9 de set. de 2015

Penélope.

Penélope.
Penélope tecia de dia um sudário, que desfiava a noite, porque prometera se casar com um dos pretendentes ao finalizar o trabalho. Isso é o que conta o poema de Homero. E assim ficou como um mito de nossa civilização. Representando uma tarefa interminável por desejo de sua autora. O momento é de desfiar qualquer conquista obtida, quando a pedra sisífica rola morro abaixo. Muitas vozes a balir pelo desfazimento, e sendo possível, destruir as pontes. 

7 de set. de 2015

Mundo tá mudado.

Mundo tá mudado!

Já dizia vó Vicentina seguida de um séquito de galinhas que viam como ela fazia chover milho: "Mundo tá mudado", passava o tempo que se amarrava cachorro com linguiça. Era frase que o Galego fazia ribombar no bar  Risca Faca, a última estação de muitas vias-sacras: " O mundo tá mudado, neste mundo de hipócritas há dois tipos de pessoas, as que dão e as que tomam" . Era sempre direto, que o perdoem a quem se sentiu ofendido, não se pode, entretanto, negar que tinha mais razão que um santo. Ele que imigrara de um mundo aonde vira todas as cores da república, até republicanos católicos fugindo de anarquistas. Fugira descalço de um campo de prisioneiros de guerra, se casara com uma prostituta arrependida e sempre alcoolizado, mas não bêbado. Sentado no banco da praça, picando fumo, se ria de nós, estudantes, quando falávamos em mudar o mundo. "Burros! Melhor escolher um dos bandos: tomar ou dar! Dos que ouviram essas tagarelices do Galego, nenhum mudou mundo nenhum! Às vezes me dou o bônus da tentativa, mas me penalizo, rapidamente. Todos juntos, nos convertemos num rebanho de ovelhas, que além de quatro balidos e uns resmungos,  não pudemos romper a barreira entre os dois mundos do velho Galego. De toda a turma, um só passou para o bando dos que todos tomam, os demais pagam a contribuição, religiosamente.
O mundo continua rodando morro abaixo. 

Parece ser necessário certa teatralização, foto pungente,pois os argumentos são refutáveis.



Aylan Kurdi, o moleque morto na praia de Bodrum, segundo crônicas, a Maresias da Turquia, detonou a solidariedade mundiaj.  Cidades, cidadãos, até o papa se ofereceu para ajudar, e pedem solidariedade dos europeus, no drama dos refugiados sírios. É verdade que não se trata só de uma tragédia síria, nem todos os refugiados são sírios, nem todos fogem da guerra, mas o primeiro passo foi dado, e parece que os estados europeus deverão ampliar ajudas, frente a comoção e pressão da opinião pública comovida diante da foto de Aylan, vestido como europeu, tão parecido com os europeus, que se transforma numa bofetada nas consciências européias.
O que passaria se não fosse uma criança? E se usasse túnica? Como tantos que cruzam ou perdem a vida no Mediterrâneo.
É tarde demais para muitas perguntas. Houve acerto em financiar oposição islâmica contra Bashar Al-Assad? É tarde! Se a política do mal menor é adequada para os cidadãos de Alepo ou Damasco? É muito tarde! O fato é que fogem atordoados e batem à porta do mundo! 

4 de set. de 2015

Ampère comeu as cerejas.

Ampère comeu as cerejas.

Aqui sensualidade e erotismo se misturam. Não sei se estou à altura do erotismo das cerejas,  ou tentar.  É segunda feira, um  três de julho de 1797. Dia nada especial, tampouco para soltar as rédeas da paixão, mas Ampère não era um tipo qualquer, era um cientista. Fora um garoto prodígio aos doze anos estava familiarizado com as obras de Euler. No dia que nos ocupa colhia cerejas. Pode parecer insignificante, mas seu coração estava a ponto de lhe sair pela boca. Colhia a cereja e a atirava para Júlia, por quem estava cozido de paixão. O fato dela recolher as cerejas em seu avental, fazia de cada turgente, vermelha e sucosa cereja uma metáfora do impensado! Você pode pensar que não, mas há segundas-feiras que até o impensável se faz realidade.e aquela segunda, Júlia com a saia cheia de cerejas..." se sentou no chão e me deitei a seu lado sobre a grama. E comia cerejas que estavam sobre seus joelhos ". Não tenho qualidade moral para mais, diante do acontecido, então que continue Ampère: " Depois fomos ao jardim, aonde ela aceitou um lírio de minha mão "! 

2 de set. de 2015

É senso comum que a televisão me deixou burro pelo resto da vida.

É senso  comum que a televisão me deixou burro pelo resto da vida.

Há quem "ache" que exista uma conspiração televisiva nacional, pra nos embrutecer. Para nos fazer tontos, imbecis. Ingênuos!  O que existe é uma conspiração  do povo para manter as televisões idiotas.
Se a a mediocridade atendesse  a um plano anterior, estudado, pré-concebido, por mentes perversas , partidárias da imbecilidade universal,  me daria por contente, aí menos teria contra quem me sublevar, ou ao menos sonhar com uma programação melhor. No entanto, os programadores  estão a correr atrás do que queremos,  assim, somos eu e você que programamos a TV ,  quando dedicamos minutos de ouro e mudando a audiência de lá prá acolá. Sem salvação!

Povo x Leis.

Só os ingênuos acreditam que as leis tem morada nos códigos, por ex Constituição Federal, ou as leis estão nos costumes e comportamentos,  no Povo, ou é letra morta, ou coisa pior, má-fé político-juridica. A Lei deve converter uma massa, uma multidão em Povo. Deve ser finalista e não eficiente. Qual a finalidade? Transformar uma manada num Povo. Qual? Povo. Aonde não existe  um Povo, pode existir uma Constituição? 

1 de set. de 2015

Complexo de Telêmaco vs o de Édipo.

Complexo de Telêmaco vs o de Édipo.
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Telêmaco é filho de Ulisses e Penélope. Ulisses anda pelo mundo em aventuras. Dorme com todas as mulheres que encontra pelo caminho. Penélope o espera. Cuida de tudo. Além de bordar. Telêmaco é inseguro. Tem medo do escuro e do que está sob a cama. Não tem a referência do pai provedor. Que dorme com sua mãe. Que dê aquela olhada de: Basta! Nem do herói. Telêmaco quer que seu pai volte para casa. Durma com sua mãe. Proteja Penélope, ela, a casa... Diga dos limites. Como amolar uma faca. Na escola, Telêmaco não tem como dizer: meu pai ... ...isso. Seu pai não está!. Não sabe o tamanho do pinto do pai, não sabe quanto ainda crescerá o seu. 
Se Édipo queria dormir com a mãe, no lugar do pai, Telêmaco quer que o pai durma com a mãe, em seu lugar. Que lhe diga que meninos não choram. Sim que Sim, o carro sempre será seu nos fins de semana. Que deixe  os chinelos, pelo caminho, antes da.cueca. que deixe o prato no sofá, que diga: amor! Faz um cafezinho!  Por isso era, para Édipo, preciso matar, alguém que era o horizonte, para poder ver o horizonte. Porque crescer, era crescer contra o pai.
Telêmaco quer que sua mãe trabalhe menos.
Enfim em lugar de relações horizontais, Telêmaco quer relações verticais. Para dormir tranquilo e saber que está tudo sob controle. 
Telêmaco quer um horizonte.

Desde uma leitura, breve, de Massimo Recalcati. Complesso de Telemaco.