16 de mai. de 2016

Brevidade.

Brevidade.
Preguiça, sinto preguiça, não porque seja sexta-feira, que o nome dos dias da semana já significam pouco – tirante o domingo, lento, ornitorrinco –  mas por preguiça. Não direi nome local nem hora. Não elencarei circunstâncias nem detalhes. Não concretarei títulos ou créditos. Me poupo de valorar os orgasmos alheios. Me abstenho de recomendar dicionários. Se proveitoso, me desculparei por haver sido prolixo nas apresentações e breve nos resultados. Amanhã será outro dia.

15 de mai. de 2016

Cheiro da Chuva que há Tempos Choveu.

Cheiro de Chuva que há tempos choveu.

É tarde. Caminho depressa. Um paralelepípedo mal colocado é uma arapuca para pessoas apressadas e distraídas. Invisível. Camuflada numa calçada duma rua inesquecíveis, pronta para ser ativada por qualquer pé. O meu. Tropeço. E começa a chover. A traição. Aquelas pequenas coisas que atrapalham o dia. A chuva na cidade é um incômodo. E me dói constatar. Como se traísse minhas origens. Sinto o cheiro da chuva e ainda não completo o entendimento, esta  locução vale por escuto chover. Não faça caso. Há poucas coisas tão bonitas quanto o som in crescendo da chuva. Sinto o cheiro e escuto a chuva. Inda mais quando está canção começa subitamente, num som metálico. As gotas trombando com as folhas de zinco lá do coberto. Contra as persianas de alumínio. A excitação de saber que será um dia diferente. De se ficar em casa só em meias, e ter licença de assim subir ao sofá. De brincar nos corredores da escola, porque não dará para ir ao pátio. Aquele verde intenso do mato molhado, o cheiro de terra molhada. A chuva trazia essa alegria intensa, da festa inesperada, desprevenida. Além de ser um prólogo para acabar a luz. Resmungos generalizados, era o que sobrava. Ao mesmo tempo, adorava o anacronismo da rede elétrica. Procurar as velas, a vó nunca se lembrava aonde. Era outra alegria encontrá-las, ascendê-las. E o vô se punha a contar histórias, as aleluias sem poste de luz e as tanajuras… e íamos comendo a noite, lentamente, quando a luz voltava, alguma dor era visível nos rostos, porque não é fácil quebrar a magia. E nada já não era o mesmo. Se a narração fosse cortada ao meio pela volta da luz, vinha um final abrupto, em falso. Como se tivéssemos vergonha daquilo que fazíamos a luz de velas.  No dia seguinte descobria o sentido de ufanoso, o mistério do de vez, do maduro. Escuto a chuva, e tento encontrar o rastro dessa alegria pueril. A determinação das Tanajuras com seus vôos estabanados, incertos, que mal descobrem o mundo da luz, e já cavam outra toca.
A nossa é uma sociedade doente, mas voltar a viver no passado é de dementes. Cômico. 

11 de mai. de 2016

Stands With a Fist.

Stands With a Fist
Em Pé com Punho em Riste.

Quem não lembra desse filme, ganhador de 7 Óscares, com sua manifesta vontade antropológica. Mostra como os indígenas botavam o nome nas pessoas em função de alguma característica relevante. Batizam Costner como aquele que dança com lobos, porque o seu personagem, se fez amigo de um lobo solitária da pradaria, com o qual brinca de correr e perseguir. A sua mulher recebe o nome de Em Pé com o Punho em Riste, porque quando sofria nas mãos de uma índia velha, um dia se revoltou e se levantou com e elevou seu punho contra a mulher adulta. Com isso deixou manifesto sua firme vontade de não afrouxar, de não se render e de não se deixar pisar; ganhando o respeito de todos, um nome jogando com seu caráter.

Este mesmo nome merece Dilma Roussef.

8 de mai. de 2016

O Voto de Teori.

O voto de Teori.

Teor do voto,
Em tese deteriorou,
Ainda, teoricamente, mas
o cheiro se fará sentir.
Na teoria e na prática
Retesou interiores de relações
desde sempre tesouro de tensões.
Do  teor inteiro, anda,
Ainda não me inteiro,
Nem que queira,
Não vou me internar inteiro,
Sou reto, sem teoremas:
A trama não vem de ultramar
É tramação de inteiro teor interno.
Teia que entristece amanhãs.
Arapuca até então turva.
Ter o teor reto não é meu teto,
Arranho, teço e torço
Sem saída, exito de existir exato.
Brumado, me escondo da curva.
Ter o teor inteiro, é ter  um tinteiro,
 uma cor, só o fundo contrasta,
Tramo com o teor, tangencio
Traço trapaças, tropeço
Do terço não sei, troço
Tricoteio filigranas, a trechos.
O turvo teor, reitero, negaceio
Negócios,  negocio.
Do troço não sei um terço.







4 de mai. de 2016

Em carne viva.

Em carne viva.


Leu pouco, sempre, agora renunciou a toda leitura
Viu muito pouco de tudo e não tem nenhuma curiosidade em ver ou observar.
Sendo realista e raso, refletiu e estudou quase nada. Logo, não tem conhecimento nenhum. 
Durante a vida se limitou a sentir. 
E neste aspecto anda com a sensibilidade à flor da pele. 
Entretanto,  com esta sensibilidade, está mais perto da  dor que do prazer. 
É como um homem que foi despojado, não tão só da roupa que vestia, mas também de sua pele.

2 de mai. de 2016

Liberdade de Pensamento. Liberdade de Fala.



Segundo Al-Farabi, ele mesmo, o pensador persa que deu origem á palavra portuguesa: alfarrábio; numa cidade governada por um déspota cruel, vivia um homem honesto, que se sentindo alvo da ira do tirano, decidiu se exilar. Como o medo havia convertido os cidadãos em delatores, o tirano rapidamente soube dos planos daquele homem, e ordenou que de nenhuma maneira fosse permitido que ele conseguisse realizar seu plano. Então o homem honesto se disfarçou de vagabundo, e tocando um tambor e cantando como um bêbado, se apresentou a uma das portas da cidade. Quando um dos guardas lhe perguntou quem era, ele responde que era um homem honesto, que queira fugir do poder do tirano. Incrédulos, lhe deixaram ir, sem suspeita.


Moral. Liberdade de pensamento. Liberdade de expressão. Parece que se pode usufruir de cada uma a seu tempo, nunca das duas ao mesmo tempo. A saída é ser o homem honesto de Al-Farabi? A falta de nobreza está em sacrificar a liberdade de pensar, para conquistar uma posição social de prestígio, e depois querer fazer crer que não se pode fazer outra coisa.    

29 de abr. de 2016

Duplo assassinato no quarto vermelho de um motel..


    Não me recordo como cheguei aqui. Sei que é um quarto de motel pelo quadro de avisos e tarifas e as instruções em caso de incêndio pendurado na porta. Seguro na mão um copo com um pouco de bourbon, o deixo cair, e assisto aturdido como os cristais se esparramam como contas de um colar. Há uma janela aberta. O vento move sem vontade as cortinas vermelhas. Detrás das cortinas aparece um japonês da PF anão, sorri para mim e começa a dançar. Estala os dedos ao ritmo de uma música que não ouço, com sua voz gutural diz algo incompreensível: - “A gente assaz sina é pedreira, né.”
    Desvio o olhar do monstrengo e me
    sinto estranhamente turvado, é quando vejo Eliane Catanhede sentada discretamente numa poltrona num canto do quarto, sorri, mostrando duas filas simétricas de dentes alvíssimos e ajusta a saia sobre os joelhos num gesto ensaiado. O anão japonês da PF segue dançando sobre o piso de tabuleiro de xadrez do quarto vermelho.
    Da janela me chegam rumores de vozes roucas e discordantes. São agentes da PF, também, porque percebo claramente um “ Temos um duplo assassinato”. Logo as vozes são abafadas pelo ruído de sirenes e barulho de passo sobre pedras britadas. Estão rodeando o edifício, ao que parece o assassino se encontra ainda no motel.
    O anão japonês da PF já não dança, está imóvel, como uma caixinha de música sem corda.. Eliane Catanhede jaz sem ânimo sobre a poltrona. Agora entendo tudo. O anão japonês da PF, ou talvez Eliane, suspeito, colocaram alguma droga no bourbon que demorou a fazer efeito. Perdi muito tempo contemplando absorto um baile que só existia na minha cabeça. Um duplo crime. Está claro quem é o assassino, porque o trinco da porta do quarto está fechado por dentro, e Eliane e o anão japonês da PF estão mortos. Esmurram a porta. -- PF! Abra imediatamente.