9 de nov. de 2015

Schopenhauer.

Schopenhauer.

Pegava de sua bengala e saia a passear, não sem antes rezar seu mantra: Seja tolerante, seja tolerante, é seu maldito dever!  Não via nas pessoas mais que bichos fabricados em série. Sem chance de recall. Começou a ser filósofo quando deveria estar, como todos os jovens alemães, lutando contra Napoleão, e começou sua queda-de-braço com o Princípio da razão Suficiente. As vezes se enfezava com seu cachorro Atman. Gritava: Humano, mais que Humano!. Não tinha amigos e a explicação que se dava, era uma razão suficiente: “Ninguém é digno de mim”.
Certa feita foi a Dresden visitar uma estufa, ficou abalado com a beleza das plantas. Seu sentimento não passou despercebido ao lavrador, que se aproxima e pergunta quem era ele. Schopenhauer disse: Quem sou eu? Ah, se você pudesse me dizer quem sou eu, ficaria eternamente grato! 

Acho que...

Acho que...
Paguei a melancia e a quitandeira me pergunta o que penso, quer dizer, acho. Desde minha inocência real, não fingida, e sem ter que me valer de algum  verso de Drummond, e por sorte sua deselegância sincera, antes que eu dissesse: penso, quer dizer, acho que, ela dizia o que achava, na verdade, mal começou a achar, e dois outros consumidores de tomates “de vez”, cortaram seu achismo, como duas lâminas de guilhotina, uma faz tchan, e a outra tchum e  tcham tcham… com todos os decibéis, como se não tivessem argumento, gritavam… fui me retirando, me retirando e me retirei, olhando a quitandeira como quem olha um jiló maduro, ela olhou dizendo que sabia o que achava, mas não sabia que achasse aquilo dela… 

8 de nov. de 2015

Vomitar ou Comer?

Será que a crise político-moral nos propõe um dever moral ao qual é impossível dar resposta? Nossos princípios morais proclamados não estarão muito acima do que podemos pedir honestamente à política? Podemos medir nossa moralidade pela intensidade de nossa indignação? Ou a vergonha se converteu numa propaganda para vender jornais, revistas e telejornais?
Então, há quem, muito brabo, assegura nas redes sociais que sente vergonha de ser brasileiro. Mas, tem algum mérito se rebelar moralmente contra este Brasil tão eticamente vulnerável que, inclusivamente, poderia naufragar no seu próprio irracionalismo sentimental? O Brasil há muito deixou de ser um Império, mas parece que agora se aferra no Império da lei e da ética, montanha mais alta que jamais estivemos.

A indignação moral pode ser uma forma de pornografia emocional, porque é um triunfo das vísceras sobre a inteligência, do vômito sobre o apetite... mas vende.  

7 de nov. de 2015

Bomfim.

Cido Galvão ama as gentes de Bonfim, como  gostaria que nos amasse deus, nos deixando livres, mas nos cuidando, se acaso uma pedra no caminho, nos poupando tropeços. Quase como os amaria, se acaso fosse deus.
Em Bonfim vivem homens e rapotos ( sobre o que venham a ser  estes seres  há controversas versões, sem qualquer coincidência), há também gambás que se fingem de mortos para.comer os ovos às galinhas ( bruta construção) e eu, quando estou de visitas. E numa dessas visitas, me contaram que no ano passado,  um russo se perdeu em Bonfim. Dizem que desceu do carro para fotografar alguma coisa e já não voltou. Sua mulher, mais luminosa que a árvore de natal do Shopping ( meu deus! Como são luminosas as russas!Aonde encontram os russos, mulheres tão belas?) começou a chorar, enquanto todos os Cachaceiros a rodeavam tentando acalmá-la. Um policial aposentado, cujo pai havia lhe deixado de herança um cachorro, um fusca e uma casa com chaminé, foi procurar o russo, e o encontrou chupando cana não longe dali. Quando voltou com o russo, percebeu que todos os homens haviam desaparecido… com a russa. Enquanto o policial aposentado procurava a russa e os homens, o russo tratava de encher os pneus, que os moleques - marrons como chocolate de tão sujos  -  haviam esvaziado, colocando palitos de fósforo nos bicos dos pneus. Quando um pai tem a sorte de ter um filho assim de sujo o chama de “meu pequeno João de barro “. Em Bonfim não há russas, há sim umas quantas mulheres mal encaradas, que desde sempre as chamam fofoqueiras, que quando brigam entre si se ofendem chamando uma a outra de fofoqueira. Bonfim é cortada pelo ribeirão Preto. Que é um riacho que traz muitas ideias que o povo de Cravinhos joga na água. No entanto, nenhuma dessas ideias se adaptam à latitude e clima de Bonfim, muito provavelmente porque quando alcançam Bonfim ou já estão mortas ou se desmancharam. Os vizinhos do ribeirão, sim que podem sentir seus cheiros e, por vezes, no silêncio da noite ouvem suas barrigadas. Certa vez um desses vizinhos do riacho, descobriu pegadas no barro das margens, eram de alguém que foi beber água na fonte central da praça, aonde o russo se perdeu. Dizem que naquela época o chafariz da fonte no meio da praça eram dois seios de mulher, e que esguichavam jatos de água. É possível que aquele que bebeu água da fonte e deixou pegadas na lama da margem do rego, tenha acariciado os seios do chafariz. Dizem que os curiosos seguiam as pegadas de barro do chafariz ao rio a cada ano na mesma data. Há quem diga que fosse um vampiro aquático, ainda que estivessem longe da Transilvânia. Vivia no córrego, mas a água deste não era suficiente para aplacar sua sede, quando a água do riacho era potável. Hoje só transporta lixo, que os bonfinenses também lhe dedicam. As vezes os bonfinenses e os cravinhenses vão ao Mercadão Municipal, em Ribeirão Preto, para apontar seus sapatos velhos, gostam de apontar com os dedos desde a margem com palmeiras imperiais: a lá meu sapato velho, já chegou aqui” e dão grandes gargalhadas, que fazem voar pequenos pedaços de massa quebradiça de pastel.
Devo acrescentar, que nos bares de Bonfim, os violeiros costumam cantar todo o repertório de José Rico e Milionário, no começo da tarde tocam para os cachorros vira-latas que se aquecem ao sol, e para mim  até essas horas, que ouço, sem os querer, mas não vejo, sinceramente, nada melhor para fazer.

6 de nov. de 2015

Um encômio, são rapaces!

Todo mundo sabe que Aristófanes, o Gramático, que sentia grande amor por uma florista, vendia coroas, tinha como rival um elefante. Segundo Plutarco, isso era fato e que todo mundo falava. Plutarco também conta de uma serpente tremendamente apaixonada por uma moça da Etólia. No entanto, a lenda de que uma águia se enamorou de uma donzela, nem os mais crédulos dão ouvido. O fato da águia ter sido escolhida para torturar Prometeu no Cáucaso, que entre os deuses era um dos maiores amigos da humanidade, dá pra se ter uma ideia do  ódio que ela sente  pelos humanos. Sendo este um grande vício, têm as águias algo digno de encômio: são extremamente rapaces e  apenas bebem e fornicam muito pouco. 

5 de nov. de 2015

A cidade da verdade.

A city of truth. De James k Morrow.
A cidade da verdade, aonde os cidadãos só podem dizer a verdade, inteira, não importando o inconveniente que possa ser, nem mentiras piedosas dizem, nem usam eufemismos, e tampouco há considerações e esse respeito, ou seja, não faz nada mais que a obrigação, por exemplo, ''ainda não foi desta vez que cheguei ao orgasmo, seu ejaculador precoce!” “ ou Você se apressa, ou sempre chegarei primeiro!”, enfim, na porta do elevador está escrito: “ a manutenção deste elevador é feita por pessoas que odeiam o que fazem, Você sabe o que faz !”, no maço de cigarros está escrito que a foto horrorosa é para te distrair do fato de teu governo se esquecer de cuidar da tua saúde, nas escolas o lema é “ fique aqui moleque, até eu voltar!”, nos supermercados os produtos dizem de seus defeitos, os políticos falam tranqüilamente dos subornos recebidos....

Bom, Eu não li o livro, só umas resenhas, e parece que todo mundo enlouqueceu.  

Somos Feitos do Barro da História.

Somos Feitos do Barro da História.

Você e Eu existimos porque no passado se deu uma serie complexa e altamente improvável de azaradas circunstâncias que foi abrindo passo a nossa existência.
Nossos pais se conheceram e poderiam não ter se conhecido... Gostamos de falar dos acasos felizes que nos trouxeram até aqui. Mas sem as tragédias do passado, a citar, as guerras, fomes, pestes, crimes, roubos, violações, escravismo, invasões, extermínios... estaríamos aqui? Quantas calamidades tiveram lugar no transcurso do tempo para que nossos pais pudessem se conhecer? Pois, cada uma delas influenciou pouco ou muito a cadeia de acidentes e acontecimentos que nos permitiram.
Assim de certo modo, amar nossa própria existência significa também amar as tragédias que foram tramando a sucessão de fatos que nos trouxe à vida.


Levando em conta o anterior, O que somos não é independente do que nos fez, assim que queiramos tudo ou refugamos tudo, foi o que propôs o Saul Smilansky, em Morally, Should We Prefer Never to Have Existed? Se pudéssemos faze-lo, que preferiríamos: eliminar do passado as circunstancias calamitosas que , sem dúvida, provocaram enormes sofrimentos a outras pessoas, eliminando também a possibilidade de nossa existência, ou escolheríamos a nós e portanto, tudo o que nos fez possíveis, incluindo o sofrimento alheio?