assassinato de Andreu Nin, do primeiro atentado a Trotsky e em mil e uma outras indústrias do gênero, assegurou a seus superiores que com 65.666 dólares converteria Bolívia numa república soviética.
Grig, assim o chamavam, pessoas de um círculo mui restrito. Adorava presentear amigos com seus livros, alguma vez o chamavam Romualdich ou Don Pepe. Entre tantos apelidos e pseudônimos que teve durante sua vida. Mas para a massa anônima, de seus leitores, se tratava de I.R. Lavretstki, sobrenome de sua mãe Nadezhda Lavretstkaia. Família modesta, caraítas, grupo étnico de judeus turcos que falam um idioma aparentado ao crimeo-tártaro, hoje reduzidos a um grupo de  três ou quatro mil falantes em todo o mundo.
Grig estava no Uruguai quando soube do aparecimento de um líder indígena revolucionário, chamado Lenin, que se julgava em condições de proclamar o Estado Soviético da Bolívia. Tudo que precisava era de 65.666 dólares. O que me parece estranho, ainda que tal valor conste do Informe Mitrokhin, é que a estranheza se dê na realidade e não na ficção. Grig também se espantou, e quis saber de Lenin a razão de valor tão justo, tão melindroso. E Lenin deixou as suas posicoes mais claras, nesse tabuleiro, tomando de uma folha de papel enrugada aonde fez as contas elementares da revolução; tanto para o suborno do chefe de arsenal, tanto para o chefe dos correios, tanto para o chefe da estação, etc. Um plano perfeito, que em lugar de armas usava dólares. Apesar de ter tudo tão claro e discriminado,  Moscou quis pechinchar o preço de uma revolução que não derramaria uma gota de sangue. Presenciamos a dificuldade da KGB em  compreender os fatos reais.  Assim, Grigulevich deveria fazer com que Lenin fizesse a revolução com 60.000 dólares. Lenin que tinha as contas bem feitas, disse que sem os grotescos, mas comprovados   5.666 dólares faltantes, não podia fazer nada. E não fez. 

28 de ago. de 2015

Morrerei em Paris com aguaceiro/ um dia do qual já tenho a recordação.


Morrerei em Paris com aguaceiro/ um dia do qual já tenho a recordação.


"Me moriré en París, con aguacero, / un día del cual tengo ya el recuerdo". E assim foi. César Vallejo é uma das muitas celebridades enterradas na capital do Sena. A Montparnasse, com Baudelaire e dignidade, mesmíssima dignidade que se nega aos 18 mortos em Osasco. Em 1593, num juízo contra 28/mulheres, acusadas de bruxaria. Em Paüls, 24 foram condenadas, e dio dia  4  ao 29 março, foram enforcadas ou queimadas, segundo a disponibilidade do carrasco. Carrasco por aqui anda aos pares, prendendo vendedores de abacaxis, denote-se e conote-se, à tardinha, trocam turno e coturno e agendam ajustamentos, sem carapuças, literalmente, fazem da inquisição, coisa deveras Santa. 

27 de ago. de 2015

A dobra do tempo!

Quando chego à fila do pão, no armazém do Zillo, havia duas mulheres. Com uma delas troco  olhares, olhos nos olhos, mais ou menos fixos. Impróprio a princípio, pois não a conhecia. Para sair do limpasse, a saúdo. Ela sorri e retribui com: bem e você?  E acrescenta que não estava certa de que eu era eu, mesmo! As palavras indicam, talvez, prudência. Maura, era irmã de um colega de colégio. Ia o ano de 76, me lembro bem da data, porque trabalhava no Cartório do Oswaldo Sampaio, vizinho de sua casa. Nos separavam infinitos cinco anos, eu mais velho, melhor dito, uma eternidade que o próprio tempo cuidou de encurtar. Apesar de que então sabíamos de uma e de outro, mais por terceiros, que por encontros diretos, estes foram se alongando até o ponto da desaparição dos contatos. Enquanto o Marquin lhe corta a rabada com a serra que não respeita  anatomias e texturas, Maura e eu colocamos nossa vida em dia, superficialmente, e assim permanecerá, ao que me parece, não aprofundaremos, está tanto em palavras como em subentendidos. Antes de se despedir, Maura que se aposentou pela 3M, se dedica a cuidar da mãe e dos netos, me fez um outro de seus sorrisos francos, ligeiramente - talvez - tristes, que o tempo não foi capaz de mudar, e me diz: ... mas aqui dentro - aponta para a cabeça - tudo continua jovem. Não entendo, até agora, o motivo de sua cumplicidade, e silenciosamente, e também com um sorriso, lhe dou razão, o jovem perdura. 

26 de ago. de 2015

Tem lógica o sonho?




Estávamos num pub em El Tarrós, à volta de uma mesa alta e sem tamboretes, de pé. Jaume passou por nós e sinalizou que já se ia, e se quiséssemos nos levaria até Bellpuig. Jaume é baterista do Husqvarna, e não íamos para Bellpuig e sim para Tornabous, que é o pueblo que queria mostrar a ela. É um sonho, mas é melhor localizá-lo. Estes nomes se referem a pueblos ao pé dos Pirineus do lado da Catalunha. Não há lógica alguma, a priori, pois estávamos em veículo próprio, quando chegamos, e a chegada não é aonde o sonho principia. O sonho principia aonde principia este relato. No entanto quando Jaume nos oferece carona, no sonho me lembrei que íamos em carro próprio. E que não passaríamos por Bellpuig, porque havíamos escolhido ir pelo Caminho e não pela estrada, porque poderia mostrar a ela alguns casarões perdidos no meio das plantações de maçãs, o que não aconteceria se fossemos pela estrada. Dentre os casarões havia um em particular, que pararia para lhe contar uma história que se passou comigo ali, em virtude de um chute de cavalo que havia me aplicado. Saímos com Jaume, que levava no banco traseiro umas oito mudas de marijuana que plantaria em vasos na sacada de sua casa. Corria muito. Jaume era o mesmo da vida real. Quando chegamos, não era Bellpuig, e sim Tornabous. E sem pular nenhum fotograma me via com ela no salão de festas da piscina do povoado. Havia um jantar. Joan veio nos receber. Nos indicou a mesa. E me perguntou por ela. Só então ela ganhou identidade. Ela estava ali o tempo todo. Não identificada. Foi uma grata surpresa. Sempre sonhei com ela. Mas acordado. Em sonhos não havia acontecido. Joan, sim, estava espantado. Porque para ele, no sonho que era sonhado, eu era cozinheiro, e não comensal. Fui saudado algumas vezes. Sentia que para eles nunca havia partido, como se a minha partida houvesse parado o tempo, que agora retomava. Outro espanto era o meu ao agir tão naturalmente, diante dela, como se estivesse com ela todo o tempo em que com ela sonhei acordado. Vou continuar sem nomeá-la. Seu nome é tão forte que não encontro paralelo para o substituir. E tenho vergonha de que por qualquer motivo ela venha ler e se identifique com esse sonho antigo, ou descubra que me sonha.