Só os ingênuos acreditam que as leis tem morada nos códigos, por ex Constituição Federal, ou as leis estão nos costumes e comportamentos, no Povo, ou é letra morta, ou coisa pior, má-fé político-juridica. A Lei deve converter uma massa, uma multidão em Povo. Deve ser finalista e não eficiente. Qual a finalidade? Transformar uma manada num Povo. Qual? Povo. Aonde não existe um Povo, pode existir uma Constituição?
2 de set. de 2015
1 de set. de 2015
Complexo de Telêmaco vs o de Édipo.
Complexo de Telêmaco vs o de Édipo.
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Telêmaco é filho de Ulisses e Penélope. Ulisses anda pelo mundo em aventuras. Dorme com todas as mulheres que encontra pelo caminho. Penélope o espera. Cuida de tudo. Além de bordar. Telêmaco é inseguro. Tem medo do escuro e do que está sob a cama. Não tem a referência do pai provedor. Que dorme com sua mãe. Que dê aquela olhada de: Basta! Nem do herói. Telêmaco quer que seu pai volte para casa. Durma com sua mãe. Proteja Penélope, ela, a casa... Diga dos limites. Como amolar uma faca. Na escola, Telêmaco não tem como dizer: meu pai ... ...isso. Seu pai não está!. Não sabe o tamanho do pinto do pai, não sabe quanto ainda crescerá o seu.
Se Édipo queria dormir com a mãe, no lugar do pai, Telêmaco quer que o pai durma com a mãe, em seu lugar. Que lhe diga que meninos não choram. Sim que Sim, o carro sempre será seu nos fins de semana. Que deixe os chinelos, pelo caminho, antes da.cueca. que deixe o prato no sofá, que diga: amor! Faz um cafezinho! Por isso era, para Édipo, preciso matar, alguém que era o horizonte, para poder ver o horizonte. Porque crescer, era crescer contra o pai.
Se Édipo queria dormir com a mãe, no lugar do pai, Telêmaco quer que o pai durma com a mãe, em seu lugar. Que lhe diga que meninos não choram. Sim que Sim, o carro sempre será seu nos fins de semana. Que deixe os chinelos, pelo caminho, antes da.cueca. que deixe o prato no sofá, que diga: amor! Faz um cafezinho! Por isso era, para Édipo, preciso matar, alguém que era o horizonte, para poder ver o horizonte. Porque crescer, era crescer contra o pai.
Telêmaco quer que sua mãe trabalhe menos.
Enfim em lugar de relações horizontais, Telêmaco quer relações verticais. Para dormir tranquilo e saber que está tudo sob controle.
Telêmaco quer um horizonte.
Telêmaco quer um horizonte.
Desde uma leitura, breve, de Massimo Recalcati. Complesso de Telemaco.
29 de ago. de 2015
Lenin na Bolívia.
Corria a plenos pulmões a segunda guerra mundial, e Grigulevich, Iosif Romualdovich Grigulevich, agente soviético que participara do assassinato de Andreu Nin, do primeiro atentado a Trotsky e em mil e uma outras indústrias do gênero, assegurou a seus superiores que com 65.666 dólares converteria Bolívia numa república soviética.
Grig, assim o chamavam, pessoas de um círculo mui restrito. Adorava presentear amigos com seus livros, alguma vez o chamavam Romualdich ou Don Pepe. Entre tantos apelidos e pseudônimos que teve durante sua vida. Mas para a massa anônima, de seus leitores, se tratava de I.R. Lavretstki, sobrenome de sua mãe Nadezhda Lavretstkaia. Família modesta, caraítas, grupo étnico de judeus turcos que falam um idioma aparentado ao crimeo-tártaro, hoje reduzidos a um grupo de três ou quatro mil falantes em todo o mundo.
Grig estava no Uruguai quando soube do aparecimento de um líder indígena revolucionário, chamado Lenin, que se julgava em condições de proclamar o Estado Soviético da Bolívia. Tudo que precisava era de 65.666 dólares. O que me parece estranho, ainda que tal valor conste do Informe Mitrokhin, é que a estranheza se dê na realidade e não na ficção. Grig também se espantou, e quis saber de Lenin a razão de valor tão justo, tão melindroso. E Lenin deixou as suas posicoes mais claras, nesse tabuleiro, tomando de uma folha de papel enrugada aonde fez as contas elementares da revolução; tanto para o suborno do chefe de arsenal, tanto para o chefe dos correios, tanto para o chefe da estação, etc. Um plano perfeito, que em lugar de armas usava dólares. Apesar de ter tudo tão claro e discriminado, Moscou quis pechinchar o preço de uma revolução que não derramaria uma gota de sangue. Presenciamos a dificuldade da KGB em compreender os fatos reais. Assim, Grigulevich deveria fazer com que Lenin fizesse a revolução com 60.000 dólares. Lenin que tinha as contas bem feitas, disse que sem os grotescos, mas comprovados 5.666 dólares faltantes, não podia fazer nada. E não fez. 28 de ago. de 2015
Morrerei em Paris com aguaceiro/ um dia do qual já tenho a recordação.
Morrerei em Paris com aguaceiro/ um dia do qual já tenho a recordação.
"Me moriré en París, con aguacero, / un día del cual tengo ya el recuerdo". E assim foi. César Vallejo é uma das muitas celebridades enterradas na capital do Sena. A Montparnasse, com Baudelaire e dignidade, mesmíssima dignidade que se nega aos 18 mortos em Osasco. Em 1593, num juízo contra 28/mulheres, acusadas de bruxaria. Em Paüls, 24 foram condenadas, e dio dia 4 ao 29 março, foram enforcadas ou queimadas, segundo a disponibilidade do carrasco. Carrasco por aqui anda aos pares, prendendo vendedores de abacaxis, denote-se e conote-se, à tardinha, trocam turno e coturno e agendam ajustamentos, sem carapuças, literalmente, fazem da inquisição, coisa deveras Santa.
27 de ago. de 2015
A dobra do tempo!
Quando chego à fila do pão, no armazém do Zillo, havia duas mulheres. Com uma delas troco olhares, olhos nos olhos, mais ou menos fixos. Impróprio a princípio, pois não a conhecia. Para sair do limpasse, a saúdo. Ela sorri e retribui com: bem e você? E acrescenta que não estava certa de que eu era eu, mesmo! As palavras indicam, talvez, prudência. Maura, era irmã de um colega de colégio. Ia o ano de 76, me lembro bem da data, porque trabalhava no Cartório do Oswaldo Sampaio, vizinho de sua casa. Nos separavam infinitos cinco anos, eu mais velho, melhor dito, uma eternidade que o próprio tempo cuidou de encurtar. Apesar de que então sabíamos de uma e de outro, mais por terceiros, que por encontros diretos, estes foram se alongando até o ponto da desaparição dos contatos. Enquanto o Marquin lhe corta a rabada com a serra que não respeita anatomias e texturas, Maura e eu colocamos nossa vida em dia, superficialmente, e assim permanecerá, ao que me parece, não aprofundaremos, está tanto em palavras como em subentendidos. Antes de se despedir, Maura que se aposentou pela 3M, se dedica a cuidar da mãe e dos netos, me fez um outro de seus sorrisos francos, ligeiramente - talvez - tristes, que o tempo não foi capaz de mudar, e me diz: ... mas aqui dentro - aponta para a cabeça - tudo continua jovem. Não entendo, até agora, o motivo de sua cumplicidade, e silenciosamente, e também com um sorriso, lhe dou razão, o jovem perdura.
26 de ago. de 2015
Tem lógica o sonho?
Estávamos num
pub em El Tarrós, à volta de uma mesa alta e sem
tamboretes, de pé. Jaume passou por nós e sinalizou que
já se ia, e se quiséssemos nos levaria até
Bellpuig. Jaume é baterista do Husqvarna, e não íamos
para Bellpuig e sim para Tornabous, que é o pueblo que queria
mostrar a ela. É um sonho, mas é melhor localizá-lo.
Estes nomes se referem a pueblos ao pé dos Pirineus do lado da
Catalunha. Não há lógica alguma, a priori, pois
estávamos em veículo próprio, quando chegamos, e
a chegada não é aonde o sonho principia. O sonho
principia aonde principia este relato. No entanto quando Jaume nos
oferece carona, no sonho me lembrei que íamos em carro
próprio. E que não passaríamos por Bellpuig,
porque havíamos escolhido ir pelo Caminho e não pela
estrada, porque poderia mostrar a ela alguns casarões perdidos
no meio das plantações de maçãs, o que
não aconteceria se fossemos pela estrada. Dentre os casarões
havia um em particular, que pararia para lhe contar uma história
que se passou comigo ali, em virtude de um chute de cavalo que havia
me aplicado. Saímos com Jaume, que levava no banco traseiro
umas oito mudas de marijuana que plantaria em vasos na sacada de sua
casa. Corria muito. Jaume era o mesmo da vida real. Quando
chegamos, não era Bellpuig, e sim Tornabous. E sem pular
nenhum fotograma me via com ela no salão de festas da piscina
do povoado. Havia um jantar. Joan veio nos receber. Nos indicou a
mesa. E me perguntou por ela. Só então ela ganhou
identidade. Ela estava ali o tempo todo. Não identificada. Foi
uma grata surpresa. Sempre sonhei com ela. Mas acordado. Em sonhos
não havia acontecido. Joan, sim, estava espantado. Porque para
ele, no sonho que era sonhado, eu era cozinheiro, e não
comensal. Fui saudado algumas vezes. Sentia que para eles nunca
havia partido, como se a minha partida houvesse parado o tempo, que
agora retomava. Outro espanto era o meu ao agir tão
naturalmente, diante dela, como se estivesse com ela todo o tempo em
que com ela sonhei acordado. Vou continuar sem nomeá-la. Seu
nome é tão forte que não encontro paralelo para
o substituir. E tenho vergonha de que por qualquer motivo ela venha
ler e se identifique com esse sonho antigo, ou descubra que me
sonha.
Carta ao leitor.
Li tudo a respeito do pacto que antecedeu o 16 de Agosto, caro Gilberto Lauzi. Prós e contras. Com isso consegui uma latinha de sardinha. Diante dela usei tudo que havia lido antes, como se fosse um abridor de latas. Não sei se amo 'meu' país como você, sei que amo à minha moda, e não falo por mais ninguém, senão eu.
De todos os modos abri a lata, e, lá estavam sardinhas sem cabeças. Cantei: "We all need education" então pensei: tudo, absolutamente tudo que pensar, precede a mim, alguém pensou, alguém viveu, alguém inventou estas palavras e as outras que virão até o fim desse insulto. Mas não disse coxinha, que não, disse Bossa-nova. Se aquele era ironia, esse é insulto e digo, porque me parece fundamental.
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