12 de abr. de 2011

Racismo e discriminação.

Tornou-se moda indignar-se com o politicamente correto. Hipocrisia bradam. Macaqueamos os americanos dizem outros. Ora vamos, os americanos brancos botavam os negros a caminhar na outra calçada, sentar no fundo dos ônibus. tiveram a KKK. Nunca esconderam o que pensavam e impingiam aos seus concidadãos negros. Racistas assumidos sim, hipócritas não creio. Mas criaram cotas. Cotas inclusive no cinema, aonde há médicos negros, loucos negros, putas negras, madames negras, chefões negros, patrões negros, diretores de escolas negros, policiais negros, corretores de valores negros, diretores de cinema negros etc. Isso em Hollywood. Cotas. Por aqui, quando o caboclo não tem os colhões de assumir-se racista, ataca o uso do politicamente correto. É notório, ululante que mudar o nome das coisas não as muda. Digladiar-se com a imposição civilizatória do eufemismo é esconder-se por detrás da gramática, e ao invés de discutir abertamente os inconvenientes de que padece a nossa sociedade e tentar resolvê-los, ataca-se e goza-se da troca dos termos malsonantes pelas expressões figuradas.


É nesse foro, o do racismo e outras discriminações negativas onde há a realidade mais espantosa, a dos pseudos-livre-pensadores que andam a deixar suas pegadas na areia e as ondas de algum esquecimento já não têm dado conta de borrá-las, e o eco de seus berros cifrados é colossal, diante de uma atitude mínima do estado como: o bolsa família, cotas etc. Não é no manual de redação que o mundo muda, mas também nele.

Meu caro Hamilton.

Carissímo Hamilton, disse Schopenhauer: Vaga-lumes e religião só brilham nas trevas; acrescento: racismo e preconceito exigem certa ausência de luz. Há povos no mundo que ainda usam os dedos para levar à boca o naco de carne. Ora vamos, os talheres são fatos politicamente corretos. Atos civilizatórios. O lenço para limpar o ranho. As vagas nos ônibus, nos concursos, nos estacionamentos indexadas, linkadas à melhor idade, portadores de necessidades especiais etc. As proibições implícitas e explicitas ao incesto, pedofilia, froterismo, necrofilia etc idem. Osmar Prado no papel de Barão de Araruna, se deliciou e deliciou a muitos, fazendo-de-conta que fazia-de-conta. Eu sou preconceituoso e racista. Por isso sempre que posso mamo de alguma teta cerebral o leite civilizatório: João Cabral de Melo Neto é um úbere e tanto, educação pela pedra.

7 de abr. de 2011

Uma negra que o demônio acordou.

Mallarmè


La Négresse

Une négresse par le démon secouée
Veut goûter une enfant triste de fruits nouveaux
Et criminels aussi sous leur robe trouvée,
Cette goinfre s’apprête à de rusés travaux ;

À son ventre compare heureuse deux tétines
Et, si haut que la main ne le saura saisir,
Elle darde le choc obscur de ses bottines
Ainsi que quelque langue inhabile au plaisir.

Contre la nudité peureuse de gazelle
Qui tremble, sur le dos tel un fol éléphant
Renversée elle attend et s’admire avec zèle,
En riant de ses dents naïves à l’enfant ;

Et, dans ses jambes où la victime se couche,
Levant une peau noire ouverte sous le crin,
Avance le palais de cette étrange bouche
Pâle et rose comme un coquillage marin

6 de abr. de 2011

Bolsonaro. O mártir do arco-íris em preto e branco.

Bolsonaro abriu as portas midiáticas para uma grande discussão. Racismo e preconceito. Uma oportunidade rara para a ampliação e aprofundamento de assuntos tão importantes como pendentes em nossa agenda de compromissos democráticos. Mas é certo que tudo foi atirado pela janela. Resumir-se-á a um pedido de cassação e outro de indenização por danos morais. Bolsonaro não disse mais do que a maioria dos pais deste país dizem diariamente na frente da TV, no intervalo do trabalho, na mesa de butiquim, sinuca, baralho e principalmente diante dos interessados. Estas questões têm suas urgências, mas se há liderança envolvida, é cobra de cem cabeças. Sem prejuízo às punições cabíveis, Jair Bolsonaro fala por muitos, deveria ser instado ao debate, sua opinião é importante, tem representatividade em todos os setores da sociedade. As comunidades envolvidas carecem deste debate. Não é por ser um parlamentar que o cara deixa de ser tacanho como nós. Muitos(muitíssimos) dos interessados escondem o fato a próprios pai e mãe, e estes são votos “do contra” (contra a própria prole) quando pedidos a manifestarem-se, publicamente. É tudo muito estranho, parece brincadeira de esconde-esconde e é só o Jair que não sabe brincar.

31 de mar. de 2011

Gaiola das loucas: Ópera do froterismo.





Fui para o ponto um horário antes, queria passar no Extra e comprar café. Quinze para as três, a lata não passou, três, três e dez, três e quinze, a lata não passou, três e quarenta, dois horários depois passa o busão. Cheio. No primeiro condomínio, treslota, com todas as domésticas que faltavam, no seguinte só pedreiros e serventes, todos do Piauí. Todos falam alto. Muitos celulares soam estridentes, competindo com a gritaria de Ivete Sangalo com seu bonezinho de maquinista no busvideo. Uma moça gorda encavala sua ausência no meu ombro. Fora da geladeira e esse calor! Hum... digo. Que! Diz ela. Nada! Digo. Um piauiense aumenta o espaço com seu froterismo. Chega ao Shopping. Embarcam meia duzia de jovens homossexuais. Um deles, mais desbravador, cruza a catraca e avança até o fundo, outros estacam ali mesmo, junto ao motorista. Um cearense encosta-se no moço. O moço grita para os amigos que ficaram na catraca. Juliete, “vem! aqui tá booom”! “ Sei!” diz minha vizinha encaixada no meu ombro. A plateia delira. Cê tá desesperada!Suzy! Grita Juliete. A galera vai a loucura. A gaiola para noutro ponto. “Nem sobe querida, to entalado até a garganta” grita Juliete. “ Vai vendo!” diz uma moça. Desci, quatro e dez, atrasado para o trabalho.

30 de mar. de 2011

INTERVIEW




Movia-me cavilosamente entre o verso e o anverso de uma folha de papel amassada feito bola.


Viajante?

Com Ulisses o grego Simbad o marujo Homero o mero Kadafi o muezim Hugo o chaves Obama o ladem Kirchner o cozinheiro Bin o bush embusteiro Li Ju a jujubeta Lula o cefalópode Kenji o jigoleta Machado o rameiro José o carpinteiro Jesus o pregoeiro.

Quais direções?

Norte sul leste oeste onde a chupeta fosse o terço de cinquenta.

Onde?

Boulevard Bonfim Berlin Benfica Betin Buritizal.

Repouso?

Um filó para impedir as moscas nas partes desvestidas e vento de ventilador de repartição porque sua filantropia nunca chegou ao baixo ventre não dentro de casa me convertendo ao celibato coisa que a bondosa mãe sempre sonhara para o seu primogênito confessor da vizinha que não sabia comer e gostava da coisa al dente assim comia o molho depois da pasta depois esfregava sua gosmenta mata úmida nas fuças e a chamava de cadelinha e deixava suas nádegas vermelhas de palmadas ela urrava com sua boca entupida depois pedia que a amarrasse como o homem vitruviano de Leonardo da Vinci me xinga vadia eu dizia cadelaça depois ia ao dentista para que lhe limpasse os dentes e a candidíase bucal .

Movimento?

Colar os selos de uma carta escrita e reescrita a papai Noel pedindo o fim da discriminação oral anal nasal e um aspirador de caspas portátil para os seborreicos e uma macaca catadora de lêndeas e um tamanco para fazer em pé com pernaltas.

Postura?

Decúbito dorsal ligeiramente lateral para ela.

Porque?

Ela nunca tinha feito a coisa assim e creio que ela era piedosa apesar de tudo merecia o de melhor coisas fora da rotina e tinha passado a vida a pensar nos outros passei a pensar um pouco por ela e dar-lhe coisas boas e chegava a botar o Tango la Comparsita na vitrola ela só conhecia o Bolero de Ravel eu gostava do bolero mas o via muito mecânico o Tango permitia outros malabarismos.

A barata diz que tem\ sete saias de filó\ é mentira da barata\ ela tem é uma só.

A barata diz que tem\ sete saias de filó\ é mentira da barata\ ela tem é uma só.


Cantiga popular.



Vira e mexe a Miloca sai lá de onde estava e zanza. Eu falava com Joana Darque, assim de frente para ela sentada, já não me apaixono a tempos, nem sei se sei, então pousei primeiro as mãos sobre a mesa do bar, depois o antebraço, ela parece que fez o mesmo, fiz que não vi, mas por vezes as levantava, ajeitar uma meia, verificar um brinco, depois baixa só uma a outra ata o bíceps da uma, donde eu via um quatro. As minhas rastejavam imperceptíveis como uma centopeia, mas deixando espaço para que pudesse estender suas mãos e braços sobre a toalha quadriculada sem tocar as minhas. Esse toque deve ser fatal como uma linguada de sapo numa libélula despretensiosa. Quando por fim Joana Darque pousou suas mãos, estava todo prevenido, olhava para o copo de cerveja, para tirar peso e não demonstrar a avidez que a avizinhava. Quero mas não quero. Torno a repetir: quero mas não quero. Lá fora a rua deserta úmida ainda da chuvada passageira. Mas olhava a Joana para Joana, prestes a entrar em Joana por seus olhos negros, por sua boca, eu aprendi com o Ednilson que não se pede um beijo, se beija. E sua boca diria não, se perguntada, mas seus lábios entreabertos não queriam perguntas, queriam beijos. Mas havia as mãos, e subir o olhar do colo a boca sem quebrar o biscuit, mas depois do seu ombro vi vagar um vulto, era Miloca mudando de dimensão, não há vi, ouvi seu zuzo suave, não sei se Joana Darque viu o que eu não vi, ou só viu que via algo que me desconcentrou.