22 de jul. de 2016

Viver

A morte é um final...  nada mais... por que então viver uma existência plana, rasa, serena, útil e funcional, seguindo como um animal a cenoura, cada vez maior, perfeita e suculenta que se nos põem à frente, para – que não seja tarde –  em dado momento perceber, que o mais importante da vida é justamente, com o nascimento, a poesia que se esperava ser, nada é mais prosaico, se o que se quer é viajar nas fronteiras dos próprios sentimentos, aonde se odeia e se ama desmedida e sem razão, e não ficar encravado nesta geografia construída, nesta bolha de ar sem ar...

18 de jul. de 2016

Wang-Fo

Wang-Fo

Naquele conto, o velho pintor Wang-Fo acabava de ser capturado pelo Imperador, que havia passado toda a infância e parte da adolescência trancado num quarto lotado de quadros do velho pintor; onde o então garoto havia descoberto um esboço do que para ele seria a maior obra do velho; Wang estava ali retido porque o garoto quando libertado, para se tornar Imperador, descobrira um mundo extremamente inferior ao mundo das pinturas de Wang-fo; agora exigia o termino do esboço, antes do cumprimento da sentença, a morte.


Wang-fo pinta um barco, e pinta Wang-fo dentro do barco com seu ajudante, pinta remos nas mãos de seu ajudante, pinta um mar, e pinta o barco indo, indo, indo e indo e lá longe pinta rochedos, e o barco se esgueirando por eles; o Imperador já não consegue ver o barco de Wang-fo já sumido por detrás dos rochedos e se libertando...

17 de jul. de 2016

O Homem que Queria Voar.

                                                                     
Um homem queria voar. Sem quaisquer tipo de geringonça. Uma agência ofereceu a ele esse serviço: Moraria com um casal, que tinha a sabedoria para voar. O casal oferecia esta sabedoria em troca de 20 anos de trabalho, na casa do casal. Ele tanto queria que aceitou. Cortou lenha, lavou a casa, as roupas, fez comida, cortou a grama, cuidou da horta, acendeu o fogo, apagou o fogo, limpou a lareira, a chaminé por vinte anos sem salários. No dia do vencimento, o marido procurou a mulher e disse: que faremos? Não sabemos como voar, não sabemos como ensinar a voar? Calma disse ela, deixe comigo. Pouco depois apareceu o rapaz. Pronto para receber o ensinamento. A mulher lhe perguntou: você quer mesmo voar? Sim, espero por isso a vinte anos. Então te ensinarei. Ele ficou feliz. Ela disse: mas Você tem que fazer tudo que eu mandar. Ele disse que faria como ela mandasse. Então suba nesse pinheiro, até lá no cimo. Ele foi subindo, ela dizia, mais para cima, ele subiu, subiu, subiu.. quando estava no galho mais fino do topo do pinheiro, ela disse: solte uma das mãos, ele tremia mas soltou. O marido disse, mas se ele cair ele morrerá. E quê? Solte a outra mão, ele meditou um pouco, e soltou. O marido fechou os olhos e quando os abriu viu que ele flutuava, agradeceu ao casal e saiu voando, voando...

                 Livre adaptação do conto Sennin. De Ryunosuke Akutagawa


Corrupção como Q.S.P - Quantidade Suficiente Para - para afastar a esquerda do poder.

          Desde o Mensalão, que blasfemo: “Na política, a corrupção não tem importância. A corrupção deve ser um caso de polícia e não de política”. Segui leviano, toda a vida a dizer que: “Sempre que a corrupção vira questão política no país: é, foi e permanece um método para afastar, alijar, desapear a esquerda”. ( seja ela qual for) – os parenteses têm destino consagrado, jajajaj - .
         
          Não preciso provar nada, as provas estão no ar,  basta ler os jornais e revistas, ver o telejornais e  a recente declaração do presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia.
          
          Se buscava um ponto que permitisse  alguma sustentação (um cinto de segurança)  para uma brusca  freada na questão (corrupção), coisa que Cunha não tem e não tinha. 
          
           Maia, por pior que seja ( e já se perdeu qualquer tipo de vergonha), pode dizer que a corrupção não é o foco da reforma política. Aliás, a tendência da corrupção é sumir dos meios de comunicação de massa ( nome horroroso, para comunicação social, mas tem a ver, ainda que me provoque ânsias.).      
         
          Moro já soltou as bolhinhas de sabão para o ar suas bolinhas de sabão, Lava-Jato deve acabar, o quanto antes.

          O processo está finalizado. A esquerda está afastada do poder. Se arrebentou por dentro. Se for o baço, a morte é certa, ou muito embaçada. As velhas práticas estão de volta.


           Muita gente boa embarcou no “honestismo”, barca furada, não podem responder, desgraçadamente, pelo golpe, por miseráveis idiotas. Neste exato momento estão a pedir as demais cabeças; as da oposição. No entanto, será apenas a busca de um álibi para sua inocência, deus queira, ou má-fé, no que mais eu acredito.  

O Asno de Buridan. Ou o homem apolítico, ou Neutro.


O asno de Buridan.


O pobre burro foi deixado em jejum uns tantos dias, para logo então ser colocado à frente de dois montes idênticos de capim. A besta foi incapaz de encontrar razões para se mover, quer seja para a direita ou para a esquerda. Esse vacilo insensato o levou à morte.
A simples consideração lógica das coisas, em si mesmas, não seria capaz de nos conduzir a uma prática. Falta a vontade.
O que se conclui é que o asno morre de fome porque é um animal exclusivamente racional.


dizem que em toda obra de Buridan, não há uma referência ao asno.

16 de jul. de 2016

Plagiar

Plágio.
Para plagiar, há que se ter lido e inda ler, ter muito boa memória. Saber onde estão as coisas. Porque tiveram, em seu tempo, toda  leitura ao seu alcance, os autores antigos, os medievais, os renascentistas, os de primeira modernidade, os modernistas,estiveram plagiando os contemporâneos  aos anteriores.  Hoje somos todos originais, porque não se sabe nada de neres, nem porque o gato dormitava no borralho. Já quis plagiar, mas não consegui,  porque desconhecia o plagiado anterior. Assim que, nem ser um plagiador alcanço, sigo original!

14 de jul. de 2016

O Domador de Elefantes.



        Na décima quinta página de um livro incerto, poderás ler, esta singular aventura ocorrida na Índia, com um domador de elefantes.
Traduzo como toda fidelidade necessária, incumbido de um budismo novo e ainda reticente, mas não tratarei de falsear as linhas do velho budista que a escreveu.
        No antigo sítio de Carvásti, para além do Ganges, o Rá Lauit mandou anunciar que precisava de um treinador de elefantes. Pois tinha um elefante bravio, que era seu predileto, mas queria que esse elefante estivesse mais próximo de seu palácio, e andasse pelos seus jardins e pátios.
        No dia seguinte apareceu, Sougraha, que se anunciou um perito nesse perigoso ofício. Claro que sei, ó Rá! Há três maneiras seguras de se domesticar um elefante bravio. A primeira é pelas argolas de prata... Está bem, está bem, Sougraha, amanhã depois da prece inicia teu trabalho.
        Quando deixava o palácio, um vaidoso Sougraha, ouviu um gracejo de um grupo de servos. O domador não se conteve, e colérico e impetuoso feriu um deles. Sougraha foi levado à presença do monarca. 
         - Que foi isso, meu amigo? Depois de um monte de desculpas esfarrapadas, assumiu que fora uma atitude irrefletida do impulso.
         - Como pretende, ó Sougraha! Domesticar um elefante, se não consegue conter a fera que te habita? Retire-se daqui, e quando se educar, quem sabe possa educar um outro.