31 de out. de 2012

O Juízo.




Laura estava dentro do cristal de um vitral, melhor dito, estava dentro da própria luz que o varava. A luz a forçava a baixar a cabeça à fugir os olhos da luz. Também assim a luz a cegava. Então cerrava os olhos. Ainda assim a luz a cegava. Quer responder a uma pergunta que não foi feita. Tartamudeia ao responder: sim sou o que sou. Agora a luz parece mais leitosa menos aguda e tépida. como se estivesse dentro de um copo-de-leite cheio de leite que permitisse a ela levantar a cabeça e abrir os olhos, mas ela nada vê senão que o leitoso branco dentro dos olhos sendo os próprios olhos lácteos. Não ouve perguntas ela não pensa em respostas, nem o pensamento existe, apenas o leite por toda parte, parece não lembrar de nenhuma pergunta mas ela responde lentamente: sim, também. Os séculos passam entre uma não-pergunta e outra. A luz se apaga lentamente. O branco abruma demoradamente. Imêmore. Completamente.



30 de out. de 2012

O encafifado.


QUINTA-FEIRA, OUTUBRO 26, 2006


9. O encafifado.  Original desde: luises.

Já que falava de Luis e devo ao leitor paciente o que pode dar alguma luz a Luis.
Seu avô (dele) Luis da Silva, fora traído pela noiva, matou o amante balofo estrangulando-o com uma corda que o destino lhe deixara sobre a mesa e nesta hora exata foi-lhe o: clique aqui. Clicou. Tencionou a corda com a força infinita dos fracos, no vasto pescoço. Vagou pelo mundo fugindo da vergonha que carregava até ser encontrado por Inês da Silva que procurava um asno que lhe atravessasse o rio da vida. Inês casou-o com ela mesma. Luis da Silva levava o rascunho de uma mulher traidora e sempre quis passar a limpo sobre Inês da Silva, terminou por entender seu caráter milenar, fossilizado e imutável. Inês da Silva uma solução do resigno. E como fruto desta milenaridade e resignação veio um filho a quem deram o nome de Luis da Silva Filho que sem ter por que se encolerizar ou mesmo resignar-se foi casado por sua mãe com Inês Pereira e geraram Luis da Silva Neto e teriam gerado mais se a carraspana crônica, a concupiscência e o tabagismo entranhado, este que incendiou o colchão onde dormiam torpes de suas atividades sólitas. Luis da Silva Neto foi levado pela vizinha Dona Inês que o tratou como filho igual aos outros que nos anos que Luis ali viveu viu nascer e morrer mais que seus pequenos dedos podiam contar, até o dia em que vazou da casa lotada de fantasmas e viventes. Perambulou por ai, andou, virou, mexeu, sem nada saber ou carregar que não fosse o nome e a pequena fábula que Dona Inês disse lhe pertencer. Até o dia da chegada a Campinas.
Entre a saída de casa de Dona Inês e a chegada a Campinas não existiu. Dormiu para acordar e acordou para dormir. E terminou por dormir num alpendre que dava para a calçada da rua Padre Vieira esquina com Ferreira Penteado. Não seria diferente das tantas outras vezes, e a cada ocasião um recinto distinto, se não passasse o que vou lhes relatar.
Era o ano de mil novecentos e sessenta. José Itaca havia desistido de tentar um filho, tinha ainda forças para tanto, mas sua Inês não. Respeitoso pelos não-poderes de sua esposa, também não mais quis. Ela propôs: vamos adotar um menino. José um doce sem viés de azedume relutará, com argumentações pontuais, vencedoras. Bom marido, trabalhador. Igual a este? Mais nenhum. Dizia Inês à vizinha: você vê Dona Inês, ele dorme cedo, não vai a bares, acorda cedo, melhor não contrariá-lo.
Tal qual disse dona Inês, Jose acordou cedo. Ia à padaria e assustou-se com a visita. Depois do susto ao abrir a porta, José Itaca não acordou Luis. Sereno, retomou o afazer, foi à padaria União, como diariamente, pensou em gastar o tempo, para que este resolvesse, mas quando nisto pensou apertou-lhe o peito, mudou de idéia comprou dois filões a mais, um tanto de mortadela e uma lata de manteiga Aviação. Tens visita seu José, perguntou a mulher do Manoel. Com a voz embargada José Itaca respondeu - vamos dizer que sim. Sem mais nada dizer, senão que uma certa umidade no olhar, partiu célere. Ao chegar, abriu o portãozinho de ferro sempre engraxado, contemplou sem planos o menino, mas decidido troou. Acorde José Itaca Filho.
Atarantado Luis Silva Neto ao abrir os olhos vê o homem a sua frente, tudo em seguida, senta-se onde dormia, e com as mãos espalmadas posta onde sentava, empurrou-se para trás cerrando-se contra a parede. Muitas outras vezes fora flagrado dormindo em próprios alheios. Havia algo diverso.
Quis sair, mas José Itaca interveio.
- Acalme-se meu menino, disse José olhando-o meigamente. Luis da Silva Neto desceu das mãos e com uma delas, mas precisamente com o punho limpou as remelas. Então tentou se explicar.
- Estava com sono, dormi! Diz o menino.
José Itaca pode entender aquela naturalidade. Desde a casa de Dona Inês dormia não onde, sim quando. Quando vinha o sono, dormia. Sempre aos montes, ou no meio às suas beiradas. Nem disso era dono, lugar fixo para dormir.
Eu sei filho, eu bem que sei! Disse José Itaca, acho que tens fome.

O acepipe.


TERÇA-FEIRA, JANEIRO 16, 2007


37. O acepipe.     clique em Original para ir ao livro Luises!



A geada resistia aos primeiros raios de sol que pelas frestas dos pinheiros iluminavam as sombras de onde deveriam aparecer os fungos. Cada um escolheu seu caminho. Eu a mote de norte tangenciei o curso de um arroio de águas cristalinas, que descia rumo ao Segre, gelado e fumarento. Estaquei diante de um cogumelo. Admirado, pesquisado e por fim colhido. Com uma faca de cabo longo e lamina curta, cortei o talo acima dos esporos, regra a ser cumprida nessa micologia. Um passo a frente e toda uma família que muito reduziu o tamanho do primeiro. Mas, guardei o primeiro qual indez.
Continuei subindo por uma escarpa que dava em um grotão, que dava para mais além e fui subindo nessa busca infinita do desconhecido e quando consegui chegar ao topo um algo mais ensolarado, dei de frente com um Amanita vermelho com pintinhas brancas. Pesquisei. Alucinógeno. Psilocibina. Dei uma mordida. Achei-me sentado à beira do arroio e contávamos um ao outro o deslumbramento recíproco que sentíamos sua dele transparência indiscutível seu barulhinho ao passar o pequeno estreito formado por grandes calhaus em seu pequeno leito onde pousa o meu retrato colado em suas gneisses de fundo e ele o rio dizia de minha imobilidade, minha coisa nenhuma de alarme de nele se me ver refletir meu saber de que não sendo ele o mesmo e nem mesmo eu sendo no que me transformo sou ainda confiável sem me achar infértil por não ter peixinhos vermelhos a subir por mim meu não lhe tocar para me ter mesmo que o abuso de fulgor que lhe reflito que eu começo a pensar peixes feixes de luz e a ser eu rio eu peixes brilho o que vê e o visto sendo o sol refletido a fonte do calor que me queima e eu a banhar-me em mim beber-me...
Então você também se ausenta?
A todo pulmão aqui.
Recusas?
Qual recusa?
Que somos iguais. E que tampouco esteja inteiramente aqui, seguindo a tal de essência do ser.
Vale! Tenho momentos de fuga à inglesa, e você não é assim?
Sou. Mas penso que isso tudo faz o essencial. Sem projetar-me no futuro ainda que o pretenda e o projete.
Eu não disse que fugia rumo ao futuro.
Eu sei. É que parti do seu -fuga à inglesa- e acabei por complicar, o fato é que, se estou em você é porque eu quero estar em você.
Aqui estamos nós!
Desde Vasco da Gama!
Desde antes!
Andando em círculos!
Desde o inverno da Alexandria!
Se aqui estamos, pra onde iremos?
Que diferença faz inventarmos um dialeto?
Andar em volta de nós mesmos?
Eu quero uma festa sem fim.
Continuaremos aqui?
Vamos na busca da virgindade do mundo!
Sem sabedoria?
Só curiosidade!
Como?
Os sábios estão velhos. E nós seus legados.
Sim, mas, e o mínimo futuro?
O futuro mínimo que vira o máximo?
Nada se esgota em nós, ou fora de nós.
Então que tal a surpresa que enriquece!
Calle Luna.
La rambla.
Porta de Alcalá.
O buraco negro.
O sol.
O centro.
O cerne.
O sal.
Levanto-me e o frio corta minha carne embaixo de musgos e folhas grudadas a pele. Inês pousada sobre uma pedra a beira do arroio. Está nua sentada na pedra, um Buda assanhado que massageia os seios, agora torce a cabeleira e deixa explodir sobre eles. Tem os olhos cerrados, comanda meus movimentos, caminho para ela e sou sua presa dissimulada e ela serpente no deserto cingida, a cabeça saída deste rolo com a boca gretada na direção do sol, eu ratinho metediço corro esquivo em círculos concêntricos num acostamento curioso, ela inerte, eu cativo aproximo-me, tanto mais perto, tanto mais hesitante, mais a fortuna é aguda mais cumprirei o meu fado. Vitorioso entro na boca aberta que se fecha, sua boca engulo até o nariz, mordo sua língua, deixo minha língua ser sorvida, os dentes se tocam, as salivas se baralham, distingo a dela na minha, adocicada, ela desce sua boca pelo meu queixo, lambe o colo, eu sinto os pelos da sua vulva tépida lanosa na minha coxa, a umidade espessa vai se disseminando pelo corpo, sua no meu pé, a boca no meu, engole-o, liberta-o, aboca a glande libertada nos lábios, passa a língua, sua foi-se do meu pé, brota sobre minha boca, minha língua mais viscidez. Venha. Diz Inês. E eu vou. Oh! Inês, minha. Como Eco entro em sua gruta úmida, beijo a sua boca. Vibro harmonicamente como a corda de um arco. Tudo é umidade quente, um frêmito percorre-me, morde a minha boca. Mordo forte seu lábio puxando-o sinto um gosto de sangue então mordo mais violentamente e ela luta e com a palma da mão quer me rechaçar afastando meu focinho então cravo uma dentada e trincho o músculo de seu polegar masco sua carne, um copo se parte, uma espada entra na pedra, um véu é rasgado, relampagueia num mar tempestuoso, gozo. Desfaleço, tombo. Pleno. Durmo. Amo. A satisfação do desejo findo, ali onde já não existe o desejo, e por isso sou feliz. O amor pelo desejo que inventamos é uma sorte de parafernálias, o amor, a posse do desejado, passei a vida a ornamentar o desejo, pentear suas melenas, perfumar os seus odores, o que me impedia de voar sobre o abismo. Inês sabe disso, minto com o eu te amo, mas todo o corpo desmente. Entro por uma horta de quiabos quibebe papa de abóbora grelo de aboboreira refogado com azeite de oliveira, alho e cebola. Vou acordar. Salva-me um caruru, quiabo baba de quiabo, quiabo picado aos centos desde o dia anterior, picado miudinho, Caymi com prosa e cerveja ou água nestes tempos de cuidar do hardware quase acordo. Nina-me um cosme-e-damião. Quiabo picado, cozido afins de livrá-lo de um tanto de baba, camarão seco batido no liquidificador, ou pilado ou macerado com as mãos, castanhas de caju, do Pará e outras que encontrar picados na mesma forma que fizestes com o camarão, no mais, salsa, cebola e alho tudo picado e misturado ao quiabo, dendê de polpa e apure tudo em fogo que queima e os suores vão me acordar vem me o arroz solto ou empapado do jeito que for. Antes de acordar me salva uma boa soneca. Uma quiabada pode seduzir, no que há de baba. Frango com quiabo. Quiabo frito e arroz de alho papado. Vou acordar. Salva-me um par de tomates inteiros recheados com tomilho por um orifício feito onde o tomate se liga a planta, cozinhados no meio do arroz e dois ovos com uma bela pitada de sal sobre cada gema, fritos naquela frigideira que só você usa e que fica escondida no forno debaixo do fogão pra dona Inês não arear até virar espelho. Sarrabulho, sangue de porco e arroz ruins como um tabefe. Vou acordar. Transijo. Folha de taioba picada, tampouco, tanajura, também não. Tatu, tatupeba, teiú, tacacá, tucupi, monte de tarecos, tartufo, não isso lembra corretores, vendedores de carro, tira-gostos tépidos em vitrines prisões de moscas, moço quanto custa essa mosquinha? Mercado municipal. Pordeus! Vou acordar! Só pordeus não acordo! Ver-o-peso. Ribeira! Vou acordar! Vou acordar!.
Gasterea! Gasterea! Chamo e ela não responde. Lembra a tal história do rio que entramos não ser o mesmo do qual acordo. Desperto. Vaguei pelos Pirineus, esquecendo, amargurando, fugindo.
Luis foi preso por canibalismo, cumpriu oito anos de pena. Sem nunca ter recebido uma visita de qualquer conhecido. Tudo que tinha era um livro ensebado lido e relido ao infinito até ser deportado para Campinas, onde foi acolhido no Candido Ferreira. Depois de uma visita da anistia internacional ao presídio de Lérida

29 de out. de 2012

Queimada.


Somos uma sociedade frágil e impotente diante dos desmandos. Há semanas que estamos assando sob o sol. Culpas passadas, dizem! Se é passado ou não pouco tem importância se agora, onde vivo está literalmente dentro de uma nuvem de fumaça devido a queima da cana-de-açúcar. Em pouco tempo começarão a chegar voando as palhas queimadas, a fuligem. Me sinto dentro de um cinzeiro, tal é o cheiro. Uma ligeira dor de cabeça, pois há mais de hora não sei o que é ar puro. Moro em Bonfim. Olho para Ribeirão e parece que a fumaça a alcança. Por momentos chego a pensar que estou só nesse canto do planeta. Será que temos, como ribeirãopretanos, alguma contrapartida por conta desse descalabro? Se temos, será que vale a pena tanto sacrifício? Não amigos, não vale, não vale sequer a água que haverei de jogar no quintal amanhã pra me livrar dessa neve preta e brutal.

Baixa per caducitat de la inscripció padronal!

No havent-se pogut notificar als interessats que es relacionen a continuació, dacord amb el que disposa lapartat 4 de larticle 59 de la Llei 30/1992, de 26 de novembre, es notifica amb aquest anunci la baixa per caducitat de la inscripció padronal del municipi de Tornabous, acordada per Decret dAlcaldia 01/10, de 15 de gener de 2010, dacord amb el que es preveu la Resolució, de 28 dabril de 2005, de la Presidència de lInstitut Nacional dEstadística i del director de Cooperació Local, per la que es dicten instruccions tècniques als ajuntaments sobre el procediment per acordar la caducitat de les inscripcions padronals dels estrangers, no comunitaris, sense autorització de residència permanent que no siguin renovades cada dos anys.

Baixa per caducitat de la inscripció padronal del municipi de Tornabous:

- Aparecido Donizeti Galvao, Abdelkrim Alaoui, Jose Fernando Abad, Marya Pyzhyk, Sara Filip, Mariana Grigore, Ladislau Stefan Pap, Cristian Ciucas, Floarea Grazilea Pop, Uladzimir Pyzhyk i Larysa Savanovich.

Tornabous, 18 de gener de 2010 Lalcalde, Amadeu Ros i Farré

Um Tico, um teco.


Trecho de um livro escrito em 2006, diariamente neste blog   luises. o livro

TERÇA-FEIRA, OUTUBRO 31, 2006


10. Um Tico, um teco.

Outros no entanto não tiveram tal sorte......Era uma vez Tico. Que fora pititico. Ainda menor que Luis. Hoje é grande. E dizem que já é demaior. Ninguém sabe. Certidão nem tem. Corre risco de morrer sem mesmo registro de nascido ter. Tem da vida todos tais anos que não podem ser medidos, senão que via um carbono raro. Mas quantos? Todos? Sim muitos! Queiloses todas pelo corpo, mais que anos? Ou mais que raros carbonos. Quem pode saber! “A mãe disse que me teve com treze, ou foi o Lico que morreu? A mãe não sabe, lembra de uma novela, qual seja, Vale-tudo, não foi em antes? Mas a mãe dizem que o pai matou! E matador fugiu para São Paulo, ah! Se achasse o pai! Juro que matava”. Ficam as marcas. Uma aqui é vacina, ali perto do fígado só pegou por fora, no bucho mesmo, nenhuma. Essa ai na perna é tiro? É. Policia? Tico não sabe se fogo amigo. Menino. Um montão de fugas pelo brejo, descampado, saltando muro, caindo e rasgando a pele em quiçaças. Hoje! Agora mesmo, entra na boca com quinze mangos enrolados apertados na palma da mão fechada e sai dela com papel no lugar do quinlão e uma luz diferente pisca na entrada do beco, “não moço dá um tempo, dá volta, sujou”, mas não era nem e assim de rápido se pá! Limpou. Mais quinze para Tico dar para Lilica, depois Lilica distribui. Agora o papel é para o moço conhecido. “Caprichado” diz esse sendo ele muitos, Caco, Caico, Caíque Kiko, Tatá, até mesmo doutor advogado João Alberto, candidato ao erário, do tanto que ainda não foi abiscoitado, músicos sem e com música, os que acham e os que são, os que não são e os que não acham, só por folia, só aos sábados, de domingo, de segunda, de terça, papel papéu, papér, excelente e tar. Se quisesse era só armar uma rede e ir pescando. E Tico cantava.

... Vida me levar
Vida leva eu,
Deixa vida me levar
Vida leva eu.
Frio que faz olha que frio fazia e Tico descalço num calção e numa camiseta “Rezaistes para senador”. Muita suja a camisa, mas não de hoje, já lavada e ainda suja, encardida, mas isso não é ruim, ruim mesmo é estar rasgada e torta por causa do pano ruim do corte ruim e tanto ruim que quase que saia pelo ombro esquerdo a gola alargada e torta. Está mesmo frio e Tico põe os braços por dentro, ficam as mangas tortas balançando sem os braços que se cruzam sobre a boca do estomago dentro da camisa, rasgada encardida e torta. Frio. O cão na barriga e o cano no púbis. Frio. Tico esfregando a sola de um pé no peito do outro, esquentando, distraído, olhando o olho do gato ou ratazana rebrilhando farol de mais um carro. Sujou diz, dá uma volta, limpou, quinze, papel, papéu, papér, excelente e tar. Moço atenção! Todo cuidado é pouco, Tuim morreu ontem, “os home?” “‘m se sabe” “fogo amigo?” “Pode se”. Então agora do topo falta Lilica para Tico ser patrão. Isso põe caraminholas na cabeça do menino. A mão no cano dentro do calção, Tico sorri, vai ser patrão do Branda, desce mais as mãos dentro do calção, pega segura, passa no cano do três oito, fica um pouco excitado, tem uma vontade de fazer uma zoeira, fazer uma barca no Cambuí e descer com a Samanta para Ubatuba e depois faz outra barca lá e subir. Mas Samanta ainda é de Lilica. Pode ser amanhã. Medita Tico e conclui: “Não essas coisas não se deixam para depois, tem que ser hoje, mas hoje ainda vai longe, quase até amanhã e dizque Lilica lê intenções nos olhos”. E pensativo pensa. “Advinha tudo tem parte...”. Pondera em si, e pergunta: “Já pensou ele desconfiar de mim?”. Só para responder: “Não eu não seria siso de fazer sem nenhuma de boa de chance”. Conclui: “Melhor sossegar os pensamentos”. Farol no olho do gato, “não moço”, “apaga a luz de dentro”. Todo sussurros diz e rediz: “Sujou, olha os home lá éivem, agora não”. Agora Tico tem umas contas desacertadas comendo miolos de dentro da cabeça dele. Dizem que numas assim tem que ter o dedo leve e coração frio qual barata! Ou os nervos nervosos de aço? Tico não sabe e fica nervoso, de não saber. Dá um rolê brou: Kiko, Nico, Caco, Caico, Caíque tanto faz. Nervoso orienta com sinais. Rolê, Rolê mano, soletra sussurra, com cara de ódio medo. A policia chega e pára, desce na toca, Tico entra na toca e pá pá pá pá pá pá. Dois na cara, dois no peito bem no meio para não estragar a peita de botões abertos e dois nos pés descalços dele também para se acaso morto ande. Lilica de deitado na cama com Samanta, deitado ficou meio para sempre. Samanta não chora, é mulher do patrão da hora, do outro, desse e do próximo é só se manter assim gostosuda apertada dentro do short vaginal. Samanta sabe o que ninguém sabe e que não dirá a ninguém e mesmo que quisesse, não poderia. No mais as pessoas daqui ninguém mesmo liga ou dá ouvido pensa ela. Então é prática e revira os bolsos de Lilica. “Isso é meu pertence”. Samanta diz a Tico. Ele nem discorda, mas tira o da mão dela, nem palavra falada dita foi ouvida nem da outra parte nem da uma.
Tico rei canta:

“Vida leva eu,
Deixa vida me levar,
Vida leva eu”

Tico vestido tudo de marca, não o patinho voando, mas sim bumerangue parado no ar no tênis, camisa de Lilica, calça de Lilica, e o tênis. Lilica tem pé muito grande, mas vestiu o naique pegou Samanta pela mão e saiu da toca e Boca disse “vai fazer uma zoeira patrãozinho, vai hoje é o seu dia, aproveita” Boca é mais velho tem quarenta, e nunca foi patrão, diz que não quer, mas Tico quer e Tico fez o que queria fazer. Foi para Ubatuba. Tudo isso antes de saber que ia matar o prefeito, depois não matar, e depois nem sabe se matou, nem acha que foi ele, podia matar, mas não lembra se pediram, se pediram! “Fui eu”, porque não conhecia o prefeito, mas se pedissem, mas foi e não foi e Tico anda confuso. Pra uns diz que sim e que não pra outros. Mas antes de estar confuso está em Ubatuba com Samanta e passa peróxido cremoso no corpo inteiro grande de Samanta, Samanta jamanta podia ser artista e riscando na areia úmida faz um coração e uma flecha que o atravessa, deixa Tico ver não, Samanta apaga tudo de sua arte nuvem mudou quimera o que foi não era e o que era não foi, não bailarina não poderia ser, ela é muito grande, Tico fica menor ainda perto de Samanta, ela borcada com a cara socada na areia, sem canga, sem toalha, rola e é um croquete, com o buço, muito buço, mas muito brancos, os pelos das pernas, dos antebraços também peroxidados, correm para água gelada e Tico nem Samanta sabem nadar. Tico mergulha no raso, rala a barriga na areia preta do fundo que também entra no calção, no cabelo. Enquanto Tico se livra da água que lhe entra pelo nariz, balançando a cabeça atirando a água retida nos cabelos. Samanta olha pra um coroa branquelo sentado numa cadeira plástica do quiosque e ele tomando caipirinha. Tico pergunta sem consciência negra: “ você vai preferir a coca laiti?” Samanta diz que não. Ela gostou do ciúme. Ele quase se arrependeu do zelo. E mesmo dentro do mar gelado o dele ficou grande, ficou duro, beijou, passou a não por dentro da asa delta verde limão dela, foram mais pro fundo ele afastou para o lado a asa delta e amou melhor que Lilica escolheram um outro carro que não o que os trouxe a praia.ela disse: “ era brabo, mas na hora do vamos ver...” Ele não disse que era a primeira vez dele. Ela sabia. E calou.
Eles voltaram?
Não.
Foram enterrados e desenterrados, para que a perícia lesse em seus corpos os escritos deixados pelas balas, e o capsógrifo desse pergaminho nunca foi traduzido...

Guarani Kaiowá..



É impossível, desumano e reputo de estupidez abissal se colocar contra os autóctones. Todavia devemos sair dessa coisiquinha bonitinha de palavras ao vento. Tais como as de que: Eles são os brasileiros verdadeiros. Eles são ou foram as civilizações guaranis, tupinambás, tapuias, aimorés, tupis etc que perderam a guerra para a civilização do homem branco. E guerra no sentido lato e civilização no sentido estrito.
Hoje, para eles o que está em jogo é a propriedade – o que restou dela – e o modo de vida deles – o que restou dele –. Em ambos os casos tudo anda muito rarefeito,  e a nossa civilização - lato senso - quer o que resta.
Sendo, a posse da terra – aqui do lado de fora das aldeias, no mundo capitalista, esse que circunda todas as terras indígenas e não indígenas - nada mais que apossar-se de terra ou de qualquer propriedade alheia, e é  o modo mais simples existente para se passar do capital zero a sujeito de posses – é nada mais nem menos que roubo. Como já disse um monte de vezes, que o Vicente Golfeto disse outro tanto de vezes: – todos somos repetitivos – no ladrão está a gênesis  o catalizador do capitalista e do acúmulo de capital e ambas as coisas querem dizer o mesmo ( capitalismo), isso não acontece com os comunistas, que pensam de outra forma, dizem que pensam, mas os comunistas não existem, tampouco o comunismo, somente dentro das aldeias, quiçá. O tal do cogito ergo sum, não serve para a relação de posse e de produção material de vida, nisso a coisa tem que ser material, não basta sonhar ou pensar em ter, tem que ter.
Ocorre, porém, ser o silvícola, individual ou tribal, ser tutelado pelo estado. Como autóctone não têm o certificado, carteirinha de cidadão. Quer-se dizer com isso, entre tantas outras, que não têm capacidade de posse da terra, não no sentido capitalista da coisa, com direito a vender, trocar etc. Têm-na para usufruir, um quinhão isolado, mas esse isolamento é imperfeito. As fronteiras são abertas. Exige-se cuidados excessivos ao Estado, falta Estado, sobra deveres ao Estado e sobra direitos ao cidadão...
Muitas vezes, os caramurus, são seduzidos por colares de contas, falsos brilhantes  ( o primeiro me chegou, como quem chega do … trouxe um...) inclusivamente vindos do exterior, lembrem do espinho. 
A igreja católica apostólica romana de Ribeirão Preto, naquele antão, se apossou das terras do quadrilátero das avenidas e cobra laudemio até hoje, essas terras eram, também, daqueles ou de outros índios –.
 O posseiro quer a terra, quer tomar posse, capitalizar. Existem muitas técnicas,  dizem que umas humanas outras desumanas. Para mim ou são todas humanas, se cometidas por humanos?
A pergunta séria nesse âmbito é: 
Os índios devem permanecer isolados, ou deve-se levar a cabo o processo de desnaturalização, aculturamento que lhes temos impostos de 1500? 
Ou ainda, 
seremos quem decidirá essas e outras por eles?
 Poderíamos devolver-lhes um tanto de terra, e que nessa terra criem seu estado livre. Pode que em pouco tempo estejam nas mãos do primeiro vendedor de espelho, cachaça e gelo?