4 de jul. de 2016

Eu, ou o Homem que despe as mulheres.

Eu, ou o Homem que despe as mulheres.



            Ia ao pet shop comprar vermífugo para Xico ãÃo – meu gato - que anda perder pelos mais que os que tenho, quando encontrei Pedrão, o Belo, que anda a vender esperança na praça XV. Na real, só vende bilhetes de loteria, mas não é isso que quero falar, se não de sua inveja incurável, que é oposta ao vinho, só piora com o passar dos anos, e sempre  quer saber como estou sempre rodeado de mulheres, sendo Feio.
            É assim que ele me chama, Feio, sem artigo. Gostaria que me chamasse Gabo e eu o chamaria de Mestre. Mas, repertório é repertório. O fato é que pouco a pouco ele vai arrancando meus segredos mais secretos, ainda que saiba, pobre Belo, nunca poderá aplicar, porque não se pode ser superior a si mesmo.
           -  Eu, Belo, gosto das mulheres, por óbvio, mas gosto da maneira que elas gostam que gostem delas. Essa é a chave. Mais de uma vez te disse meu amigo, Belo, que não se pode amar uma mulher se não a ouvir, a escutar. Ouvi muita as mulheres, mas tenho amigos que são surdos e outros que são   portentosos ouvidos. No entanto, Belo, te digo mais:”Quando olho para uma mulher eu a desnudo, a dispo, sendo que há quem as mire e as vista”. Logo, ele quis saber o que queria dizer com isso, então lhe disse : “ Das mulheres gosto de tudo: seu rosto, seu penteado, o lóbulo de suas orelhas, as unhas dos pés, o cotovelo esquerdo, a sinuosidade do pescoço, suas pálpebras, a roupa que vestem, a maneira como se penteiam, como movem as mãos quando falam, como dizem que não gostam de camarão, etc”. E a tudo isso, acrescentei, "te garanto, gosto de verdade e esta sinceridade de meu olhar, elas pegam no vôo", e completei: “Sabem, que diante delas está um cara, que gosta delas por ser como são”. Quando cheguei em casa, Penélope, que tricotava uma roupinha para ãÃo, me perguntou, por onde o senhor andou? 

3 de jul. de 2016

Sob a Estrela da Manhã.

              Os exames contundentes, aos médicos não restavam dúvidas, e me disseram que, quando o tumor cerebral, que haviam detectado, se desenvolvesse – podia acontecer amanhã ou em três meses – me sentiria muito cansado, muito, como se estivesse a horas caminhando numa subida sob o sol do meio dia de algum fevereiro, então dormiria e já não despertaria.

              Quando sai da consulta fui direto para rodoviária. Tomei o ônibus que me deixava na beira da estrada, na entrada para voltar ao sítio. Aproveitei o trajeto para ir parindo a sentença, e mais tarde, depois do jantar, sai ao quintal para olhar o céu. Noite escura, sem lua, pude contemplar as milhares de estrelas e a massa densa e leitosa da Via láctea, entre os clarões das cidades distantes. Meu pensamento andava por milhões de coisas miúdas como as estrelas; dei conta que se quisesse não deixar pendencias para os meus, haveria de voltar à cidade, ir ao banco, ao cartório, à funerária. Decidi fazer no dia seguinte, logo pela manhã.

              Despertei com a alba, fui até a estrada. Não tardou e vi ao longe as luzes do ônibus. No silêncio de uma estrada ainda erma, ouvi todos os mecanismos do cambio, o bufar do freio. A porta se abriu, embarquei, paguei a passagem ao motorista e fui lá para os assentos do fundo. Ao longe ouvi uns gritos, era um vizinho de sítio pedindo que esperassem; chegou bufando pelo cansaço de correr por aquela subida. Entrou, e quando vinha pelo corredor me saudou com um aceno de cabeça e um sorriso de velhos conhecidos. A porta se fechou e o motor roncou mais forte. Clareava. Notei que estava muito cansado, muito, como se tivesse caminhado a subida do sítio à estrada sob um sol de fevereiro ao meio dia. Fechei os olhos, o ronco do motor me ninava, no céu ia a estrela da manhã, adormeci.


Carta Reaberta a F.H.

Carta re-aberta a Fernando H. Catani.Tudo começa meu caro Fernando, quando todos 'achamos', que Portugal chegou aqui por acaso, que  a família real portuguesa veio comer coxinha de galinha, que Dom Pedro deu um grito simbólico, já que tudo já havia acontecido. Essa fé – porque crença não é, já que crença se baseia em algo provável, no sentido de verificação, verificação que a média brasileira, e somos todos medianos – depois mais tarde todos 'acham' que uma câmera na mão e uma 'ideia' na cabeça é o bastante, e acabam por deixar de ver o mais importante em Hollywood, por exemplo, que é o fato de que eles 'não leram' os clássicos, os estudaram, e a teoria está presente até em Walt Disney, basta ver o Mickey em Aprendiz de Feiticeiro. A mídia em particular, impressa e televisiva, já que a radiofônica é muda intelectualmente, tem verdadeira ojeriza pelo aprofundamento, e está sempre a tratar qualquer voz de dentro das universidades – as dignas de assim serem chamadas – de um bando de aloprados. Por quê? Porque sempre querem a solução gambiarra, barata e por fim frustrante. Por que 'acham' que tudo é por acaso, e não um caso pensado. Veja um exemplo: Faz uns vinte anos, a TV brasileira mostrou alguma coisa de Noam Chonsky, como se se tratasse de um maluco, por ele dizer que o teclado do PC e o próprio PC em nada tinham a ver com o corpo humano, não eram enfim ergométricos. Banalizaram. O Touch, é o que é por causa do  visionário Noan Chonsky que pelo avanço tecnológico. A ciência e depois a ciência aplicada, foi atrás da ideia e seus argumentos, na busca para uma melhor 'solução'. Questão proposta e instigada por um linguista. Depois se propaga a ideia: os pesquisadores brasileiros são improdutivos, ou fazem pesquisas tolas, basta ver o idiota do Jô, alardeando a uma massa que se pensa critica e pensante, mas não passam de bando de basbaques, que 'acham' o gordo a cereja do bolo da inteligência tupiniquim, e que como essa imensa massa pseudo, e amorfa, inclusive, chega a pensar que fala espanhol melhor que seu camareiro chileno. Ou seja, fala espanhol com palavras portuguesas. Como aqui todos falamos italiano e espanhol e se marcar japonês e chinês, a questão do inglês é risível, todos acabam fazendo sabão em pedra, pensando que a química se reduz a isso. Assim poderia passear por todas as áreas do fazer humano brazuca, e em todos há a fé que você muito bem expôs. Leva-se demasiadamente  a sério a frase de médico e louco... todos são alopatas, homeopatas...  enfim poucos sabem que o fermento seco 'royal' é bicarbonato de sódio.

Submundo

#DieTiefe. Há uma internet que diante da qual as próprias agências de inteligência capitulam. É chamada de Net Profunda(Deep Net), Portão ou País Onion(Onionland). Um reino misterioso de liberdade, onde as drogas, armas e aquisição de serviços de assassinos são possíveis - e continuará a ser completamente anônima. Um universo digital do Submundo

Estado x Iniciativa Privada

#DieTiefe  O capitalismo tem um lance que é fantástico, mas que no brasil da zilda ninguém dá a mínima ( ninguém = iniciativa privada) que é o custo. Um médico, seja sua formação acadêmica, custa muito, pelo tempo necessário e suficiente, pelo custo do material\instrumental\etc  para o discente, pelo custo para a unidade formadora. No mesmo capitalismo o custo de produção aliado à lei da oferta e da procura diria, por leviandade, que a conta não fecha, porque quem poderia comprar a produção, no Brasilda, não tem dinheiro, dai que desde 1988 quem deveria bancar é o estado  (união\estados\municípios),  ocorre que os mesmos com essa tal da previdência\saúde universalizante e solidarizante não tem os cobres para todos, quer dizer tem, mas vinténs. O corporativismo fecha a coisa intracorpus! É o mesmo caso das carroças que o collor disse, da velha lei da informática...

Partidos

Se não tem Copas, vou de espada, e truco! reboque de igreja velha.
As formas e os personalismos dos partidos convencionais, já não têm credibilidade.
 Por quê? não sei.
Mas,
Digo que os movimentos sociais não devem ser tão menosprezados, como foram, nestes últimos meses. Grosso modo, tem sido onde o cidadão se manifesta, participa. O binômio ”sei o que o povo quer” petista e o “o povo ganha quando ganham os ricos” peessedebista, preteriu os movimentos até então, um dizendo que se tratava de massa de manobra e este achando-se manobrista. Digo dos dois partidos, já que os demais  tomo, para simplificar, por aderidos. Assim os movimentos sociais encontraram ouvidos emouquecidos. Traçando um paralelo, tem-se que os partidos, no poder, se tornaram absolutos. O que antes era dado por consanguinidade, ou por ordem divina, agora são ordens da maioria dos votos válidos. Isso me leva a pensar que hora ou outra, mandaram a plebe rude comer pão de queijo na falta de biscoitos de polvilho.
 Então haja guilhotina.
 A tripartição do poder é déjà caduca. O judiciário atua a partir das e para as linhagens, estirpes, raízes, etnias etc. O poder de polícia é só mantenedor da ordem vista às grandes propriedades, ou de grande valor. A patuleia é no cacete, vigendo a ordem supradita, etnias, raízes, estirpes, linhagens... O executivo apartado dos cidadãos em geral, com a grana graúda se orienta segundo uma dogmática interpartes partidária, e com a miúda tem orientação algo ideológica, que mais serve à própria manutenção no poder. Transformam assim a voz do povo, na feudal voz de deus. É um absolutismo do avesso, o que deveria ser somente uma orientação.
Vão ter que me engolir é por demais presente em nossas relações sociais.

1 de jul. de 2016

A Igreja.

A Igreja.

Um incerto sábado, José Brancaleone, um mecânico bonfinense, decifrou uma imagem de Jesus Cristo numa fatia de berinjela. A imagem apareceu enquanto ele fatiava berinjelas para fazer à siciliana, que cada fim de semana preparava para a família e para homenagear seus antepassados sicilianos. A imagem lhe mudou o almoço e a vida.
“É o messias, sem dúvida” decretou sua mulher. Sobre a poupa branca, que já começava a se oxidar, se distingua a silhueta escura de um homem barbudo com os cabelos compridos. A sogra se benzeu três vezes. “Pode ser um cantor do tempo dos hippies, papai” disse um dos filhos. “ Ou um metaleiro” disse o outro. Mas a senhora Brancaleone tinha certeza, era um milagre, mas haviam de continuar com o preparo do almoço, a berinjela siciliana. “ O molho de tomate apagará a imagem” disse ela, “e o forno quente fará o resto”. Somou.
Durante o almoço, José estava incomodado, havia feito o mais correto? A família se divertia: “ Papai, hoje a berinjela siciliana está divina!”, A sogra vestiu seu véu, e comia como se estivesse comungado: “É pecado, mastigar” dizia. “A senhora não se confessou, Nona!” disse um dos filhos.
Tudo acabou em piada, mas alguém da família havia filmado a imagem na berinjela, e a postou no Facebook ou no Whatsapp e o vídeo bombou. No sábado seguinte uma dezena de pessoas, maior parte eram vizinhos, se concentraram à porta dos Brancaleones. “ Queremos ver Sr Brancaleone fatiar berinjelas sagradas” diziam. José se negou e expulsou aquela gentarada, “ Jesus expulsou os mercadores do templo” citou o evangelho a devota sogra. No sábado seguinte ajuntou mais gente, já eram fiéis, inclusive um jornalista do A Cidade com um fotógrafo. Queriam ver a aparição. José não deixou ninguém entrar, e os ameaçou a chamar-lhes a polícia.
Uma incerta manhã, apareceram à porta velas e oferendas de buquês de flores. E quando José ia para a oficina, foi se acostumando a tropeçar naquela gente ajoelhada. O dia todo se ouvia cânticos e o recitar dos salmos, e orações. Um pastor passou a orar uma vez por dia, e a miúde, um culto completo na semana. O mesmo pastor, quando os Brancaleone se mudaram dali, fundou a Igreja de José, vulgarmente chamada de Templo da Berinjela Siciliana.