9 de nov. de 2012

Popatapataio,


TERÇA-FEIRA, OUTUBRO 17, 2006

1. Popatapataio,






Me digo Luis Antonio Benarmê. O epitáfio daquele que pergunta: quem sou eu? É: “O porfazer é a dentuça engrenagem do tempo e tomar decisões levará a um dia tecer juízos, e ninguém merece mesmo mais que esse meu lote inglês”.
É-me desconcertante minha idiotice diante da vida. Vivo em meio a um conjunto infinito de equações, com seu duplo de incógnitas e cada equação é dependente d’outra e essa dependência sempiterna sujeita a outra e assim sucessivamente. E quanto mais às estudo menos sei o quê da equação. Talvez não seja um quê. Um velho espanhol um dia fez-me a seguinte questão: tenho 100 reais. Quero comprar 100 cabeças de gado que sejam novilhos a 50 centavos, vacas a 5 reais e bois a 10 reais. Naquele momento sabia o quê e sabia resolver equações do primeiro grau. “É fácil abuelo” disse-lhe. Não resolvi. Sai-me qual um Laplace idiota. E até hoje não consigo demonstrar a resposta. Quando estou perto, a tartaruga anda uma fração de espaço, um por dez a sexta. Suspeito que não saiba sequer a resposta que o galego me mostrou, sem ma explicar. Tento amiúde muitos caminhos.
Contarei, a historia de um viajante, tão idiota quanto eu, entre o fim de uma manhã e começo de uma noite de verão, ele encharcado de álcool e lama. Um que num relance foi canibal. Comeu a eminência hipotênar de uma fábia catalã. Julgado criminoso, cumpriu grande parte da pena. Ou toda. Do cárcere, que não reconstituiu a eminência hipotênar, tampouco apagou da sua mente aquele episódio. Foi sacado, como louco,( um advogado julgou sábio este fazer) para ser internado num manicômio. Não sei se ele (o manicômio) se abriu. Se dele ele saiu. Se nele (manicômio) o mundo entrou. Por fim escrevo essa tolice, assim começada por esse breve anacronismo, verdadeiro e que se verifique. Se algo houver em discussão e se tanto permear, será sim a liberdade, não o livre arbítrio.
Luis da Silva Neto viveu, bebeu, comeu, tudo e tal, livre.
Zénão depois de ler os fragmentos do manuscrito, que me servem de norte, disse haver neles menos que uma historia, sim o tal anacronismo, senão nem mesmo um viver. Resolvi então contá-lo. Que sê menos que um livro. Tal será, como antes dito, composto a partir de fragmentos de uns manuscritos recolhidos. Uma parte significativa no dia 18 de fevereiro do ano 2002, no Deck bar em Sousas. Outra parte num bar dito <>, de uma pequena cidade do norte de uma província de Espanha. O dono do bar, Manell Florenci i Pirò, disse ter guardado tais manuscritos como forma de pagamento, que teria então sido efetuado por um comensal despojado de valores monetários naquele antanho e sacado que foi do bar por uma dupla de policiais. O valor; equivalente ao consumo rezado por Manell como o efetuado por seu fazedor, seja; é de dez cervejas Voll Dann, duas tapas de tigres raivosos e uma de sementes de girassol.
Manell assegurou da existência deste exemplar como única. Porém nada impede que certos costumes que transformam singularidade em pluralidade tenham de fato ocorrido e o dono do bar já não mais venda cervejas e tigres com mais ou menos pimenta, e sim sementes de livros que é no que transformo aquele original manuscrito.
Nada impedirá que você, ao se deparar com este não venha proceder de igual forma. Se assim o fizer, estaremos a escrever o livro infinito.
Não pague, portanto caro por ele, talvez não valha mesmo mais que uma conta pendurada num boteco como El Racó Medieval, de qualquer cidade pequena ou grande, hospitaleira ou insólita como Guimerá.
O transporte da cena para Sousas não é laborioso dado a similitudes várias dessas prosaicas cidades. Você se aperceberá das duplicidades implícitas excetuando urgências geográficas, se bem que um vulcão sempre poderá ser isômero de uma cratera. Não se olhe, portanto, no espelho com tanta gravidade, ele duplica e o que duplica torna-se promiscuo e mentiroso, tal é a conseqüência de um em outro e que isso por fim também se verifique. Você poderia inferir facilmente então que a historia tal, é uma irremediável invenção e que você ao executar o que vos insinuo, tornaria então a coisa promiscua, mas a defesa se faz co’a ausência do manuscrito, destruído antes da duplicação, assim evitando a promiscuidade e evidentemente isso não se verifica. Mas se você pensa transformar esse no seu manuscrito, deve primeiro destruí-lo. Antes talvez melhor lê-lo, que é o mesmo que destruir. Põe-se com urgência, que ler é aumentar a própria ignorância.

8 de nov. de 2012

NEGRINHA - texto integral - Monteiro Lobato.



NEGRINHA

Monteiro Lobato

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta?? Não. Fusca, mulatinha escura, de cabelos
ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos de vida, vivera-os pelos cantos escuros
da cozinha, sobre farrapos de esteira e panos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava
de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada pelos padres, com lugar
certo na igreja e camarote de luxo no céu. Entaladas as banhas no trono uma cadeira de balanço na sala
de jantar, — ali bordava, recebendo as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma
virtuosa senhora, em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”,
dizia o padre.
Ótima, a D. Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos,
não a calejara o choro da sua carne, e por isso não suportava o choro da carne escrava. Assim, mal vagia,
longe na cozinha, a triste criança, gritava logo, nervosa:
Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos?? O pilão?? A mãe da criminosa abafava a boquinha
da filha e corria com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões desesperados:
Cale a boca, peste do diabo!!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que
entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...
Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com olhos eternamente assustados. Órfã aos
quatro anos, ficou por ali, feita gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes.
Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava
ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas não andava, quase. Com pretexto de que, às
soltas, reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num
desvão de porta.
Sentadinha aí, e bico!! Hem??
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas. — Braços cruzados, já, diabo!!
Cruzava os bracinhos, a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. O relógio batia
uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir
a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se, então, feliz um momento.
Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.
Que idéia faria de si essa criança, que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo,
coruja, barata descascada, bruxa, pata choca, pinto gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha,
coisa ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve
em que foi — bubônica. A epidemia andava à berra, como novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada
assim — por sinal, achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que
não teria um gostinho só na vida, nem esse de personalizar a peste...
O corpo de Negrinha era tatuado de sinais roxos, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa,
todos os dias, houvesse ou não motivo. A sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões
a mesma atração que o ímã exerce para o aço.
Mão em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos
em sua cabeça, de passagem. Coisa de rir, e ver a careta...
A excelente D. Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora
de escravos e daquelas ferozes, amigas de ouvir contar o bolo e estalar o bacalhau.

Nunca se afizera ao regímen novo — essa indecência de negro igual a branco; e qualquer coisinha, a polícia!!
Qualquer coisinha”; uma mucama assada ao forno, porque se engraçou dela o senhor; uma novena de
relho, porque disse: — “Como é ruim, a sinhá!”....
O 13 de maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava,
pois, Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Simples derivativo.
Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!...
Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade: cocres, mão fechada
com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a
concha (bom! bom! bom! gostoso de dar!) e o a duas mãos, o sacudido. A gama dos beliscões: do miudinho,
com a ponta da unha, a torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda
de tapas, cascudos, pontapés e safanões à uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante:
para doer fino, nada melhor.
Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para
desobstruir o fígado e matar saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente.
Não sabem?? Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho
de carne que ela guardava para o fim. A criança não sofreou a revolta e atirou-lhe um dos nomes
com que a mimoseavam, todos os dias.
— “Peste”?? Espere aí!! Você vai ver quem é peste. E foi contar o caso à patroa.
D. Inácia estava azeda, e necessitadíssima de derivativo. Sua cara iluminou-se.
Eu curo ela! disse, desentalando as banhas do trono e indo para a cozinha, qual uma perua
choca, a rufar as saias. — Traga um ovo!!
Veio o ovo. D. Inácia mesma pô-lo na chaleira de água a ferver e, de mãos à cinta, gozando-se
na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera
criança que, encolhidinha a um canto, trêmula, olhar esgazeado, aguardava alguma coisa de nunca visto.
Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora exclamou:
Venha cá!! Negrinha aproximou-se. — Abra a boca!!
Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa então, com uma colher, tirou
da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, prática que era
D. Inácia nesse castigo, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente,
pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:
Diga nomes feios aos mais velhos outra vez!! Ouviu, peste??
E voltou contente da vida para o trono, a virtuosa dama, a fim de receber o vigário que chegava.
Ah! Monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha de
Cesária; mas que trabalheira me dá!
A caridade é a mais bela das virtudes! exclamou o padre.
Sim, mas cansa...
Quem dá aos pobres, empresta a Deus! A virtuosa senhora suspirou piedosamente: — Inda
é o que vale...
Certo dezembro vieram passar as férias com “Santa” Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas,
lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.
Negrinha, do seu canto, na sala do trono, viu-as irromperem pela casa adentro como dois anjos
do céu, alegres, pulando e rindo numa vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente
para a senhora, certa de vê-la armada para desferir sobre os anjos invasores o raio dum castigo
tremendo.
Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era um crime brincar?? Estaria tudo
mudado e findo o seu inferno — e aberto o céu??!
No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria
dos anjos.
3
Mas logo a dura lição da desigualdade humana chicoteou sua alma. Beliscão no umbigo e nos
ouvidos o som cruel de todos os dias:
Já, para o seu lugar, pestinha!! Não se enxerga?? Com lágrimas dolorosas, menos de dor
física que de angústia moral — sofrimento novo que se vinha somar aos já conhecidos, a triste criança
encorujou-se no cantinho de sempre.
Quem é, titia? perguntou uma das meninas, curiosa. — Quem há de ser?! disse a tia num
suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus.. Uma
órfã... Mas, brinquem, filhinhas!! A casa é grande. Brinquem por aí a fora!!
Brinquem!!” Brincar! Como seria bom brincar! refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa
martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco!
Chegaram as malas; e logo:
Meus brinquedos!! reclamaram as duas meninas. Uma criada abriu-as e tirou-os fora.
Que maravilha! Um cavalo de rodas!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa
assim, tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que
fala “papá”... que dorme...
Era de êxtase, o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse
brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
- É feita??... perguntou extasiada.
E, dominada pelo enlevo, um momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a
arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criaturinha
de louça. Olhou-a com assombro e encanto, sem jeito sem ânimo de pegá-la.
As meninas admiraram-se daquilo. — Nunca viu boneca??
Boneca?? repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?? Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.
Como é boba! disseram. — E você, como se chama?
Negrinha.
As meninas, novamente, torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava,
disseram, estendendo-lhe a boneca:
Pegue!!
Negrinha olhou para os lados, ressabiada, com o coração aos pinotes. Que aventura, santo
Deus! Seria possível?? Depois, pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor
Menino, sorria para ela e para as meninas, com relances de olhos assustados para a porta. Fora de si,
literalmente... Era como se penetrara o céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe viesse
adormecer ao colo. Tamanho foi o enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. D. Inácia entreparou,
feroz, e esteve uns instantes assim, imóvel, presenciando a cena.
Mas era tal a alegria das sobrinhas ante a surpresa estática de Negrinha, e tão grande a força
irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida
soube ser mulher. Apiedou-se.
Ao percebê-la na sala, Negrinha tremera, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do
ovo quente, e hipóteses de castigos piores ainda. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos
olhos.
Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo: estas palavras,
as primeiras que ouviu, doces, na vida:
Vão todas brincar no jardim!! e vá você também!! mas veja lá!! Hem??
Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu nela a fera
antiga. Compreendeu e sorriu-se.
Se a gratidão sorriu na vida, alguma vez, foi naquela surrada carinha...
Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E
para ambas é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o
momento da boneca — preparatório, e momento dos filhos, — definitivo. Depois disso está extinta a
mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha alma.
Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que ela trazia em si, e que desabrochava, afinal,
como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ser humano. Cessara de ser coisa e de
ora avante lhe seria impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!...
Assim foi, e essa consciência a matou.
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa reentrou no ramerrão
habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.
D. Inácia, pensativa, já a não atenazava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração,
amenizava-lhe a vida. Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita.
Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos,
cismarentos.
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro de seu doloroso inferno,
envenenara-a. Brincara ao sol, no jardim. Brincara!...
Acalentara dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer papá e a cerrar os
olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.
A repentina retirada de tudo isso fora forte demais para a débil resistência de uma alma, com
um mês de vida apenas. Enfraqueceu, definhou, como roída de invisível doença consuntora. E uma
febre veio e a levou.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Ninguém, entretanto,
morreu jamais com maior beleza. O delírio rodeou-se de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de
anjos... E bonecas e anjos rodamoinhavam em torno dela, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada
por aquelas mãozinhas de louça, abraçada, rodopiada.
Veio a tontura, e uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num
disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e o cuco pela última vez lhe apareceu, de boca aberta.
Mas, imóvel, sem rufar as asas.
Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou... E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com indiferença sua carnezinha de terceira — uma miséria,
quinze quilos mal pesados...
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das
meninas ricas:
Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca??
Outra de saudade, no nó dos dedos de D. Inácia: — Como era boa para um cocre!...
Monteiro Lobato – 1927




Negrinha, tese para uma analise critica.

O texto é árido, por monotônico, e monótono, por desértico, a tal ponto e modo que cansa em suas quatro páginas. Causa o primeiro estranhamento ao deixar a impressão, desde as primeiras linhas, que a personagem principal não ficava de pé. Como se tratasse de um animal, um réptil, tombado sobre algo podre, sendo ele mesmo podre. Estranha-se o fato de o conto se ambientar em casa de senhora rica,  o que proíbe a verossimilhança intratextual requerida; qui o texto fura, faz água, porque uma casa rica cheia de trapos imundos onde se pousa o invertebrado, ser sem alma, não é verossimilhante! principalmente o trapo imundo!
Negrinha, como não ficava sobre as pernas, desde os começos, o movimento, ou tal imaginação está interdita, está interdito também perceber, no texto, se esse ser\bicho se locomove. Como se traslada?? por mágica?? magia??
 - ah a pontapés!
Movimenta-se desde a escura cozinha até o canto da sala. Sem alma e sem movimentos próprios, ainda que o narrador tenha permitido ao cuco, ao menos o movimento, de hora em hora. Assim Negrinha não apresenta qualquer ato que a assemelhe aos  animais, domésticos ou selvagens, ausente a rebeldia, aparente ou interior, pois sua presença seria sinal de vida, mas nem sequer  há interior.
Sendo personagem principal, fala muito pouco, entretanto fala muitíssimo menos que personagens fugazes como as visitas de novembro, mas estas nas poucas linhas que as descrevem, angelicais, nos permitem saber de suas sensibilidades. A própria mãe esquece do afago, do carinho e castiga. Negrinha não é nem um verme.
Me parece leviano dizer: a esperança transmitida é a de que: a questão social estaria resolvida com o desaparecimento dos negros, definhando os seus filhos.
A personagem sem alma e sem movimentos, que se descobre gente e se anima ao se deparar com o inanimado, uma boneca. Mas, estranhamente a descoberta da própria alma não transporta a personagem a compartilhar o mundo dos vivos, ainda que maus estes e mal o mundo, porque a única opção permitida é a morte, incrível, lenta, por definhamento. Não há sequer a grandeza de um enforcamento, coisa de pobres, ou envenenamento, suicídio de médios etc.
Novamente, pergunto se seria opção de Negrinha, incapacitada de abrigar a alma, sabe-se lá o porquê, preferir a morte lenta.
É incrível que Negrinha – com seus sete anos de idade – não tivesse alma até se deparar com a boneca. Que estranha e rara fenomenologia, já que estranhamente, dentro do texto, a simples visão do cuco fazia sua alegria, entretanto quando animada pelo toque ao inanimado, o que seria motivo suficiente para  enfrentar a empreitada da vida, porque a vida vale a pena, apesar...
É o que deveria ser uma mensagem positiva frente as maldades da escravidão que acabara, e o racismo nascente, nascendo disfarçado, apesar do sofrimento, a vida vale a pena. Ou, estou louco e deveria dizer: dado os maus-tratos do mundo me deixo morrer!
 Digamos que  o conto Negrinha não oferece nada mais que isso: não há saída ao racismo senão que pela morte, vide Negrinha.
Voltemos a literatura, a economia, ausência de descrição de aspectos físicos, alem da pretura, inexistência de aspectos psicológicos, deixa no ar mais esta pergunta: Negrinha é um objeto mínimo ?? e uma resposta: Sim, o quanto basta a se poder lançar toda a sorte de impropérios, porque não ficou achincalhe encalhado em dicionário a espera de vestir alguém, todos foram usados. Não houve maldades que se possa fazer que não foram descritas, economias mesmo somente com os quinze quilos de carne preta, fusca, ruça ou...

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta?? Não. Fusca, mulatinha escura, de cabelos
ruços e olhos assustados”
Aqui se pode usufruir de um estilo, truque narrativo, que pretende mostrar a vaguidade em que andava o narrador, e assim deixar transparecer, que a narrativa flui naturalmente, como se não fosse premeditada, como se o narrador não tivesse claro, objeto e objetivo, no momento de tecer, e com espanto se desse conta da necessidade de pintar o quadro.
 J. L. Borges dizia  prestar muita atenção na abertura das obras, narrativas, e menciona aberturas espetaculares que aguçam o interesse pelo que virá, como Em busca do tempo perdido ou Don Quixote etc. Não é o caso da abertura de Negrinha de Monteiro Lobato. Afinal é um texto de 1927 e rica literatura nacional já havia passado por debaixo da ponte que liga o 19 e o 20, e  é bastante infantil a abertura, para ficar no âmbito literário.
Mas, afinal, quem está a narrar?? O narrador, mas o narrador é D. Inácia?? Numa frase – a primeira, o cabeçalho – descritiva encontramos: Negrinha, Preta, Fusca, Mulatinha escura.
Dos cabelos: ruços.
Dos olhos: Assustados.

  • Quem é a peste que está chorando aí? Quem pergunta é dona Inácia.


Quem havia de ser? A pia de lavar pratos?? O pilão?? Aqui o narrador pensa por D. Inácia. 
Dá ares que tenta a técnica do fluxo de consciência, que já havia sido praticada por Virginia Wolf entre outros e viria a alcançar seu apogeu em Ulisses de James Joyce, entretanto se houve tal tentativa em Negrinha, o efeito não ocorreu. É por isso que me apego a questão, senão vejamos. 
A mãe da criminosa abafava a boquinha... aqui o narrador narra, mas quem é o narrador??
...da filha e corria com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões desesperados:
  • Cale a boca, peste do diabo!! aqui fala a mãe de neguinha.
Novamente cabe a pergunta a respeito do narrador, porque o texto deixa a ideia de um único pensamento, pois o pensamento do narrador e o de Dona Inácia é uniforme, normatizado, e aplicam os mesmos marcadores da diferença. Pois senão:
Aqui D. Inácia:
“ — Quem é a peste que está chorando aí?”
e aqui o narrador:
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos?? O pilão?? A mãe da criminosa...”
ela pergunta pela peste e ele deixa claro que a pergunta é tonta, sendo claro que se tratava da “criminosa”.

Mais adiante aquela impressão da ausência de movimentos que se tem, no principio do conto, se confirma: “ levada a pontapés...” “...Aprendeu a andar, mas não andava, quase...”


Enfim
...Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Ninguém, entretanto,
morreu jamais com maior beleza. O delírio rodeou-se de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de
anjos...
na sua parca existência 'almada' foi capaz de desenvolver a ideologia dominante, uma tragédia. A morte ...com maior beleza. O delírio rodeou-se de bonecas, todas louras, de olhos azuis... a coisa diz-se em si e por meio de si.

Aqui dou voz as vozes estranhas do narrador: Num determinado momento D. Inácia diz: Brinquem!!
então entra o narrador, primeiro falando por Negrinha : Como seria bom brincar! refletiu com suas lágrimas, no canto,... para depois se instaurar: … a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco! Até mesmo o Manual de Redação da Folha consegue identificar essa parcialidade narrativa, veja bem, que não é proibido seu uso num conto, porque também não é isso que discuto.

Sentiu-se elevada à altura de ser humano. Cessara de ser coisa e de
ora avante lhe seria impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!...
Assim foi, e essa consciência a matou. É nisso que insisto, “a consciência de não ser coisa, a matou”. O narrador não explica o porquê sua carnezinha de terceira recheada com a 'vibração' de não coisa não pode suportar a vida 'sentida'. Não carece dizer que carne é de terceira.

Nisso reside a monotonicidade de Negrinha, como um deserto, em qualquer parte é o mesmo, constituído do mesmo. Negrinha dá nome ao conto. E tudo dentro do conto diz o mesmo: Negrinha. Toda a 'rica' sinonímia da época está presente, ora à boca de Inácia ora na pena do narrador e por vezes em ambos corações a um só tempo, porque não se distinguem ainda que se revezem. As achincalhações por muitas, por vezes aparecem amontoadas na mesma frase, misturando-se, qualificando-se entre si umas as outras. As maldades da boa mulher se repetem, mesmo a pior delas, volta aparecer como ruminação.
O conto Negrinha não tem qualidade literária. Tem contexto histórico, mas não se contextualiza, é pontual, para quem não conhece a história do Brasil, nele pouco saberá da escravidão, exceto sua violência, e a impossibilidade dos negros como Negrinha de suportarem a liberdade. É essa a noticia que nos dá o conto Negrinha. Negrinha não tem alma, e quando a ganha de uma boneca de porcelana, não suporta o peso, a carga da civilização e definha.
É uma proposta, e pode existir e existe ao lado de tantas outras. Entretanto creio que deva ser uma opção de cada indivíduo, não creio que deva ser 'curricular'. Se editores quiserem imprimi-la, que o façam, somos livres, a livre iniciativa já diz outro tanto, temos o direito de nos exprimir, porém a União não deve 'bancar' novas edições de coletâneas de tão pouca qualidade literária, para não dizer nenhuma.

7 de nov. de 2012

Hoje não sei o que dizer.






Hoje não sei o que dizer.



Há sempre um livro nestas páginas em branco, uma vida nesta cronologia sem espaço.
Sou um estranho neste jardim.
Rapazes e moças " Chefs" do ElBulli- Alqueria - por cinco meses. Neurocirurgiões operando o próprio Deus, Michelangelos descascando o mármore em que Davi se esconde. Então mandam: espátula, sim; faca, sim; Coador chinoix, sim: manteiga clarificada, sim; redução de carne,sim; prato para empratar, sim.
Andam de um lado para o outro carregando a certeza que irão decidir o futuro da vã humanidade.
Há uma compenetração e seriedade que tangem o obtuso. Uma ubiquidade: ser, prato e ingredientes -necessária - . Mas a flauta é mais feliz que o flautista e a música se perde no vácuo dos ouvidos moucos.
Chego a achar que falta vida ao prato, uma fumacinha talvez - aquela fumaça quase protagonista nos filmes cults filmados em San Francisco e bairros pobres de N.Y. - que seja uma fumacinha subindo do filé, como sinal de vida, ou de vida vazando,que viver é vazar em..., algo além da obtusidade fulgurante do fenótipo "belo". E por pequeno que seja, um dedal, ele transbordará se uma cabeça de alfinete ai for vertida, por sua falta.
Acético, pasteurizado é este mundo privado de qualquer barroquismo - ainda que se permita um certo rococó da bisnaga de redução de balsâmico ziguezagueando pelo prato, da erótica gota de caldo de carne grosso como fosse um purê finíssimo, colocada ali para que jamais termine de incidir sobre o fundo branco de um prato que em sua demasia é branco.



6 de nov. de 2012

Meta. Mito.


Meta. Mito.
Refúgio.




Consciente ou não dos nossos limites, revoltados contra eles, ou não; somos infalíveis construtores de mitos, ainda que à nossa semelhança, e para tanto largamos para trás as restrições de que padece a nossa existência. Ao mesmo tempo estímulo e refúgio, o mito pode nos induzir à passividade, se praticamos a contemplação. Caso contrário, a ação mitológica, e se a imitamos, como ação, a convertemos em meta, em modelo, creio que é isso que nos convém emular.
Hoje como na antiguidade vale a mesma cosmogonia dos deuses, eles se apaixonavam e lutavam como homens, é certo porém que venciam a morte.
Deixando de lado as personagens imaginárias, a história está cheia de homens e mulheres reais que se transformaram aos olhos de seus coetâneos em figuras míticas. Getúlio, Roberto Campos, Lula, Dilma, Golberi, Hebe, Ana Terra, Luísa Erundina, Hilda Hilst, Aírton Senna, FHC, Delfim Neto, Pelé, Paulo Francis, Joana D'Arc, Alexandre o Magno. Projetamos nos mitos nossos sonhos e frustrações.
A mente da criança mergulha com entusiasmo no universo mágico, He Man, Dart, sei lá faz tempo que não sou criança, mas ao mesmo tempo estes heróis são humanos e lendários, quase sempre partem da realidade, ainda que revestida de imprevistos luxuosos.
Nunca me esquivei com desânimo ao contato com a cara áspera da realidade, é uma tentação, por demasia, banal, rasa. Afinal dizemos sempre: Cara feia é fome.
Não me deixo enredar pela dimensão épica a que se propõem acentuar às meras competições esportivas, são meras competições esportivas, ou mesmo ludicidades banais, mesmo até e por vezes lúbricas. Daí e desse convívio e de contrastarem-se, nessa lubricidade, vem a distorção; os discursos céticos e pessimistas. É a mais pura impotência. L'impuissance mise en action. A impotência posta em ação. O acionamento da impotência.
Em momentos de dureza e dificuldade, nem a resignação derrotada nem a utopia imprudente são as opções mais recomendadas, mas, quiçá, a ambição responsável, mas se o muro infranqueável rachou!
Creio que nos falta alguma audácia, a audácia necessária, para ir além, tudo sem abandonar a lucidez. Aqui reprendo reaprendo o sentido do mito, que a miúde está ou é percebido como um convite a audácia. Não podemos nos permitir nem a indiferença nem a inibição.
Passos para adiante e com determinação, é o grito de guerra, e como referência o empenho e a capacidade de liderar. Não se trata de nos darmos poderes desumanos, mas nos ancorarmos em valores cívicos e nobres. Temos que ser mais ambiciosos, como classe, enfim, como sociedade.
É duma sociedade com riqueza cultural, social e econômica que brota o indivíduo rico econômica-social e culturalmente. O movimento contrário só nos faz onanistas ególatras.    

24. bah! histórias...


QUARTA-FEIRA, DEZEMBRO 06, 2006

24. bah! histórias...

HISTÓRIA DEVERAS INTERESSANTE DE COMO UM PRETENSO ESCRITOR DESOBRIGADO OBRIGOU-SE A EXPLICAR A PRETENSO CRÍTICO NÃO PASSÍVO LEITOR DA HISTÓRIA QUE AMBOS SABIAM  NA QUAL NÃO PODIA HAVER COMEÇO NEM FIM NEM DEVERAS INTERESSANTE HISTÓRIA.
Zénão tem à mão ainda o maço de folhas envoltas num almaço impermeabilizado por uma fina camada de gordura onde se lê: O Beijo
- E este O Beijo?
- Este será o último capitulo do livro, por ser ele possível, não quererá acabar em desdobramentos, mas num beijo.
- Capitulo ou epílogo? Pergunta Zénão.
- Não importa serão as últimas páginas e por agora quero sua critica.
- E sua própria opinião?
- É sempre favorável às minhas crias.
- E onde entra esta poesia que li? Pergunta Zénão.
- Imaginei o personagem usando-a como instrumento de demonstração de sensibilidade, uma criança que empurra o copo cheio de leite só para vê-lo ele o leite derramar.
- Já têm nome esses personagens?
- Têm. Luis e Inês.
- Não era Laura?
- Não era Laura! Era?
- Não sei, acho que era!
- Você acha que ia por o nome dela?
- Não sei não, por que não?
- Acho que ela não ia gostar!
- Por que não?
- Você viu hoje?
- O que? Ela dançando com você?
- Então eu não esperava por aquilo! Ela tem atitudes que nem me surpreendem mais, dada a constância da inconstância.
- Mas se colocasse o nome dela isso ia mexer com você e permitir mais liga.
- Onde você viu isso?
- Vê os compositores, quando compõem para elas.
- Não é isso não Zenão, isso é pra acalmá-las.
- Deixa isso pra lá, como é o enredo então?
- É simples e ao mesmo tempo complexo.
- Como assim?
- Ela lhe dá papinha. Hahaha!
- E o que significa isso?
- Sabe Zénão, Luis não consegue transpor o círculo, parece que Virgilio o abandonou. E ela olhando desde dentro o vê invisivelmente familiar, mas não o permite descer, e nem não impede.
- Quer saber? Disse Zénão e continuou, Luis quer o perigo, mas o teme. Cobiça, mas odeia a dádiva. Acabará por ser vencido e não aceita. sabe que viver é uma luta continua e absurda e inapelavelmente fatal.
- Resulta em que, meu querido?
- Adaptar-se ao poder da fraqueza.

- Acho que sim Luis sabia que era mais fácil trepar com ela que a amar, como naquele dia que ela falou do tal Molyna e Luis já sabia e Luis jogador não quis umas cinco vezes fazer os caprichos dela e ela ardendo de desejo tanto que até seus olhos estavam brilhilubrificados e Luis dizia “eu te amo”. Quase a obrigava a dizer o mesmo por um pouco de sexo. Então Luis escarnecia dele mesmo para ela relaxar e então ela o deixava e saia atrás do Molyna, tudo porque Luis realmente a amava. O sexo em si é para Luis uma efeméride, e muitas vezes sustinha-se com putas e punhetas, e definitivamente queria com Laura sexo e amor.
- Isso é do mais refinado masoquismo! Diz Zénão.
- Como assim?
- Como? Negar sexo à mulher que insistentemente se ama! Que é isso senão masoquismo!
- Calma! No caso sádico também se ele só fazia seus próprios caprichos.
- Esse Luis estava era com muito medo, isso sim!
- Pode ser.
- Pode ser não, é, ele tinha era medo dela!
- Medo como?
- Medo! Medo do sexo com ela.
- Medo nada andava platônico cada qual com sua história que não incomodava o outro, nem ciúmes, nem desdém.
- Nossa você está louco, meu amigo, pensei que tinha se curado. Cadê o desejo?
- Às vezes o desejo...
- Quê que é isso?
- Não deixará contá-la nunca, quantas mudanças tanta interferência?
- Conte.
- Você não acha interessante se jogar tanto, a ponto de não restar outra coisa senão o jogo.
- Sim, mas não lerei.
Lere lerei lere lerei... Cantarola Luis. E segue - O texto exige de mim, ele arranca de mim o que eu não queria dizer à luz do consciente, imagina agora que eu que sou personagem escapulido do escritor e por ele esculpido, matreiramente a esguivar entre as bananeiras limitantes verdejantes que ele plantou para ser o meu jardim, dizer a ele que esse era o modo mais cruel e possível de viver uma paixão, mas eu queria que ao ler soubesse de s

5 de nov. de 2012

Os Arbitros e a Conspiração.


Os Arbitros e a Conspiração.


O Arbitro é uma mistura de deus e homem. Deus pelo poder definitivo. Sua onipresença no campo de jogo. Sua onisciência etc. Homem, pela humanidade do erro. Este final de semana houve por bem e por mal, mundo afora, da arbitragem cometer erros importantes, que em campeonatos 'justos' 'apertados' como o inglês, podem ter influência direta não só no resultado da partida, mas no resultado final do campeonato. O mesmo aconteceu em Valência, Mestalla. Aconteceu ontem na bela arena do America mineiro, no jogo do Galo. No jogo entre Ponte Preta e Fluminense – verdadeiro roubo – duas falhas 'clamorosas' do colegiado. Em outra partida do Pó-de-arroz. Aliás, o Flusão sem tais ajudas teria uns 9 pontos menos. Ou será que não se trate da minha vontade de ver o Atlético mineiro campeão, por ser uma equipe mais anódina que o tricolor das laranjeiras.
Entretando devo agradecer a existência destes abnegados senhores, porque não poderia apitar, como já tentei, uma partida entre casados e solteiros aqui do bairro e depois do prélio almoçar sossegadamente com minha mãe.
O certo é que acertam muito, mais acertam que erram. É um trabalho difícil. E mais digo: Cumprem função social das mais importantes: serem os culpados pelos fracassos alheios. Além de servirem de álibi a seguirmos com fé na grandeza do nosso time, ainda que tudo o mais diga em contrário.
Se venta é porque venta, se faz calor é porque faz calor, é o horário de verão o negócio é queixar. Não chovia, agora chove é certo, está aberta a temporada de queixas pela chuva.
Todavia, agradeço a valentia desses heróis não reconhecidos. Mas também sei que temos que manter viva a conspiração, pois que senão, acaba a farra.