É a história
de um encontro de estudantes de história, que por caminhos que
só mesmo Borges poderia explicar chegou a mim e me deu vontade
de contá-la. Os futuros historiadores estavam acampados no
campus da Universidade de Aracaju, para o Encontro Nacional de Estudantes de História, ENEH.. Havia gente de todo lugar do país,
uns vendiam pingas misturadas, e outros que pagavam pinga misturada
com maria. Eu tenho 'cabeça de negro' gritava um, Eu Paraty,
respondia lá nas barracas da UFRJ... a manguaça era
geral para gêneros e graus. Era o preparamento para assistir um
forrobodó no centro de Aracaju, numa praça a céu
aberto. Um paulista levava seus olhos verdes para ver o cobre das
meninas de Salvador, a zabumba ditava o ritmo, não se perca de
mim, não se perca de mim, não desapareça...
Muitas palmas e aquilo introduzia um xote, vem cá morena se
achegue pra cá... e a dança acompanhava os sotaques
dos dançadores, mas a mão estava sempre no começo
da espinhela... de repente... se abre um clarão no meio do
público, um sujeito com a autoctoneidade a flor da pele
bailava, com seus colares de ouro, seu relógio de pulso, de
correia mais larga que o pulso, rodopiava passos perfeitos para
historiadores do futuro, que o aplaudiam, a roda cresceu, ele tirou a
camisa, todos esqueceram da cantora, da zabumba, o homem de bigodes
tirou a camisa, dançou, rodou sobre seu eixo, sobre seu centro
de massa deu mortais, mais aplausos, a cantora chamava a atenção
dos únicos dois policiais, "ele atrapalha o show", dois rapagões recém
ingressados no corpo, pouco podiam fazer, o homem bailando se despiu
completamente, e bailou, a morena cobre não se aperreou,
aplaudiu, ele bailava, todos bailavam à volta dele, ele abre
as pernas, bota a cabeça entre as pernas, como quem quisesse
olhar o cu, e então enfia o dedo no cu. A multidão
delirou. Gritos de todos os lados, os que estavam na segunda fila se
arvoravam para ver o dedo no cu. Os moços da policia, vêm
e o levam, sob protesto do povo da história. De uma gente que
passa a vida a ler sobre revoluções, não demorou
o grito: “ão, ão, ão, abaixo a repressão”.
Os policiais estavam atônitos. Parecia que a massa lentamente
se movimentava para libertar o homem com seu dedo no cu. Nessas horas
é que aparecem os lideres, e ele veio, saindo do meio da
multidão, foi lentamente se aproximando dos policiais, e um
deles num ato reflexo desferiu uma coronhada na testa do líder,
o sangue esguichou, empapando a camisa, enchendo de espanto o policia; a massa se
enfurece, parte para cima dos policiais, que metem o homem com seu
dedo no cu, dentro da viatura, um vai conduzir, ou outro apontar a
arma. Nisso chegavam mais e mais viaturas, fazendo curvas, cavalo de
pau; a tropa de choque, um rapaz cai, o brucutu o imobiliza, mete o
revólver na cara do jovem, dispara, o tiro seco, mas é
no chão que entra o projétil... “Puta que pariu, essa
policia é a vergonha do Brasil”, a curitibana pensa estar
vendo uns quinhentos policiais, que formavam uma fileira e os
encantoava para dentro de galpão vazio, todo mundo apanhou,
nem se for uma na canela, levou uma borrachada.. vieram ônibus que levaram a
todos de volta às suas tendas... e passaram lá toda a
noite a fumar e beber e contar cada um o que viu, o homem que enfiou
o dedo no cu.